Essa
é uma das bandas mais insanas (se não for a mais)
do planeta. Liderados por um cantor que parece ter saído
diretamente do hospício e por uma guitarrista que parece
noiva do Conde Drácula e que é o cérebro
do grupo, os Cramps são uns dos grupos mais anárquicos,
divertidos e básicos do mundo. Sua mistura de rockabilly,
com história de terror e um visual kitsch, fazem deles
os inventores do pshychobilly. Ficou curioso em conhecer essa
banda? Pois descobrirá que detrás de seu visual
de mulher fatal, com saias curtas, biquínis e saltos altíssimos,
Poison é uma baita guitarrista e que Lux, nunca, em hipótese
alguma, deveria ter permissão para subir em um palco sem
estar com uma camisa-de-força. Essa combinação
única rendeu aos Cramps uma idolatria e uma personalidade
única. E nunca mexa com Poison, ou a garota de biquíni
pode puxar uma metralhadora e aí você terá
que correr mais do que Lux em cima de um palco...
Olhe
bem para essas duas figuras. Se não formam o casal mais
insano e ímpar do mundo, ao menos, do rock eles são,
com certeza.
Lux Interior e Poison
Ivy formam o núcleo de um grupo que mistura de forma absolutamente
brilhante o rockabilly dos anos 50, humor, psicodelia, sexo, filmes
B de terror, performances alucinantes e um visual absolutamente
kitsch.
Se a receita te deixou
com água na boca, espere até ver as peripécias
pela qual a banda já passou: desde um ex-integrante que
fugiu com a van e todos os equipamentos do grupo no meio de uma
turnê, deixando os demais sem eira na beira; a forma inusitada
com que Kid Congo Powers entrou para o grupo; o convite de Sofia
Coppola para que Lux fizesse uns gritos de terror na versão
que seu pai, Francis Ford, fez para Dracula;
até a monstruosa coleção de discos de 78
e 45 rotações da lendária Sun Records, que
confessam possuir todo o acervo, com exceção de
uma meia dúzia de compactos.
Mas você descobrirá
também que atrás de uma postura maluca, escondem-se
duas pessoas que de bobos nada têm. Vamos então aos
fatos...
Há mais de 30 anos
atrás, em 1972, Erick Purkisher (nascido no dia 21 de outubro
de 1946, em Stoh, Ohio) viu uma gata pedindo carona em uma estrada
da Califórnia. Parou sua moto, ofereceu uma carona. A gata
em questão era Kristy Wallace (nasceu no dia 20 de fevereiro
de 1953, em Sacramento, Califórnia) e de cara apaixonaram-se.
Os dois estavam indo para uma mesma escola estudar Arte e Xamanismo
(nem me perguntem onde era o curso, pois não faço
a menor idéia...)
Desde cedo resolveram adotar
nomes diferentes ao de batismo: Erick tornou-se Vip Vop e Kristy,
Poison Ivy Rorschach, nome tirado de um sonho (Rorschach é
também o nome do famoso teste do borrão de tinta).
Durante dois anos perambularam por Sacramento fazendo coisas totalmente
ilegais e mundanas até começarem a ser perseguidos
pela polícia local. Resolveram então deixar a cidade
e mudar para a pequena Akron, em Ohio. Um dia, Erick (ou Vip Vop)
viu um anúncio de carro com os dizeres "lux interior"
e resolveu adotar esse nome. Nascia a dupla de insanos Lux Interior
e Poison Ivy.
Foi nessa época
em que viviam em Sacramento que realizaram uma viagem que mudaria
a vida do casal. Os dois ouviram um boato que se fossem até
Memphis poderiam comprar discos da famosa gravadora Sun Records
a granel e por uma ninharia.
Lux e Ivy montaram então
em sua perua Chevey 61 e foram até a cidade, mais precisamente
até uma loja chamada Selective Hits, que ficava em um armazém
da antiga gravadora. Lotaram a perua com raridades em 78 e 45
rpm. Para se ter uma idéia, compactos raros e numerados
do antigo e esquecido cantor Billy Lee Riley custava a ninharia
de 18 centavos.
