A Arte Bizantina

Um pouco de história Constantinopla - MapaO Império Romano Bizantino que correspondia ao Império Romano do Oriente, surgiu de uma divisão proposta por Teodósio, em 395. A sede desse império localizava-se em Bizâncio, antiga cidade fundada por marinheiros de Megara (Grécia), em 657 a.C. Muito tempo após a fundação de Bizâncio, o imperador Constantino percebeu as vantagens que ela oferecia, em termos de segurança e de possuir uma posição comercial estratégica.

Constantino enviou, então, arquitetos e agrimensores para remodelar a cidade. A 11 de maio de 330, a cidade foi inaugurada pelo Imperador, sob o nome de Nova Roma. O povo, porém, preferiu chamá-la pelo nome de seu fundador, Constantinopla. A cidade permaneceu com esse nome até o século VII, quando adotou novamente o nome de Bizâncio (embora os ocidentais ainda utilizassem o nome Constantinopla). Após a tomada pelos turcos otomanos, em 1453, recebeu o nome de Istambul, que permanece até hoje. Essa data é tradicionalmente utilizada para assinalar o fim da Idade Média e início da Idade Moderna.

Constantino acompanhando o trabalho dos arquitetosEm seus primeiros tempos, o Império Romano do Oriente conservou nítidas influências romanas, tendo as dinastias Teodosiana (395-457), Leonina (457-518) e Justiniana (518-610) mantido o latim como língua oficial do Estado, conservando a estrutura e as denominações das instituições político-administrativas romanas. A predominância étnica e cultural grega e asiática, entretanto, acabaria prevalecendo a partir do século VII.

Nos séculos IV e V, as invasões de visigodos, hunos e ostrogodos foram desviadas para o Ocidente mediante o emprego da força das armas, da diplomacia ou pelo pagamento de tributos, meios usados pelos bizantinos durante séculos para sobreviver. Essas ameaças externas puseram em perigo a estabilidade do Império Bizantino, internamente convulsionado por questões religiosas, que também envolviam divergências políticas. É o caso do Monofisismo, doutrina religiosa elaborada por Eutiques (superior de um convento de Constantinopla), centralizada na concepção de que só havia a natureza divina em Cristo. Embora considerada heresia pelo Concílio de Calcedônia (451 d.C.), que reafirmou a natureza divina e a natureza humana de Cristo, a doutrina monofisista propagou-se pelas províncias asiáticas (Ásia Menor e Síria) e africanas (Egito), onde se identificou com aspirações de independência.

 

Joia bizantina, amostra do luxo  do Império Romano do OrienteEnquanto o Império Romano do Ocidente caía diante dos bárbaros, o Império Romano do Oriente, ou Império Bizantino, resistia. Na verdade, essa parte privilegiada do Mediterrâneo manteve uma intensa atividade comercial e urbana. Suas cidades se tornaram cada vez mais luxuosas e movimentadas. A cultura greco-romana foi preservada e a doutrina cristã passou a ser discutida com grande minúcia e intensidade.

Justiniano, um dos mais famosos e poderosos imperadores bizantinos reconquistou alguns territórios romanos dominados pelos bárbaros e o Império Bizantino tornou-se rico e poderoso. O centro dinâmico do império estava nas grandes cidades: Bizâncio, Antioquia, etc. Nelas morava a classe rica, composta por grandes comerciantes, donos de oficinas manufatureiras, alto clero ortodoxo e funcionários destacados. Toda essa gente exibia o luxo de artigos requintados como roupas de lã e seda ornamentadas com fios de ouro e prata, vasos de porcelanas, tapeçarias finas, etc. Havia ainda uma classe urbana intermediária formada por funcionários de baixo e médio escalão e pequenos comerciantes. A grande maioria da população compunha-se entretanto de trabalhadores pobres e escravos.

