Em nome de Deus

O título do filme ao contrário do que vocês possam pensar não tem nada a ver com aquela produção sobre as irmãs madalenas que foi lançado há pouco tempo, e que segundo li em algumas críticas parece ser muito bom. Esse filme do qual estou falando é mais antigo, é de 1988.

E também mostra que o pessoal aqui não tem muita imaginação para pôr nome em filme, o que vai me dar mais algum trabalho quando for a locadora. Em Nome de Deus, cujo nome original é Stealing Heaven (do diretor Clive Donner), conta a história do amor de Abelardo e Heloise, que viveram na Paris medieval do século XII. Abelardo era professor da primeira Universidade livre da França, numa época em que a Igreja Católica dominava a educação e a política no mundo.

Feito originalmente para a TV, trata-se de uma produção bastante precária quanto à ambientação de época figurino e outros detalhes, contudo a histórica continua cativante até os dias atuais.

O filme não fala praticamente nada da biografia de Abelard, pois além de ter sido o amante de Heloise e um grande professor Pierre Abelard era também um renomado filósofo e deixou algumas obras de importância, principalmente na área de teologia, ética e lógica. Chegou a sofrer séria perseguição da Igreja por seus escritos e talvez só não tenha ido parar na fogueira (devido as suas idéias polêmicas) graças a sua grandeza enquanto mestre e a proteção de Pedro, o venerável de Cluny.

Quanto a Heloise, segundo o historiador francês George Duby, foi uma das mulheres mais extraordinárias de sua época, o que pode ser percebido através da leitura da memorável correpondência que os “eternos amantes” trocaram.

Existe uma edição dessas cartas lançada pela editora Martins Fontes e garanto a vocês, como disse a Heloise de Stealing Heaven, é realmente uma “prosa memorável”, principalmente as respostas dela aos argumentos de fria lógica de Abélard.

Entretanto não dá para confiar piamente no conteúdo das cartas, pois há sinais de que houve algumas adulterações, talvez pelo seu conteúdo erótico e extremamente desafiador para os padrões da época. Afinal, em um período em que o sexo e o prazer eram vistos como terríveis pecados da carne e abominação; ambos se entregam a uma paixão tórrida e sensual. O filme aliás deixa isso bem claro e não economiza nas cenas de sexo, que mostra até uma posição que a igreja considerava inaceitável e condenável em uma relação sexual: a da mulher por cima, buscando também o prazer.

Para a igreja só valia o “papai-mamãe” e com fins meramente reprodutivos, nada de pensar em orgasmo, satisfação sexual e coisas do tipo, principalmente para a mulher.

Sobre esse aspecto aliás, a Heloise das cartas é desconcertante, já uma freira ela afirma: “Os prazeres amorosos que juntos experimentamos têm para mim tanta doçura que não consigo detestá-los, nem mesmo expulsá-los de minha memória. Para onde quer que eu me volte, eles se apresentam a  meus olhos e despertam meus desejos. Sua ilusão não poupa meu sono. Até durante as solenidades da missa, em que a prece deveria ser mais pura ainda, imagens obscenas assaltam minha pobre alma e a ocupam bem mais do que o ofício. Longe de gemer as faltas que cometi, penso suspirando naquelas que não pude cometer”.

Quanto a Stealing Heaven é um filme que com certeza vale a pena ser visto. Os meus alunos e alunas de Pedagogia adoraram, aliás nunca os vi tão animados vendo um filme. Minto, eles também ficaram felizes com “O nome da rosa”, mas isso é uma outra história.

Para mais informações sobre o filme visitem o site não oficial do ator Derek de Lint, que faz o papel de Abelard.
Nele há uma série de informações, links e muitas fotos.
http://derekdelintfansite.com/stealingheaven/

Para os interessados em adquirir o filme, felizmente uma boa notícia. Recentemente o vídeo foi lançado em DVD em uma dessas coleções de banca e pode ser encontrado inclusive nas Lojas Americanas. Então, aos interessados agora o filme está bastante acessível.

Author: Beatrix