A paixão pelo gênero
aumentou ainda mais em Akron, onde, segundo Lux, muitas pessoas
chegavam com discos dos anos 50 para vender em sebos. Uma das
maiores preciosidades do casal é um compacto dos Teen Kings,
banda de Roy Orbison, antes de fazer sucesso como cantor, gravando
pela mesma Sun. Foi essa paixão que os estimulou a formarem
um grupo.
Seguindo
totalmente a linha oposta de outros grupos, a loira Ivy assumiu
a guitarra, pegando os poucos acordes que tinha aprendido com
o irmão e os desenvolvendo ouvindo os discos que tinham.
Lux resolveu ser cantor,
após assistir uma apresentação de Marc Bolan.
Ao perceberem que em Akron dificilmente conseguiriam arranjar
pessoas interessadas em montar uma banda, mudaram para a única
cidade, na visão deles, que qualquer pessoa iria se quisesse
sucesso: Nova York.
Vale citar que Akron foi
a terra de duas figuras fundamentais da cena punk e new wave:
os insanos Devo e Chrissie Hynde, dos Pretenders.
Resolveram então
se intitular Cramps, nome tirado quando Poison viu uma capa de
disco dos Kinks. Em fevereiro de 1976, Lux encontrou um sujeito
estranho de quem gostou e ficou amigo: Brian Gregory.
Gregory havia chegado de
Detroit para tentar a sorte como artista gráfico. Os três
se reuniram no dia em que Ivy completava 23 anos e resolveram
montar um grupo.
Três dias depois
resolveram fazer um ensaio e, para surpresa de Poison, Brian surgiu
com uma guitarra Flying V. Poison e Lux não tiveram coragem
de dizer para Brian que eles queriam um baixista, já que
Gregory havia gastado toda sua grana com o instrumento. Como eles
nunca quiseram formar uma banda que tivesse mais do que quatro
pessoas, resolveram que não teriam um baixista.
Faltava agora apenas um
baterista. Brian resolveu logo o problema, sugerindo que sua irmã
Pam assumisse o posto. Em junho, Pam veio de Detroit e logo foi
apelidada de Pam Balam. Os quatro passaram a ensaiar diariamente
em um porão de uma loja de discos e o repertório
era, basicamente, canções dos anos 50, junto com
algumas composições de Lux e Ivy, entre elas, “TV
Set”, “I Was a Teenage Werewolg” e “Don’t
Eat Stuff Off the Sidewalk”. Mas essa formação
jamais fez sequer uma apresentação e no mês
de agosto, Pam retornou para Detroit.
Em
setembro outra garota resolveu ser a baterista, Miriam Linna.
Passaram mais dois meses ensaiando e montando toda a concepção
sonora e estética dos Cramps e no dia 1º de novembro,
debutaram no palco, abrindo para o Suicide, no CBGB.
O show foi marcado pela
inexperiência do grupo, que teve a má idéia
de tocar todas as cordas de suas guitarras antes de entrarem em
cena.
O resultado foi que tocaram
totalmente fora do tom e desafinados. Mesmo assim, a platéia
formada por punks, adorou o grupo e conseguiram permissão
de Hilly Kristal, dono do clube, para tocarem lá regularmente.
Começaram então a fazer shows por toda a cidade,
vários deles abrindo para os Dead Boys e Ramones. O repertório
era formado por canções de Roy Orbison, Link Wray
e músicas próprias. Em junho de 1977 resolveram
gravar algumas canções com o produtor Richard Robinson,
mas o resultado ficou aquém do esperado. No mês seguinte,
os Cramps foram a atração principal de um festival
no próprio CBGB. Nessa época Linna deixou o grupo,
indo tocar em várias bandas como The Zantees e The A-Bones.
Entra
em seu lugar outra figura igualmente estranha, Nicholas Stephanoff,
de Cleveland e que era chamado de Nick Knox. Nick já havia
sido baterista do The Electric Eels, grupo que teve em sua formação
algumas figuras do Pere Ubu. Nessa mesma época o grupo
ganha um fã de respeito e que queria produzir a banda:
Alex Chilton. Após uma reunião, resolveram que todos
iriam para Memphis - lar do rock and roll e de Chilton - para
trabalharem em novas canções.
