Quando comecei
a escrever sobre música, minha proposta era não
apenas falar dos meus discos favoritos, mas também de bandas
desconhecidas e que também gostava. Aos poucos, a gaveta
vai sendo esvaziada, embora falte muita coisa, mais até
do que eu seja capaz de escrever. Mas enquanto estou vivo, vou
tentando destrinchar o máximo. Hojé, e dia de uma
banda californiana dos anos 60 desconhecida de muitos, mas que
fez a melhor versão de "It's All Over Now, Baby Blue",
de Bob Dylan e que foi chupada até o osso pelo Echo and
the Bunnymen quando a registrou e que se encontra na caixa Crystal
Days 1979-1999. Senhoras e senhores, liguem-se no som do fantástico
The Chocolate Watch Band!
Os anos 60 foram pródigos
em produzir bandas obscuras, que poucos lembramos e que faziam
o mais delicioso e rebelde rock de garagem. Grupos que poucos
se lembram, mas que abusavam da distorção nas guitarras,
fazendo o rock mais livre e descompromissado já ouvido,
mais de 10 anos antes do punk surgir.
Foi dessa forma que surgiu
em San Jose (Califórnia), o Chocolate Watchband. Não,
você provavelmente não os conhece, a não ser
que tenha a caixa Nuggets, compilação
espetacular montada pelo guitarrista Lenny Kaye.
A América dos anos
60 via os jovens serem enviados para uma guerra sem sentido do
outro lado do planeta, enquanto os conservadores ditavam as leis
do país. Uma época em que nascia o amor livre e
o consumo de drogas, enquanto a repressão era violenta.
Foi nessa época
que cinco meninos entre 16 e 22 anos formaram o Chocolate Watchband:
Mark Loomis (guitarra-solo e teclados, 18 anos ), Gary Andrijasevich
(bateria, 16), Sean Tolby (guitarra-base, 22), Bill 'Flo' Flores
(baixo, 18) e Dave Aguilar (voz e gaita, 17).
Essa era, na verdade, a
formação clássica do grupo, já que
a primeira que tinha Ned Torney (guitarra), Mark Loomis, Rick
Young (baixo), Jo Kemling (órgão) e Danny Phay,
pouco durou; Rich Young foi convocado pelo exército, Danny
Pahy, Ned Torney e Jo Kemling foram convidados para entrarem no
grupo The Topsiders. Pouco tempo depois, Torney, Phay, Kemling,
assim como Ken Matthew e Tom Antone deixaram o Topside para formarem
o Other Side.
Com
isso, Loomis saiu atrás de músicos, fixando a formação
com o quinteto acima. O quinteto logo começou a ensaiar
na garagem de Mark, desenvolvendo um som particular, até
se sentirem confiantes para dar os primeiros passos. Começam
a fazer shows na região e conquistando uma pequena legião
de fãs. Em um desses shows abriram para o The Seeds, que
já tinham gravado "Pushin' Too Hard".
Em seguida, a banda ruma
até San Francisco para tocarem em um dos palcos mais famosos
da época, o Fillmore, cujo dono era Bill Graham. O Fillmore
era quase a "casa" do Grateful Dead, Jefferson Airplane,
Frank Zappa, etc.
O primeiro show do grupo
no Fillmore quase não aconteceu por uma razão inacreditável:
eles não tinham o cartão do sindicato de músicos
e foram proibidos de subirem ao palco. Bill Graham ficou furioso,
mas encontrou uma maneira mais estranha para resolver o problema:
convocou um tocador de tuba! devidamente licensiado pelo sindicato
para subir ao palco com o Chocolate, apesar de não ter
tocado uma nota sequer.
Bill gostou tanto dos garotos
que se ofereceu para empresariá-los. Ele queria abrir um
outro Fillmore, no lado Oeste do país e queria fazer que
o Watchband partisse em turnê junto com o Grateful Dead
e o Jefferson Airplane. Infelizmente, a banda tinha assinado um
contrato com o empresário Ron Roupe, quatro dias antes,
e já tinha apresentações agendadas no San
Jose Civic Auditorium. A banda até quis romper com Roupe,
pensando nas possibilidades de ter alguém como Graham por
trás, mas acabaram ficando no contrato assinado.
Ron
Roupe também conseguiu um contrato com a Green Grass Productions,
que tinham como produtores Ed Cobb e Ray Harris.
Os dois haviam assinado
também com outra banda importante da época, The
Standells e, uma vez em estúdio, Ed começou a oferecer
algumas canções para os dois grupos, que ironicamente,
jamais tocaram juntos nesse período. O primeiro shows deles,
em conjunto, aconteceu mais de 30 anos depois, em 1999.