 

 

 

Cruz de procissão, em ouro, século XINas festas religiosas em Bizâncio podia-se encontrar o confronto entre dois mundos: o mundo oficial do Imperador, da corte e da Igreja; e o mundo dos homens comuns que ainda adoravam os deuses pagãos (de paganus, camponês). O imperador romano do oriente ostentava seu poder em cerimônias públicas imponentes, com a participação dos patriarcas e dos monges. Nessas ocasiões , a religião oficial – o cristianismo – confundia-se com o poder imperial.

As bases do império eram três: a política, a economia e a religião, e, para manter a unidade entre os diversos povos que conviviam em Bizâncio, Constantino oficializou o cristianismo, tendo o cuidado de enfatizar nele aspectos como rituais e imagens dos demais grupos religiosos.

 

 

Madona entronizada, de autor siciliano anônimoEm muitas das pinturas e dos mosaicos da época, evidencia-se claramente esse vínculo entre a Igreja e o Estado. Nas imagens, Cristo aparece geralmente como um Rei em seu trono e Maria como uma Rainha, vestidos ricamente e com expressões de serem inatingíveis. Do mesmo modo como o Imperador portava-se nas cerimônias, os apóstolos e os santos apresentam-se como figuras solenes, representando claramente os patriarcas que rodeavam o soberano e lhe prestavam homenagem; os anjos assemelham-se claramente aos clérigos que costumavam seguir em procissões nas festas oficiais. As festas pagãs, que aconteciam sem nenhuma solenidade, eram proibidas pela Igreja. Entretanto, o povo revivia periodicamente as tradições culturais greco-romanas. Eram freqüentes os carnavais ligados aos cultos de Dionísio (chamado Baco pelos antigos romanos), antigo deus greco-romano, que na sociedade cristianizada, descera ao nível de demônio, pois só os demônios gostavam de rir. Os homens e as mulheres saíam as ruas mascarados, dançando e rindo, divertindo-se livremente, como seus antepassados comemoravam a renovação da vida no período das colheitas.

Durante séculos Roma utilizou o direito como um meio eficiente para solucionar os conflitos surgidos entre membros da sociedade. Justiniano seguia o exemplo de Roma, preocupando-se em preservar toda a herança jurídica do direito romano. Assim, encarregou o jurista Triboniano de dirigir a codificação ampla do direito romano dando origem ao Corpus Juris Civilis. As leis proclamadas por Justiniano foram um importante instrumento na consolidação do poder imperial. A legislação conferia ao Imperador amplos poderes jurídicos para perseguir todos que atentassem contra a sua administração.

Exibindo o esplendor do Império Bizantino, Justiniano promoveu a construção de várias obras públicas, como hospitais, palácios, pontes, estradas e aquedutos. Entre essas obras destacam-se as Igrejas de Santa Sofia, em Constantinopla, e São Vital, em Ravena.

Os sucessores de Justiniano procuraram manter a administração absolutista, sem a participação das camadas populares, para preservar o Império. Entretanto, uma série de ataques externos enfraqueceram sua administração central. O mundo bizantino começou, então, a uma longa e gradual trajetória de decadência, somente interrompida no século X, no reinado de Basílio II (976-1025). Nesse período, os exércitos bizantinos reconquistaram alguns territórios perdidos e a administração imperial recuperou as suas forças. Basílio II foi considerado um eleito de Deus para governar todos os homens, mas após sua morte, o império, mergulhado em constantes guerras, retornou a sua trajetória decadente. Apesar disso, o Império Bizantino sobreviveu até o século XV, quando Constantinopla foi definitivamente dominada pelos turcos otomanos, em 1453.