Trabalharam no estúdio
Ardent e em outubro já tinham várias músicas,
entre elas, uma cover de “Domino” (Roy Orbison), "The
Way I Walk" (Jack Scott), "Surfin’ Bird"
(Trashmen), "Lonesome Town" (Ricky Nelson), "Rockin’
Bones" (Ronnie Dawson) e material próprio - "Human
Fly", "Twist and Shout" e "The Mad Daddy"
(uma homenagem de Lux a um DJ de Ohio, Pete Myers.
E já que estavam
em Memphis, gravaram no estúdios Sam C Philips, uma cover
de Sonny Burgess, "Red Headed Woman", tendo a participação
de Jimmy Dickinson.
Em dezembro, a banda viaja
com Chilton para Londres, onde iriam remixar algumas faixas. Chilton
havia feito um contato com a gravadora Ork, que acabou não
assinando com o grupo. O jeito foi montarem um selo próprio
(Vengeance) e lançaram o compacto "Surfin'
Bird"/ "The Way I Walk", em abril de 1978,
e que acabou vendendo 6 mil cópias.
Foi com esse compacto que
os Cramps adotaram um logotipo, inspirado nas histórias
Tales from the Crypt.
Em
maio, fizeram um filme de três minutos, de baixíssimo
orçamento, inspirado na canção "Human
Fly" e embarcaram para a primeira turnê na costa oeste
norte-americana.
Abriram shows para as Runaways,
de Joan Jett, no Whisky A Go-Go. Mas talvez o momento maior tenha
sido o show em uma instituição psiquiátrica
no hospital Napa State.
Em novembro lançam
o segundo single, "Human Fly"/ "Domino" e
no começo de 1979 entraram em estúdio com Chris
Spedding (que havia produzido a primeira demo dos Sex Pistols)
para comporem novas canções e mostrarem para as
grandes companhias.
Nessas sessões gravaram
cinco músicas: "Weekend on Mars", "Twist
and Shout", "Teenage Werewolf", Rockin' Bones"
e "Mad Daddy".
Acabaram convidados para
abrirem um show do Clash, em Nova York, e conseguem um contrato
com a gravadora I.R.S., de propriedade de Miles Copeland III,
irmão de Stewart Copeland, baterista do Police.
Foi
nessa época que a banda cunhou um termo no qual seriam
considerados os maiores expoentes: pshychobilly. Lux explica como
surgiu esse nome: "enquanto muitas bandas caíam de
boca no punk, nós mergulhamos de cabeça no rock
and roll dos anos 50 - que era o rockabilly - e misturamos com
os grupos punks de garagem dos anos 60, de rock instrumental,
psicodelismo, soul music, tudo com muita velocidade. Essa mistura
rendeu o termo pshychobilly."
Copeland tinha adorado
a postura demente em palco, com Lux destruindo vários microfones
e Poison Ivy, sempre de saia e salto alto tocando sua guitarra
Gretsch.
Aliás, Poison disse
que nunca sofreu preconceito por parte dos homens pelo fato de
ser guitarrsta: “às vezes um idiota tenta mexer comigo
quando entro em uma loja de instrumentos me chamando de gatona.
Quando me reconhecem, dizem que tenho uma pegada pesada como a
de um homem, tentando me elogiar”, explica Ivy.
Em junho parte em uma turnê
com o próprio Police e lançam o EP Gravest
Hits, com cinco músicas: "Human Fly",
"The Way I Walk", "Domino", "Surfin'
Bird" e Lonesome Town".
No mês seguinte voam
para Memphis para gravarem o primeiro LP do grupo, Songs
The Lord Taught Us, com produção de Alex
Chilton. O disco foi lançado apenas em maio de 1980 e fez
um certo furor na parada independente inglesa.
Enquanto
Chilton trabalhava nas canções, o grupo saiu em
mais uma seqüência de shows pela América e Europa.
Em abril, se encontram
com Lindsay Hutton, que sonhava em montar o "The Legion of
Cramped fan club", ao lado de um amigo apaixonado pela banda.
O nome do rapaz? Morrissey. O fã clube encerraria as atividades
em agosto de 1983, a pedidos de Lux e Ivy.
E foi nessa excursão
que algo insólito aconteceu: após um show em Berkeley,
Brian Gregory, pegou a van com todo os equipamentos da banda,
guiou a noite inteira e nunca mais apareceu.
