Após
a desastrosa década de 80 que quase arruinou com todo o
prestígio que havia amealhado com álbuns irrepreensíveis
nos anos 70, Bowie conseguiu recuperar as rédeas nos anos
90. Não foi fácil, mas ele retomou o prestígio
com bons, e até excelentes discos, mostrando que seu talento
não o havia abandonado. Bowie sempre optou em manter alguns
velhos parceiros ao seu lado e convidando novos talentos, que
pescava eventualmente. E a fórmula se mantém. Acompanhado
do seguro e competentíssimo pianista Mike Garson, e do
guitarrista Earl Slick, Bowie trabalha com uma base sólida
de músicos há quase 10 anos, como a baixista, tecladista
e vocalista ocasional Gail Ann Dorsey, o guitarrista Mark Plati,
entre outros; além de chamar o velho amigo Tony Visconti
para ser produtor e tocar mais alguns instrumentos.
O resultado é mais
um disco pop de primeira linha. Com boas idéias, excelente
produção e escolhendo cuidadosamente músicas
de outros compositores, Bowie lançou Reality,
em 2003. Se hoje está longe do furor que causava com seus
personagens há 30 anos, o Bowie do século XXI e
com mais de 50 anos, desfila uma classe que poucos contemporâneos
ainda conseguem. Se ele não faz uma grande obra-prima há
mais de 10 anos, também não produziu nenhuma grande
merda, o que é um grande feito para quem soma quase 40
anos de carreira.
Assim, “New Killer
Star”, faixa que abre o disco é pop/rock de primeira
qualidade, como é a climática “The Loniest
Guy”. Bowie mostra que é ainda um artesão
em casar boas melodias e aliá-las com uma produção
de vanguarda, sem soar ridículo. Ele chega a empolgar de
verdade em “Never Get Old”, “Days’”
e “Fall Dog Bombs the Moon”. E brilha intensamente
na genial “Pablo Picasso”, escrita há 30 anos
por Jonathan Richman e que consta no disco de estréia dos
Modern Lovers. Bowie fez mais do que copiar a canção,
dando a ela um belo arranjo com doses de flamenco. E o resultado
é igualmente belo na amarga “Try Some, Buy Some”,
de George Harrison. Encerra o trabalho com a longa e climática
faixa “Bring Me the Disco King”, com climas jazzísticos
do piano de Mike Garson e que parece ser um neto (afinal são
30 anos de diferença entre elas!) distante de Aladdin
Sane.
Mantendo uma excelente
média de um disco a novo a cada dois anos, no máximo,
Bowie não só tem coragem de sair do conforto de
sua mansão como consegue soar interessante e rejeita ficar
preso aos velhos truques, que quase o mataram nos anos 80. Ao
invés da redundância, prefere buscar novos caminhos.
Quais dos seus contemporâneos possuem culhão para
tanto, nos dias de hoje?
Faixas
1 – New Killer Star
2 – Pablo Picasso
3 – Never Get Old
4 – The Loniest Guy
5 – Looking for Water
6 – She’ll Drive the Big Car
7 – Days
8 – Fall Dogs Bombs the Moon
9 – Try Some, Buy Some
10 – Reality
11 – Bring Me the Disco King
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