Textos Aristotélicos – Demonografia de Belzebu

Textos Aristotélicos – Demonografia de Belzebu
      Demonografia de Belzebu, Príncipe-Demónio da Avareza

 

      O nascimento e a infância de Belzebu

 

      Quando Oanylone já começava a sua longa descida aos abismos do pecado e se assentava nas ruínas da virtude, nasceu Belzubu, filho de Grodass e Irénee. Pesando seis quilos para sessenta centímetros, demorou muito para sair do ventre da sua mãe e deixou-a quase morta de cansaço. Exausta e machucada em todo o seu corpo, uma infecção grave levou-a alguns dias mais tarde, deixando o bom Grodass com um pequeno monstro tão grande quanto insaciável. Este homem, um fazendeiro famoso pela qualidade da sua produção, conhecido pela sua gentileza e bondade, não sabia como fazer para criar este pequeno. Na verdade, até aqui, apenas a sua esposa se tinha encarregado deste assunto difícil, por isso decidiu contratar uma criada. Os seus dois irmãos, Guignol e Pimpon, zombaram estrondosamente diante da chegada daquele pequeno ser, que em ultimo caso, representava apenas mais uma boca para alimentar. Belzubu foi amamentado até à idade avançada de cinco anos de idade, o seu pai mostrava-lhe pouca afeição, muito ocupado com o trabalho nos campos, mas isso não o impediu de crescer, criado por uma mulher dura e robusta que respondia ao doce nome de Rita. A mulher não gostava desta criança que considerava feia e desajeitada. A isto, acrescia o facto de que um bebé que havia matado a sua mãe para nascer já andava por caminhos sombrios. Também fez-lhe a vida tão dura quanto foi possível, não lhe fazendo nada e ensinando-lhe não mais que o mínimo.

      Por volta dos oito anos de idade, quando tinha idade suficiente de passear sem a sua madrasta, Belzebu foi levado por Grodass, decidindo que o seu filho o acompanharia para os campos, com o objectivo de lhe mostrar como cultivar os cereais e inculcar-lhe alguns princípios e valores básicos. Foi assim que, cada dia, chovesse, fizesse vento ou neve, o pequeno homem levantava-se de madrugada e acompanhava o seu pai a cultivar as terras. Este último nunca foi avarento nos conselhos, a maioria dos quais foram destinados para fazer da criança um fazendeiro bem sucedido:

 

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Grodass: – Vê, meu filho, um tostão é um tostão, guarda preciosamente cada tostão porque é importante!
– Serve-te da tua cabeça, caramba! Deves aprender a vender e a comerciar, senão, o que será de ti quando cresceres?
– Não esqueças que se queres ser o melhor, tens que estar convencido que és o melhor!
– Não penses nos outros, pensa em ti, porque serás tu que vais gerir toda esta confusão!
– A vida é como um guisado de feijão, quanto menos pedras tens, mais rico serás!

 

É certo que hoje, esses conceitos têm pouco significado, mas a verdade é que esses preceitos marcaram a vida daquela criança. Assim, Belzebu começou desde cedo a compreender o que fazia da terra uma boa terra, e logo percebeu como comerciar e como jogar para obter os melhores lucros. Não se preocupava com os seus irmãos, preferindo aproximar-se do seu pai que via nele um sucessor promissor. Este último muitas vezes apresentava-o quando ia vender os frutos do seu trabalho para o mercado, dizendo a quem quisesse ouvir que ocuparia o seu lugar quando ele morresse. Isso fez crescer nos seus dois irmãos mais velhos, uma inveja e uma animosidade que se transformou gradualmente num ódio visceral, de modo que o faziam sofrer muitos maus tratos e lhe batiam e o insultavam cada vez que se cruzavam. O jovem Belzebu cultivou então uma imagem de si, selado em orgulho e arrogância, pensando que se os seus próprios irmãos o amaldiçoavam, era porque ele era melhor do que eles. Quanto mais crescia, mais se aproximava de Grodass e mais se afastava de Pimpon e Guignol. Ele tornou-se um príncipe aos olhos do seu pai e um inimigo mortal para os seus irmãos mais velhos. Assim, Belzebu só pensava nele e no seu futuro, tornando-se indiferente à sua família, tendo apenas o seu pai na sua mais alta estima.

