23 - The Black Watch - entrevista

 

John Andrew Fredrick é a alma por detrás do Black Watch. Um cara simples, brincalhão, amante de tênis (é fã de Guga e quis saber o que aconteceu com o nosso eterno número 1), fala espanhol (mas não português...) e ainda faz boa música. Black Watch é uma excepcional banda e que, mais uma vez, segue desconhecida do grande público. Seu último disco, The Hypnotizing Sea, é daqueles clássicos em que você ouve e pronto, já se apaixonou. Assim, sendo pedi uma entrevista, prontamente atendida e ainda ficamos falando de tênis e xadrez. Só tenho uma dúvida: será que ele joga xadrez tão bem como fala? Quando nos encontrarmos saberei. Mas, por enquanto, o papo é outro...


Pergunta: - Como nasceu o Black Watch?
John Andrew Fredrick:
- A atual formação está junta há quatro anos, embora o baixista Scott Taylor esteja no grupo desde 1998. Ele é, provavelmente, meu amigo mais íntimo e o cara mais divertido que conheço.

Nós tínhamos um disco a ser mixado (Jiggery-Pokery) e eu tinha um amigo da indústria musical com quem eu jogava tênis, que me aconselhou a conversar com um engenheiro de som chamado Tim Boland, um irlandês viciado em Beatles e My Bloody Valentine, assim como eu.

Nos tornamos grandes amigos, com a mesma visão musical e temos muito respeito pela opinião musical de cada um. Ele acabou tocando guitarra em Very Mary Beth, além de produzir e tocar guitarra em The Hypnotizing Sea e no nosso novo trabalho, tatterdemalion, que sairá ainda esse ano.

capa do disco The Hypnotizing SeaSeu melhor amigo é Gary Sullivan, nosso baterista, também irlandês e o monstro mais doce que você poderia encontrar. Nós sempre ficamos rindo, algo que acontece quando se tem dois grandes amigos na banda.

Pergunta: - The Hypnotizing Sea é um disco estupendo, com elemento dos anos 60, folk e XTC. Fale um pouco sobre ele, por favor...
John Andrew Fredrick:
- Fico orgulhoso que tenha gostado dele. Eu não gosto de falar muito dos meus trabalhos. Eu farei uma analogia com o tênis, porque eu vivo por três motivos: indie rock, poesia britânica e ficção e tênis!

As pessoas que falam sobre tênis, ao menos respeitam o esporte e tênis é o esporte mais lindo que existe. Falando nisso, o que aconteceu com Gustavo "Guga" Kuerten? Ele é um dos meus favoritos! Bem, um disco deveria falar por si mesmo e lhe direi algo: cada disco que o Black Watch fez falhou nisso. E por falhar é que continuamos.

capa do EP The Innercity GardenEu não estou sendo modesto, pode crer. Minha intenção ao fazer The Hypnotizing Sea era gravar um disco acústico. Nós temos muitas idéias e eu esperava que ele soasse como Pink Moon do Nick Drake, mas ele saiu mais parecido com Skylarking do XTC. E a razão pelo qual estamos fazendo um novo disco, tatterdemalion, é porque o último me parece obsoleto. Bem, talvez eu não esteja sendo de todo sincero...

Pergunta: - "Dylan Dylan Dylan" é um estupenda canção. O que você pensa de Bob Dylan?
John Andrew Fredrick:
- Eu nunca tinha prestado muita atenção em Dylan até sofrer uma grande decepção, seis anos atrás, com alguém que fazia parte do The Black Watch. Eu acabei passando o verão de 2002 ouvindo todos seus discos antigos até chegar em Blood on the Tracks. Dylan salvou minha vida, de verdade e fiz um projeto pessoal de estudar discos como Highway 61 Revisited e Bringing it All Back Home.

Não sei porque, mas sempre gostei de usar nomes reais como personagem de minhas músicas, como foi o caso de "Steve Albini", onde falo que muitas bandas acham que o caminho para o sucesso é conseguir um produtor de renome. "The house inside your head" faz piada com John Bonham, Nick Drake, Syd Barrett, John Lennon e Jimi Hendrix.

