167 - The Clash - Combat Rock


Nessa última parte da biografia do The Clash, a banda já se desintegrava rapidamente e de forma irremediável. Desde o sumiço de Joe Strummer durante quase um mês, passando pelas expulsões de Topper Headon pelo vício em heroína e a de Mick Jones, por conflitos com o parceiro Strummer. Aqui também você verá a barca furada chamada Cut The Crap, último disco de estúdio do Clash contando apenas com Joe e Paul e mais três manés fazendo uma música forçada, frouxa e até com bateria eletrônica! E, como não poderia deixar de ser, veremos toda a discografia póstuma e falaremos um pouco da morte de Strummer em 2002 no exato momento em que o grupo original se reunia para voltar à luta em 2003. Lágrimas, meus irmãos, as lágrimas não páram de cair. Veja o final da "banda que valia a pena"...


1 - A volta de Bernie Rhodes

O Clash continuava indeciso quanto aos rumos profissionais e empresariais e por isso começaram a conversar novamente com o antigo empresário Bernie Rhodes, que tanta dor de cabeça havia dado aos integrantes. Em uma entrevista, Joe Strummer chegou a afirmar: "foi uma pena termos brigado com Bernie, porque éramos um bom time. Mas ele se divertiu muito quando o Clash começou a acontecer e o bom era que não precisávamos vê-lo todas as semanas. Se ele quisesse conversar conosco, mandavam uma carta dizendo o que ele estava fazendo, falando que estava muito ocupado para conversar conosco. Nós usávamos a frase 'complete control' quando falávamos dele. Ele tentava nos controlar como marionetes e ficava berrando 'eu quero o total controle' e morríamos de rir."

A decisão, no entanto, era um tanto controvertida entre os quatro membros. Sem Bernie, o grupo havia crescido em várias áreas, embora vacilassem na questão financeira. A primeira questão era resolver os vários problemas acarretados com o cancelamento da turnê britânica para divulgar Sandinista! e a primeira providência de Bernie foi prometer arrumar não apenas uma nova turnê britânica, mas uma européia e uma visita à América.

Enquanto Bernie organizava a vida da banda, Joe Strummer resolveu participar da Maratona de Londres e conseguiu completar os 42.195 metros da prova, mostrando que possuía um bom condicionamento físico.

Mas os problemas continuavam e o mais grave era a situação do baterista Topper Headon. Preso por posse de heroína e de cocaína, Topper tinha pedido uma liberdade condicional por um ano, após confessar o delito.

Enquanto isso, era lançado uma segunda versão do single The Magnificent Seven, sem resultados comerciais significativos.

Mas Bernie tinha outros planos e um deles era ver o The Clash tocando novamente nos Estados Unidos.

2 - Voltando à América

Mick JonesO problema de voltar aos Estados Unidos era a falta de dinheiro. Com a baixa vendagem de Sandinista!, a CBS deixou claro que não investiria dinheiro algum na banda. A saída encontrada por Bernie foi então agendar sete noites seguidas no clube Bond, em Times Square, na cidade de Nova York, e que não dariam passe livre aos jornalistas, que poderiam comprar alguns bilhetes pela metade do preço.

E as confusões começaram logo que o grupo pisou na cidade. A primeira delas foi com os bombeiros, que temiam pela segurança dos fãs, afinal apenas 1750 pessoas poderiam entrar no clube e, obviamente, estavam vendendo mais do que isso para cada apresentação.

O grande temor era que um incêndio no local pudesse ocasionar um tremendo caos e até morte. O departamento dos bombeiros disse que apenas metade das pessoas poderia sair com tranqüilidade em caso de incêndio e ameaçou entrar na justiça para fechar o local se as apresentações acontecessem, o que de fato fizeram. Assim, após o segundo show, conseguiram um mandato oficial obrigando o Clash a cancelar as apresentações.

