Eles
foram amigos dos Sex Pistols, e embora mais elaborados, eram tão
cultuados pela horda punk quanto a banda de Johnny Rotten. Com
o disco duplo London Calling se consagraram como um dos maiores
grupos da história, mesmo após a morte do movimento.
"Mofo" tenta explicar um pouco da importância
do The Clash.
Eles
foram conhecidos como a única banda que valia a pena no
final dos anos 70. Após a separação dos Sex
Pistols e da "morte" decretada do movimento punk, o
Clash sobrou como uma das últimas bandeiras do movimento
e a mais importante. Desde sua formação, em 1976,
a banda apoiou-se na força de suas letras, sua energia
no palco e no carisma da dupla Strummer e Jones.
Considerada uma das melhores
duplas de compositores do rock, Mick Jones e Joe Strummer dividiam
vocais, guitarras e letras de forte apelo social.
O grupo começou a
ganhar notoriedade na Inglaterra ao abrir uma turnê dos
Sex Pistols. O carisma era todo da turma de Johnny Rotten, mas
o som feroz vinha do Clash.
O baterista Topper Headon
sempre citou que embora fossem amigos dos Pistols, pouco tinham
a ver com a imagem da banda de Rotten.
"Nós nunca quisemos
chocar as pessoas, com auto-mutilações no palco
como os Sex Pistols faziam." "Eu jamais colocaria um
brinco no nariz", acrescentaria Jones.
Para lançar London
Calling, o Clash fez uma série de exigências
para a CBS, sua gravadora. A primeira e mais cara de todas para
o selo, foi vender o disco, que seria duplo, pelo preço
de um LP normal. A CBS chiou, mas concordou. O grupo faria o mesmo
com o disco seguinte, o triplo Sandinista!, que
foi um fracasso de vendas na época e estremeceu muito as
relações da banda com o selo.
A idéia ao lançar
London Calling era conquistar de vez o mercado
norte-americano. O Clash vinha de bem-sucedidas excursões
norte-americanas, com Bo Diddley no inverno, e Sam & Dave,
Ian Dury and The Blockheads, entre outros no outono. O disco foi
produzido por Guy Stevens, que já havia trabalhado com
Mott The Hoople.
Embora uma banda de temática
punk, eles nunca tiveram um som basicamente cru como os Pistols.
Bons músicos, sabiam afinar os intrumentos e tinham boa
noção de melodias. A força vinha de suas
letras e das apresentações, onde os fãs literalmente
arrancavam cadeiras e botavam fogo nos teatros em que a banda
se apresentava.
E podiam se dar ao luxo de
serem meninos bem educados. Strummer era filho de um embaixador
e morou em vários países. Paul Simonon era estudante
de arte e Jones e Headon eram músicos com certa reputação
no meio rocker de Londres.
Mesmo com boa formação,
sempre odiaram a burguesia. Strummer deixava claro que odiava
tocar em universidades, por considerar os estudantes um bando
de esnobes e otários. "Pelo menos pagam minhas contas.
Mas eu não ligo nem um pouco para essa parte dos nossos
fãs."
Para o disco, a banda procurou
se esmerar nas letras e nas influências rítmicas.
A certeza de que o disco seria um divisor de água na carreira
do grupo era tão grande, que o primeiro nome para o trabalho
foi pomposamente chamado de "New Testament". Faixas
como "London Calling", "Spanish Bombs" e "The
Guns of Brixton" citam temas políticos e revoluções.
Mas não parava por aí: problemas familiares, rebeliões
de operários, tudo era colocado no caldeirão do
grupo. Misturado com rockabilly, reggae, R&B até pitadas
de jazz, fizeram um dos discos mais aclamados do ano. A banda
conseguiu emplacar "Train in Vain", a última
canção do álbum duplo e que, curiosamente,
não tinha o nome incluinda nos créditos da contra-capa
do disco. A música da banda fica um pouco mais acessível
para o grande público. Diferente da temática 1-2-3-4,
Go!, que marcavam as bandas punks, o Clash se tornou mais elaborado.
"Nós estávamos
mais relaxados no estúdio, sabíamos o que queríamos.
Isso não significa que perdemos nossa força, muito
pelo contrário. Canções como 'London Calling',
'The Guns of Brixton', 'Clapdown' e 'Brand New Cadillac' não
são nada calmas. Há muita intensidade", explica
Mick Jones.
Um exemplo pode ser a letra
de "The Guns of Brixton": "Quando eles batem na
porta da sua casa / O que você acha que virá? / As
mãos na cabeça ou o gatilho de suas armas?"
Ou então em "London
Calling": "Londres chamando as cidades distantes/ Agora
a guerra foi declarada e a batalha começou / London chamando
o submundo / Saíam de seus abrigos, meninos e meninas /
Londres chamando, não olhem para nós / A Beatlemania
já foi derrubada."
A capa era uma homenagem
a Elvis Presley e ao rocker britânico Vince Taylor. Perguntado
sobre qual era o objetivo da banda com London Calling,
Jones esclareceu. "Meu objetivo é chegar ao topo da
montanha. E tenho que lutar muito até lá. Sabe com
que isso parece? É a mesma coisa que ficar dando cabeçadas
contra uma parede. Há algumas vitórias, mas são
pequenas demais."
Jones afirmava que era difícil
definir os rumos da banda. "Eu acho que estamos melhorando.
É legal fazer parte de uma banda que o público não
possui uma pré-concepção . Nós podemos
subir ao palco e tocarmos qualquer coisa, até jazz se quisermos,
e não precisamos fazer exatamente o que as pessoas esperam.
Considero isso uma grande evolução."
A banda continuou firme em
suas posições. Mesmo o disco cheio de dub e ska
que foi Sandinista! ou a pitada mais acessível
de Combat Rock, não tiraram o brilho de
uma banda que soube como poucas, usar o sistema a seu favor.
London Calling
foi aclamado como o melhor álbum da década de 80,
pela revista norte-americana Rolling Stone, apesar de
ter sido lançado em dezembro de 1979.
Caso queria conferir a energia
da banda, corra atrás do disco From Here to Eternity,
último lançamento póstumo da banda e que
traz apresentações de várias épocas
do grupo. O CD saiu no Brasil e pode ser encontrado em várias
lojas.
Discografia
The Clash (1977)
Give 'Em Enough Rope (1978)
London Calling (1979)
Sandinista! (1980)
Black Market Clash (1980)
Combat Rock (1982)
Cut The Crap (1985)
The Story of The Clash Vol. 1 (1988)
The Singles Collection (1991)
Clash On Broadway (1991)
From Here To Eternity (1999)
The Singles (2000)
The Essential Clash (2003)
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