Nessa última parte da biografia
do The Clash, a banda já se desintegrava rapidamente e
de forma irremediável. Desde o sumiço de Joe Strummer
durante quase um mês, passando pelas expulsões de
Topper Headon pelo vício em heroína e a de Mick
Jones, por conflitos com o parceiro Strummer. Aqui também
você verá a barca furada chamada Cut The Crap, último
disco de estúdio do Clash contando apenas com Joe e Paul
e mais três manés fazendo uma música forçada,
frouxa e até com bateria eletrônica! E, como não
poderia deixar de ser, veremos toda a discografia póstuma
e falaremos um pouco da morte de Strummer em 2002 no exato momento
em que o grupo original se reunia para voltar à luta em
2003. Lágrimas, meus irmãos, as lágrimas
não páram de cair. Veja o final da "banda que
valia a pena"...
1
- A volta de Bernie Rhodes
O
Clash continuava indeciso quanto aos rumos profissionais e empresariais
e por isso começaram a conversar novamente com o antigo
empresário Bernie Rhodes, que tanta dor de cabeça
havia dado aos integrantes. Em uma entrevista, Joe Strummer chegou
a afirmar: "foi uma pena termos brigado com Bernie, porque
éramos um bom time. Mas ele se divertiu muito quando o
Clash começou a acontecer e o bom era que não precisávamos
vê-lo todas as semanas. Se ele quisesse conversar conosco,
mandavam uma carta dizendo o que ele estava fazendo, falando que
estava muito ocupado para conversar conosco. Nós usávamos
a frase 'complete control' quando falávamos dele. Ele tentava
nos controlar como marionetes e ficava berrando 'eu quero o total
controle' e morríamos de rir."
A decisão, no entanto,
era um tanto controvertida entre os quatro membros. Sem Bernie,
o grupo havia crescido em várias áreas, embora vacilassem
na questão financeira. A primeira questão era resolver
os vários problemas acarretados com o cancelamento da turnê
britânica para divulgar Sandinista! e a
primeira providência de Bernie foi prometer arrumar não
apenas uma nova turnê britânica, mas uma européia
e uma visita à América.
Enquanto Bernie organizava
a vida da banda, Joe Strummer resolveu participar da Maratona
de Londres e conseguiu completar os 42.195 metros da prova, mostrando
que possuía um bom condicionamento físico.
Mas os problemas continuavam
e o mais grave era a situação do baterista Topper
Headon. Preso por posse de heroína e de cocaína,
Topper tinha pedido uma liberdade condicional por um ano, após
confessar o delito.
Enquanto isso, era lançado
uma segunda versão do single The Magnificent Seven,
sem resultados comerciais significativos.
Mas Bernie tinha outros
planos e um deles era ver o The Clash tocando novamente nos Estados
Unidos.
2 - Voltando à
América
O
problema de voltar aos Estados Unidos era a falta de dinheiro.
Com a baixa vendagem de Sandinista!, a CBS deixou
claro que não investiria dinheiro algum na banda. A saída
encontrada por Bernie foi então agendar sete noites seguidas
no clube Bond, em Times Square, na cidade de Nova York, e que
não dariam passe livre aos jornalistas, que poderiam comprar
alguns bilhetes pela metade do preço.
E as confusões começaram
logo que o grupo pisou na cidade. A primeira delas foi com os
bombeiros, que temiam pela segurança dos fãs, afinal
apenas 1750 pessoas poderiam entrar no clube e, obviamente, estavam
vendendo mais do que isso para cada apresentação.
O grande temor era que
um incêndio no local pudesse ocasionar um tremendo caos
e até morte. O departamento dos bombeiros disse que apenas
metade das pessoas poderia sair com tranqüilidade em caso
de incêndio e ameaçou entrar na justiça para
fechar o local se as apresentações acontecessem,
o que de fato fizeram. Assim, após o segundo show, conseguiram
um mandato oficial obrigando o Clash a cancelar as apresentações.
