113 - Continental Combo - Continental Combo K7

(Continental Combo, ao vivo, no Teatro da Vila, em 11/10/2012: no baixo, Carlos Costa; na bateria, Rogério Meni e na guitarra, Sandro Garcia. Crédito: Diogo de Nazaré)

Em mais um ano difícil para o bom e valente rock independente brasileiro, o Continental Combo nos presenteia com outro lançamento no último mês de 2014, em... fita cassete.

Fita cassete? Como assim?

Acalme-se: não escrevi errado e nem entramos no DeLorean de Marty McFly e voltamos a 1985 (suspiro...). Sim, estamos em 2015 e a banda resolveu voltar a um formato dado como sepultado há décadas. E, o mais curioso, é que muitas bandas indies estão investindo no na velha fitinha.


Está tudo lá. A velha caixinha charmosa, a fita magnética, Lado A, Lado B, 10 músicas, 8 da banda e duas covers ("I Know My Rider, dos Byrds" e "Burned", do Buffalo Springfield). Mas, porque lançar um novo trabalho em K7, em uma era absolutamente digital, onde as pessoas só se importam com mp3, ainda que as vendas de vinis comecem a crescer?

Para entender melhor essa grande surpresa, pedi uma entrevista para o líder da banda, Sandro Garcia, que explicou o conceito do projeto e diz que, pensa em lançar um novo trabalho, em vinil!

Antes, disso vamos à resenha.

RESENHA

As 10 faixas do cassete - uma simpática fita de 46 minutos - traz dois lados "As" de singles - "Faroeste Blues" e "Recordar é Viver", além de outra faixa do último single citado, "Longe Daqui". As outras duplas que completam o lado são "Labirinto waltz" e "Tempos de glaciação".

O lado B é dedicado à programas gravados, uma apresentação ao vivo e duas faixas de ensaios tributos ao Byrds e ao Buffalo Springfield. Os Byrds, aliás, ganharam um CD só seu anteriormente, o Extras Vol.2. Ou seja,o lado B é, um "bootleg oficial".

A qualidade do projeto é muito boa, o acabamento da mesma, excelente, como se pode ver na foto abaixo, onde mostro todo o encarte inteiro. É incrível pensar que um artista possa ousar tanto, pensando muito mais no aspecto artístico e gráfico do que financeiro. Uma pena que bandas como o Continental Combo seja uma exceção e não a regra.

ENTREVISTA COM SANDRO GARCIA

(Sandro Garcia durante gravações no Estúdio Quadrophenia, 20/11/2013. Crédito: Pedro Clash).

Mofo: - Olá, Sandro. Porque um novo trabalho, em fita K7?
Sandro Garcia: -
Ainda não havíamos lançado algo neste formato. A fita guarda um aspecto rudimentar, analógico e também de souvenir, esta no lado oposto do download digital.

Mofo: - E quantas cópias vocês fez?
Sandro Garcia: -
Fizemos 50 cópias de forma caseira, gravando uma a uma.

Mofo: - Não te assusta o custo financeiro já que as fitas K7 pararam de ser fabricadas e hj são muito mais caras?
Sandro Garcia: -
Neste caso tanto o lote de fitas quanto o material gráfico não pesaram no valor final. A ideia foi produzir algo com baixo custo mantendo um acabamento bacana.

Mofo: - Em um mundo tomado pelo mp3 são poucos os que ainda possuem um aparelho de CD em casa, muito menos um tapedeck. Quantos fãs vocês acham que realmente poderão ouvir esse trabalho em um formato tão "fora de moda"?
Sandro Garcia: -
Acreditamos que todos os interessados neste material ainda tem um tapedeck ou walkman para ouvir.

Mofo:- Você valoriza muito o lado conceitual e visual da banda. A fita é apenas mais um elemento desse charme todo. Como nascem essas ideias, o que te leva a fazer isso: nostalgia, resgate de um mundo pré-tecnológico, sonho de infância?
Sandro Garcia: -
Sim, temos um cuidado com o design dos discos, pois do nosso ponto de vista ele ajuda a compor a identidade da banda. O repertório atual se ajustou perfeitamente a este lançamento em K7, com ele a banda pode explorar o formato com lado A trazendo faixas autorais inéditas e o lado B que funcionou como um bootleg com músicas ao vivo e covers.

Mofo: - Seria uma pena que apenas alguns fãs pudessem apreciam esse trabalho. Você pensa em lançá-lo em CD?
Sandro Garcia: -
É bem possível que parte do material desta fita seja usado no 4º álbum da banda. Aliás, o plano é lançar este novo disco em formato vinil, em 2015.