 

A Arte Bizantina

Pá de ouro - Basílica de São Marcos - VenezaA arte bizantina consistiu numa mistura de influências helênicas, romanas, persas, armênias e de várias outras fontes orientais, cabendo-lhe, durante mais de um milênio, preservar e transmitir a cultura clássica greco-romana. É, portanto, um produto da confluência das culturas da Ásia Menor e da Síria, com elementos alexandrinos. No plano cultural, essa multiplicidade étnica refletiu a capacidade bizantina de mesclar elementos diversos, como o idioma grego, a religião cristã, o direito romano, o gosto pelo requinte oriental, a arquitetura de inspiração persa, etc. O mundo bizantino foi bastante marcado pelo interesse por problemas religiosos. Dizia-se que em todos os lugares de Constantinopla encontravam-se pessoas envolvidas em debates teológicos. Entre as mais célebres questões discutidas estavam o monofismo e a iconoclastia. O monafismo era uma doutrina que afirmava que Cristo tinha somente natureza divina, negando a natureza humana, conforma afirmava a Igreja Católica. A iconoclastia era um movimento que pregava a distruição das imagens de santos, proibindo a utilização de imagens nos templos. É interessante destacar que por detrás dessas questões religiosas escondiam-se questões políticas. A questão iconoclasta, por exemplo, revela o conflito que havia entre o poder imperial e os latifúndios dos mosteiros. Esses mosteiros fabricavam imagens de santos e afirmavam serem milagrosas. Os imperadores, pretendendo controlar o poder dos mosteiros, insurgiram-se contra a crença nas imagens dos santos. A Igreja Católica do Oriente, ou seja, a Igreja Ortodoxa, apresentava-se como a verdadeira continuadora do cristianismo primitivo. Entre os fatores que distinguiam a Igreja Ortodoxa da Igreja Católica Romana, destacam-se: proibição de se venerar imagens de santos, exceto o crucifixo; veneração de Maria como mãe de Deus, mas não aceitação da doutrina da virgem imaculada; preservação de um ritual religioso mais complexo e elaborado.

É importante destacar que, enquanto a religião era assunto de acaloradas discussões no Império Romano do Oriente, o mesmo não se processou na Europa Ocidente e não é difícil entender os motivos. Quando a Europa Ocidental viveu o processo de ruralização e a sociedade foi se restringindo aos limites do feudo, isso se manifestou no espírito dos homens da época.

Poderíamos dizer que o espírito dos homens também se enfeudou, se fechou em limites bastantes estreitos: não havia espaço para a discussão, e apenas a doutrina cristã pregada pela Igreja Católica Apostólica Romana povoava o pensamento e o sentimento humanos. As idéias cristãs eram colocadas como dogmas, inquestionáveis. Enquanto isso, em Bizâncio e demais grandes cidades orientais, havia uma civilização urbana, o que favorecia sobretudo o desenvolvimento do pensamento. A herança filosófica grega também teve enorme influência na sociedade bizantina, contribuindo para um clima de polêmicas mais freqüentes, para um hábito de questionamento, típicos do pensamento filosófico. Assim, não obstante, o centro dos debates fossem temas religiosos, várias foram as interpretações surgidas sobre a origem e a natureza de Cristo. Mais ainda, muito embora as heresias fossem fruto das discussões entre os elementos eclesiásticos, elas acabavam por representar interesses políticos e econômicos de grupos sociais diversos. Além da já citada questão da iconoclastia havia no caso do Monofisismo (heresia que difundiu-se nas províncias do Império Bizantino) uma identificação com as aspirações de independência de parte da população síria e egípcia. Nas artes, os bizantinos souberam combinar o luxo e o exotismo oriental com o equilíbrio e a leveza da arte clássica greco-romana. A arte bizantina era, então, essencialmente religiosa. O espaço arquitetural era aproveitado em função do jogo de luz e sombra e, reluzindo de ouro, o mosaico destaca a arquitetura. Com fases alternadas de crise e esplendor, a arte bizantina se desenvolveu do Século V, com o desaparecimento do Império Romano do Ocidente enquanto unidade política, até 1453, quando Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente, instituída sobre a antiga cidade grega de Bizâncio, foi ocupada pelos exércitos otomanos. Justamente nessa ocasião, a arte bizantina encontrava-se em vias de uma terceira idade áurea.

