09 - Anton Barbeau - entrevista

Anton Barbeau é um mito cult. Um dos heróis da cena "power pop" e um dos nomes mais respeitados do meio, que tocou em vários festivais do estilo, como os renomados Poptopia e o Pop Overthrow. Barbeau é um homem cheio de idéias, artista plástico e dono de um site bem bacana e cujo link está ao final da matéria. Recentemente conheceu e amou os Mutantes - isso me foi contado quando mandei um e-mail solicitando uma entrevista e antes de mandar as perguntas. Dizendo-se "emocionado" por falar com alguém de um país tão distante. Sendo assim, vamos à entrevista propriamente dita...


Pergunta: - Nos anos 90 você esteve muito envolvido com a explosão da cena power pop, tocando nos festivais International Pop Overthrown e Poptopia, mas parece que você está distanciado desse nicho, agora. Por que?
Anton Barbeau: -
Bem, para um cara que ama a música pop em geral, a idéia de ver um homem de 42 anos com um horrível corte de cabelo dos Beatles e usando botas pontiagudas fingindo que 1964 ainda não terminou, não me deixa muito excitado. Talvez você se interesse pelo fato que bandas da Noruega como The Negro Problem e The Dipsomanics sejam excelentes e talvez eu devesse calar a boca e morder minha mão por ter dito isso!

Pergunta: - Você tem um público bem maior na Inglaterra do que nos Estados Unidos. Pretende se mudar para lá ou fazer do Reino Unido sua segunda casa?
Anton Barbeau: -
Ah, uma pergunta muito perigosa! Estou vivendo em Oxford há dois meses e realmente me sinto em casa. Por outro lado, é uma vida bem mais cara do que tenho em Sacramento, onde vivo com meu pai, mas musicalmente estou muito feliz e acho que deverei voltar logo para mais alguns shows e provavelmente ficarei um tempo maior. Eu vendo mais cds nos meus shows aqui e me pagam melhor pelas apresentações.

Pergunta: - Você acha mais fácil acontecer na Europa do que na América?
Anton Barbeau: -
Bem, como alguém que ainda não se "fez acontecer", não sei o que dizer. Certamente sinto que minha música está mais conectada aqui do que nos Estados Unidos. Eu ainda não estou tocando por toda a Europa, mas há um pouco mais de ousadia nas rádios daqui. Vamos ver o que acontece.

Pergunta: - Você já tentou licenciar seus discos por selos espanhóis? Há uma grande cena pop acontecendo na Espanha.
Anton Barbeau: -
Acabei de descobrir isso e talvez você possa me dizer algum nome de gravadora de lá, se não for te incomodar.

Pergunta: - O que você acha do pós-punk ter voltado à moda?
Anton Barbeau: -
Sou o cara errado para se perguntar isso. ELO é um grupo pós-punk? Franz Ferdinand é um grupo pop?

Pergunta: - Você se considera um compositor pop ou esse rótulo é por demais limitante?
Anton Barbeau: -
Eu sou um pouco disso, já que parte minha está esperando um novo momento de grande inspiração, embora nada como uma canção de três minutos que se possa ouvir no carro ou enquanto toma-se banho. Mas minha nova obsessão recém-descoberta é o Krautrock, que me leva à novos caminhos. Eu gosto de fazer canções barulhentas, gosto do silêncio também de chamar isso de música.

Pergunta:- Qual sua opinião quando as pessoas classificam sua música como quirky (estranha, idiossincrática)?
Anton Barbeau: -
Um crítico chamou minha música de "swarming" (ebuliente, caudalosa), fervente e tangencial ou algo do tipo, mas eu penso que ele gostaria mesmo é de ter simplesmente chamado de "quirky"! Quer dizer, minha música é "quirky", e estou feliz de divertir e confundir a todos da minha maneira peculiar, mas honestamente, se uma de minhas canções puder fazer alguém chorar, então eu sinto que realmente estou fazendo o meu trabalho. Eu queria música que possa realizar TUDO que puder. Gosto de brincar com gatos, mas tamém gosto de olhar os peixes no rio, se é que isso faz algum sentido. Deus... estou parecendo com Tori Amos agora!

Pergunta: Você gosta de coisas como Captain Beefheart, Stump ou Fall?
Anton Barbeau: -
Amo Captain Beefheat. Nunca ouvi Stump e recentemente ouvi um pouco de Fall, que alguns amigos da Inglaterra me mostraram e gostei muito. Gostei muito do que ouvi, mas por questões financeiras, tive medo de mergulhar nisso.

Pergunta: - Quanto de suas letras se referem à sua própria vida? Canções como "I don't like you" me fazem pensar se isso se refere a um evento real que aconteceu com você (nota: "I don't like you" relata uma história de alguém que persegue seu ídolo).
Anton Barbeau: -
Eu escrevo sobre minha vida pessoal em algumas canções. Às vezes, o ato de compor é catártico ou terapêutico nesse sentido, trabalhando em cima de uma situação difícil ou expressando seu incômodo ou alegria ou o que for. Existe ainda um elemento de expressão subconsciente, onde eu não sei de verdade sobre o que eu estou escrevendo. Só deixo a torneira pingar e coleto a água. E no mais, existem os muitos momentos de ficção, onde crio tipos e situações, etc. "I Don't Like You" é uma combinação de pedaços, fragmentos, em resumo uma experiencia com alguns dos tipos mais estranhos de anti-fãs, ou talvez seja sobre um cara chamado Terry. Difícil saber, difícil de lembrar.

