Outra instituição
britânica do movimento punk. Assim pode ser chamado esse
grupo liderado pelo talentoso e carismático Pete Shelley,
os Buzzcocks. Oriundos de Manchester, os Buzzcocks deixaram discos
e canções imortais. Mas talvez seu melhor momento
seja o segundo LP, Love Bites, uma lição de como
fazer música pop e pegajosa sem perder a pegada visceral
do punk. Um primor.
Se
Manchester era conhecida na década de 60 através
do fantástico time do Manchester United de George Best,
Bobby Charlton e Denis Law, a história mudou nos anos 70.
Considerada uma cidade morta e de vida pouco atrativa, Manchester
acabaria se tornando a meca do rock inglês dos anos 70.
Só para ficarmos nos nomes mais importantes poderíamos
falar em The Fall, Joy Division, New Order, Magazine, The Smiths,
Durutti Column. E Buzzcocks.
Os Buzzocks foram uma das
mais importantes bandas da Inglaterra na virada dos anos 70 para
os anos 80, em parte graças ao talento inesgotável
do líder Pete Shelley.
O grupo começou
em 1975, quando Pete se aliou a outro jovem talento, Howard Devoto.
Os dois eram estudantes da Bolton Institute of Technology (hoje
conhecida como Universidade de Bolton) e nutriam um interesse
mútuo por Brian Eno, música eletrônica, além
de Stooges e MC5. Assim, Peter McNeish (nome real de Shelley)
e Howard Trafford (nome real de Devoto), chamaram um baterista
e começaram a ensaiar.
Após
assistirem dois shows dos Sex Pistols, em Londres, no mês
de abril e decidiram montar um grupo e o chamaram de Buzzcocks.
Os nomes Shelley e Devoto possuem origens não muito bem
claras.
Pete diz que Howard escolheu
Devoto porque era o sobrenome de um condutor de ônibus da
cidade de Cambridge, personagem de uma história que ele
tanto gostava, tanto que resolveu adotá-lo. Já Shelley
seria, possivelmente, o nome que seus pais daria à Pete
caso ele tivesse nascido menina. Alguns especulam que seria uma
brincadeira com o nome do poeta inglês romântico Percy
Bysshe Shelley (1792-1822), já que Pete também se
mostraria, ao longo dos tempos, um grande letrista.
Em
abril realizaram um show no Textile Students Social, com o baixista
Garth Smith e um baterista que não lembram o nome.
No dia 20 de julho de 1976
fazem seu primeiro show para valer, abrindo para os Sex Pistols
e pro Slaughter and the Dogs, no Theatre Upstairs, Lesser Free
Trade Hall, em Manchester. Reza a lenda que toda a futura cena
da cidade estava presente: Ian Curtis, Peter Hook, Tony Wilson,
Morrissey... A formação contava com Pete (guitarras),
Howard (vocais), Steve Diggle (baixo) e John Maher (bateria).
Em
setembro, o grupo viajou para Londres e participou do evento de
dois dias organizado por Malcolm McLaren, no 100 Club Punk Festival,
ao lado dos Sex Pistols, Subway Sect, Siouxsie & the Banshees,
The Clash, The Vibrators, The Damned e os franceses Stinky Toys.
Infelizmente essa formação durou apenas 11 shows,
pois Howard saiu para terminar os estudos, o que jamais realizou,
criando em 1977, o Magazine.
Mas
antes de sair, Howard participou do histórico EP Spiral
Scratch. Produzido por Martin "Zero" Hannett
(que ficaria famoso pelo seu trabalho com o Joy Division), o grupo
registrou quatro faixas: "Breakdown", "Time's Up",
"Boredom" e "Friends of Mine", onde mostra
toda sua crueza, urgência, apesar da produção
não ser realmente boa e chegou ao 31º lugar na parada.
O EP é um marco também por ser o primeiro grupo
a ter um selo independente, o New Hormones.
Shelley lamentaria por
muito tempo a saída de Devoto: "ele realmente saiu
para terminar os estudos, mas foi reprovado nos exames finais.
Devoto disse que um dos motivos pelo qual deixou o Buzzcocks é
que eles faziam um som similar ao de centenas de outros grupos
e não era essa sua idéia. Eles só voltariam
a se encontrar no futuro apenas uma vez, em 1978, quando tocaram
"I Can't Control Myself" no programa televisivo What's
On.
Com a saída de Devoto,
Pete assumiu os vocais, Garth Smith - que havia tocado no primeiro
show do grupo - assumiu o baixo, Steve Diggle ficou com a guitarra
e John Maher na bateria.
O
primeiro show sem Hoeard aconteceu no dia 11 de março de
1977 e o grupo acabou assinando contrato com a UAI, quando lançam
o primeiro compacto, o histórico Orgasm Addict.
Produzido por Martin Rushent,
a canção escrita por Shelley e Devoto falava de
compulsão sexual, o que fez a BBC bani-la de seus programas,
sem afetar, no entanto, as vendagens. Alguns enxergaram na letra
uma bissexualidade escondida de Shelley.
