456 - The Three O'Clock

São raros os momentos em que consigo encontrar um membro de uma banda pouco conhecida e que está disponível para um papo. Ok, nem tão raro, já que entrevistei vários. Michael Quercio é outro gentleman. Educado, paciente com meu inglês pra lá de imperfeito e que responde meu questionário interminável. Líder do The Three O'Clock, banda que durou pouco tempo, mas deixou grandes obras-primas oitentistas, foi indispensável para facilitar minha vida ao escrever esse texto.


Segundo Steve Wynn, Michael é o inventor do termo Paisley Underground, gênero que marcou uma série de bandas norte-americanas dos anos 80 que fizeram um revival psicodélico, especialmente o folk country, psicodelia e grupos nova-iorquinos, como o Velvet Underground.

Os maiores repesentantes do gênero foram: Bangles, Clay Allison, Dream Syndicate, Green on Red, The Last, The Long Ryders, Mazzy Star, Opal, The Plimsouls, Rain Parade, The Three O'Clock, True West e as Pandoras.

Ele, aliás, discorda que todas essas bandas tenham feito parte do movimento: "A cena começou com quatro grupos: Three O'Clock, Rain Parade, Bangles e o Dream Syndicate. Fizemos vários shows juntos, na região de Los Angeles e, mais ou menos um ano depois, alguns decidiram usar o termo para ajudá-los a ganhar fama."

Só por isso, Michael já teria uma importância histórica, não fosse ele um grande músico e líder, não apenas do Three O'Clock, mas também do Salvation Army. Segundo o próprio, sua aventura musical começou aos 17 anos.

Ele explica como nasceu o Salvation Army: "Eu tinha 17 anos, estava no ginásio e conheci Troy (Howell, futuro baterista da banda), em outra escola. Fui apresentado a Johnny Blazing (guitarra). Mas ele deixou a banda antes de lançarmos nosso compacto Mind Gardens /Happen Happened, sendo substituído por Gregg Gutierez, que gravou nosso primeiro LP, em março de 1982. Em julho, Troy saiu, entrando Danny Benair e, em seguida entrou Mike Mariano, nos teclados. Como o Exército da Salvação não permitiu mais o uso do nome, tivemos que mudá-lo. Assim, nos tornamos o Three O' Clock."

O disco trazia 10 faixas, assim divididas...

Lado A

01. She Turns to Flowers
02. Upside Down
03. The Seventeen Forever
04. Mind Gardens
05. Grimly Forming

Lado B

01. While You Were in Your Room Talking to Your Wall
02. Minuet
03. Happen Happened
04. I Am Your Guru
05. Going Home

Apesar da banda ter mudado o nome, o som continuava igual e no mesmo ano lançam um EP de cinco músicas, pela Frontier Records: Baroque Hoedown.

O trabalho continuava a excelência do anterior: melodias sunshine pop e power pops perfeitas, ("With a Cantaloupe Girlfriend", e "I Go Wild") ou belos momentos de garagem ("Sorry").

A própria capa remetia aos discos anos 60, lembrando um pouco a de Mr. Tambourine Man, disco de estréia dos Byrds, de quem, aliás, fizeram uma cover que não entrou no disco.

Michael conta como aconteceram as gravações: "Gravamos Baroque Hoedown no outono de 1982 e foi nosso primeiro trabalho com o produtor Earl Mankey. Foi gravado em seu estúdio caseiro de 16 canais e em uma mesa de som que ele comprou de Brian Wilson, dos Beach Boys, a mesma usada para gravar o disco Sunflower. Gravamos as cinco músicas do EP, mais uma cover de 'I'll Feel a Whole Lot Better', dos Byrds, com David Roback, do Rain Parade, na guitarra."

O EP trazia cinco faixas:

Lado A

01. With a Cantaloupe Girlfriend
02. I Go Wild
03. Marjorie Tells Me

Lado B

01. Sorry
02. As Real as Real

No ano seguinte é a vez da obra-prima Sixteen Tambourines.

"Exatamente um ano após gravarmos o EP com Earl, o chamamos para produzir nosso primeiro LP, no mesmo estúdio e com o mesmo equipamento. Queria que Sixteen Tambourines fosse uma linda coleção de grande canções e trabalhamos duro para que tudo ficasse bom. Aspirava ser o Love ou os Zombies."

Michael Quercio pode dormir feliz. Seus objetivos foram totalmente realizados. Sixteen Tambourines traz todos os elementos perfeitamente ajustados, com a banda soando coesa, perfeita, sem nenhuma faixa ruim.

Há até uma cover dos Bee Gees em sua fase inicial - "In My Own Time", fazendo do álbum um dos grandes momentos do rock norte-americano da primeira metade dos anos 80.

Todas as faixas eram de Gutierrez e Quercio, exceto as indicadas:

Lado A

01. Jet Fighter - 3.22 (Mariano, Gutierrez and Quercio)
02. Stupid Einstein - 2.17
03. And So We Run - 2.40
04. Fall To The Ground - 2.27
05. A Day In Erotica - 4.20

Lado B

01. Tomorrow - 3.41
02. In My Own Time - 2.03 (Barry Gibb, Robin Gibb)
03. On My Own - 2.48
04. When Lightning Starts - 3.31
05. Seeing Is Believing - 4.27

(capa de Arrive Without Travelling)

Após o lançamento, o grupo se mudou para gravadora I.R.S, de Miles Copeland e que tinha no seu cast um quarteto que começava a dar o que falar: R.E.M. Na nova casa a banda lançou mais três LPs: Arrive Without Travelling (1985), Ever After (1986) e Vermillion (1988).

Apesar de ótimas melodias, a banda não obteve grande sucesso comercial e o grupo acabou se separando após o último disco.

Após o final da banda, Michael resolveu se juntar ao Game Theory, de Scott Miller. Michael adorou o período, apesar das dificuldades. "Adorei tocar com Scott no Game Theory, nos divertimos muitos. O problema é que vivíamos longe - eu, em Los Angeles e ele, em San Francisco, o que inviabilizou o projeto. No entanto, tenho ótimas lembranças. Scott é um gênio!"

Michael garante que pouca coisa mudou desde então. Ficou surpreso por ser conhecido no Brasil - "Jamais imaginei que alguém me conhecesse aí. Estou surpreso e muito feliz" - e continua gostando dos mesmo discos desde a adolescência. Seu cinco melhores discos - momento Alta Fidelidade total - são: Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (Beatles), S. F. Sorrow (Pretty Things), Forever Changes (Love), A Love Supreme (John Coltrane) e Remember the Future (Nektar).

Ele também acha bacana a volta de alguns grupos do seu passado - "acho ótimo ver grandes banda de volta - e gostaria de voltar com o Three O'Clock: "espero nos reunirmos para alguns shows".

Espero que tenham gostado da coluna e do papo com Michael Quercio. Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

Baroque Hoedown (EP) (1982)
Sixteen Tambourines (1983)
Arrive Without Travelling (1985)
Ever After (1986)
Vermillion (1988)


 

Colunas