Ainda
vou ouvir novamente, mas a primeira audição do último
disco de Buddy Guy (Living Proof, lançado
em 2010), um dos maiores guitarristas de blues da história,
é decepcionante.
Buddy tem uma história imensa e foi idolatrado por Jimi
Hendrix, Eric Clapton, John Mayall, além de ter gravado
discos como Muddy Waters, Memphis Slim, Magic Sam, Otis Rush,
Junior Wells, etc... Ou seja, falar de sua importância
e competência é chover no molhado.
Tecnicamente está tudo lá. Mas, não se
engane: o disco é de blues sim, mas blues de branco.
E qual é a diferença? Primeiro, o volume: o som
está gordo, bonito, explodindo nos alto falantes. Mas
aí entram aqueles solos longos, cheios de distorções
e com uma altura que ficaria bem em um disco de Steve Ray Vaughan.
Tudo soa limpo, perfeito e, em vários momentos, frio.
Buddy sempre foi um extraordinário guitarrista, mas
o álbum soa como aquele que é feito pensado para
ganhar um Grammy - e ganhou - e render alguns trocados a mais
pra quem já está com 74 anos e passou muitos anos
no ostracismo.
Nada contra assegurar os últimos anos de vida com dignidade
- oxalá eu possa fazer isso! - mas alguns arranjos são
tão poucos sutis, alguns solos tão bem desenhados
e recortados que me lembram alguns discos de blues feitos nos
anos 80 e que me deixava com o cabelo em pé, especialmente
um de estúdio de B. B King acompanhando de uma drum
machine (no caso, King of the Blues: 1989).
Sei que os neófitos e moderninhos vão achá-lo
do cacete. Sei que vão derramar lágrimas no dueto
com o próprio B.B. em "Stay Around A Little Longer".
Sei que vão também elogiar a presença de
Carlos Santana em "Where the Blues Begin".
É uma baita sacanagem falar mal do disco, mas tive que
tirá-lo e colocar rapidamente um de seus antigos. Meus
tímpanos doíam, os arranjos não desciam
nem com uma cerveja gelada. Os arranjos saídos do arsenal
de teclados de Reese Wynans, por exemplo, são óbvios
demais.
A produção do baterista e co-autor em várias
faixas, Tom Hambridge, é competente, mas tem a mão
pesada em muitos momentos. É um blues duro muitas vezes,
de pouco suingue, boogie e sutilezas, marcas de Buddy. Vai vender
bem e ele merece cada centavo que puder arrecadar e vou até
tentar uma nova audição.
Que Buddy Guy me desculpe, ainda que nem saiba da minha inexpressiva
existência.
Faixas
01. "74 Years Young" Tom Hambridge,
Gary Nicholson
02. "Thank Me Someday" Buddy Guy, Hambridge
03. "On the Road" Richard Fleming, Hambridge
04. "Stay Around a Little Longer" (feat. B.B. King)
Hambridge, Nicholson
05. "Key Don't Fit" Hambridge, Nicholson
06. "Living Proof" Hambridge
07. "Where the Blues Begins" (feat. Carlos Santana)
Hambridge, Nicholson
08. "Too Soon" Fleming, Guy, Hambridge
09. "Everybody's Got to Go" Fleming, Guy, Hambridge
10. "Let the Door Knob Hit Ya" Guy, Hambridge
11. "Guess What" Fleming, Hambridge
12. "Skanky" Guy, Hambridge
Músicos e técnicos
envolvidos
Buddy Guy - Guitars, Vocals [6]
David Grissom - Guitar
Tommy Macdonald - Bass
Michael Rhodes - Bass
Tom Hambridge - Drums, Percussion, Tambourine, Vocals (Background)
Marty Sammon - Piano
B.B. King - Guitar, Vocals on Track 4 "Stay Around a While"
Carlos Santana - Conga, Guitar on Track 7 "Where the Blues
Begins"
Reese Wynans - Clavinet, Fender Rhodes, Hammond B3, Piano, Wurlitzer
Jack Hale - Trombone
Wayne Jackson - Trumpet
Tom McGinley - Tenor Saxophone
The Memphis Horns - Horns
Bekka Bramlett - Background Vocals
Wendy Moten - Background Vocals
Vance Powell - Engineer
Ducky Carlisle - Mix Engineer
John Netti - Engineer
Jim Reitzel - Engineer
Rob Root - Engineer
Colin Linden - Engineer
Michael St. Leon - Engineer
Nick Autry - Asst. Engineer, Production Asst.
Mike Rooney - Asst. Engineer
Joel Margolis - Asst. Engineer
Gilbert Garza - Guitar Tech
Ray Kennedy - Mastering