Mapa do Império BizantinoGraças à sua localização (Constantinopla) a arte bizantina sofreu influências de Roma, Grécia e do Oriente. A união de alguns elementos dessa cultura formou um estilo novo, rico tanto na técnica como na cor e, assim, seu caráter inconfundível decorre sobretudo da combinação de elementos dessas várias culturas, diversidade que prevaleceu sobre fatores de ordem técnica.

Está diversidade de culturas também trouxe muitos problemas ao Império, pois era difícil conciliar interesses tão diversos. Entretanto, era isso que caracterizava mais fortemente o Império Bizantino – um império universal para todos os seus habitantes, pois não importava a etnia a qual pertencessem, estes se caracterizavam pela aceitação e obediência ao imperador e à Igreja Ortodoxa e o domínio do idioma grego.

Quase sempre estreitamente vinculada à religião cristã, a arte bizantina teve, como objetivo principal, exprimir o primado do espiritual sobre o material, da essência sobre a forma, e a elevação mística decorrente dessa proposição. A arte bizantina, está portanto, dirigida pela religião; ao clero cabia, além das suas funções, organizar também as artes, tornando os artistas meros executores. O regime era teocrático e o imperador possuía poderes administrativos e espirituais; era o representante de Deus, tanto que se convencionou representá-lo com uma auréola sobre a cabeça, e, não raro encontrar um mosaico onde esteja juntamente com a esposa, ladeando a Virgem Maria e o Menino Jesus.

O aspecto grandioso das figuras frontais, vigente nas primeiras obras da arte bizantina, deu lugar a formas que, embora ainda solenes e majestosas, mostravam-se mais vivazes e variadas.

É da arte bizantina que surgem os modelos para toda a Idade Média. Entre outras coisas, é nela que surgem, pela primeira vez, representações das cortes angelicais. A arte dentro dos templos representou realmente uma teologia da imagem. Já na parte externa, através de pinturas e mosaicos, representava um maravilhoso espetáculo para a alma. A imagem bizantina era um prolongamento do dogma, e o desenvolvimento da doutrina através da arte.

A história da arte bizantina pode ser dividida em cinco períodos (alguns preferem a classificação em três), que coincidem aproximadamente com as dinastias que se sucederam no poder do império.

 


PERÍODOS

Período constantiniano

A formação da arte bizantina deu-se no período constantiniano, quando vários elementos se combinaram para dar forma a um estilo bizantino, mais presente nas criações arquitetônicas, já que pouco resta da pintura, da escultura e dos mosaicos da época, muitos dos quais teriam sido destruidos durante o período iconoclasta que ocorreria no século VIII.

Período justiniano

mosaico de San Vitale de Ravena, representando Justiniano  junto aos clérigos e exércitosA arte bizantina teve seu grande apogeu no século VI, durante o reinado do Imperador Justiniano. Essa, na verdade, foi sua primeira fase áurea. Esse período corresponde à fixação dos grandes traços dessa arte imperial. As plantas arquitetônicas diversificaram-se: planta retangular com armação, ou centrada, com número de naves variável e coberta com uma cúpula. Santa Sofia de Constantinopla, atribuída a Artêmios de Tralles e Isidoro de Mileto, é o templo mais notável dessa época, ao lado das igrejas de Ravena e Santa Catarina do Sinai. A crise do iconoclasmo, caracterizado pela rejeição da representação do divino, favoreceu o monaquismo e o aparecimento da escola capadociana. Das poucas obras de arte que restam do período, a mais notável é a Cathedra de Maximiano, em Ravenna (546-556), recoberta de placas de marfim com cenas da vida de Cristo e dos santos. Ainda, basicamente helenísticos, são o "marfim Barberini" (Museu do Louvre) e o díptico do arcanjo Miguel (Museu Britânico). Uma das características deste período se apresenta na decoração, com formas naturalísticas em ornatos sempre mais elaborados. Igual tendência manifesta-se nos tecidos de seda, como os conservados no Museu de Cluny, em Paris, de inspiração nitidamente persa. Da produção artística que medeia entre a morte de Justiniano I e o início da fase iconoclasta, destaca-se o artesanato em metais. O culto às imagens e às relíquias, por ser considerado idolatria de feição pagã, foi combatido pelos imperadores ditos iconoclastas, nos séculos VII e VIII, quando foram destruídos quase todos os conjuntos decorativos e as raras esculturas da primeira idade áurea, principalmente em Constantinopla. A iconoclastia se deveu ao conflito entre os imperadores e o clero. A luta entre iconódulos (favoráveis as imagens) e iconoclastas resultou na proibição de toda representaçao iconográfica na Igreja Oriental à partir de 754. Entretanto, essa proibição duraria pouco tempo e no século IX a arte retornaria ser utilizada como veículo de catequização e devoção. Assim, após Justiniano, as artes somente voltaram a florescer durante a dinastia macedoniana, depois de superada a crise iconoclasta.

