por Carlos Nishimiya
King
Of Missouri é o
resultado do encontro de duas lendas da música pop. De
um lado Anton Barbeau é um cultuado singer/songwriter
da festejada cena powerpop californiana com 8 discos já
lançados. Seus discos se notabilizam pelas suas melodias
extremamente bem trabalhadas em um contexto de simplicidade
e originalidade, suas letras, altamente pessoais e muitas vezes
surreais remetem a situações inusitadas, flashes
do cotidiano e algumas vezes a críticas e autocríticas
mordazes.
De outro lado o Bevis Frond
é um dos meus grupos favoritos, desde que os conheci quando
fui pela primeira vez para Londres nos anos 90. O Bevis Frond
é, na verdade, Nick Saloman, guitarrista extraordinaire,
compositor prolífico (até demais!), multiinstrumentista,
dono de gravadora, escritor e editor de uma das melhores revistas/zines
de psicodelia/powerpop do planeta, a Ptolomaic Terrascope (info
em www.terrascope.org).
O Bevis Frond tem uma carreira
fantástica. O grupo já lançou mais de 20
albuns, incontáveis singles, incontáveis participações
e colaborações em discos de outros artistas. Eu
tenho tentado colecionar tudo, mas essa é uma tarefa quase
impossível. Nevermind. O que realmente é
importante dizer é que o Bevis, apesar de serem quase heróis
nacionais em sua nativa Inglaterra é praticamente desconhecido
em outros países, o que é uma pena, porque sua música
é vital, energética e inventiva. E foi também
um dos catalizadores do revival da música psicodélica
nos anos 80 quando do lançamento do seu album de estréia,
Miasma em 1987. Lembra, em momentos, o melhor
de Jimi Hendrix, Country Joe & The Fish, e do melhor acid
rock da San Francisco de 1967.
King Of Missouri
foi o resultado do desejo de Anton de poder tocar junto com os
grandes músicos do Bevis (alem de Nick, Andy Ward, bateria
e Adrian Shaw, baixo). O approach do Bevis no acompanhamento
de Anton foi o foco nas canções e não na
sonoridade típica do grupo em seus discos próprios.
Os solos de guitarra característicos de Nick Saloman estão
contidos e mais inseridos no contexto das canções
de Anton Barbeau.
Dentre os destaques do
disco estão a mordaz "I Like You", sobre um assediador
de celebridades (seria o próprio Anton?), "Retabulation",
uma das faixas mais psych-pop do disco, talvez o único
momento em que Nick deixa fluir um dos seus solos mais etéreos
e "Sylvia Something", uma canção extremamente
elaborada, com diversas partes diferentes, refletindo o estado
de espírito do autor, alternando calmaria e desespero em
diferentes momentos.
Outra canção
do disco, "Octagon" já havia sido lançada,
em versão diferente, em uma coletânea de powerpop,
Yellow Pills vol.4, aliás uma série
que recomendo muito aos interessados no atual powerpop. Este lançamento
do excepcional selo Bongo Beat na verdade é um relançamento.
O disco foi originalmente
lançado em 2002 pelo selo do Bevis Frond, a Woronzow, mas
está saindo agora no Canadá e USA com nova capa,
adicionando os comentários do pessoal do Bevis e com a
adição de uma ótima faixa bônus, "Motor".
Só posso concluir
que King Of Missouri é um triunfo para
o Bevis Frond, que tem a oportunidade de mostrar uma outra face
de seu trabalho e principalmente para Anton Barbeau que tem uma
banda do mais alto naipe para acompanhá-lo nessa série
brilhante de canções. Certamente ainda ouviremos
falar muito de Anton Barbeau no futuro!
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