A banda começou
a fazer uma seqüência grande de apresentações,
mas teve que substituir Garth Smith pelo baixista Barry Adamson,
então no Magazine (e anos depois no Bad Seeds, de Nick
Cave), devido ao alcoolismo de Garth. Essa formação
durou seis apresentações, todas no mês de
novembro. Smith acabou demitido e em seu lugar entrou Steve Garvey.
Foi
com essa formação que a banda lançou o primeiro
disco, Another Music In A Different Kitchen,
em 1978. Um dos grandes discos daquele ano e do chamado movimento
punk, o álbum mostra um grupo feroz, com uma presença
forte no palco, guitarras duelando, costurado com melodias pops
pegajosas. "I Don't Mind" era o hit do disco, embora
outras faixas mereçam destaques como a abertura com "Fast
Cars" e "Fiction Romance".
O título do disco
foi tirado de uma letra de Howart, "I Love You, You Big Dummy".
O disco começa e termina com o refrão de "Boredom",
canção que aparecia no EP Spiral Scratch.
No mesmo ano, o grupo lança
o segundo disco, aquele que, em minha opinião, melhor moldou
o som dos Buzzcocks: Love Bites.
Love
Bites ficou famoso pela faixa "Ever Fallen In Love
(With Someone You Shouldn’t Have)", que acabou sendo
regravada (com grande sucesso) pelo Fine Young Cannibals. Gravado
em duas semanas e meia e lançado seis meses depois do disco
de estréia, pegou o grupo em meio a uma turnê interminável.
A capa fazia referências a uma pintura de Rene Margritte,
o artista favorito de John Maher.
No álbum, a velocidade
e as melodias irresistíveis se costuram em um casamento
perfeito, casos de "Nostalgia", "Real World"
e na própria "Ever Fallen In Love (With Someone You
Shouldn’t Have)". O gruipo teve com a formação
original apenas três discos de estúdio lançado,
sendo A Different Kind Of Tension o último
deles. Mas foi em Love Bites que o grupo conseguiu sua alquimia
perfeita, sendo o mais vendido deles até hoje.
Uma
grande pedida é adquirir a coletânea Singles
Going Steady, lançada em 1979 ou todos os três
primeiros discos e essa compilação.
Deixo vocês com a
letra de "Orgasm Addict" e encerro assim o irregular
ano de 2007. Um abraço a todos e até o ano que vem.
Orgasm Addict
well, you tried it just for once found
it all right for kicks.
but now you found out that it's a habit that sticks.
and you're an orgasm addict.
you're an orgasm addict.
sneaking in the back door with dirty magazines.
now your mother wants to know what all those stains on your jeans.
and you're an orgasm addict.
you're an orgasm addict.
uh huh, uh huh, uhhhhh, uhhhhh [x3]
you get in a heat, you get in a sulk.
but you still keep a beating your meat to pulp.
and you're an orgasm addict.
you're an orgasm addict.
you're a kid cassanova.
you're a no-josep it's a labour of love fucking yourself to death.
orgasm addict.
you're an orgasm addict.
uh huh, uhhhhh [x10] you're makin' out with school kids, winos
and heads of state.
you even made it with the lady, who puts the little plastic bobins
on the christmas cakes.
butchers' assistants and bellhops, you've had them all here and
there.
children of god and their joy-strings, international women with
no body hair.
oooh, so where they're askin' in an alley and your voice ain't
steady.
if your sex mechanic's rough you're more than ready.
you're an orgasm addict.
you're an orgasm addict.
johnny want fuckie always and all ways.
he's got the energy, he will remain.
he's an orgasm addict.
he's an orgasm addict.
he's always at it.
he's always at it.
and he's an orgasm addict.
he's an orgasm addict.
Discografia
Compactos
Time's Up (EP, 1976)
Spiral Scratch (EP 1976)
Orgasm Addict - (1977)
What Do I Get? - (1978)
I Don't Mind - (1978)
Love You More - (1978)
Ever Fallen in Love? - (1978)
Promises - (1978)
Everybody's Happy Nowadays - (1979)
Harmony in My Head - (1979)
You Say You Don't Love Me (1979)
I Believe - (1980)
Are Everything - Part 1 - (1980)
Strange Thing - Part 2 - (1980)
Running Free - Part 3 - (1980)
Alive Tonight (1991)
Last to Know (1991)
Innocent (1993)
Do It (1993)
Libertine Angel (1994)
Jerk (2003)
Sick City Sometimes (2003)
Wish I Never Loved You - (2006)
Sell You Everything - (2006)
Reconciliation - (2007)
Discos
Another Music In A Different Kitchen (1978)
Love Bites (1978)
A Different Kind of Tension (1979)
Singles Going Steady (1979)
Product (1989) - (caixa de três cds contendo Another Music
in a Different Kitchen, Love Bites, A Different Kind of Tension,
Singles Going Steady e material extra).
Operator's Manual: Buzzcocks Best (1991)
Entertaining Friends (1992)
Live At The Roxy Club April ’77 (1993)
Trade Test Transmission (1993)
All Set (1996)
Modern (1999)
I Don't Mind The Buzzcocks (1999)
Time's Up (2000)
Ever Fallen in Love? Buzzcocks Finest (2002)
Buzzcocks (2003)
Inventory (2003)
The Complete Singles Anthology (2004)
Flat Pack Philosophy (2006)
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