Período macedoniano

Também chamado segunda fase áurea bizantina ou renascença bizantina, o período macedoniano inicia-se com Basílio I (867-886) e atinge o apogeu no reinado de Constantino VII Porfirogênito (945-959).

Por volta do século X, a decoração das igrejas obedeceu a um esquema hierárquico: cúpulas, absides e partes superiores foram destinadas às figuras celestes (Cristo, a Virgem Maria, os santos etc.). Já as partes intermediárias, como áreas de sustentação, às cenas da vida de Cristo; e as partes inferiores, à evocação de patriarcas, profetas, apóstolos e mártires. A disposição, colorida, e a apresentação das diferentes cenas, variavam de modo sutil, para criar a ilusão de espaço e transformar em tensão dinâmica a superfície achatada e estática das figuras. Destacam-se, desse período, a escultura em marfim, de que existiram dois centros principais de produção, conhecidos como grupos romano e nicéforo. Há, ainda, o esmalte e o artesanato em metais, que atestam o gosto bizantino pelos materiais belos e ricos. A arte sacra imperial humanizou-se: os santuários passaram a ter proporções menos imponentes, mas a planta em cruz inscrita chegava à perfeição e tornava-se perceptível do exterior. Colocada sobre pingentes ou sobre trompas de ângulo (porção da abóbada que sustenta uma parte saliente do edifício), a cúpula é sustentada pelas abóbadas em berço ou abóbadas em aresta. Na Grécia, Dáfni, São Lucas na Fócida e os Santos Apóstolos de Atenas são exemplos desse tipo, assim como a igreja do Pantocrator, em Constantinopla. As artes menores são testemunhos de um luxo refinado. Foi sob o reinado dos Comnenos que foram erguidas as numerosas igrejas da Iugoslávia (Ohrid, Nerezi, etc.).

Período comneniano

A arte comneniana, marcada por uma independência cada vez maior da tradição, evolui para um formalismo de emoção puramente religiosa.

Esta arte, nos séculos seguintes, servirá de modelo à arte bizantina dos Balcãs e da Rússia, que tem nos ícones e na pintura mural suas expressões mais elevadas.

Período paleologuiano

Durante a dinastia dos Paleólogos torna-se evidente o empobrecimento dos materiais, o que determina o predomínio da pintura mural, de técnica mais barata, sobre o mosaico. Podem-se distinguir duas grandes escolas, sendo a primeira delas, a de Salonica, que continua a tradição macedoniana e pouco ou nada inova. A outra, mais cheia de vitalidade e originalidade, é a de Constantinopla, iniciada por volta de 1300, como se pode verificar pelos mosaicos e afrescos da igreja do Salvador. Nesta fase, o realismo e decoração narrativa tenderam a generalizar-se. As cenas estão plenas de personagens (mosaico de São Salvador-in-Cora. hoje Kahriye Camii, de Constantinopla); os afrescos multiplicaram-se. Os grandes centros de arte sacra bizantina são Tessalônica, Trebizonda e Mistra. Apesar do desaparecimento do Império, a marca da arte bizantina manteve-se nas regiões mais diversas, como o monte Atos, a Iugoslávia, a Bulgária, a Romênia e a Rússia, a qual continuaria a produzir notáveis ícones.