Bernie, no entanto, conseguiu
superar os problemas e após um acordo com o comissário
da cidade - que tinha em seus filhos grandes fãs da banda
- concluiu que o grupo poderia continuar a tocar lá se
a segurança fosse reforçada. Bernie concordou, até
porque as sete noites iniciais viraram dezesseis.
Os shows eram abertos pelas
garotas do Slits, pelo Funkapolitan e por Grandmaster Flash and
The Furious Five, que reclamaram dos fãs do Clash. E quem
mais reclamou da longa maratona foi mesmo o grupo, que não
aguentava mais o tédio de 16 noites seguidas em cima de
um mesmo palco.
Em Nova York a banda teve
bons dias, tocando pela primeira vez a canção "This
Is Radio Clash" e sendo convidado pelo diretor Martin Scorsese
para participarem da trilha-sonora de King Of Comedy,
película estrelada por Robert de Niro e Jerry Lewis. Topper
também anunciou a disposição em produzir
a banda local Bush Tetras, embora seu estado físico e mental
fosse um tanto nebuloso.
3 - Turnê
britânica
Para Bernie era a hora
de voltar a tocar em casa e por isso planejou uma excursão
a ser iniciada em outubro, após uma semana de shows no
clube Morgador, em Paris.
Os
shows na capital francesa e inglesa foram duramente criticados
pelos jornalistas, que, ao menos reconheceram o esforço
do grupo. Essas apresentações eram marcadas pela
presença do grafiteiro Futura 2000, que pintava o palco
enquanto a banda tocava. Ainda assim, o grupo era constantemente
malhado. Joe Strummer era criticado por não se parecer
nada com o antigo Joe Strummer e Mick Jones era ironizado por
tocar algum dos "piores acordes que o Lyceum já ouviu".
A culpa, segundos os "especialistas" era o pífio
material de Sandinista! e até de London
Calling. Apesar disso, os fãs ficaram mais do
que felizes em ver seu grupo favorito novamente na ativa.
Alheios
a tudo isso, o grupo começava a planejar os rumos do novo
disco. Enquanto o Clash voava para Nova York a fim de gravarem
no Electric Ladyland Studios, construído por Jimi Hendrix,
é lançado no dia 4 de dezembro um novo single, This
Is Radio Clash. A música mostrava o Clash indo
mais além das fronteiras de Sandinista!
e mostrando uma clara influência dos artistas de rap e hip-hop
nova-iorquinos. Apesar disso, o disco teve pouco êxito comercial,
ficando nas paradas inglesas apenas um mês e com resultados
modestos.
Enquanto gravavam o disco
tendo a companhia de pessoas como o poeta Allen Ginsberg, o grupo
participou de um faixa do disco The Adventures of Futura
2000 e Mick Jones teve ainda tempo de produzir o primeiro
disco do grupo Theatre of Hate, de Kirk Brandon, Westworld,
que logo depois montaria outra banda, Spear Of Destiny.
O Clash ainda cedeu uma
gravação ao vivo de "London Calling" para
ser incluída em um disco chamado Life In European
Theatre, uma coletânea contendo faixas de Peter
Gabriel, XTC, The Jam, The Specials, The Beat, The Undertones
e Madness.
Após completada
as gravações, o grupo viajou para o Oriente e Austrália
e cumpriu uma extensa série de shows, sendo nove deles
no Japão, onde a banda foi aplaudida de pé. Em retribuição
o Clash mudou a letra de "London's Burning" para "Tokyo's
Burning".
O grupo estava então
dando alguns retoques finais no novo disco, produzido apenas pela
banda e mixado pelo veterano Glyn Johns, que havia trabalhado
com os Rollings Stones, The Who, Kinks e Beatles.
4 - Combat Rock
No
dia 23 de abril de 1982 é lançado o primeiro compacto
com as canções "Know Your Rights" e "First
Night Back In London". Apesar das vendagens não serem
grandes, as canções já mostravam uma evolução
no som, assim como em uma melhora geral na qualidade de produção,
um dos eternos problemas do grupo. O Clash mostrava que havia
encontrado uma solução satisfatória para
o problema.