Anton e Nick Saloman em um show do Bevis FrondPergunta: - Você encontrou com o Bevis Frond na América. Você já conhecia o trabalho deles antes disso?
Anton Barbeau: -
Não, eu não conhecia, mas eu era um fã desde o riff de abertura de "Hole Song #2" e imaginei que poderia ser um fã pelo resto da minha vida.

Pergunta: - Você se sente integrado a uma cena restrita da música? Como você se descreveria?
Anton Barbeau: -
Se não me sinto, faço algo entre esses termos que existem: psicodelismo, power pop, krautrock, anti-folk. Eu tive uma uma espécie de revelação quando vim para a Inglaterra e percebi que ninguém mais fazia o que eu faço. E eu pensava que havia alguns iguais a mim em cada cidade de lá, mas não há. Isso é uma coisa boa. E como descrição pode ser sempre difícil. Se faço um show apenas com um violão, penso que poderia fazer milhões de coisas com a canção em um estúdio. Se estou com uma banda é diferente. Não quero dificultar descrevendo o que faço. Eu apenas deixo que os outros a definam.

Pergunta: - Você gravou a canção "Octagon" ao menos 3 vezes, se não me engano. Acha que a versão em King Of Missouri é a definitiva? Existe uma razão para tantas leituras desta canção em particular?
Anton Barbeau: -
Bem, esta questão me remete de volta à sua pergunta sobre como me encaixo na cena pop. A versão original era algo quase uma versão dub mix anti-pop, com um dos arranjos mais estranhos que nós pudemos fazer. Estou bem contente com ela, de verdade. É implacavelmente estranha. Mas não era para parecer um freak show... é só uma melodia simples em sua essência e eu fiquei feliz com a oportunidade de refazê-la e apresentá-la de uma maneira mais clara. A versão do Bevis Frond é quase perfeita, mas honestamente eu gosto das duas gravações. E duvido que haja novos remakes!

Pergunta: - Sendo amigo há tantos anos de Scott Miller (importante artista independente fundador do Loud Family e do Game Theory), porque vocês nunca fizeram um projeto ou uma banda?
Anton Barbeau: -
Bem, você ficará feliz em ouvir que estamos fazendo um discos juntos. Scott escreveu algumas grandes canções para o disco e dividimos a autoria em uma. Espero lançar o disco no outono desse ano pelo selo 125 Records.

Pergunta: - Como você vê a cena do rock hoje?
Anton Barbeau: -
Como disse, não estou preocupado com isso. Cada vez mais eu pesquiso o passado. Eu ouço milhões de bandas quando volto para cá, mas não consigo me lembrar de nenhuma delas. E na Inglaterra estou exposto a muita coisa excelente e prefiro entrar em uma loja e comprar um disco antigo do Amon Duul do que o novo do Bonnie Prince Billy.

Pergunta: Poderia me dizer quais são seus cincos discos e cinco artistas favoritos?
Anton Barbeau: -
Hoje poderia dizer que meus discos favoritos são Sgt. Pepper's, Taking Tiger Mountain (Brian Eno), Jehovakill (Julian Cope), The Hangman's Beautiful Daughter (Incredible String Band) e The Band (The Band). Meus cinco artistas prediletos são: Beatles, Bob Dylan, Julian Cope, Brian Eno e Kate Bush.

Pergunta: - O que você conhece de música brasileira, além da bossa nova?
Anton Barbeau: -
Eu gosto muito de Milton Nascimento e consegui um "best of" dos Mutantes que é fantástico!

Pergunta: - Deixe uma mensagem para seus fãs...
Anton Barbeau: -
Estou emocionado em saber que há pessoas aí e aqui que gostam do que faço. Por favor, continuem comprando todos os discos que eu fizer e compareçam aos shows, por favor! Eu aprecio e admiro a paciência de vocês com o meu trabalho. Sei que posso ser frustrante às vezes, mas tento me mover sempre para frente, ainda que esteja errado, esse retorno de vocês é muito importante. Novamente, muito obrigado!

Clique aqui para saber mais sobre a vida de Anton Barbeau. Um abraço!

Discografia

The Horse's Tongue (1993)
Waterbugs & Beetles (1995)
Antology, Vol. 1 (1999)
A Splendid Tray (1999)
17th Century Fuzzbox Blues (2000)
The Golden Boot: Antology, Vol. 2 (2001)
Will Ant For Frond (2002)
King of Missouri (2003)
Guladong (2003)
King of Missouri (relançamento pela BOngo Beat, 2005)
Waterbugs & Beetles (relançamento pela Pink Hedgehog, 2006)
In The Village Of The Apple Sun (2006)
Drug Free (2006)
The Automatic Door (2007)