Bernie, no entanto, conseguiu superar os problemas e após um acordo com o comissário da cidade - que tinha em seus filhos grandes fãs da banda - concluiu que o grupo poderia continuar a tocar lá se a segurança fosse reforçada. Bernie concordou, até porque as sete noites iniciais viraram dezesseis.

Os shows eram abertos pelas garotas do Slits, pelo Funkapolitan e por Grandmaster Flash and The Furious Five, que reclamaram dos fãs do Clash. E quem mais reclamou da longa maratona foi mesmo o grupo, que não aguentava mais o tédio de 16 noites seguidas em cima de um mesmo palco.

Em Nova York a banda teve bons dias, tocando pela primeira vez a canção "This Is Radio Clash" e sendo convidado pelo diretor Martin Scorsese para participarem da trilha-sonora de King Of Comedy, película estrelada por Robert de Niro e Jerry Lewis. Topper também anunciou a disposição em produzir a banda local Bush Tetras, embora seu estado físico e mental fosse um tanto nebuloso.

3 - Turnê britânica

Para Bernie era a hora de voltar a tocar em casa e por isso planejou uma excursão a ser iniciada em outubro, após uma semana de shows no clube Morgador, em Paris.

Os shows na capital francesa e inglesa foram duramente criticados pelos jornalistas, que, ao menos reconheceram o esforço do grupo. Essas apresentações eram marcadas pela presença do grafiteiro Futura 2000, que pintava o palco enquanto a banda tocava. Ainda assim, o grupo era constantemente malhado. Joe Strummer era criticado por não se parecer nada com o antigo Joe Strummer e Mick Jones era ironizado por tocar algum dos "piores acordes que o Lyceum já ouviu". A culpa, segundos os "especialistas" era o pífio material de Sandinista! e até de London Calling. Apesar disso, os fãs ficaram mais do que felizes em ver seu grupo favorito novamente na ativa.

capa do compacto This Is Radio ClashAlheios a tudo isso, o grupo começava a planejar os rumos do novo disco. Enquanto o Clash voava para Nova York a fim de gravarem no Electric Ladyland Studios, construído por Jimi Hendrix, é lançado no dia 4 de dezembro um novo single, This Is Radio Clash. A música mostrava o Clash indo mais além das fronteiras de Sandinista! e mostrando uma clara influência dos artistas de rap e hip-hop nova-iorquinos. Apesar disso, o disco teve pouco êxito comercial, ficando nas paradas inglesas apenas um mês e com resultados modestos.

Enquanto gravavam o disco tendo a companhia de pessoas como o poeta Allen Ginsberg, o grupo participou de um faixa do disco The Adventures of Futura 2000 e Mick Jones teve ainda tempo de produzir o primeiro disco do grupo Theatre of Hate, de Kirk Brandon, Westworld, que logo depois montaria outra banda, Spear Of Destiny.

O Clash ainda cedeu uma gravação ao vivo de "London Calling" para ser incluída em um disco chamado Life In European Theatre, uma coletânea contendo faixas de Peter Gabriel, XTC, The Jam, The Specials, The Beat, The Undertones e Madness.

Após completada as gravações, o grupo viajou para o Oriente e Austrália e cumpriu uma extensa série de shows, sendo nove deles no Japão, onde a banda foi aplaudida de pé. Em retribuição o Clash mudou a letra de "London's Burning" para "Tokyo's Burning".

O grupo estava então dando alguns retoques finais no novo disco, produzido apenas pela banda e mixado pelo veterano Glyn Johns, que havia trabalhado com os Rollings Stones, The Who, Kinks e Beatles.

4 - Combat Rock

capa do compacto Know Your RightsNo dia 23 de abril de 1982 é lançado o primeiro compacto com as canções "Know Your Rights" e "First Night Back In London". Apesar das vendagens não serem grandes, as canções já mostravam uma evolução no som, assim como em uma melhora geral na qualidade de produção, um dos eternos problemas do grupo. O Clash mostrava que havia encontrado uma solução satisfatória para o problema.