E no mês seguinte
é lançado o disco Combat Rock,
que viria a ser um imenso sucesso comercial.
Combat
Rock mostrava o grupo ainda mais engajado nos problemas
terceiro-mundistas, especialmente nas faixas "Rock The Casbah",
"Ghetto Defendant" e "Straight To Hell".
Para variar, a crítica
ficou totalmente confusa com o lançamento. O New Musical
Express definiu como o melhor desde Give 'Em Enough
Rope, mas a Sounds disse que o grupo estava
mais perto do som do Fleetwood Mac do que do antigo Clash.
Algumas canções
mostravam que o Clash não havia amolecido em sua proposta
de cutucar feridas. "Atom Tan" falava do holocausto
nuclear, "Know Your Rights" criticava os assassinatos
legalizados feitos pela polícia e, em "Ghetto Defendant",
Allen Ginsberg citava um poema, além da participação
de Futura 2000 nos vocais de Overpowered By Funk".
Apesar de "Know Your
Rights" ter fracassado na parada, não entrando entre
as 40 mais da parada de compactos, Combat Rock
entrou direto em segundo lugar na parada britânica, mostrando
que o disco tinha potencial para ser o mais bem-sucedido da banda,
em termos comerciais.
5 - O sumiço
de Joe e a saída de Topper
Mas
a banda começa a mostrar que nem tudo ia bem internamente
e explode uma crise logo após o lançamento do compacto
Know Your Rights e faltando pouco mais de um
mês para começar a turnê pela Inglaterra. O
motivo é o aparente sumiço de Joe Strummer.
Strummer resolveu dar um
tempo após uma entrevista a um jornal escocês e sumiu
com sua namorada. Alguns especularam que ele fizera isso para
promover ainda mais o novo disco, mas a verdade é que seu
sumiço causou um grande problema interno e que os primeiros
shows da turnê tiveram que ser cancelados e remarcados,
pois ninguém cogitava subir em um palco sem ele.
Aproveitando a confusão
criada, Bernie Rhodes tentou capitalizar algum em cima da situação
e disse que talvez Joe tivesse desaparecido para reestabelecer
prioridades em sua vida e repensar sua carreira.
Durante o mês de
maio, após o lançamento do novo disco, Joe ligou
para seus pais avisando que estava bem e que logo retornaria,
mas não quis dizer onde estava. Foi preciso que o relações-pública
Kosmo Vinyl saísse a campo e o encotrasse em Paris. Uma
vez lá, Kosmo persuadiu Joe a participar de uma apresentação
já agendada na Holanda. Joe concordou e a banda fez o show,
mas logo após isso houve uma outra bomba: a saída
de Topper Headon.
Topper
anunciou que estava deixando a banda por diferença de opiniões,
mas a verdade é que o baterista estava deixando o Clash
por causa de seu vício com heroína.
O aviso pegou a todos desprevinidos,
especialmente porque a banda já tinha anunciado também
uma excursão pela América e saíram correndo
atrás de um baterista. A saída encontrada foi chamar
o antigo baterista Terry Chimes.
Em uma entrevista à
época, Joe disse que Topper havia saído, talvez,
porque não concordava com as idéias do Clash e porque
queria apenas tocar e não participar de todo um conjunto
de idéias. Mas Joe, admitiu anos depois, que a saída
de Topper teve outros desdobramentos.
"Topper saiu porque
ele estava usando heroína, a pior droga do mundo para um
baterista que precisa sempre manter o ritmo. E sua saída
acabou acelerando o processo de desintegração interna.
Ele era um baterista brilhante e eu me orientava pela sua batida.
Topper era o melhor músico do Clash e quando ele saiu,
nunca mais soamos da mesma maneira. Terry era um cara legal e
um bom músico, mas não chegava aos pés de
Topper. E quando você muda um baterista é necessário
recriar todo o som ao vivo."
E sobre seu sumiço,
Joe disse que havia sido necessário para ver se ainda queria
continuar com o Clash: "eu precisava provar a mim que ainda
estava vivo, que não era apenas um robô dentro do
Clash. Acho que fiz uma ótima coisa passando esse mês
em Paris, porque pude ser uma pessoa normal, sem pensar em nada."
