São raros
os momentos em que consigo encontrar um membro de uma banda pouco
conhecida e que está disponível para um papo. Ok,
nem tão raro, já que entrevistei vários.
Michael Quercio é outro gentleman. Educado, paciente
com meu inglês pra lá de imperfeito e que responde
meu questionário interminável. Líder do The
Three O'Clock, banda que durou pouco tempo, mas deixou grandes
obras-primas oitentistas, foi indispensável para facilitar
minha vida ao escrever esse texto.
Segundo
Steve Wynn, Michael é o inventor do termo Paisley Underground,
gênero que marcou uma série de bandas norte-americanas
dos anos 80 que fizeram um revival psicodélico, especialmente
o folk country, psicodelia e grupos nova-iorquinos, como o Velvet
Underground.
Os maiores repesentantes
do gênero foram: Bangles, Clay Allison, Dream Syndicate,
Green on Red, The Last, The Long Ryders, Mazzy Star, Opal, The
Plimsouls, Rain Parade, The Three O'Clock, True West e as Pandoras.
Ele, aliás, discorda
que todas essas bandas tenham feito parte do movimento: "A
cena começou com quatro grupos: Three O'Clock, Rain Parade,
Bangles e o Dream Syndicate. Fizemos vários shows juntos,
na região de Los Angeles e, mais ou menos um ano depois,
alguns decidiram usar o termo para ajudá-los a ganhar fama."
Só por isso, Michael
já teria uma importância histórica, não
fosse ele um grande músico e líder, não apenas
do Three O'Clock, mas também do Salvation Army. Segundo
o próprio, sua aventura musical começou aos 17 anos.
Ele explica como nasceu
o Salvation Army: "Eu tinha 17 anos, estava no ginásio
e conheci Troy (Howell, futuro baterista da banda), em outra escola.
Fui apresentado a Johnny Blazing (guitarra). Mas ele deixou a
banda antes de lançarmos nosso compacto Mind Gardens
/Happen Happened, sendo substituído por Gregg
Gutierez, que gravou nosso primeiro LP, em março de 1982.
Em julho, Troy saiu, entrando Danny Benair e, em seguida entrou
Mike Mariano, nos teclados. Como o Exército da Salvação
não permitiu mais o uso do nome, tivemos que mudá-lo.
Assim, nos tornamos o Three
O' Clock."
O
disco trazia 10 faixas, assim divididas...
Lado A
01. She Turns to Flowers
02. Upside Down
03. The Seventeen Forever
04. Mind Gardens
05. Grimly Forming
Lado B
01. While You Were in Your Room Talking to Your Wall
02. Minuet
03. Happen Happened
04. I Am Your Guru
05. Going Home
Apesar da banda ter mudado
o nome, o som continuava igual e no mesmo ano lançam um
EP de cinco músicas, pela Frontier Records: Baroque
Hoedown.
O
trabalho continuava a excelência do anterior: melodias sunshine
pop e power pops perfeitas, ("With a Cantaloupe Girlfriend",
e "I Go Wild") ou belos momentos de garagem ("Sorry").
A própria capa remetia
aos discos anos 60, lembrando um pouco a de Mr. Tambourine
Man, disco de estréia dos Byrds, de quem, aliás,
fizeram uma cover que não entrou no disco.
Michael conta como aconteceram
as gravações: "Gravamos Baroque
Hoedown no outono de 1982 e foi nosso primeiro trabalho
com o produtor Earl Mankey. Foi gravado em seu estúdio
caseiro de 16 canais e em uma mesa de som que ele comprou de Brian
Wilson, dos Beach Boys, a mesma usada para gravar o disco Sunflower.
Gravamos as cinco músicas do EP, mais uma cover de 'I'll
Feel a Whole Lot Better', dos Byrds, com David Roback, do Rain
Parade, na guitarra."
O EP trazia cinco faixas:
Lado A
01. With a Cantaloupe Girlfriend
02. I Go Wild
03. Marjorie Tells Me
Lado B
01. Sorry
02. As Real as Real
No
ano seguinte é a vez da obra-prima Sixteen Tambourines.
"Exatamente um
ano após gravarmos o EP com Earl, o chamamos para produzir
nosso primeiro LP, no mesmo estúdio e com o mesmo equipamento.
Queria que Sixteen Tambourines fosse uma linda
coleção de grande canções e trabalhamos
duro para que tudo ficasse bom. Aspirava ser o Love ou os Zombies."
Michael Quercio pode dormir
feliz. Seus objetivos foram totalmente realizados. Sixteen
Tambourines traz todos os elementos perfeitamente ajustados,
com a banda soando coesa, perfeita, sem nenhuma faixa ruim.
Há até uma
cover dos Bee Gees em sua fase inicial - "In My Own Time",
fazendo do álbum um dos grandes momentos do rock norte-americano
da primeira metade dos anos 80.
Todas as faixas eram de
Gutierrez e Quercio, exceto as indicadas:
Lado A
01. Jet Fighter - 3.22 (Mariano, Gutierrez
and Quercio)
02. Stupid Einstein - 2.17
03. And So We Run - 2.40
04. Fall To The Ground - 2.27
05. A Day In Erotica - 4.20
Lado B
01. Tomorrow - 3.41
02. In My Own Time - 2.03 (Barry Gibb, Robin Gibb)
03. On My Own - 2.48
04. When Lightning Starts - 3.31
05. Seeing Is Believing - 4.27
(capa
de Arrive Without Travelling)
Após o lançamento,
o grupo se mudou para gravadora I.R.S, de Miles Copeland e que
tinha no seu cast um quarteto que começava a dar
o que falar: R.E.M. Na nova casa a banda lançou
mais três LPs: Arrive Without Travelling
(1985), Ever After (1986) e Vermillion
(1988).
Apesar de ótimas
melodias, a banda não obteve grande sucesso comercial e
o grupo acabou se separando após o último disco.
Após o final da
banda, Michael resolveu se juntar ao Game Theory, de Scott Miller.
Michael adorou o período, apesar das dificuldades.
"Adorei tocar com Scott no Game Theory, nos divertimos muitos.
O problema é que vivíamos longe - eu, em Los Angeles
e ele, em San Francisco, o que inviabilizou o projeto. No entanto,
tenho ótimas lembranças. Scott é um gênio!"
Michael garante que pouca
coisa mudou desde então. Ficou surpreso por ser conhecido
no Brasil - "Jamais imaginei que alguém me conhecesse
aí. Estou surpreso e muito feliz" - e continua
gostando dos mesmo discos desde a adolescência. Seu cinco
melhores discos - momento Alta Fidelidade total - são:
Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (Beatles),
S. F. Sorrow (Pretty Things), Forever
Changes (Love), A Love Supreme (John
Coltrane) e Remember the Future (Nektar).
Ele também acha
bacana a volta de alguns grupos do seu passado - "acho
ótimo ver grandes banda de volta - e gostaria de voltar
com o Three O'Clock: "espero nos reunirmos para alguns
shows".
Espero que tenham gostado
da coluna e do papo com Michael Quercio. Um abraço e até
a próxima coluna.
Discografia
Baroque Hoedown (EP) (1982)
Sixteen Tambourines (1983)
Arrive Without Travelling (1985)
Ever After (1986)
Vermillion (1988)
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