E no mês seguinte é lançado o disco Combat Rock, que viria a ser um imenso sucesso comercial.

capa do disco Combat RockCombat Rock mostrava o grupo ainda mais engajado nos problemas terceiro-mundistas, especialmente nas faixas "Rock The Casbah", "Ghetto Defendant" e "Straight To Hell".

Para variar, a crítica ficou totalmente confusa com o lançamento. O New Musical Express definiu como o melhor desde Give 'Em Enough Rope, mas a Sounds disse que o grupo estava mais perto do som do Fleetwood Mac do que do antigo Clash.

Algumas canções mostravam que o Clash não havia amolecido em sua proposta de cutucar feridas. "Atom Tan" falava do holocausto nuclear, "Know Your Rights" criticava os assassinatos legalizados feitos pela polícia e, em "Ghetto Defendant", Allen Ginsberg citava um poema, além da participação de Futura 2000 nos vocais de Overpowered By Funk".

Apesar de "Know Your Rights" ter fracassado na parada, não entrando entre as 40 mais da parada de compactos, Combat Rock entrou direto em segundo lugar na parada britânica, mostrando que o disco tinha potencial para ser o mais bem-sucedido da banda, em termos comerciais.

5 - O sumiço de Joe e a saída de Topper

Mas a banda começa a mostrar que nem tudo ia bem internamente e explode uma crise logo após o lançamento do compacto Know Your Rights e faltando pouco mais de um mês para começar a turnê pela Inglaterra. O motivo é o aparente sumiço de Joe Strummer.

Strummer resolveu dar um tempo após uma entrevista a um jornal escocês e sumiu com sua namorada. Alguns especularam que ele fizera isso para promover ainda mais o novo disco, mas a verdade é que seu sumiço causou um grande problema interno e que os primeiros shows da turnê tiveram que ser cancelados e remarcados, pois ninguém cogitava subir em um palco sem ele.

Aproveitando a confusão criada, Bernie Rhodes tentou capitalizar algum em cima da situação e disse que talvez Joe tivesse desaparecido para reestabelecer prioridades em sua vida e repensar sua carreira.

Durante o mês de maio, após o lançamento do novo disco, Joe ligou para seus pais avisando que estava bem e que logo retornaria, mas não quis dizer onde estava. Foi preciso que o relações-pública Kosmo Vinyl saísse a campo e o encotrasse em Paris. Uma vez lá, Kosmo persuadiu Joe a participar de uma apresentação já agendada na Holanda. Joe concordou e a banda fez o show, mas logo após isso houve uma outra bomba: a saída de Topper Headon.

Topper HeadonTopper anunciou que estava deixando a banda por diferença de opiniões, mas a verdade é que o baterista estava deixando o Clash por causa de seu vício com heroína.

O aviso pegou a todos desprevinidos, especialmente porque a banda já tinha anunciado também uma excursão pela América e saíram correndo atrás de um baterista. A saída encontrada foi chamar o antigo baterista Terry Chimes.

Em uma entrevista à época, Joe disse que Topper havia saído, talvez, porque não concordava com as idéias do Clash e porque queria apenas tocar e não participar de todo um conjunto de idéias. Mas Joe, admitiu anos depois, que a saída de Topper teve outros desdobramentos.

"Topper saiu porque ele estava usando heroína, a pior droga do mundo para um baterista que precisa sempre manter o ritmo. E sua saída acabou acelerando o processo de desintegração interna. Ele era um baterista brilhante e eu me orientava pela sua batida. Topper era o melhor músico do Clash e quando ele saiu, nunca mais soamos da mesma maneira. Terry era um cara legal e um bom músico, mas não chegava aos pés de Topper. E quando você muda um baterista é necessário recriar todo o som ao vivo."

E sobre seu sumiço, Joe disse que havia sido necessário para ver se ainda queria continuar com o Clash: "eu precisava provar a mim que ainda estava vivo, que não era apenas um robô dentro do Clash. Acho que fiz uma ótima coisa passando esse mês em Paris, porque pude ser uma pessoa normal, sem pensar em nada."