O baixista Paul Simonon
apenas lamentou, laconicamente: "se Joe achou que isso o
ajudou internamente, ótimo. Sinto que isso o deixou mais
arejado e tinha certeza de que ele voltaria."
Em
junho é lançado o compacto Rock The Casbah.
E a capa do LP causou uma certa confusão na América
porque a gravadora queria colocar um anúncio próprio
dizendo que a pirataria estava matando a música, mas a
banda não concordou. Isso acabou atrasando o lançamento
de Combat Rock em algumas semanas.
"Não importa
quantos fãs gravem em fitas os nossos discos. Para nós,
o mais importante é dizer que vendemos as 200 mil cópias
exigidas por eles de Sandinista! e isso significa
que não temos mais nenhum débito com a gravadora",
afirmou Kosmo.
O disco teve uma vendagem
lenta e gradual na América, estreando entre os 200 mais
vendidos em maio, passando a número 99 em junho e estando
entre os 10 perto do Natal de 1982.
E
houve também outra mudança de estratégia
para o mercado norte-americano. O primeiro compacto a ser lançado
naquele país foi Should I Stay Or Should I Go,
com o baterista Terry Chimes na capa, ao lado dos demais membros.
A canção era bem menos agressiva e tinha os vocais
de Mick Jones.
Se os dias pareciam bons
para a banda, Topper vivia um pesadelo e havia sido preso após
roubar 30 libras em um ônibus e estava preso.
7 - Confusão
e disco de platina
O grupo partiu então
para a excursão na América que teve algumas confusões.
Em New Jersey, Joe foi
acertado com fogos no palco, ocasionando uma pequena queimadura
em seu joelho. Mas as coisas ficaram bem mais tensas em Atlanta,
quando alguns nazistas começaram a distribuir folhetos
com o nome da banda, mas sem qualquer permissão dos membros
do grupo e ameaçando o público. O resultado foi
uma grande briga, com 14 pessoas presas e dois policiais feridos.
Além disso, circulavam rumores falsos que Topper voltaria
ao grupo durante a turnê.
O
grupo voltou então para realizar a parte britânica
da turnê mundial e a primeira coisa a chamar atenção
era o penteado estilo moicano de Joe, que havia resolvido usar
esse corte de cabelo durante a estadia na América.
Em uma outra entrevista,
Joe confessou que a saída de Topper havia deixado o Clash
vulnerável e contou porque fugiu para Paris: "a mãe
de minha namorada havia sido presa em Paris e fomos até
lá. Eu apenas levantei e corri até a cidade, mas
acho que foi muito bom para dar uma sacudida no grupo, nos fãs
e em nossa vida."
Joe também confessou
que havia adotados outros hábitos, sendo o principal deles
cortar os cigarros de maconha de sua vida. "Eu não
consigo dormir mais e todos os dias acordo às seis e meia
da manhã porque cortei o fumo. Um baseado é um sonífero
tão poderoso quanto um valium e fumei durante dez anos.
Mas eu tinha que parar, porque minha memória estava péssima
e não lembrava mais de meus sonhos e eu quero lembrar o
que sonhei ao acordar."
E Joe também confessou
que a pressão sobre o grupo estava ficando muito grande:
"tentamos mudar algumas coisas porque acredito que há
ainda algumas verdades a serem ditas na música, mas parece
que para o mundo ocidental isso não é importante,
já que eles preferem uma melodia bonitinha e palavras bobinhas."
No segundo semestre de
1982, o grupo aparece em um filme intitulado The Punk
Rock Movie, dirigido pelo velho amigo Don Letts. E Letts
afirmou que estava trabalhando em um filme com vídeos do
Clash e que se chamaria Clash On Broadway.
O grupo passou alguns momentos
de calma e ficou contente ao ver que "Should I Stay Or Should
I Go" e "Rock The Casbah" haviam ficado entre as
20 mais na América. Em outubro, o Clash surpreende ao anunciar
que abrirão o show do The Who, no Shea Stadium.
