Apesar de pouco
lembrado hoje em dia, o Canned Heat foi uma das melhores bandas
de blues surgidas na América, dos anos 60. Conhecido como
"os reis do boogie", o grupo trazia em seu quinteto,
dois grandes talentos em sua formação, ambos já
falecidos: o vocalista Alan "The Bear" Wilson e o líder
Bob Hite. Entre 1967 e 1970 lançaram discos fundamentais,
sendo um deles, um LP duplo com John Lee Hooker. Excelentes músicos
foram destaques nos dois mais importantes festivais dos anos 60,
o de Monterey e o de Woodstock.
Da esquerda para a
direita: Larry Taylor, Henry Vestine, Bob Hite, Alan Wilson e
Fito de la Parra.
A história do grupo
começa em 1966, quando os colecionadores de discos e amantes
de blues, Robert "Ther Bear" Hite e Alan "Blind
Owl" Wilson resolveram montar uma banda. Hite era apenas
um vendedor de uma loja de discos e possuía uma coleção
imensa de blues, e compartilhava o mesmo gosto que o erudito Alan
Wilson, um apaixonado pela gaita - para muitos, o maior que já
existiu -, além de excelente guitarrista e vocalista.
O
nome Canned Heat foi tirado de uma canção - "Canned
Heat Blues" - composta por Tommy Johnson, que conta os efeitos
alucinógenos de uma droga de nome sterno, que matou alguns
músicos, incluindo, talvez, o próprio Johnson.
A primeira providência
foi convidar o guitarrista Henry "The Sunflower" Vestine,
outro apaixonado pelo blues e que já tinha tocado no Mothers
of Invetion, de Frank Zappa.
O primeiro baixista do
grupo foi Stuart Brotman, mas esse logo resolveu se juntar ao
Kaleidoscope. O baterista era Frank Cook.
Com a saída de
Brotman, entrou Mark Andes, até se fixarem em Larry "The
Mole" Taylor (que havia trabalhado com os Monkees e Jerry
Lee Lewis).
Com Larry Taylor, Henry
Vestine, Bob Hite, Alan Wison e Frank Cook, a banda começou
a ganhar forma. O repertório era construído em cima
de antigos clássicos do blues e do boogie-woogie, além
de composições próprias.
O Canned sempre teve uma
presença marcante em palco, devido à excelência
dos músicos. A banda chamou a atenção no
histórico festival de Monterey, onde Jimi Hendrix foi apresentado
ao público norte-americano.
Um
mês depois do festival, a banda lança o primeiro
LP, intitulado somente Canned Heat, pelo selo
Liberty.
O disco ia na contra-mão
do movimento psicodélico e era, essencialmente, um álbum
de blues, com o grupo interpretando grandes clássicos dos
blues rural de Detroit e Chicago (esse já elétrico).
Além disso, mostrava
a excelente técnica dos músicos, especialmente a
de Al Wilson, que seria considerado o maior gaitista de todos,
por John Lee Hooker e também pelo guitarrista Mike Bloomfield.
Na capa, o grupo aparece
consumindo uma base com sterno, o que causou algum problema ao
grupo. O sterno era usado bebida alcoólicas como estimulante,
como se fosse uma pasta de álcool desnaturado.
O LP trazia as seguintes
faixas:
Lado A
1. "Rollin' and Tumblin'"
(Muddy Waters) – 3:11
2. "Bullfrog Blues" (William Harris) – 2:20
3. "Evil Is Going On" (Willie Dixon) – 2:24
4. "Goin' Down Slow" (St. Louis Jimmy Oden) –
3:48
5. "Catfish Blues" (Robert Petway) – 6:48
Lado
B
1. "Dust My Broom"
(Robert Johnson, Elmore James) – 3:18
2 . "Help Me" (Sonny Boy Williamson II) – 3:12
3 . "Big Road Blues" (Tommy Johnson) – 3:15
4 . "The Story of My Life" (Guitar Slim) – 3:43
5 . "The Road Song" (Floyd Jones) – 3:16
6 . "Rich Woman" (Dorothy LaBostrie, Millet) –
3:04
O LP teve uma vendagem
apenas razoável, ficando no Top 75, mas o suficiente para
promover o grupo em suas apresentações. "Rollin'
and Tumblin'" foi escolhida como o primeiro single, formado
que a banda não se interassava particularmente.