O baixista Paul Simonon apenas lamentou, laconicamente: "se Joe achou que isso o ajudou internamente, ótimo. Sinto que isso o deixou mais arejado e tinha certeza de que ele voltaria."

capa do compacto Rock The CasbahEm junho é lançado o compacto Rock The Casbah. E a capa do LP causou uma certa confusão na América porque a gravadora queria colocar um anúncio próprio dizendo que a pirataria estava matando a música, mas a banda não concordou. Isso acabou atrasando o lançamento de Combat Rock em algumas semanas.

"Não importa quantos fãs gravem em fitas os nossos discos. Para nós, o mais importante é dizer que vendemos as 200 mil cópias exigidas por eles de Sandinista! e isso significa que não temos mais nenhum débito com a gravadora", afirmou Kosmo.

O disco teve uma vendagem lenta e gradual na América, estreando entre os 200 mais vendidos em maio, passando a número 99 em junho e estando entre os 10 perto do Natal de 1982.

capa do compacto Should I Stay Or Should I GoE houve também outra mudança de estratégia para o mercado norte-americano. O primeiro compacto a ser lançado naquele país foi Should I Stay Or Should I Go, com o baterista Terry Chimes na capa, ao lado dos demais membros. A canção era bem menos agressiva e tinha os vocais de Mick Jones.

 

Se os dias pareciam bons para a banda, Topper vivia um pesadelo e havia sido preso após roubar 30 libras em um ônibus e estava preso.

7 - Confusão e disco de platina

O grupo partiu então para a excursão na América que teve algumas confusões.

Em New Jersey, Joe foi acertado com fogos no palco, ocasionando uma pequena queimadura em seu joelho. Mas as coisas ficaram bem mais tensas em Atlanta, quando alguns nazistas começaram a distribuir folhetos com o nome da banda, mas sem qualquer permissão dos membros do grupo e ameaçando o público. O resultado foi uma grande briga, com 14 pessoas presas e dois policiais feridos. Além disso, circulavam rumores falsos que Topper voltaria ao grupo durante a turnê.

O grupo voltou então para realizar a parte britânica da turnê mundial e a primeira coisa a chamar atenção era o penteado estilo moicano de Joe, que havia resolvido usar esse corte de cabelo durante a estadia na América.

Em uma outra entrevista, Joe confessou que a saída de Topper havia deixado o Clash vulnerável e contou porque fugiu para Paris: "a mãe de minha namorada havia sido presa em Paris e fomos até lá. Eu apenas levantei e corri até a cidade, mas acho que foi muito bom para dar uma sacudida no grupo, nos fãs e em nossa vida."

Joe também confessou que havia adotados outros hábitos, sendo o principal deles cortar os cigarros de maconha de sua vida. "Eu não consigo dormir mais e todos os dias acordo às seis e meia da manhã porque cortei o fumo. Um baseado é um sonífero tão poderoso quanto um valium e fumei durante dez anos. Mas eu tinha que parar, porque minha memória estava péssima e não lembrava mais de meus sonhos e eu quero lembrar o que sonhei ao acordar."

E Joe também confessou que a pressão sobre o grupo estava ficando muito grande: "tentamos mudar algumas coisas porque acredito que há ainda algumas verdades a serem ditas na música, mas parece que para o mundo ocidental isso não é importante, já que eles preferem uma melodia bonitinha e palavras bobinhas."

No segundo semestre de 1982, o grupo aparece em um filme intitulado The Punk Rock Movie, dirigido pelo velho amigo Don Letts. E Letts afirmou que estava trabalhando em um filme com vídeos do Clash e que se chamaria Clash On Broadway.