A ascensão e o acesso à fortuna

Quando ele tinha apenas quinze anos, o seu pai, Grodass, agora desgastado e envelhecido por décadas de trabalho duro e firme, veio até ele. Ele pediu-lhe para se sentar e ouvir o que ele tinha a dizer:

 

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Grodass: Meu filho… eu estou velho e cansado… olha para mim, dobrado como uma bruxa velha e não aproveitei dos meus melhores anos. Tu és o único da família capaz de prosseguir com o que construí ao longo destes anos. Estas terras, as minhas terras, são agora tuas, e os teus irmãos que cultivam para mim, deverão ajudar-te. Confio em ti, sabes vender, sabes como fazer crescer o melhor trigo e o melhor milho!

 

Belzebu estava orgulhoso que o seu pai lhe deixasse tudo o que tinha, mesmo que fosse dez anos mais novo que o seu irmão mais jovem. Ele não pôde deixar de perguntar:

 

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Belzebu: Mas pai, o que vais fazer com o teu tempo agora? Vais abandonar-me como fez a minha mãe?

 

Grodass sempre pensou que até ao final da sua vida, ele faria longas viagens, ele sabia que era a hora para isso e explicou isso ao filho antes de deixar a casa da família para sempre. Encarregou-o de anunciar isso aos seus irmãos e de entregar a cada um uma carta que tinha escrito para eles. Ninguém mais teve notícias dele e jamais se voltou a falar de Grodass em Oanylone. O jovem Belzebu esperou que o seu pai deixasse a casa da família para rasgar as cartas que tinha que dar e, sabendo que os seus irmãos não seriam da mesma opinião que o seu pai, decidiu sem demora contratar um rufião para proteger o que lhe havia sido transmitido. Ele usou alguns relacionamentos e encontrou o homem que precisava, um escravo liberto do norte, grande como uma árvore e forte como uma rocha, com cicatrizes e cortes, chamado Astaroth. Quando Pimpon e Guignol regressaram dos campos, encontraram a porta fechada e Belzebu apareceu atrás deles, com o seu guarda-costas a seu lado. Com ferocidade e confiança disse-lhes estas palavras:

 

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Belzebu: O pai foi-se embora! Ele deixou-me as terras e a casa, e agora tudo o que era dele é meu! Vocês arruinaram a minha infância e estragaram-me a vida, por isso, para vos castigar, não vos darei nada! De modo nenhum que dois farsantes como vocês, que lucraram vergonhosamente com o dinheiro do vosso pai descansando por anos, colham agora dos frutos do seu trabalho! Ficarei com os vossos bens e o resto, saiam! Se, infelizmente, voltarem a pôr os pés nas minhas terras, eu vos enviarei Astaroth que se encarregará então de vos fazer passar da vida à morte, assim, saiam e não voltem!

 

Belzebu fez sinal a Astaroth que se aproximou dos dois homens, batendo num e noutro e atirou-os ao chão; os dois irmãos, feridos no orgulho, não tiveram outra escolha que sair sem pedir a sua parte. Assim começou a ascensão de Belzebu. Ele aproveitou o que tinha aprendido, substituiu os seus irmãos por empregados que tinham sido despedidos no mercado e a quem pagava mal, sabendo que teria sempre mão de obra para aceitar o trabalho. Os seus campos deram grandes colheitas porque ele era um conhecedor dos cultivos, e assim começou a ganhar bastante dinheiro. Mas isso não foi suficiente, ele sabia que era o melhor, mas queria mais. Guardou tudo o que tinha ganho e gastava apenas quando era forçado. Ao longo dos anos, ele adquiriu mais terras e converteu-se num grande proprietário conhecido pela sua visão de negócios e sobretudo, pela sua intransigência nos negócios. Os seus produtos, davam sempre os maiores lucros e o que ganhava, guardava em casa num cofre, evitando gastar o menor tostão a não ser que fosse estritamente necessário. Durante quase dez anos, os olhos de Belzebu não desfrutaram de ninguém senão ele mesmo, desenvolveu um ego sobrevalorizado, pavoneando-se em Oanylone dizendo a quem quisesse ouvir que ele era o melhor e o único capaz de produzir bom cereal.