Estilo ítalo-bizantino

Partes da Itália foram ocupadas pelos bizantinos entre os Séculos VI e XI, o que produziu o chamado estilo ítalo-bizantino, desenvolvido em Veneza, Siena, Pisa, Roma e na Itália meridional.

A partir do ícone, pintores de gênio, como Duccio e Giotto, lançaram os fundamentos da pintura italiana.

Nos primeiros tempos do Império Bizantino não houve, a bem dizer, unidade na cultura. Uma infinita variedade de motivos, formas, coloridos, testemunhava uma prodigiosa miscelânea étnica: quadros egípcios, ornamentos sírios, mosaicos de Constantinopla, afrescos de Tessalônica; por todo o lado era prfunda a marca das tradições seculares. Ponto de fusão entre a Europa e a Ásia, Bizâncio sofreu a vigorosa influência das civilizações orientais. A arte antiga e a cultura persa e árabe marcaram muitas obras-primas da arte bizantina com um toque inigualável. Durante séculos, Bizâncio foi um enorme cadinho onde se fundiram as correntes culturais de toda a bacia mediterrânea e do Oriente Médio, mas que, por seu lado, exerceu a sua influência no desenvolvimento da cultura e da arte em diversos povos da Europa e da Ásia.

No século VI e princípio do século VII surgiram importantes obras históricas. Procópio de Cesareia, contemporâneo de Justiniano I, traçou um pormenorizado quadro da sua época. Na sua "História secreta", ao contrário do que fizera nas suas outras obras, em que fazia o elogio do Imperador, Procópio relata os sofrimentos do povo e denuncia a venalidade dos funcionários e o deboche da corte.

Inúmeras obras de tradição oral cultivadas pelo povo não chegaram, infelizmente, até nós, mas os numerosos monumentos da arte bizantina que podemos admirar, testemunham o gosto e maestria dos seus autores. Toda a riqueza da arte popular está revelada nos artigos de artesanato. As sedas eram ornadas com motivos de cores vivas; os artesãos trabalhavam a madeira, o osso, a prata, a cerâmica ou o mármore, tirando a sua inspiração do mundo vegetal ou animal. As paredes das igrejas estavam cobertas de afrescos de cores vivas, ainda livres de estilização. Os mosaicos do palácio imperial, por exemplo, reproduziam com muita verdade e calor, certas cenas da vida rural. A iconoclastia deu um rude golpe na pintura religiosa acentuando ao mesmo tempo os assuntos profanos. Iluminuras cheias de dinamismo e de expressão ornavam as folhas dos livros.

Interior da Igreja de Santa Sofia  -  ConstantinoplaNos seus primórdios, os monumentos da arquitetura bizantina revelam uma forte influência da arte antiga. A maravilhosa Igreja de Santa Sofia, em Constantinopla, é disso o mais perfeito exemplo. Foi construída no reinado de Justiniano, por Isidoro de Millet e Antêmio de Tralles e dedicada à Sabedoria Divina (Sophia). Esta basílica imensa é inundada pela luz que penetra pelas quarenta janelas rasgadas no contorno da alta cúpula. A sua abóbada coroa o edifício à semelhança do céu. Simbolizava o poderio e unidade do império cristão. No interior, Santa Sofia está suntuosamente decorada com mármores polícromos, mosaicos, afrescos resplandecentes e magníficas colunatas.

Em 13 de abril de 1204, os cruzados, vindos da Terra Santa, decidiram invadir Constantinopla. A cidade sucumbiu e sofreu um bárbaro saque. Metade da capital estava em escombros, enquanto a outra era devastada e pilhada. Os habitantes foram dizimados; dezenas de monumentos de arquitetura antiga, de inigualável beleza, perderam-se para sempre. Os cruzados saciaram-se com o sangue. Avaliou-se em mais de 400.000 marcos de prata a parte do saque que foi sistematicamente partilhada entre os cruzados, sem contar com as riquezas roubadas arbitrariamente e com o que ficou para os Venezianos. Um escritor bizantino, testemunha do saque de Constantinopla, dizia que os muçulmanos tinham sido mais misericordiosos e menos ferozes do que os cruzados.

