Essa
é com certeza a banda mais legal do mundo mesmo passados
mais de 20 anos. Não importa se Kate Pierson já
passou dos 50 anos, se Ricky Wilson (cérebro do grupo)
morreu em 1985, de Aids ou se hoje suas danças e sua alegria
contagiante são meio fora de moda ou propósito nesse
mundo tão certinho e sem sal de hoje. Mas houve um tempo
que cabelos bufantes, roupas de cores berrantes e risos imensos
eram a tônica das noites de sábado, que a bebida
mais gostosa era um hi-fi ou um uísque vagabundo e o máximo
era se requebrar ao som de "Legal Tender" e "Private
Idaho". Não era o visual impecável do Duran
Duran que fascinava, as poses sensuais de Madonna ou a raiva estampada
no rosto do adolescente irado Bono que te tirava de casa. Eram
Kate Pierson, Cindy Wilson e o vozeirão de Fred Schneider
que faziam tudo valer a pena. E dane-se os outros que reclamavam
disso ou aquilo, porque quando o B-52's rolava na pista você
dançava e rachava o bico ao mesmo tempo. Alguém
hoje sabe misturar essa puta receita?
A minha primeira imagem
quando alguém fala "Rock in Rio" é uma
só: estava eu em Campinas com meu pai, de castigo. Péssimo
aluno como sempre fui tinha ficado de recuperação
o mês inteiro de janeiro na escola e um final de semana
ele foi para lá trabalhar. Como minha mãe havia
viajado com minhas irmãs para o litoral (que sempre odiei
nessa época do ano) e não tinha com quem ficar,
lá fomos os dois. Para variar, meu pai não havia
feito reserva e fiquei conversando com uma estonteante recepcionista
e vendo televisão. E na TV, bem meus amigos, nela estava
passando um compacto do Rock in Rio e nesse exato momento adentra
o bife com chuchu frente àquele mundão de gente
pulando. E sabe a primeira coisa que me chamou a atenção?
A peruca branca de Cindy Wilson, com uma camisa sem manga e vermelha
feito um pimentão, suando. Eu a achei tão linda
naquela hora! Nunca mais me esqueci disso.
Enquanto eu assistia
e ficava brincando de jogar amendoim para o ar ensinando a musa
da recepção a técnica de comer sem deixar
cair (guloso que sempre fui), ia dançando com "Legal
Tender", que coincidentemente tocava na rádio. Não
preciso dizer que consegui um quarto rapidinho, não estudei
patavinas e ainda ganhei um bilhetinho da tal moça e um
beijo na bochecha que teimei em deixar de lavar por dias. Bem,
esse foi o meu Rock In Rio 1985 e isso significa B-52's para mim.
Como odiar ou achar chato uma banda dessas?
Depois
desse naco absolutamente inexpressivo e saudosista de minha aborrescência
vamos ao assunto propriamente dito...
Na mesma Athens que daria
ao mundo o R.E.M., nasceu o B-52's. Athens é uma cidade
essencialmente de estudantes e sempre teve uma forte cena alternativa
e lotada de eventos culturais.
Cinco jovens de classe
média sonhavam em deixar o pequeno estado da Georgia e
encontraram na música uma alternativa.
Os irmãos Cindy
e Ricky Wilson ao lado de Fred Schneider, Kate Pierson e Keith
Strickland resolveram então criar toda uma ideologia meio
esotérica, meio futurista e totalmente camp.
Nascia o B-52's, nome de
um avião da Segunda Guerra Mundial e principalmente uma
gíria do sul do Estados Unidos para designar perucas extravagantes.
Era
novembro de 1976, após um jantar em um restaurante chinês
e os cinco jovens reuniam-se para moldar o conceito.
A instrumentação
ficava por conta de Keith e Ricky. Aliás, Ricky desenvolveu
um método todo peculiar: sua guitarra possuía apenas
cinco cordas, ao invés de seis e usava afinações
completamente malucas. Keith alternava entre bateria, teclados
(também pilotados por Kate).
As primeiras apresentações
e reações foram das mais diversas: há quem
viu naquela frivolidade uma alienação, especialmente
os jovens que militavam no nascente movimento punk. Por outro
lado, havia quem gostasse daquela explosão de cores e nonsense
e chegaram até serem enquadrados como um grupo de disco
music!