No início dos seus trinta anos, Belzebu tinha adquirido, pela sua inteligência e a sua força de persuasão, a metade das culturas de cereais em Oanylone, a sua casa transformou-se num domínio e o seu dinheiro tinha-se transformado numa fortuna. Quando outros tentavam tirar proveito das suas riquezas, ele proibia qualquer um de se aproximar das suas propriedades, com o seu fiel Astaroth a seu lado, era temido e respeitado, mas também invejado e mal visto. Mensalmente, os enviados dos dirigentes vinham até ele e perguntavam-lhe se queria dar algum dos seus bens para ajudar a comunidade e, de cada vez, Belzebu dizia-lhes:

 

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Belzebu: O quê? Esbanjar a minha fortuna? Eu trabalhei duro para acumular tudo isto e ninguém além de mim irá beneficiar-se! Eu sou bom e as minhas colheitas são as melhores! Saiam da minha casa e digam-lhes que, enquanto for vivo, não conseguirão nada de mim!

 

Assim, a cada vez, os enviados iam-se embora cabisbaixos e relatavam aos seus governantes, testemunhando o egoísmo de Belzebu e a sua incapacidade de entender o conceito de interesse colectivo. Àqueles que clamavam diante dos portões do seu domínio, o proprietário enviava o seu guarda para os aterrorizar. Para aqueles que diziam que ele tinha mais inimigos do que amigos, Belzebu respondia que não se importava de não ter amigos, porque eles eram principalmente aproveitadores.

O sonho e a revelação

Belzebu tinha trinta e cinco anos e, uma noite, quando o calor do Verão se fez sentir insuportável, com grandes dificuldades para dormir, ele teve um sonho estranho. Ele viu-se a andar, numa grande estrada desértica, sozinho, sem luz excepto a da lua, nenhuma casa, nada além daquele caminho sinuoso. Enquanto caminhava sem rumo, uma Criatura feita de Sombra apareceu. Belzebu parou e tentou ver o seu rosto, mas não viu mais do que uma sombra e, quando perguntou quem estava à sua frente, não obteve nada mais que o silêncio. Quando retomou o seu caminho, a Criatura falou-lhe:

 

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A sombra: Belzebu, Belzebu, Belzebu… Para onde vais assim?Belzebu: Eu não sei, sigo na escuridão, vou andando em frente.A sombra: Tu caminhas, mas não sabes para onde vais? Não te interessa saber?

Belzebu: Saber? Saber o quê? Onde termina este caminho?

A sombra: Não importa onde termina, o importante não é onde, mas como!

Belzebu: Que queres dizer, Criatura?

A sombra: O que eu quero dizer é que ficas satisfeito em seguires o caminho que te foi traçado em vez de seres tu a traçar o teu próprio caminho! Sai dos caminhos traçados e toma outro caminho!

Belzebu: Mas… Eu não vejo nenhum outro caminho, Criatura, só há este!

A sombra: Belzebu, tu és mais esperto que os outros, mais rico que os outros, podias ter os homens a teus pés, podes construir qualquer caminho a partir daqui, só tens que querer! Serve-te do que aprendeste, aproveita os teus conhecimentos e faz uso da tua astúcia para te fazeres mais forte no teu domínio e verás que apenas basta quereres para que um novo caminho te apareça!

 

A sombra desapareceu num instante e frente a Belzebu, um cruzamento apareceu. De um lado, o caminho sinuoso que percorria há algum tempo, de outro lado, um caminho estreito, direito e ascendente, se levantou. Ele decidiu seguir este caminho, tendo a impressão que sabia o que havia no final. Ao acordar de manhã, Belzebu teve o cuidado de anotar o sonho que o invadiu durante a noite. Ele chamou Astaroth e pediu-lhe para cumprir as suas ordens à risca. Enviou-o ao mercado e ordenou-lhe que adquirisse todos os cereais disponíveis para depois os vender pelo dobro do preço que tinha comprado. De seguida, possuido por um frenesim incrível, ordenou-lhe que entrasse na casa de todos os proprietários de cultivo e campos de Oanylone, molestasse-os e obrigasse-os a vender, ao melhor preço, todas as suas colheitas e campos.