Os integrantes pensaram
que Brian havia morrido, mas souberam, anos depois, que o mesmo
havia montado um grupo chamado Beast e que estava vivendo na Flórida,
trabalhando em sex shops, fazendo tatuagens e traficando. Brian
acabaria morrendo no dia 10 de janeiro de 2001, em Anaheim, na
Califórnia, mas nunca teve o perdão de Lux e Ivy.
"Quando ele fugiu com nossa van e todo o nosso equipamento,
nos deixou em uma situação tremendamente complicada.
O pior que nunca mais nos procurou para se explicar, por isso
nunca mais quisemos saber dele", disse Ivy.
Sem
Brian, convocaram às pressas Julien Griensatch, que deixou
o grupo em setembro, mas participando ainda do filme Urgh!
A Music War, um festival realizado por Copeland com várias
bandas importantes (Echo and the Bunnymen, XTC entre outros) e
que se encerrava com um show do Police. Ainda nesse mês
sai um outro single "Drug train", ainda com a participação
de Brian. Lux e Ivy resolvem deixar Nova York e mudar para Hollywood.
Com a saída de Julien,
o grupo precisava de mais um integrante e conseguiram um fã
maluco que tocava em uma banda chamada The Gun Club: Kid Congo
Powers. Kid foi notado após jogar um tijolo em uma janela
da casa de Lux e Ivy como forma de chamar a atenção.
Em dezembro a banda viaja
para Londres e realiza um show no Lyceum e finaliza as gravações
do segundo disco Pshychedelic Jungle. Sem Chilton,
a produção fica por conta do próprio grupo,
fato que se repetiria nos demais discos.
O álbum é
lançado em abril de 1981 e o grupo volta para a Europa
em maio para uma série de shows. Em novembro, o grupo é
convidado pela televisão ABC para um especial de Halloween,
ao lado de Maila Nurmi, que viveu nos anos 50 a personagem Vampira,
e que tinha participado do filme Plan 9 From Outer
Space, de Ed Wood.
Em
janeiro de 1982, o grupo processa a I.R.S., exigindo mais de US$
1,1 milhão.
O processo se arrastou
por dois anos e durante esse período a banda ficou proibida
de lançar qualquer disco. A solução era excursionar
e foi o que a banda fez incessantemente.
No outono daquele ano,
Nick precisou fazer uma cirurgia no olho de emergência e
foi temporariamente substituído por Terry Graham, do Gun
Club. A cirurgia acabaria deixando Knox vesgo.
Em fevereiro de 1983,
o grupo realizou dois shows no Peppermint Lounge, nos dias 25
e 26, que acabariam sendo usados como um novo disco ao vivo. Enquanto
isso, a I.R.S. lança uma coletânea da banda ...Off
The Bone.
No segundo semestre, Kid
Congo volta para o Gun Club, e o grupo lança o mini-LP
Smell of Female, pela Enigma, na América, e pela
Big Beat, no Reino Unido, em novembro, após um acordo extra-judicial
com a I.R.S. que nunca ficou bem explicado. No futuro, Congo tocaria
em várias bandas e entre elas, com os Bad Seeds de Nick
Cave.
A saída de Congo
também marcaria de alguma forma o final da formação
com dois guitarristas e nenhum baixista. O primeiro chamado para
substituí-lo foi um primo de Knox, Ike, entrando depois
Click Mort.
Em
1984, o grupo participou da trilha sonora do filme The
Return of The Living Dead. Nick, Ivy e Lux entregaram
"Surfin' Dead", em três dias e nessa faixa o baixo
ficou por conta de Lux, o primeiro instrumento que tocou na vida.
Também participaram
de um especial para o programa The Tube e também fizeram
um show em Nova York com o lendário Screamin' Jay Hawkins.
Nesse ano sai a coletânea
Bad Music for Bad People, uma compilação
de aproximadamente 31 minutos, com 11 faixas, aproveitando lados
B e raridades dos tempos da I.R.S.
Uma curiosidade é
a faixa "New Kind of Kick", que foi regravada pelos
escoceses do Jesus and Mary Chain. Vale um destaque especial para
a capa do disco.