Sua estréia aconteceu
em um dia dos namorados do ano seguinte, na casa de amigos. Como
toda banda partiram para Nova York e aportaram no lendário
clube CBGB, onde toda a geração punk norte-americana
havia feito escola, gente como Talking Heads, Patti Smith, Television,
Blondie, Modern Lovers, etc...
De
mera curiosidade começaram chamar a atenção
de várias pessoas que adoravam o alto astral da banda e
sem muita dificuldade conseguiram um contrato e gravaram seu primeiro
disco, simplesmente intitulado The B-52's.
Lançado pela Warner,
o disco vendeu 500 mil cópias, número respeitável
para uma banda novata que acabaria sendo um dos pilares da new
wave. A mistura de bom humor com passos de dança intitulados
como "dança do atum tímido" conquistaram
toda uma garotada que queria diversão. Mesmo sem apoio
das rádios comerciais, mas escorados em sucessos como "Rock
Lobster," e "52 Girls.", atraíam punks de
todos os lugares para buracos do Lower East Side.
E os punks admiravam aquela
banda que mesmo sem fazer uma música "séria"
desafiava a caretice e demonstravam forte personalidade em suas
performances. O B-52's era alegre, divertido e até descartável,
mas não eram jovens tolos ou alienados. Apenas canalizavam
suas críticas através da comédia.
Kate
Pierson lembra que o público era basicamente formado por
jovens que se sentiam marginalizados, desde punks, passando por
gays e todas as minorias. "Nossos shows eram uma espécie
de celebração de todos aqueles que queriam dar seu
grito de liberdade. Nossas danças, roupas e letras ajudavam
todos a extravasarem a repressão que sofriam dos pais e
da sociedade", conta Pierson.
No ano seguinte lançaram
Wild Planet. Ao invés de Chris Blackwell
na produção Rhett Davies comandou a segunda revolução
do grupo. O disco explodiu de vez graças ao megahit "Private
Idaho" e sedimentou definitivamente o conceito sonoro e estilístico
da banda, que permeou toda cena alternativa e new wave por toda
a década de 80. Além de "Private Idaho",
"Give Me Back My Man" e "Strobe Light" foram
imensos sucessos por todo mundo.
Aproveitando o fato de
serem os favoritos das famosas festinhas feitas em garagens das
casas do mundo todo, lançaram um EP chamado Party
Mix!, em 1981, com seis músicas dos dois primeiros
álbuns mixadas.
Tanto sucesso chamou atenção
de um antigo fã e um dos mais respeitados membros da safra
"CBGB": o talkng head David Byrne. Byrne pediu para
produzir um disco do grupo encantado com o que via e ouvia.
O resultado foi Mesopotamia
de 19982, que apesar de ser o melhor disco em termos técnicos
foi um fracasso comercial e de certa forma, uma decepção
para os fãs de primeira hora. O motivo foi que David resolveu
abordar alguns temas mais sérios e diluir toda a verve
humorística da banda. Apesar de elogios por parte da crítica,
o disco ficou aquém do esperado.
Mas
tudo bem, nada que abalasse a reputação do grupo
e no ano seguinte voltaram à boa forma com Whammy!,
que trouxe o segundo grande megahit do grupo, "Legal Tender".
A letra contava histórias
de garotos imprmindo dinheiro falso em um porão e o vídeo
hilário foram a febre da jovem MTV. Definitivamente a banda
era a mais aclamada entre as new wave do planeta e com um humor
que, talvez, apenas o Devo poderia assemelhar-se.
Durante um intervalo
regulamentar, o vocalista Fred Schneider, dono do vozeirão
do grupo, lança seu primeiro disco solo, Fred Schneider
& the Shake Society e conseguiu um certo sucesso
com a canção "Monster", em 1984.
E quando retomaram às
atividades no ano seguinte para a gravação de um
novo disco, ocorre a grande tragédia: Ricky Wilson morre
em 12 de outubro de 1985. O primeiro diagnóstico foi causa
natural, mas logo depois mudaram a causa mortis para câncer
linfático e posteriormente para uma nova epidemia que começaria
a assombrar o mundo: AIDS.