Em alguns dias, Belzebu conseguiu tornar-se o único produtor de cereais de Oanylone, mas não foi o suficiente. Para gerir as suas terras, ele empregou a um preço tão baixo, que não permitia aos trabalhadores saciar a sua fome e, não tendo alternativa, estes foram forçados a aceitar estas práticas desonestas. Porém, colocou preços tão elevados que faziam o trigo e o milho tão caro, que toda a cadeia de produção sofreu uma inflação recorde. O trigo e o milho eram utilizados na composição do pão, da farinha, o milho também servia para alimentar os animais e, assim, Belzebu quase se apoderou de todo o mercado e dirigia debaixo das suas mãos a economia local. Logo o povo veio para se queixar e as autoridades vieram para manifestar a Belzebu o seu descontentamento. Este último, demasiado contente por ver que suscitava tal interesse, nem sequer se incomodou a recebê-los. O homem não deixava mais o seu domínio, deixando ao seu fiel assistente a gestão do trabalho sujo, dizendo que era demasiado importante para isso e que não se podia misturar com os da baixa Oanylone. A sua reputação dizia que o seu egoísmo só era igual à sua fortuna e que, rapidamente, cairia das nuvens. Os habitantes e os governantes decidiram reagir e criaram uma cooperativa para competir com Belzebu, os criadores deram uma parte dos seus campos para replantar os cereais e fazer descer os preços. Se Belzebu não vendesse mais, então possivelmente se dignaria a recebê-los, pensavam eles. Foi muito pior.

O advento de um destino

Face a tanta audácia, Belzebu foi tomado por uma cólera terrível que fez com que as paredes da sua casa tremessem. Ele ordenou ao seu fiel Astaroth que entrasse nos bairros mais pobres para recrutar os piores vilões e, assim, formar uma milícia para defender a sua propriedade. Ele pediu-lhe para levar os melhores, e com eles, ir saquear os campos, matando o gado e queimando as casas das pessoas que se juntaram à cooperativa. No dia seguinte depois de uma noite de terror, Oanylone ficou paralisada de medo perante a ideia de enfrentar aquele que tinha o poder de matar de fome toda uma população. Os camponeses não eram soldados e os milicianos de Belzebu até assustavam os guardas da cidade, e nenhum deles pôde negar a evidência da sua supremacia. Em algumas semanas, todos eles foram à sua casa para o informarem que aceitavam as suas condições, e assim, Belzebu apenas teve que impor o que era do seu agrado. Obrigou os criadores a entregarem-lhe uma percentagem das suas rendas em troca de preços aceitáveis sobre os cereais, e aqueles que se recusaram foram incapazes de alimentar correctamente os seus animais, as suas vacas e as suas ovelhas estavam tão famintas que não produziam muita carne e leite. Levou apenas alguns meses até que a fortuna de Belzebu aumentasse exponencialmente, à custa de muitos sacrifícios para o povo de Oanylone.

Os camponeses estavam agora pobres e sem terras, os criadores ganhavam apenas o suficiente para comer, e os únicos homens saudáveis eram aqueles que tinham cedido frente a Belzebu. Os governantes deixaram-se comprar com grandes quantias de dinheiro, enquanto que os pobres morriam de fome. Num dia de inverno, Guignol e Pimpon foram à casa do seu irmão, acompanhados por muitos aldeãos, ambos estavam muito fracos, o rosto afilado, e pediram uma audiência. Belzebu concordou em ouvi-los:

 

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Guignol: Belzebu… estamos arruinados por causa de ti, não podemos nem comprar o pão de cada dia… imploramos-te que nos ajudes!Pimpon: Suplico-te, és nosso irmão, não podes abandonar-nos…Belzebu: Vocês são patéticos, não têm qualidade nenhuma e ainda se atrevem a vir pedir esmola a minha casa? Não vos darei nada, se não têm o suficiente para se alimentarem é porque são fracos. Sou rico, mas a minha fortuna pertence-me, somente a mim, e a ninguém mais.

Guignol: Pensa no nosso pai que há muito se foi, isso foi o que te ensinou?

Belzebu: Eu fiz-me a mim mesmo, pequenos moços! Não esperei ninguém para ser quem sou. Não vos darei o menor tostão porque vocês não merecem! Os que hoje morrem de fome, são os que não compreendem nada.

Pimpon: Não vais parar com essa loucura? Vais deixar morrer tanta gente por causa do teu egoísmo?