Puxa, acabei mentindo para você no início da resposta: na verdade amo falar de meu trabalho, eu realmente preciso disso! Eu preciso de boas perguntas, Rubens! Mas não ouço mais Dylan hoje em dia, ele já me serviu e quero distância agora, embora ele seja brilhante, obviamente.

Pergunta: - O que acha da cena roqueira da Europa e América, hoje em dia?
John Andrew Fredrick:
- Minha opinião é que há muito rock. Eu li mais sobre rock do que ouvi.
Eu ouvi Magical Mystery Tour mais ou menos uma 10.033 vezes e ainda falta umas 13.993 vezes para ser ouvido. Nos dias de hoje eu gosto de Placebo, New Order e Bob Mould. As músicas de hoje me dão vontade de ouvir um disco dos Zombies.

Pergunta: - Você sente afinidade com alguma banda nova?
John Andrew Fredrick:
- Eu conheço Kurt do Lilys. Ele é brilhante e levemente tolo, assim como eu. Em outras palavras, realmente não. Eu sou um misantropo que ama as pessoas. "Bandas são estúpidas", dizia uma camiseta que vi uma vez em Silver Lake, na Califórnia e me fez rir muito.

Pergunta: - Você sabia que o Black Watch é conhecido no Brasil?
John Andrew Fredrick:
- Sim, eu recebo esporadicamente algumas cartas daí. Acho que John Peel (falecido DJ britânico) tem alguma culpa nisso...

capa do disco Very Mary Beth capa do disco Lime Green GirlPergunta: - Quais foram suas primeiras influências?
John Andrew Fredrick:
- Lewis Carroll, Edward Lear, The American Revolutionary War, Hardy Boys novels, brincadeiras com soldados de plástico, Emma Peel, as músicas natalinas que meus pais tocavam, e, claro, os Beatles.

Pergunta: - E seus 5 discos e 5 canções favoritas?
John Andrew Fredrick: - Ah não, essa é uma pergunta muito injusta! Somente cinco? Alguns discos podem ficar bravos se eu esquecer de citá-los!. Bom, eu diria: Greatest Hits do Sly and the Family Stone; Magical Mystery Tour, dos Beatles; Brotherhood do New Order; Isn't Anything do My Bloody Valentine's e Skylarking do XTC. Tá vendo, agora me deixou angustiado por isso cito também Pink Moon (Nick Drake), Pornography (The Cure), Element of Light (Robyn Hitchcock) e The White Album (Beatles). Você é um cara muito mau!

Pergunta: - Você conhece algo de música brasileira, excetuando bossa nova?
John Andrew Fredrick:
- Sou totalmente ignorante sobre música brasileira. Postal Blue é do Rio? Eu gostei deles. Me arranje alguns shows aí e nos avise!

Pergunta: - Quais são os planos futuros do Black Watch?
John Andrew Fredrick:
- Planos? Novo disco, novos shows. Sair um pouco da gaiola e fazer o disco acústico que nunca conseguimos e nos torna sempre tão "não-acústicos".

Pergunta: - Valeu pela entrevista John. Deixe uma mensagem e me desculpe pelo meu inglês sofrível...
John Andrew Fredrick:
- Ah, eu que agradeço. Seu inglês é maravilhoso, você deveria ouvir meu espanhol. Isso sim é horroroso. E o engraçado é que quando ouço as pessoas falarem português, não entendo nada, mas quando imprimo acabo entendendo alguma coisa usando o que aprendi de espanhol e latim. É como eu digo: todos nós somos eternos aprendizes!

Discografia

St. Valentine LP (1988)
Short Stories EP (1989), 1989
The Ginger Men b/w Eleanor Rigby (compacto, 1990)
Flowering (1991)
Come Inside b/w Just Last Night (compacto, 1993)
Whatever You Need b/w Television Addict Kid (compacto, 1994)
Amphetamines (1995)
I Feel So Weird b/w Steve Albini (compacto, 1996)
Seven Rollercoasters (EP, 1997)
the king of good intentions (1999)
Lime Green Girl (2000)
Jiggery-Pokery (2002)
Very Mary Beth (2003)
The Hypnotizing Sea (2005)
tatterdemalion (2006)