Além de irmão
de Cindy, o que só aumentava o laço de amizade entre
os integrantes, Ricky era o cérebro de toda cosmologia
do grupo e seu principal arranjador, compositor e letrista. "Ele
tinha realmente uma visão diferente do mundo", confessa
Cindy. Keith, seu melhor amigo, chegou a cogitar deixar a banda,
arrasado. "Continuar sem Ricky é como fazer parte
dos Beatles sem Lennon", exagerou.
Ricky
havia morrido durante as primeiras gravações de
Bouncing Off The Satellites, que saiu em 1986.
Mas o disco era triste, sem inspiração. Keith assumira
as funções de seu colega cuidando das letras, guitarras,
bateria, e os quatro assumiram a produção do novo
trabalho.
Mas nada funcionou e a
banda nem quis divulgar o trabalho e mostravam uma agressividade
durante entrevistas, fato inédito. Nessa época a
banda ficou na corda bamba e por muito pouco não foi o
fim.
O grupo se recolheu por
três anos até aparecerem em 1989 com o maior sucesso
comercial até hoje: o disco Cosmic Thing.
Produzido pela dupla Don Was e pelo ex-Chic e parceiro de David
Bowie, Nile Rodgers. Escorados em duas canções "Roam"
e "Love Shack", venderam cinco milhões de cópias
e voltaram a ser o foco das atenções.
E, aparentemente, a alegria
voltara ao grupo, refeito da perda do ex-líder. Fred explica
o processo de gestão: "Quando começamos a escrever
o disco, percebemos que estávamos voltando ao nosso início
em Athens, quando tudo era difícil e que esta volta às
raízes deveria ser nossa diretriz. Era uma questão
de descobrimos quem éramos e o que queríamos."
A reputação
de banda mais divertida do planeta estava de volta. Mas por pouco
tempo. Uma exaustiva excursão mundial, com seu ponto alto
no dia Mundial da Terra, em 1990, para 750 mil pessoas no Central
Park, em Nova York, acabou causando outra baixa: Cindy
Wilson. Alegando exaustão física e emocional,
a irmã caçula de Ricky deixou o grupo de forma amistosa.
"Eu fui um B-52 por quase quinze anos. Me orgulho disso,
mas quero uma outra vida agora, como ser mãe.
Com a saída de Cindy
começou um outro período de hibernação
e Kate Pierson começou a atrair atenção por
seus projetos. O primeiro foi participar do novo disco de seus
colegas de Athens, R.E.M. Kate emprestou voz, carisma e alegria
nos vocais e vídeo de "Shiny Hapy People", um
dos dois monumentais hits do álbum.
Um
ano antes, fez um dueto inesquecível em "Candy",
com Iggy Pop, presente no disco Brick by Brick,
do pai do punk. Uma curiosidade: originalmente a escalada para
o dueto era a pretender Chrissie Hynde, fã de carteirinha
de Iggy. Como não pôde comparecer, Iggy chamou Kate.
Em 1992, o trio remanescente
(Fred, Keith e Kate) chamaram novamente a dupla vitoriosa Don
Was e Nile Rodgers e lançaram Good Stuff.
A banda mudou um pouco o conteúdo das letras, falando da
AIDS, meio ambiente e a defender os direitos dos animais.
Era a primeira vez que
o B-52's levanta tão explicitamente bandeiras políticas.
"Nossa causa é divertir, mas isso não significa
que podemos fazê-las dançarem e refletirem sobre
os problemas mundiais", disse Fred.
Em 1996, o mesmo Fred dançou
seu segundo disco-solo, chamado Just Fred, que
foi realizado em apenas duas semanas e produzido por Steve Albini,
ex-membro do Big Black e que fez a fama na década de 90
produzindo gente como PJ Harvey e foi o engenheiro de In
Utero do Nirvana.
Em
1998 Cindy volta ao grupo rapidamente. Juntos, compõem
duas músicas novas para a coletânea Time
Capsule. Uma delas era "Debbie", uma homenagem
a uma querida amiga, colega e de quem o grupo era fã: Debbie
Harry, vocalista do Blondie. Foi a última vez que os vocais
de Kate e Cindy juntaram-se naquelas harmonizações
que marcaram definitivamente a música pop dos anos 80 e
90.
