31 - David Bowie - Reality

Após a desastrosa década de 80 que quase arruinou com todo o prestígio que havia amealhado com álbuns irrepreensíveis nos anos 70, Bowie conseguiu recuperar as rédeas nos anos 90. Não foi fácil, mas ele retomou o prestígio com bons, e até excelentes discos, mostrando que seu talento não o havia abandonado. Bowie sempre optou em manter alguns velhos parceiros ao seu lado e convidando novos talentos, que pescava eventualmente. E a fórmula se mantém. Acompanhado do seguro e competentíssimo pianista Mike Garson, e do guitarrista Earl Slick, Bowie trabalha com uma base sólida de músicos há quase 10 anos, como a baixista, tecladista e vocalista ocasional Gail Ann Dorsey, o guitarrista Mark Plati, entre outros; além de chamar o velho amigo Tony Visconti para ser produtor e tocar mais alguns instrumentos.

O resultado é mais um disco pop de primeira linha. Com boas idéias, excelente produção e escolhendo cuidadosamente músicas de outros compositores, Bowie lançou Reality, em 2003. Se hoje está longe do furor que causava com seus personagens há 30 anos, o Bowie do século XXI e com mais de 50 anos, desfila uma classe que poucos contemporâneos ainda conseguem. Se ele não faz uma grande obra-prima há mais de 10 anos, também não produziu nenhuma grande merda, o que é um grande feito para quem soma quase 40 anos de carreira.

Assim, “New Killer Star”, faixa que abre o disco é pop/rock de primeira qualidade, como é a climática “The Loniest Guy”. Bowie mostra que é ainda um artesão em casar boas melodias e aliá-las com uma produção de vanguarda, sem soar ridículo. Ele chega a empolgar de verdade em “Never Get Old”, “Days’” e “Fall Dog Bombs the Moon”. E brilha intensamente na genial “Pablo Picasso”, escrita há 30 anos por Jonathan Richman e que consta no disco de estréia dos Modern Lovers. Bowie fez mais do que copiar a canção, dando a ela um belo arranjo com doses de flamenco. E o resultado é igualmente belo na amarga “Try Some, Buy Some”, de George Harrison. Encerra o trabalho com a longa e climática faixa “Bring Me the Disco King”, com climas jazzísticos do piano de Mike Garson e que parece ser um neto (afinal são 30 anos de diferença entre elas!) distante de Aladdin Sane.

Mantendo uma excelente média de um disco a novo a cada dois anos, no máximo, Bowie não só tem coragem de sair do conforto de sua mansão como consegue soar interessante e rejeita ficar preso aos velhos truques, que quase o mataram nos anos 80. Ao invés da redundância, prefere buscar novos caminhos. Quais dos seus contemporâneos possuem culhão para tanto, nos dias de hoje?

Faixas

1 – New Killer Star
2 – Pablo Picasso
3 – Never Get Old
4 – The Loniest Guy
5 – Looking for Water
6 – She’ll Drive the Big Car
7 – Days
8 – Fall Dogs Bombs the Moon
9 – Try Some, Buy Some
10 – Reality
11 – Bring Me the Disco King