Roddy Frame tem bons antecedentes.
Afinal, nasceu na pequena cidade escocesa de East Kilbride, mesmo
lar dos irmãos Jim e William Reid do Jesus and Mary Chain.
Mas diferente dos barulhentos conterrâneos, Roddy é
um especialista em forjar lindas melodias. Com 18 anos, lançou
este disco pelo pequeno selo Rough Trade (que depois ficaria mundialmente
famoso por ser o lar dos Smiths). Um disco delicado, com arranjos
pops e até umas levadas de bossa. No Brasil, seu grande
sucesso foi uma versão de "Jump" (isso mesmo,
aquela canção do Van Halen!) que saiu no disco Knife,
produzido por Mark Knopfler do Dire Straits. E o mais incrível
é que essa faixa está apenas na edição
brasileira, pois lá fora foi editada como single. Mas foi
com High Land, Hard Rain que Roddy e o Aztec Camera marcaram os
anos 80. Um daqueles clássicos subestimados que valem a
pena ser conhecidos.
Aztec
Camera é basicamente a banda de Roddy Frame. É ele
que comanda, escreve e lidera o grupo que ainda continua e lançou
seu último álbum em 2002. A banda foi formada na
cidade de Glasgow, Escócia, em janeiro de 1980.
Roddy, então com
16 anos, convidou o baterista David Mulholland e o baixista Alan
Welsh para fazerem algumas apresentações na cidade
e em Edimburgo. Alan não durou muito tempo e seis meses
depois entrava Campbell Owens no seu lugar. Em dezembro do mesmo
ano conseguiram um contrato com um pequeno selo chamado Postcard,
que já havia contratado uma outra banda promissora: Orange
Juice.
Já em janeiro do
ano seguinte lançam o primeiro single Just Like
Gold, que é bem recebido nas paradas independentes.
Roddy começa a mostrar que não gosta de trabalhar
com músicos fixos e no próximo single “Mattress
of Wire” convoca o baterista do Orange Juice, Stephen Daly
para gravar. A canção é bem recebida assim
como a anterior e começa um rodízio imenso de músicos
dentro do Aztec, especialmente os bateristas.
Em 1982, Roddy decide procurar
uma gravadora maior para gravar um LP, já que possuía
material próprio suficiente. Acaba conseguindo assinar
com a Rough Trade. E mais uma vez recruta novos músicos:
David Ruffy (ex-Ruts) fica na bateria e Bernie Clark assume os
teclados e também a produção do álbum,
ao lado de John Brand. Assim nasce High Land, Hard Rain,
lançado em maio de 1983. É editado um single nos
Estados Unidos e dois na Inglaterra e o grupo promove sua primeira
excursão. Acabam chamando a atenção de Elvis
Costello, que os convida para abrir suas apresentações
em uma viagem de oito semanas aos Estados Unidos.
Apesar
do sucesso do álbum, que possuía uma sonoridade
incomum (pitadas de jazz, rock e bossa), Roddy confessa que seu
primeiro grande espelho era o esquizo Mark Smith, do The Fall:
“eu estava naquela fase de extrema inocência, achava
que não podia chegar perto de garotas, era contra drogas,
bebidas, tudo isso. E muitas das letras de Mark falavam disso
e eu as adorava. Ele era tão cínico que muitas vezes
pensava que ele deveria se matar, já que ele não
tinha outra opção. Isso me assustava e fascinava
e tentei ser mais otimista.” Outras fortes influências
foram o Velvet Underground e Bob Dylan.
Roddy desde cedo odiou
ser chamado de prodígio: “Eu me irritava com essa
coisa de garoto prodígio pelo simples fato que não
me sentia tão jovem. E Glasgow tem essa mentalidade provinciana.
Muitas vezes quando ia tocar em bares, alguns iam mais para ver
um garoto sem barba na cara do que pela música.”
Nessa época, o movimento
punk explodia e Roddy começava a escrever suas primeiras
canções. “A melhor coisa do punk foi que todo
mundo estava em pé de igualdade e que havia um grande estímulo
para que cada um produzisse e escrevesse suas próprias
canções. Acho que essa foi a maior contribuição
do movimento.”
Suas letras já eram
elaboradas e ele começou a ser taxado de visionário:
“Sempre achei que tudo pode melhorar. Há sempre um
lugar melhor e não acho que as pessoas precisem ficar entediadas.
Eu me entediava na escola e quando saí de lá fui
muito mais feliz e descobri o prazer de ler”. O escritor
favorito era Sartre, especialmente o livro A Idade da
Razão.
Embora apostasse em um
lado mais otimista, suas canções não eram
ingênuas. “We Could Send Letters”, uma das melhores
canções dos primeiros discos mostra o nível
que o garoto de 18 anos atingiu: “Você disse que é
livre e para mim isso é tudo/Você diz que é
livre para me empurrar e eu livre para cair/Você tem minha
confiança e eu seu endereço/E agora a única
chance que temos é esperar que ninguém mais faça
isso virar realidade... Feche seus olhos novamente/Até
as coisas melhorarem e você descobrir/Então os quatro
anos não significarão nada para mim quando eu estiver
sufocado e feliz vendo você sangrar... Você nunca
estará longe, mas poderemos enviar cartas”.