O grupo não existe
mais e várias coletâneas, como a excelente dupla,
Nude on the Moon: the B-52's Anthology, de 2002,
faz um perfil definitivo e coloca o grupo no lugar merecido: de
melhor e mais importante banda new wave americana e um dos modelos
definitivos de toda uma geração.
Encerro essa coluna, mais
uma vez, com letras de algumas canções: "Private
Idaho", "Legal Tender" e "Roam" (minha
favorita). Um abraço é até a próxima!
Private Idaho
Hoo hoo hoo hoo
hoo hoo hoo hoo hoo
You're living in your own Private Idaho
Living in your own private Idaho
Underground like a wild potatoe
Don't go on the patio
Beware of the pool, blue bottomless pool
It leads you straight right through the gate that opens on the
pool
You're living in
your own Private Idaho
You're living in your own Private Idaho
Keep off the path,
beware the gate, watch out for signs that say 'hidden driveways'
Don't let the chlorine in your eyes
blind you to the awful surprise
that's waitin' for you at the bottom of the bottomless blue, blue,
blue pool
You're livig in
your own Private Idaho
Idaho
You're out of control the rivers that roll,
you fell into the water and down to Idaho
Get out of that state, get out of that state you're inn
You better beware
You're living in
your own Private Idaho
You're living in your own Private Idaho
Keep off the patio,
keep off the path
The lawn may be green but you better not be seen walkin' through
a gate
that leads you down, down to a pool fraught with danger
is a pool full of strangers
You're living in
your own Private Idaho,
where do I go from here to abetter state than this
Well, don't be blind to the big surprise,
swimming round and round like a deadly hand of a radium clock,
at the bottom, of the pool
I-I-I-daho
I-I-I-daho
Woah oh oh woah oh oh woah oh oh
Ah ah ah ah ah ah ah ah
Get out of that state, get out of that state
You're living in your own Private Idaho, living in your own Private
Idaho
Legal Tender
We're in the basement,
learning to print
All of it's hot!
10-20-30 million ready to be spent
We're stackin 'em against the wall
Those gangster presidents
Livin' simple and
trying to get by
But honey, prices have shot through the sky
So I fixed up the basement with
what I was a-workin' with
Stocked it full of jelly jars
and heavy equipment
We're in the basement ...
10-20-30 million dollars
Ready to be spent
Walk into the bank,
try to pass that trash
Teller sees and says "uh-huh-that's fresh as grass"
See the street pass under your feet
In time to buy the latest model get-away jeep
So I fixed up the
basement with
what I was a-workin' with
Stocked it full of jelly jars
and heavy equipment
We're in the basement
So I fixed up the
basement with
what I was a-workin' with
Stocked it full of jelly jars
and heavy equipment
We're in the basement,
learning to print
All of it's hot
All counterfeit
Roam
I hear a wind
Whistling air
Whispering in my ear
Boy Mercury shootin' through every degree
OOO girl dancin' down those dirty and dusty trails
Take it hip to hip rocket through the wilderness
Around the world the trip begins with a kiss
Roam if you want to
Roam around the world
Roam if you want to
Without wings, without wheels
Roam if you want to
Without anything but the love we feel
Skip the air-strip for the sunset
Ride the arrow for the target---One
Take it hip to hip rock it through the wilderness
Around the world the trip begins with a kiss
Chorus
Fly the great big sky
See the great big sea
Kick through continents
Bustin' boundaries
Take it hip to hip rocket through the wilderness
Around the world the trip begins with a kiss
Chorus
Take it hip to hip
Rocket through the wilderness
Discografia
The B-52's (1979)
Wild Planet (1980)
Party Mix (1981)
Mesopotamia (1982)
Whammy (1984)
Bouncing Off The Satellites (1986)
Cosmic Thing (1989)
The Best Of The B-52's: Dance This Mess Around (1990)
Good Stuff (1992)
Planet Claire (2 different) (1995)
Pop Giants (1997)
Time Capsule: Songs For A Future Generation
(with 2 new tracks) (1998)
Time Capsule - The Remixes (1998)
Nude On The Moon: The B-52's Anthology
(2 CD box with unreleased tracks) (2002)
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