04 - Cosmic Rough Riders - entrevista

parceria com Pedro Damian

da esquerda para a direita: Stephen  Fleming, Gary Cuthbert, James Clifford e Mark BrownEles são uma das novas bandas mais aclamadas no mundo. Seu som lembra demais os anos sessenta – baladas doces, leves, alegres, cheias de sutileza e pode se definido como aquilo Johnny Marr considerou "clima de verão", uma referência ao som quase ingênuo e romântico dos dois primeiros álbuns dos Smiths. Mas o Cosmic não tem nada a ver com ex-banda de Johnny. Seu papo (e som) são outros: Beatles e Beach Boys, Byrds e até Van Halen. O fato de virem da mesma Escócia de Jesus and Mary Chain, Primal Scream e do Teenage Fanclub serve apenas como referência geográfica e nada mais. Gravam para o selo Poptone, de Alan McGee, lendário produtor e dono da extinta Creation, que além de Jesus e do Primal deu ao mundo o Oasis. Por email, Gary Cuthbert, respondeu as perguntas e garante: eles virão ao Brasil em 2004. Uma grande pedida para um ótimo show de uma banda que acaba de lançar disco novo e fizeram uma tour hiper concorrida na Europa.

Para a entrevista convidei o homem que mais ama o grupo abaixo da linha do Equador. Pedro Damian é um cara que sonha em ser escocês e que divide comigo o amor pelo Campeonato da Terra dos 12 anos. Além de me ajudar com as perguntas, montou esse texto introdutório sobre como se formaram e uma rápida biografia. O trabalho (se é que entrevistar bandas bacanas pode ser chamado de trabalho) foi nosso, mas a diversão é toda sua. Enjoy It!


O Cosmic Rough Riders não assume, mas segue à risca a velha fórmula do pop perfeito, aplicada com exatidão por mitos como Beatles e Beach Boys: guitarras suaves, vocais dobrados e letras sem um pingo de amargura. Algo muito próximo do que o Teenage Fanclub faz hoje em dia e poucos grupos conseguem imitar, apesar da simplicidade do conceito. O nome da banda surgiu da junção dos nomes de dois cartazes que viram em uma loja, durante um passeio pelas ruas de Glasgow: Um anunciava o jeans Lee Rough Rider e o outro, um clube chamado Cosmic Wheels. Depois do maravilhoso Enjoy The Melodic Sunshine, a banda sofreu um baque, com a saída do líder e vocalista Daniel Wylie, compositor de mão cheia e fã do R.E.M., que saiu em carreira-solo. A se deduzir pelo recém-lançado Too Close To See Far, trabalho que sucedeu Enjoy The Melodic Sunshine, isto não afetou em nada a qualidade do grupo. As letras continuam alegres, como se o mundo fosse um lugar maravilhoso de se viver, as melodias mantém-se encantadoras e o vocal de Stephen Fleming é ainda mais cativante que o de Wylie. Na ultraconcorrida turnê que fizeram antes de iniciar as gravações do novo CD, ainda em 2002, tiveram famosos espectadores, como um tal de Robert Plant e de um certo Lenny Kravitz.

Gary CuthbertPergunta - Ouvindo "Enjoy The Melodic Sunshine" é possível relembrari de Pet Sounds dos Beach Boys, Beatles (fase Álbum Branco) e algumas coisas do XTC (Orange and Lemmons, Skylarking). Você concorda?
Gary Cuthbert -
Eu concordo com você sim! Tanto os discos dos Beatles como os dos Beach Boys são das minhas bandas prediletas. Existem alguns tipos de álbuns que nossos pais costumavam tocar enquanto eu era menino, então não é surpresa que sejam influências aparentes.

Pergunta - Qual sua opinião sobre a atual cena roqueira britânica?
Gary Cuthbert -
Eu acho que a cena rocker daqui está bastante saudável e boa. As pessoas estão começando a se encher desses grupelhos de garotinhos que as adolescentes adoram do tipo "bubblegum" e querem hoje em dia verem pessoas tocando seus instrumentos e cantarem suas próprias composições.

Pergunta – Qual sua opinião sobre o Teenage Fanclub. Eles influenciaram o Cosmic?
Gary Cuthbert -
Apesar da banda toda amar o Teenage, nunca tivemos a menor vontade soar como eles, assim como Beatles e Beach Boys que mencionei antes. Se você ama um grupo ou artista inconscientemente aparecerão em algumas canções que você escreve.