Tamanha complexidade fez
Roddy ser comparado a Ian Curtis e “We Could Send Letters”
ser considerado uma irmã de “Love Will Tear Us Apart”.
Sua postura tímida
com as garotas e seu jeito introvertido acabaram criando uma imagem
de que o Aztec seria uma banda por demais “feminina”.
Roddy não se incomoda com isso: “Acho realmente que
temos um pouco disto. Acabou virando uma piada com os meus amigos,
porque todos gostam de ficar bebendo cerveja em East Kilbride.
Eu odeio esportes e futebol! Mas nunca me achei gay. Sou apenas
um cara romântico.”
Roddy também mostrou
ser um cara ambicioso ao abandonar a Rough Trade e assinar com
a Warner para a gravação do segundo disco: “O
problema da Rough é que eles não consegue ultrapassar
certos limites, apesar de Geoff Travis ser uma das melhores pessoas
nesse meio que já conheci. A Warner é diferente,
eles te dão um suporte maior e passam uma grande confiança.
Apesar disso, eu mantenho contato com Geoff que me ajudou muito
quando lancei “Oblivious”. Todo mundo fala que não
sonha com o sucesso. Isso é besteira! Você faz uma
música e não espera ser reconhecido com ela? É
claro que há muita porcaria na parada de sucessos, mas
não é motivo para você não tentar.
Eu assisto o “Top of The Pops” como qualquer pessoa.
Por que não ver?”
Roddy conta que o solo
de guitarra em “We Could Send Letters” é a
melhor coisa que já fez: “Não me acho um grande
guitarrista, mas adoro o som da guitarra nesta canção.
Eu tentei fazer um estilo meio Neil Young, meio Tom Verlaine,
uma coisa meia amarga, porque a letra não é alegre,
é sarcástica. Não me acho um guitarrista
convencional, não vejo necessidade de tantos solos ou velocidade
em um canção. Às vezes uma guitarra alta
acaba com uma boa música.”
Esse garoto, que amava
bandas como Can e Faust, confessa ser apaixonado pelos hippies:
“Eu sou um hippie, sabia? Gosto de muitas coisas deles,
exceto o abuso das drogas, porque afeta meu ritmo. Quando componho
prefiro estar controlado e concentrado. Eu tento escrever para
outras pessoas e quero que gostem, mas tento manter um padrão
elevado, já que acredito que meu público espere
isso de mim. Eu me preocupo muito com que os outros achem de minhas
letras. Elas são extremamente pessoais. Eu tentava evitar
deixar transparecer minhas emoções, mas percebi
que é uma bobagem esconder isso.”
Ao deixar a Rough Trade
e assinar com a Warner, a gravadora chamou ninguém menos
que Mark Knopfler para produzir Knife. Apesar
de ser um bom disco, ficou muito distante do brilhantismo do LP
de estréia. Uma das razões pode ser o uso maior
de guitarras ou por Mark ter intimidado o jovem Roddy em estúdio,
já que o Dire Straits era uma das bandas de maior vendagem
pelo mundo. Mesmo assim vale uma conferida.
Um último detalhe:
Kevin Armstrong participou em 1989 do disco de estréia
do Tin Machine, banda criada e liderada por David Bowie, que recebeu
pauladas de todo mundo. Uma injustiça, pois é um
belíssimo disco de rock. Mas um dia falarei mais desse
trabalho.
Fiquem com a letra de "Oblivious",
o primeiro grande sucesso do grupo. Até mais!
Oblivious
From the mountain
tops to the sunny street
A different drum is playing a different kind of beat
It’s like a mystery that never ends,
I see you crying and I want to kill your friends
I hear your footsteps
in the street,
It won’t be long before we meet,
It’s obivious
Just count me in and count me out and
I’ll be waiting for the shout,
Oblivious...
Met Mo and she’s
okay, said no-one really changed
Got different badges but they wear them just the same
But down by the ballroom I recognised that flaming fountain
in those kindred caring eyes
I hear your footsteps
in the street,
It won’t be long before we meet,
It’s obivious
Just count me in and count me out and
I’ll be waiting for the shout,
Oblivious...
I hope it haunts
me ‘til I’m hopeless,
I hope it hits you when you go,
And sometimes on the edge of sleeping
It rises up to let me know it’s not so deep,
I’m not so slow
I hear your footsteps
in the street,
It won’t be long before we meet,
It’s obivious
Just count me in and count me out and
I’ll be waiting for the shout,
Oblivious...
They’re calling
all the shots, they’ll can and say
they phoned,
They’ll call us lonely when we’re really just alone.
And like a funny film, it’s kinda cute
They’ve bought the bullets and there’s no-one left
to shoot
I hear your footsteps
in the street,
It won’t be long before we meet,
It’s obivious
Just count me in and count me out and
I’ll be waiting for the shout,
Oblivious...
Discografia
High Land, Hard Rain (1983)
Knife (1984)
Aztec Camera (1985)
Love (1987)
Stray (1990)
Dreamland (1993)
Live on The Test rec. 1983 (1995)
Frestonia (1995)
The North Star (1998)
The Best of Aztec Camera (1999)
Surf (2002)
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