O grupo passou alguns momentos de calma e ficou contente ao ver que "Should I Stay Or Should I Go" e "Rock The Casbah" haviam ficado entre as 20 mais na América. Em outubro, o Clash surpreende ao anunciar que abrirão o show do The Who, no Shea Stadium.

show do Shea StadiumParticularmente ninguém esperava que a banda fosse tomar uma decisão dessas, já que estavam no auge da carreira e que iriam se submeter a todas as coisas destinadas aos grupos pequenos.

Ainda assim, o show foi realizado e as cenas foram usadas para o clip de "Should I Stay Or Should I Go". Em novembro tocaram no Jamaica World Musical Festival, ao lado de Aretha Franklin, Beach Boys, Grateful Dead, entre outros.

Combat Rock havia conseguido disco de ouro na América pela vendagem de 500 mil cópias e era esperado que logo conseguisse o disco de platina pela vendagem de 1 milhão, o que ocorreu. Ao comentar o fato, Strummer disse: "se uma banda política como a nossa alcança tal marca é porque deixamos algo de bom."

Mas, como sempre, haviam outros problemas internos...

8 - Terry Chimes sai e Mick Jones é expulso

Enquanto o grupo planejava alguns shows para 1983 foram novamente surpreendidos pela saída de um baterista. Desta vez era Terry Chimes, alegando que havia deixado muita coisa para trás para se juntar ao grupo durante nove meses. Em uma entrevista, Joe agredecia a colaboração de Terry e sua camaradagem.

Sem baterista, o futuro parecia ainda mais incerto e o grupo ficou parado por algum tempo. Algumas notícias corriam, como a que iriam participar do filme de Martin Scorsese e que tinham ganhado um fã inesperado; nada menos que o presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, que estava ouvindo as novas bandas inglesas influenciado por seus filhos.

Enquanto isso, Joe participou de uma nova edição da Maratona de Londres, mas desta vez com patrocínio do jornal The Sun.

O grupo então resolveu anunciar no meio de 1983, que havia escolhido um novo baterista: Peter Howard, um músico de 23 anos, natural de Bath e que havia gravado com sua banda, Cold Fish, para a CBS. Com ele, o grupo iniciaria as gravações de um novo disco. Mas o estopim interno estava ligado e dias depois é anunciado que Mick Jones havia sido expulso do Clash por Joe e Paul.

O anúncio pegou os fãs de surpresa, mas Joe disse que sentia que Mick deveria sair do Clash, pois não estava mais tão compromissado como antes. Joe confessaria anos depois, que esse foi o maior erro de sua vida e que mandou Mick embora porque ele estava se atrasando para os ensaios e tendo um comportamento de estrela: "fiz isso porque não tivemos descanso. Se o Clash tivesse parado por um ano, jamais teríamos tomado algumas decisões tão equivocadas. Hoje vejo a bobagem da demissão de Mick. Se ele queria faltar uns dias, um descanso, qual era o problema? Infelizmente, o cansaço e a tensão me fizeram tomar tal atitude."

O novo ClashSem Mick, Joe e Paul contrataram dois novos e desconhecidos guitarristas, já que Joe resolveu que seria apenas um cantor. Os escolhidos foram Vince White e Nick Sheppard, ex-The Cortinas, uma banda punk sub-Clash.

O ano de 1984 foi uma tremenda confusão para o Clash. Topper e Mick ameaçavam entrar na justiça pleiteando direitos sobre o nome The Clash, enquanto Joe e Paul excursionavam com a nova formação e com Joe cuspindo em várias entrevistas.

capa do disco Cut The CrapJoe parecia uma paródia dos primeiros anos e isso ficou bem mais evidente quando foi lançada em 4 de novembro de 1985, o disco Cut The Crap. A verdade é que nenhum fã merecia aquilo. De repente, o Clash parecia uma banda punk de boutique, uma sub banda que fazia um sub-som do The Clash. As músicas tinham os apelativos títulos de "Dirty Punk", "Dictator", "We Are The Clash", etc...