Pergunta - Você poderia descrever a relação da banda com Alan McGee. Ele foi o dono da Creation, selo que revelou Jesus and Mary Chain, Primal Scream e Oasis. Como ele está hoje e que você pensa dessas bandas?
Gary Cuthbert -
Nós temos uma excelente relação com Alan mesmo após sairmos do selo Poptonnes. O selo no momento está se voltando mais para grupos punks, já que é algo que Alan sempre quis, mas infelizmente sentimos que não era a gravadora certa para o Cosmic agora. Mas ainda visitamos Alan com uma certa regularidade e ele ainda é um grande fã da banda e constante fala sobre a gente em entrevistas e tudo mais. Já as bandas do antigo selo Creation, como o Oasis e o Primal Scream foram maravilhosas para a cena britânica, já que eram grupos de verdade tocando suas composições, enquanto havia muita coisa fabricada por aí.


o grupo na época em que era um quintetoPergunta - As melodias de vocês são muito orgânicas, leves, alegres e otimistas, uma coisa rara hoje. Por que vocês soam assim?
Gary Cuthbert -
Eu acho que tocamos uma música "otimista" e isso vem do fato de virmos de uma região calma do subúrbio de Glasgow, uma cidade onde há muito desemprego, crime e violência. Junte a isso o clima horrível da cidade, e sempre achei que a única maneira de escapar de tudo isso é imaginar que você estivesse em outro lugar em que as coisas não fossem tão ruins. Bem, nós somos caras otimistas...risos."


Pergunta - Como vocês trabalham em estúdio, quem faz o quê. Gostam de ensaiar?
Gary Cuthbert -
O processo em estúdio tem sido o mesmo desde que começamos. Alguém chega com uma idéia para uma canção, e toca com um violão, ou vem gravada em um mini disc ou em fita cassete. Se todos concordarem que ela vale a pena ser trabalhada, começamos a adicionar bateria, guitarra e gradualmente trabalhamos nela até estar pronta. Ensaios não é a melhor parte de estar em um grupo, mas é muito importante para estabelecermos uma conexão entre o disco de estúdio e as apresentações ao vivo, já que ensaiando você tem um set ao vivo muito satisfatório.

capa de Enjoy The Melodic SunshinePergunta - Enjoy The Melodic Sunshine foi considerado o disco do ano, em 2001. Ficaram arrepiados ou excitados com isso? De que maneira influenciou na produção do novo trabalho? Aumentou a responsabilidade, a tensão dentro do grupo?
Gary Cuthbert -
Foi realmente uma surpresa para nós sabermos o quão popular era o disco. Nós sabíamos que era um bom disco, mas infelizmente as gravadoras, as revistas e as lojas não estavam interessadas. Mas através de muito trabalho duro e uma extensa tour nós conseguimos trazer todas essas pessoas para perto de nós e o disco virou um sucesso. Sobre o processo de produção do novo disco, nada realmente mudou. Ele soa um pouquinho mais maduro e a produção geral é muito superior, mas não assim um milhão de milhas superior a Enjoy The Melodic Sunshine.

Pergunta - O que gostam de ouvir?
Gary Cuthbert -
O grupo possui uma gama imensa de gostos. Nós todos amamos Beatles, Beach Boys, Eagles, Byrds, etc.. mas também gostamos de coisas variadas como Van Halen, Box Car Willie, Abba, Steely Dan e todos os outros gêneros que você puder imaginar.

capa de Too Close To See FarPergunta - O que virá agora? Shows com o U2, Oasis, número 1 na parada? Ou apenas fazendo o que gostam?
Gary Cuthbert -
Nossa ambição é continuarmos sendo capazes de gravar alguns discos até quando for possível e as pessoas gostarem. É essa nossa meta.

Pergunta - Vocês querem tocar no Brasil? Conhecem algo do rock brasileiro?
Gary Cuthbert -
Nós temos planos de tocarmos em seu país no começo do ano que vem e espero ver todos vocês. Eu não estou muito familiarizado com o rock brasileiro, mas temos uma pessoa daí que nos manda regularmente uma compilação de cds e sempre ouvimos coisas maravilhosas.

Pergunta - Um recado para seus fãs.
Gary Cuthbert -
Obrigado por comprarem nossos discos e irem aos nossos shows e serem sempre pessoas maravilhosas, espero poder vê-los novamente em breve.