Em 1966 lançam o
primeiro compacto Sweet Young Thing / Baby Blue.
"Baby Blue" era, na verdade, "It's All Over Now,
Baby Blue", de Bob Dylan e o Chocolate fez a melhor regravação
da música até hoje, apesar de ser o lado B do compacto.
A outra composição era de Ed Cobb.
No
ano seguinte, lançam mais dois compactos, Misty
Lane / She Weaves A Tender Trap e Are You Gonna
Be There (At The Love-In) / No Way Out.
A banda seguia uma rotina
estafante de shows tocando várias covers nas apresentações,
coisas de Kinks, Yardbirds, Pretty Things, Bo Diddley, com algumas
composições próprias.
No mesmo ano são
incluídos na trilha-sonora de Riot on Sunset Strip,
ao lado dos Standells, Mugwumps e Mom's Boys.
O
LP trazia as seguintes faixas:
Riot on Sunset Strip
Sunset Sally
Sunset Theme
Old Country
Don't Need Your Lovin'
Children of the Night
Make the Music Pretty
Get Away from Here
Like My Baby
Sitting There Standing
No mesmo ano lançam,
finalmente, o primeiro LP, No Way Out. Com músicas
próprias e várias versões para outros artistas,
o disco mostrava um pouco das tensões entre a banda e Ed
Cobb, que queria fazê-los em disco mais psicodélicos
do que eram em shows.
O
LP trazia as seguintes faixas:
Lado A
01. Let's Talk About Girls
02. In the Midnight Hour
03. Come On
04. Dark Side Of The Mushroom
05. Hot Dusty Roads
Lado B
01. Are You Gonna Be There (At The Love-In)
02. Gone and Passes By
03. No Way Out
04. Expo 2000
05. Gossamer Wings
O disco marca a saída
de Mark Loomis, que montou o The Tingle Guild, banda mais psicodélica
e que teria Danny Phay como cantor. Além dele, saíram
Gary Andrijasevich, além do frontman David Aguillar.
Sean
Tolby e Bill 'Flo' Flores resolvem continuar com o grupo e convocam
Tim Abbott, (guitarrista), Mark Whittaker, (bateria) e Chris Flinders
(voz).
A banda abre alguns shows
dos Doors, mas logo recomeçam os problemas com Ron Roupe,
que é acusado de roubar dinheiro. A banda novamente se
desfaz e só retorna meses depois, em 1968 com outra formação:
Sean Tolby (guitarra);
Bill "Flo" Flores (baixo), Mark Loomis (guitarra); Gary
Andrijasevich (bateria); Ned Torney (guitarra);
Danny Phay (voz). Após a volta, lançam
o segundo disco, Inner Mystique, com as seguintes
faixas:
Lado A
Voyage Of The Trieste
In The Past
The Inner Mystique
I'm Not Like Everybody Else
Lado B
Medication
Let's Go Let's Go Let's Go
Baby Blue
I Ain't No Miracle Worker
Em 1969, lançam um terceiro disco,
One Step Beyond, talvez o único disco
realmente autoral do grupo, que passeia mais pelo psicodelismo.
Lado A
01. Uncle Morris
02. How Ya Been
03. Devil's Motorcycle
04. I Don't Need No Doctor
05. Flowers
06. Fireface
Lado B
01. And She's Lonely
02. Don't Need Your Lovin'
03. Sitting There Standing
04. Blues' Theme
05. Loose Lip Sync Ship
Seria
o último lançamento oficial do grupo, que se separou
ao longo dos anos.
A banda acabaria voltando
mais de 30 anos depois para algumas apresentações,
matendo-se ativa até hoje, quando tocam pelo mais puro
sentimento de nostalgia.
Ao longo dos anos saíram
alguns bons discos como ao vivo 44. Hoje você pode encontrar
alguns CDs como a série 2 em 1 que reúne Inner
Mystique e No Way Out.
Deixo vocês com a
discografia do grupo. Um abraço e até a próxima
coluna.
Discografia
Compactos
Sweet Young Thing / Baby Blue (compacto,
1966)
Misty Lane / She Weaves A Tender Trap (compacto, 1967)
Are You Gonna Be There (At The Love-In) / No Way Out (compacto,
1967)
Discos
Riot On Sunset Strip - Various Artists
(1967)
No Way Out (1967)
The Inner Mystique (1968)
One Step Beyond (1969)
The Best Of The Chocolate Watchband (1984)
44 (1995)
Get Away (1999)
Misty Lane Fest-Expo 2000 (2000)
At the Love-In Live! (2001)
Melts In Your Brain .. Not On Your Wrist! (2002)
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