O brilhantismo
continuava em outros números, como o clássico "Dust
My Broom" e "Bullfrog Blues".
No palco, a banda mostrava
o que tinha de melhor, como o boogie-woogie, tendo como destaque
o enorme Bob Hite.
O Canned Heat mostrava
ao público antigo blues e a audiência e não
tinha a menor idéia de que essas canções
fossem meras covers, afinal o estilo era quase marginal entre
os brancos, na América. E como o quinteto tocava alto,
com muita intensidade e animação, sempre agradava
os fãs.
Logo após o lançamento,
Cook é substituído pelo experiente baterista mexicano
Adolfo "Fito" de la Parra, fechando a formação
clássica do grupo. Parra havia passado pelos Los Sinners
e Los Hooligans, além de ter tocado com The Platters, The
Shirelles, T-Bone Walker e Etta James.
E é essa formação
que lança o primeiro grande LP do grupo, Boogie
with Canned Heat.
Boogie
with Canned Heat já traz composições
próprias, além de "On The Road Again",
top 20 nos Estados Unidos e o maior sucesso do grupo.
O disco também
ficaria entre as 20 mais na América, fazendo um sucesso
ainda maior no Reino Unido, já que o álbum ficou
entre os 5 mais vendidos, enquanto o compacto alcançou
o Top 10.
O compacto era uma composição
de Alan Wilson baseada em uma antiga canção de Floyd
Jones, lançada em 1953. Nela, Wilson mostra todo seus talento
como gaitista, além de seu vocal frágil, que deu
uma harmonia perfeita.
O sucesso como músico
escondia vários problemas pessoais do principal talento
do grupo. Depressivo, Alan sempre extremamente inseguro em relação
às mulheres por sua aparência e pelos grossos óculos
que usava. Por isso, sua morte é especulada - embora não
confirmada - como suicídio.
O grupo começava
a mostrar composições mais longas, improvisações,
como é o caos de "Fried Hockey Boogie", apesar
de ainda estar longe da sonoridade do disco duplo, Living
the Blues, onde a banda soltaria todas as amarras em
longas e intricadas e experimentais jams.
O LP trazia as seguintes
faixas:
Lado A
1. "Evil Woman"
(Larry Weiss) – 2:59
2 ."My Crime" (Canned Heat) – 3:57
3 ."On the Road Again" (Floyd Jones, Alan Wilson) –
5:01
4 . "World in a Jug" (Canned Heat) – 3:29
5 . "Turpentine Moan" (Canned Heat) – 2:56
6 . "Whiskey Headed Woman No. 2" (Bob Hite) –
2:57
Lado B
1. "Amphetamine Annie"
(Canned Heat) – 3:56
2. "An Owl Song" (Wilson) – 2:43
3. "Marie Laveau" (Henry Vestine) – 5:18
4. "Fried Hockey Boogie" (Larry Taylor) – 11:07
O lançamento foi
seguido de uma apresentação no festival de New Pop
e uma extensa turnê pela Europa, onde causaram furor e impulsionaram
as vendas.
O
Canned Heat estava no auge da fama quando lançou um dos
discos mais ousados de 1968, mesmo ano em que Hendrix confundiu
o mundo com Electric Ladyland e os Beatle lançaram
The Beatles (conhecido como White Album):
Living the Blues. E assim com os dois citados,
era também um álbum duplo.
Living the Blues
é um grande disco de blues, embora
a banda tenha ousado experimentalmente em altas dosagens - e para
alguns até demais.
O primeiro disco abre com
grandes composições, casos de "Going Up the
Country," que virou um hino do festival de Woodstock. O disco
abre com "Pony Blues" e a banda mostra uma excelente
forma. O entendimento do grupo é perfeito e as próximas
faixas - "My Mistake" e "Sandy's Blues" são
convites irresistíveis, com arranjos cuidadosamente preparados.