Particularmente
ninguém esperava que a banda fosse tomar uma decisão
dessas, já que estavam no auge da carreira e que iriam
se submeter a todas as coisas destinadas aos grupos pequenos.
Ainda assim, o show foi
realizado e as cenas foram usadas para o clip de "Should
I Stay Or Should I Go". Em novembro tocaram no Jamaica World
Musical Festival, ao lado de Aretha Franklin, Beach Boys, Grateful
Dead, entre outros.
Combat Rock
havia conseguido disco de ouro na América pela vendagem
de 500 mil cópias e era esperado que logo conseguisse o
disco de platina pela vendagem de 1 milhão, o que ocorreu.
Ao comentar o fato, Strummer disse: "se uma banda política
como a nossa alcança tal marca é porque deixamos
algo de bom."
Mas, como sempre, haviam
outros problemas internos...
8 - Terry Chimes
sai e Mick Jones é expulso
Enquanto
o grupo planejava alguns shows para 1983 foram novamente surpreendidos
pela saída de um baterista. Desta vez era Terry Chimes,
alegando que havia deixado muita coisa para trás para se
juntar ao grupo durante nove meses. Em uma entrevista, Joe agredecia
a colaboração de Terry e sua camaradagem.
Sem baterista, o futuro
parecia ainda mais incerto e o grupo ficou parado por algum tempo.
Algumas notícias corriam, como a que iriam participar do
filme de Martin Scorsese e que tinham ganhado um fã inesperado;
nada menos que o presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter,
que estava ouvindo as novas bandas inglesas influenciado por seus
filhos.
Enquanto isso, Joe participou
de uma nova edição da Maratona de Londres, mas desta
vez com patrocínio do jornal The Sun.
O grupo então resolveu
anunciar no meio de 1983, que havia escolhido um novo baterista:
Peter Howard, um músico de 23 anos, natural de Bath e que
havia gravado com sua banda, Cold Fish, para a CBS. Com ele, o
grupo iniciaria as gravações de um novo disco. Mas
o estopim interno estava ligado e dias depois é anunciado
que Mick Jones havia sido expulso do Clash por Joe e Paul.
O anúncio pegou
os fãs de surpresa, mas Joe disse que sentia que Mick deveria
sair do Clash, pois não estava mais tão compromissado
como antes. Joe confessaria anos depois, que esse foi o maior
erro de sua vida e que mandou Mick embora porque ele estava se
atrasando para os ensaios e tendo um comportamento de estrela:
"fiz isso porque não tivemos descanso. Se o Clash
tivesse parado por um ano, jamais teríamos tomado algumas
decisões tão equivocadas. Hoje vejo a bobagem da
demissão de Mick. Se ele queria faltar uns dias, um descanso,
qual era o problema? Infelizmente, o cansaço e a tensão
me fizeram tomar tal atitude."
Sem
Mick, Joe e Paul contrataram dois novos e desconhecidos guitarristas,
já que Joe resolveu que seria apenas um cantor. Os escolhidos
foram Vince White e Nick Sheppard, ex-The Cortinas, uma banda
punk sub-Clash.
O ano de 1984 foi uma tremenda
confusão para o Clash. Topper e Mick ameaçavam entrar
na justiça pleiteando direitos sobre o nome The Clash,
enquanto Joe e Paul excursionavam com a nova formação
e com Joe cuspindo em várias entrevistas.
Joe
parecia uma paródia dos primeiros anos e isso ficou bem
mais evidente quando foi lançada em 4 de novembro de 1985,
o disco Cut The Crap. A verdade é que
nenhum fã merecia aquilo. De repente, o Clash parecia uma
banda punk de boutique, uma sub banda que fazia um sub-som do
The Clash. As músicas tinham os apelativos títulos
de "Dirty Punk", "Dictator", "We Are
The Clash", etc...
As canções
eram todas assinadas por Strummer e Bernie Rhodes, que também
produziram o disco, sob o pseudônimo Jose Unidos.