Belzebu: O meu egoísmo? Eu não sou egoísta, eu consegui e levantei ciúmes, são eles os únicos que se fecham nas suas certezas e se recusam a encarar os factos. Pela vossa falta de visão, causaram a vossa própria destruição. Vão e nunca mais voltem, se morrerem é porque merecem!

 

Pimpon e Guignol deixaram o local frustrados e contaram o que lhes tinha dito o dono a outros habitantes. Todos ficaram frustrados com esse egoísmo e perceberam que nada iria mudar neste homem. Belzebu tornou-se tão poderoso que, sozinho, acumulou mais cruzados que um rei. Ele poderia distribuir dinheiro pelas janelas sem sofrer e, ainda assim, guardava tudo e não dava nada. O sofrimento do seu próximo não o afectava, não tinha nenhum amigo e, em troca, tinha mais inimigos que algum homem alguma vez tivera, em Oanylone. Foi naquele momento que o Altíssimo manifestou a sua cólera sobre Oanylone e decidiu punir aqueles que haviam pecado tanto que até haviam se esquecido do significado da vida:

 

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Jah: Enquanto vos dei o amor, vocês desviaram-se, preferindo escutar as palavras da Criatura à qual não dei Nome. Vocês preferiram abandonar-se aos prazeres mundanos em vez de me darem graças. Eu criei um lugar para vocês chamado Inferno, que eu coloquei na Lua, onde os piores dentre vós conhecerão uma eternidade de tormentos para puni-los dos seus pecados. Em sete dias, a vossa cidade será engolida pelas chamas. E aqueles que ficarem lá passarão a eternidade no Inferno. No entanto, eu sou magnânimo, e aqueles que dentre vós saibam fazer penitência passarão a eternidade no Sol, onde se encontra o Paraíso.

 

Assim, um grande número de habitantes resignou-se com grande pesar a deixar aquela cidade, agora amaldiçoada.

A rebelião

Foi neste momento que a Criatura Sem Nome se interessou novamente por Belzebu; a primeira vez, apareceu-lhe em sonhos; mas desta vez, veio para lhe sussurrar aos ouvidos as seguintes palavras:

 

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Criatura Sem Nome: Belzzzebu….. Belzzzebu… escuta-me! Tu mostraste aos homens que eras o mais forte, tu mostraste-lhes que o fraco não tinha futuro entre os homens. Brevemente, uns homens virão e vão te fazer frente, dizendo que o amor é o que une aos homens, falarão de amizade e da cólera do Altíssimo. Não os escutes, pois são apenas mentira e malícia.

 

Belzebu, que não era o que se podia chamar um crente, tinha muito pouca afinidade com os que acreditavam no Altíssimo. Os ritos legados por Oane eram-lhe desconhecidos e, na verdade, achava-os um pouco estúpidos. Seis outros homens foram abordados pela Criatura Sem Nome, cada um, como Belzebu, encarnava um vício, e todos, pregaram contra Jah. A enfrentá-los, sete virtuosos reuniram-se com a missão de defender a Palavra Divina, pregando a amizade, a temperança, a justiça, o auto-sacrifício, a conservação, o prazer e a convicção. Para ele, colocar o seu destino nas mãos de uma entidade divina não fazia sentido, só podia contar com ele mesmo e ninguém mais. Assim, ele finalmente saiu da sua casa com Astaroth a seu lado e andava pelas ruas e praças da cidade a pregar a sua verdade:

 

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Belzebu: Não escutem aqueles que dizem que o fim está próximo! Não escutem aqueles que vos fazem acreditar que Jah é Todo-Poderoso! Jah está fraco e invejoso do nosso sucesso. Jah nunca colocará em execução as Suas ameaças, porque não matará os Seus próprios filhos! Não saiam de Oanylone, continuem a viver como viviam e mandem pastar aqueles que pregam para Ele!