As canções eram todas assinadas por Strummer e Bernie Rhodes, que também produziram o disco, sob o pseudônimo Jose Unidos.

capa do compacto This Is EnglandMas, na verdade, o disco foi um completo fiasco, com Joe confessando que jamais deveria ter feito o LP, apesar de conter, em sua opinião, uma grande música, que virou o único compacto da empreitada: This Is England.

"'This Is England' é uma canção fantástica, mas eu me senti muito mal durante as gravações e juro que nunca mais usarei bateria eletrônica. Foi meu maior erro."

Assim, o Clash é desfeito e seus membros tocam suas vidas. Topper Headon, após passar um bom tempo na cadeia, aparece com um disco mais voltado ao jazz e um bom compacto, Drummer Man.

Mick Jones monta o grupo Big Audio Dynamite e lança dois bons discos, que mostravam o que o Clash poderia ter sido se tivesse continuado. Mick, inclusive, chegou a dizer que estava contente em poder fazer seu trabalho e mostrar aos antigos fãs de sua ex-banda. O B.A.D. (como ficou conhecido) chegou a fazer uma canção em homenagem ao bandido brasileiro Escadinha, "Sambadrome", no segundo disco, No. 10, Upping St., de 1987, e tocou por aqui.

Paul Simonon montou pequenas bandas como o Havana 3am e passou o tempo se dividindo entre Londres e Nova York, onde aprendeu a pintar.

E Joe? Bem, Joe fez um monte de coisas: arriscou uma carreira-solo, fez trilhas-sonoras, tentou ser ator, tocou várias vezes como membro dos irlandeses do The Pogues e até chegou a tocar com o B.A.D. de Mick Jones em alguns discos.

Em 1988, todos viram a coletânea dupla The Story of The Clash Vol. 1, alcançar a sétima colocação na parada britânica e o London Calling ser eleito o disco da década de 80 pela Rolling Stone, embora tenha sido lançado em dezembro de 1979.

Caixa Clash On BroadwayEm 1991, "Should I Stay Or Should I Go" foi lançado como single após aparecer em um anúncio e fez mais furor, mostrando que o grupo ainda tinha uma horda incrível de fãs.

Nesse mesmo ano é lançado a caixa Clash On Broadway, com várias faixas inéditas e outros grandes momentos do grupo.

Em 1999, Joe satisfaz um antigo pedido dos fãs e lança um disco ao vivo contendo trechos de shows do The Clash durante toda a carreira.

From Here To Eternity é um disco contendo ótimos momentos, embora merecesse ser duplo, já que muitos clássicos ficaram de fora. Joe conta que achou essas gravações em fitas lacradas quando fazia uma arrumação em sua casa e achou que era a hora de dar aos fãs do Clash o que sempre pediram: um disco ao vivo.

capa do CD From Here To EternityO CD foi a penúltima obra da banda com Joe Strummer vivo. E Joe deixou o mundo de forma surpreendente ao 50 anos, no dia 22 de dezembro, após um ataque cardíaco. Joe estava participando de alguns projetos, como um single em parceria com Bono do U2 e também articulava a volta do Clash para alguns shows em 2003, com a formação original.

Em uma entrevista meses antes de falecer, ele contava a felicidade que sentia agora que todos os membros já tinham esquecido as diferenças e que estavam até pensando em lançar um novo trabalho ao final da excursão. Mas, infelizmente, nada disso se concretizou.

Com a morte de Strummer, os antigos membros resolveram voltar ao ostracismo e não macular o nome do grupo saindo em uma excursão sem o homem que mais personificava o estilo "clash" de ser."

Deixo vocês com a discografia da banda. Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

The Clash (1977)
Give 'Em Enough Rope (1978)
London Calling (1979)
Sandinista! (1980)
Black Market Clash (1980)
Combat Rock (1982)
Cut The Crap (1985)
The Story of The Clash Vol. 1 (1988)
The Singles Collection (1991)
Clash On Broadway (1991)
From Here To Eternity (1999)
The Singles (2000)
The Essential Clash (2003)




 

 

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