O Império Bizantino desfez-se em pedaços. Os cruzados criaram o Império Latino. Surgiram Estados Gregos no Epiro e na Ásia Menor, que iniciaram imediatamente a luta contra os conquistadores. Depois da partilha de Bizâncio, os cavaleiros ocidentais recusaram-se a continuar a cruzada. Já não fazia qualquer sentido que se enfrentassem novos perigos. Só o Papa manifestou algum descontentamento, que não durou muito tempo; perdoou este "licenciamento" aos cavaleiros, na esperança de poder submeter a Igreja Bizantina à Santa Sé (os cruzados achavam os bizantinos uns hereges porque não aceitavam a autoridade do Papa).

Muitos artistas estavam entre os milhares de refugiados de Constantinopla. Vários desses artistas foram aproveitados nos impérios gregos que se formaram em Nicéia, em Trebizonda e em Mistra. Nestas cortes, especialmente em Nicéia, as artes floresceram rapidamente. Um estilo novo da arte bizantina emergiu nos Balcãs, Grécia e Ásia Menor.

Mas o Império Bizantino não podia voltar a ter o seu antigo vigor. Os seus recursos materiais tinham sido completamente pilhados. Incendiada, meia deserta, com os seus palácios em ruínas e as praças cheias de mato, Constantinopla já nada tinha da sua magnificência passada. A "rainha das cidades" já não existia. O capital comercial italiano triunfava sobre os ofícios locais e sobre o comércio. Veneza estava solidamente estabelecida no rico arquipélago e em algumas cidades do Peloponeso.

Os historiadores da arte concluíram que as últimas décadas da arte de Bizâncio – aqueles anos que conduzem à conquista da cidade pelo sultão otomano Mehmet II, em 29 de maio de 1453 – foi um período difícil para a proteção da arte, considerando que uma tentativa válida foi feita para conservar o legado antigo de Bizâncio. Em um dos últimos estágios do império, tentaram reacender a cultura que tinham herdado da Grécia, Roma e Bizâncio medieval. Por alguns anos a chama queimou-se brilhantemente.

A influência bizantina repercutiu ainda em meados do século XIV, sobretudo na obra dos primeiros expoentes da pintura veneziana. Ainda durante a segunda metade do século XV e boa parte do século XVI, a arte daquelas regiões onde ainda florescia a ortodoxia grega permaneceu dentro da arte bizantina. E essa arte extravasou em muito os limites territoriais do império, penetrando, por exemplo, nos países eslavos.

A queda de Constantinopla em 1453 acarretou o surgimento do grande Império Turco Otomano que passou a ameaçar os reinos do Ocidente, e fez com que vários sábios bizantinos migrassem para a Itália, levando para lá muitos dos elementos da cultura clássica antiga, que fora preservada em Constantinopla. Isso contribuiu para o Renascimento. O entravamento do comércio da Europa com a Ásia acelerou a busca de um novo caminho para as Índias, iniciada pelos portugueses (1415) e trouxe desenvolvimento para a navegação.


Fontes: Livros:

GUENON, René. Os Símbolos da Ciência Sagrada. São Paulo: Pensamento, 1989.

ANGOLD, Michael. Bizâncio: A Ponte da Antigüidade para a Idade Média. São Paulo: Imago, 2002.

LUCCHESI, Marco. Bizâncio. São Paulo: Record, 1996.

Na Internet: http://www.ecclesia.com.br Museu Bizantino http://www.starnews2001.com.br/museu_bizantino.html Império Bizantino http://www.imperiobizantino.com

Author: Beatrix