17 - Ciro Pessoa - No Meio da Chuva Eu Grito Help

Ciro Pessoa é uma figura egressa dos anos 80. Fez parte dos Titãs, logo no início, e depois formou o Cabine C, que lançou um disco pelo selo RPM, de propriedade do grupo de Paulo Ricardo e que virou, literalmente, uma briga judicial.

É também um cara inteligente, escorregadio e que gosta de fazer brincadeiras. Depois de muitos anos tentando encontrar uma gravadora, conseguiu assinar com a Voiceprint, meio que por acaso. Em suas próprias palavras: “quando o trabalho estava quase pronto, fui à internet, em sites de rock e comuniquei quem eu era, o que já tinha feito e estava à procura de um selo para lançar o meu primeiro cd solo. Um cara chamado César Dunchen me respondeu que tinha o Fabio Golfetti, da Voiceprint, e desde então estou ganhando um rio de dinheiro, além de usufruir da amizade dele”, conta com grande humor.

O humor vem da dificuldade em ganhar rios de dinheiro no paupérrimo mercado brasileiro de rock. Com um título sugestivo e com a palavra “Help” grafada de forma acentuada, que, segundo Ciro é uma referência à chuva (“sempre achei a chuva assombrosa e bela como a canção 'Help' dos Beatles”), foi todo gravado e produzido em Dezembro de 2000, com seu amigo Apollo 9, que conhece há mais de 12 anos. Apollo tocou guitarra no extinto CPSP e foi produtor de Otto.

O disco mistura rock básico com guitarras pesadas e distorcidas e toques de eletrônica. Também pudera: as influências são as mais variadas: Ramones, Primal Scream, Hendrix, Mutantes, Stones, fase Brian Jones.

O disco abre com “Papapa” e, em seguida, cai em uma parceria com Branco Mello, “Dona Nenê”. A faixa tem uma letra hilária e história curiosa, que Ciro conta: “Dona Nenê é uma composição que fazia parte de um projeto paralelo (de absoluta quarta dimensão) dos Titãs. Chamava-se 'Os Jetsons' e era o Branco, no baixo, eu na guitarra, e o Charles Gavin, na bateria. Este projeto foi ao ar há dois anos atrás, sob a forma de primeira ópera rock infantil do Cone Sul, 'Eu e Meu Guarda-Chuva', um projeto multimídia lançado pela editora Globo, com livro, cd e peça de teatro. E há um roteiro cinematográfico na agulha.”

A história fala de Dona Nenê, que vai com sua amiga, Madame Gaspar, ao supermercado. Enquanto uma compra em pedra e a outra, em pó, Dona Nenê desaparece. A letra, claramente brincalhona, trata-se de compra de sabão, mas, quando inquirido se hoje não poderia fazer uma alusão à cocaína e ao crack, confessa que hoje poderia realmente ter essa conotação.

Talvez a mais bela letra seja a de “Até os anos 70”, que mostra uma grande influência do falecido Júlio Barroso, ex-líder da Gang 90. Ciro explica que Júlio foi um grande poeta, ativista, amigo e por quem tem grande devoção, mas a canção seria um tributo a Serge Gainsbourg, músico francês que viveu de 1928 a 1991. Outra homenagem a um ídolo está em “Boliche Sideral,” segundo Pessoa “uma vã tentativa de soar como Lou Reed.

Apesar de ser bom guitarrista, Ciro ficou apenas com os vocais, deixando Apollo 9 com as seis cordas e teclados, Kokinho com o baixo e Flavinho com a bateria. Helena e Beto Villares participam dos vocais em “Até os Anos 70”.

Em um show realizado em 2003, tocou duas músicas do saudoso Cabine C, “Pânicos e Solidão” e “Anos”. Apesar de não saber ainda exatamente quem é seu público atual (“tinha muitos formadores de opinião na platéia”), Ciro continuará insistindo no bom humor como uma arma importante (“vivemos num mundo tão sem graça que o Casseta e Planeta tornou-se o programa de maior audiência da tv brasileira”).

Para quem quiser contratar Ciro para algum show, basta ligar para (11) 3735 1940 e falar com Susana. Caso queira trocar figurinhas (ou email, em tempos digitais) com o próprio, escreva para ciropessoa@.ig.com.br.

Canções

Papapa
Dona Nenê
Dúvidas e sonhos
Days.e
Boliche Sideral
Miss Belly Dance
Tudo que me faz sentir você
Até os anos 70
Só prá me enlouquecer
No meio da chuva eu grito help
A Deus

Músicos
Apolllo 9: guitarras e teclados
Kokinho: baixo
Flavinho: bateria
Helena: voz em “Até os Anos 70”
Beto Villares: voz em “Até os Anos 70”