 

Muitos foram os que o ouviram e que ouviram os outros pregadores, enquanto que Oanylone tinha caído no vício mais profundo e no pecado mais desprezível. Belzebu guardava a sua riqueza e ridicularizava aqueles que não tinham com o que viver. Rodeou-se de homens fiéis e de Astaroth, temido pela maioria daqueles com que se cruzava. A avareza que tinha mostrado não tinha igual, e aqueles que tentaram roubar os seus bens foram mortos impiedosamente. A violência foi a forma que ele encontrou para se proteger, ainda que se poderia ter cercado de um exército de homens fiéis e sinceros por amizade, mas no lugar disso envolveu-se num egoísmo tão grande que até deixou os seus irmãos morrerem de fome, quando alguns pães teriam salvo as suas vidas. A sua confiança e a sua superioridade aumentaram o eco dos argumentos retóricos contra Jah e aqueles que pregavam para Ele. Onde quer que aparecesse, o seu auditório era conquistado, e aqueles que se recusavam a ouvi-lo ou tentavam refutar os seus argumentos, ele derrotava-os impiedosamente fazendo-lhes ver apenas o seu próprio interesse.

A cidade afundou-se completamente no vício mais absoluto, esta cidade maldita vivia assim dias negros cheios de ódio, violência e pecado. Belzebu lidava com a multidão da mesma forma como comerciava, manipulava-os com tanto êxito como geria os cruzados. No entanto, não fazia pelos outros, não; ele fazia-o por ele porque considerava que tudo o que tinha levado tanto tempo a construir, era a prova de que ele era o mais maligno, o mais rico, porque se conseguiu fazer o mais forte, e Belzebu não podia imaginar por momento algum que o seu destino era o resultado da vontade divina, ou pelo menos, que algum Deus qualquer tivesse impacto sobre ele. Segundo ele, Jah tinha deixado aos homens a escolha de não o amarem e assim, tinha deixado o futuro do mundo nas mãos da humanidade, não compreendendo porque Ele vinha agora reclamar para que O venerassem. Com os outros seis pregadores, Satanás, Belial, Azazel, Asmodeus, Lúcifer e Leviatã, Belzebu espalhava as palavras venenosas da Criatura Sem Nome com tanto fervor e tenacidade que estava confiante que nada fosse acontecer.

Os primeiros seis dias pareceram demorar uma eternidade, o trovão ressoava e os relâmpagos caiam, e muitos resolveram deixar a cidade embora Belzebu soubesse que apenas os fracos se dobravam à vontade dos outros. Os virtuosos tinham aceite o castigo do Altíssimo e davam mais razões a Belzebu para cantar vitória porque, davam a entender que se todos os virtuosos ficavam, era porque também não acreditavam nas ameaças do Todo-Poderoso. O sétimo dia chegou e um gigantesco cataclismo ocorreu, engolindo a cidade debaixo da terra depois de tê-la purificada com as chamas da ira de Jah. Os poucos humanos que permaneceram naquele lugar foram varridos da face da terra. Aqueles que tinham escutado os virtuosos foram aceites no Paraíso enquanto que os outros foram engrossar as fileiras do Inferno Lunar. Astaroth, que permaneceu com o seu mestre, foi enviado com ele e testemunhou a punição que fora reservada para Belzebu.

Uma eternidade de Avareza

Belzebu foi apresentado como cada ser humano que tinha ficado em Oanylone perante Jah. Fiel a si mesmo, recusou-se a reconhecer o Todo-Poderoso e foi enviado com os seus seis companheiros, ao Inferno Lunar. A sua aparência tomou a forma do seu vício e o seu corpo deformou-se de tal forma que não se assemelhava de forma alguma a um humano. Tornou-se a avareza que encarnava em Oanylone, e tomou a forma de uma gigantesca aranha coberta de ouro, com milhares de olhos de diamante.

Os pecadores que dão provas de avareza hoje em dia, que aproveitam os seus preceitos e que roubam os pobres para se enriquecer, esmagando outros para ter êxito e acumulando fortunas que em mil vidas não saberiam gastar, são condenados por Jah a viajarem até às galerias do Inferno para perto daquele que causou a sua perda.

Desde então, o Príncipe-Demónio Belzebu reina sem partilhar o poder sobre as galerias e os precipícios do Inferno, e as almas condenadas que pecaram por avareza, a ele se unem para sofrerem uma eternidade de tormentos sob a sua tirania.

Traduzido do Grego pelo Monsenhor Bender.B.Rodriguez

Tradução: NReis Ribeiro de Sousa Coutinho; Revisão: John Martins de Almeida Miranda e Sousa Coutinho e Beatrix Algrave Nunes

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