Mas,
na verdade, o disco foi um completo fiasco, com Joe confessando
que jamais deveria ter feito o LP, apesar de conter, em sua opinião,
uma grande música, que virou o único compacto da
empreitada: This Is England.
"'This Is England'
é uma canção fantástica, mas eu me
senti muito mal durante as gravações e juro que
nunca mais usarei bateria eletrônica. Foi meu maior erro."
Assim, o Clash é
desfeito e seus membros tocam suas vidas. Topper Headon, após
passar um bom tempo na cadeia, aparece com um disco mais voltado
ao jazz e um bom compacto, Drummer Man.
Mick Jones monta o grupo
Big Audio Dynamite e lança dois bons discos, que mostravam
o que o Clash poderia ter sido se tivesse continuado. Mick, inclusive,
chegou a dizer que estava contente em poder fazer seu trabalho
e mostrar aos antigos fãs de sua ex-banda. O B.A.D. (como
ficou conhecido) chegou a fazer uma canção em homenagem
ao bandido brasileiro Escadinha, "Sambadrome", no segundo
disco, No. 10, Upping St., de 1987, e tocou por
aqui.
Paul Simonon montou pequenas
bandas como o Havana 3am e passou o tempo se dividindo entre Londres
e Nova York, onde aprendeu a pintar.
E Joe? Bem, Joe fez um
monte de coisas: arriscou uma carreira-solo, fez trilhas-sonoras,
tentou ser ator, tocou várias vezes como membro dos irlandeses
do The Pogues e até chegou a tocar com o B.A.D. de Mick
Jones em alguns discos.
Em 1988, todos viram a
coletânea dupla The Story of The Clash Vol. 1,
alcançar a sétima colocação na parada
britânica e o London Calling ser eleito
o disco da década de 80 pela Rolling Stone, embora
tenha sido lançado em dezembro de 1979.
Em
1991, "Should I Stay Or Should I Go" foi lançado
como single após aparecer em um anúncio e fez mais
furor, mostrando que o grupo ainda tinha uma horda incrível
de fãs.
Nesse mesmo ano é
lançado a caixa Clash On Broadway, com
várias faixas inéditas e outros grandes momentos
do grupo.
Em 1999, Joe satisfaz um
antigo pedido dos fãs e lança um disco ao vivo contendo
trechos de shows do The Clash durante toda a carreira.
From Here To Eternity
é um disco contendo ótimos momentos, embora merecesse
ser duplo, já que muitos clássicos ficaram de fora.
Joe conta que achou essas gravações em fitas lacradas
quando fazia uma arrumação em sua casa e achou que
era a hora de dar aos fãs do Clash o que sempre pediram:
um disco ao vivo.
O
CD foi a penúltima obra da banda com Joe Strummer vivo.
E Joe deixou o mundo de forma surpreendente ao 50 anos, no dia
22 de dezembro, após um ataque cardíaco. Joe estava
participando de alguns projetos, como um single em parceria com
Bono do U2 e também articulava a volta do Clash para alguns
shows em 2003, com a formação original.
Em uma entrevista meses
antes de falecer, ele contava a felicidade que sentia agora que
todos os membros já tinham esquecido as diferenças
e que estavam até pensando em lançar um novo trabalho
ao final da excursão. Mas, infelizmente, nada disso se
concretizou.
Com a morte de Strummer,
os antigos membros resolveram voltar ao ostracismo e não
macular o nome do grupo saindo em uma excursão sem o homem
que mais personificava o estilo "clash" de ser."
Deixo vocês com a
discografia da banda. Um abraço e até a próxima
coluna.
Discografia
The Clash (1977)
Give 'Em Enough Rope (1978)
London Calling (1979)
Sandinista! (1980)
Black Market Clash (1980)
Combat Rock (1982)
Cut The Crap (1985)
The Story of The Clash Vol. 1 (1988)
The Singles Collection (1991)
Clash On Broadway (1991)
From Here To Eternity (1999)
The Singles (2000)
The Essential Clash (2003)
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