Logo após a clássica, a banda começa a dar
o pulo do gato. Seguem-se "Boogie Music" e "One
Kind Favor", até o primeiro susto: a longa suíte
experimental "Parthenogenesis".
Dividida em nove partes,
a faixa apresenta experimentações sonoras, colagens,
alguns efeitos eletrônicos, construindo um mantra hipnótico,
estranho, mas ao mesmo tempo, surpreendente e fascinante.
Se "Parthenogenesis"
era um espanto, o que dizer da próxima faixa, que ocuparia
o disco 2 completamente? "Refried Boogie", parts 1 e
2, mostram o máximo de ousadia que a banda se permitia.
Inicia-se com uma apresentação ao vivo no palco
da Kaleidoscope, em Los Angeles, parecia um blues tradicional.
O que ninguém podia esperar é que durasse 41 minutos
e levasse os músicos aos limites, bem como os fãs.
Longas improvisações, andamentos diferentes, solos
de todos os tipos fazem dela um dos símbolos do grupo.
O disco teve a participação
de Dr. John (piano e arranjos de metais em "Boogie Music),
Miles Grayson (arranjos de metais em "Sandy's Blues")
e Joe Sample, piano também em "Sandy's Blues".
O álbum duplo trazia
as seguintes faixas:
Disco 1
Lado A
1. "Pony Blues"
(Charley Patton) – 3:48
2. "My Mistake" (Alan Wilson) – 3:22
3. "Sandy's Blues" (Bob Hite) – 6:46 Canned Heat,
Joe Sample
4. "Going Up the Country" (Wilson) – 2:50
5. "Walking by Myself" (Jimmy Rogers) – 2:29
6. "Boogie Music" (L.T. Tatman III) – 3:19
7. "One Kind Favor" (Tatman) – 4:43
Lado B
8. "Parthenogenesis"
(Medley) (Canned Heat) – 19:57
"Nebulosity"
"Rollin' and Tumblin"
"Five Owls"
"Bear Wires"
"Snooky Flowers"
"Sunflower Power"
"Raga Kafi"
"Icebag"
"Childhood's End"
Disco 2
Lado 1
"Refried Boogie - Part I" (Canned
Heat)
Lado 2
" Refried Boogie - Part II" (Canned
Heat)
O grupo teria uma guinada a partir de 1969,
mas isso é papo para outro dia. Um abraço e até
a próxima coluna.
Discografia
Discos
Canned Heat (1967)
Boogie with Canned Heat (1968)
Living the Blues (1968)
Hallelujah (1969)
Live at the Kaleidoscope (1969)
Cookbook (1969)
Vintage (1970)
Canned Heat '70 Concert Live In Europe (1970)
Future Blues (1970)
Hooker 'N Heat (1971)
Live At Topanga Corral (1971)
Historical Figures and Ancient Heads (1972)
The Best of Canned Heat (1972)
The New Age (1973)
One More River to Cross (1973)
The Very Best of Canned Heat (1975)
Memphis Heat (1974)
Gates On Heat (1974)
Human Condition (1978)
Captured live (1980)
Hooker'n'Heat, Live at the Fox Venice Theatre (1981)
The Heat Brothers '84 (1984)
Infinite Boogie (1986)
Boogie Up The Country (1987)
Reheated (1988)
Let's Work Together: The Best of Canned Heat (1989)
Burnin' live (1991)
Boogie Assault (1991)
Canned Heat Live (1993)
Internal Combustion (1994)
Uncanned! The Best of Canned Heat (1994)
King Biscuit Flower Hour (1995)
Live at Turku Festival (71) (1995)
Canned Heat Blues Band (1996)
Best of Hooker 'n' Heat (1996)
The Ties That Bind (1997)
House of Blue Lights (1998)
Boogie 2000 (1999)
The Boogie House Tapes (2000)
Friends in the Can (2003)
The USA Sessions w/ Javier Batiz (2003)
The Boogie House Tapes Volume 2 (2004)
Under Dutch Skies, Mlp (2007)
Christmas Album (2007)
The Very Best of Canned Heat (2007)
|