O grupo passou todo o ano
de 1984 procurando um novo integrante, mas não conseguiu
encontrar e, em 1985, lançam um novo single "Can You
Pussy Do The Dog?", com Ivy tocando guitarra e baixo. A canção
alcançou a primeira posição na parada independente
da Inglaterra. Veja a letra...
Can Your Pussy
Do The Dog?
Here kitty kitty
You better move along
Cuz the big cats walk
at the break of dawn
Now doggonnit baby
Oohh I said doggone...
Hey, can your pussy
do the dog?
Can your pussy do the dog?
Can your pussy do the (houndog, bulldog, poodlecut) baby?
Can your pussy do the dog?
This whole mess useless now as a whistle on a plow.
If your pussy can't do the dog.
I'm the king of
the jungle.
They call me Tigerman.
I'm gonna do the bird.
If I can, if I can.
My bird can do the dog.
If your pussy can?
Hey, can your pussy
do the dog?
Can your pussy do the dog?
Can your pussy do the (houndog, bulldog, poodlecut) baby?
Can your pussy do the dog?
This whole mess useless now as a whistle on a plow.
If your pussy can't do the dog.
Come on and wag
that tail.
Baby you can't fail.
If'n your pussy can't do the dog.
Hey hey hey...Hully
hully gully...
No pedigree from
France will get you in the dance.
Lessin your pussy can do the dog.
Come on and wag that tail baby you can't fail.
…fuff ruff
ruff..me-owww!
ruff ruff arf… meowww!
Grrr.. arf arf ##%*&@*!
YIP Yiiiii!!!
Come on and wag that tail baby you can’t fail
If'n your pussy
can do the dog. Cha cha cha!
Em
fevereiro de 1986 lançam um novo disco, A Date
With Elvis, que só teria uma edição
americana em 1990.
O disco alcançou
novamente a primeira posição na parada independente
e ficou por lá durante sete meses.
Além de "Can
You Pussy Do The Dog?", outro hit era "What's Inside
a Girl?". A banda parte em shows para promover o disco com
Fur, no baixo, que faz sua estréia no grupo no dia 7 de
março em uma transmissão da BBC Radio One.
O grupo ainda encontrou
tempo para participar da estréia do filme "The Return
of The Living Dead" e se apresentam novamente do programa
The Tube, tocando "What's Inside a Girl" e "Hot
Pearl Snatch".
Em abril, "What's
Inside a Girl" vira single, tendo, no lado B, duas canções,
"Andy Starr's Give Me a Woman" e "The Man-Eaters'
Get Off The Road". Essa última foi igualmente lançada
como lado B de “Kizmiaz”, novo single do grupo e que
saiu em junho.
No encarte do disco dedicam o trabalho ao cantor Ricky Nelson,
um dos maiores ídolos adolescentes dos anos 50 e de quem
tinham gravado "Lonesome Town", em Gravest Hits.
Rick, que havia se tornado
cantor para impressionar uma namorada sua apaixonada por Elvis
Presley, acabou se tornando um enorme sucesso e morreu no dia
31 de dezembro de 1985, aos 45 anos.
Ivy considerava Nelson
o mais bonito de todos os cantores dos anos 50. "Ele era
maravilhoso e dono de uma voz linda. Ficou muito marcado como
um ídolo teen, mas eu era simplesmente apaixonada
por ele."
Após o final da
turnê européia Fur foi demitida por ter exigido uma
montanha de dinheiro para permanecer no grupo. O futuro de Fur
seria bizarro. Faria participações em dois programas
da série Alfred Hitchcock Presents, dedicado
às histórias de terror (e que chegou a passar aqui
no Brasil) e virou uma cantora de folk com o nome Fur Dixon.
Lux
reclamava das dores de cabeça que era conseguir um quarto
membro fixo para os Cramps.
"Uns nos roubam, outros
desistem rápido e agora vem a Fur, que estava jogado às
moscas e se divertindo com a gente, fazer exigências absurdas.
Ela não é uma grande baixista para pedir tanto.
Isso tudo me deixa muito puto."
Mas a saída da baixista acabou causando atraso nos shows
que os Cramps iria realizar na Austrália e Nova Zelândia.
Mas a sorte sorriu para a banda e conheceram Candy Del Mar, que
topou entrar no grupo.
Com ela gravaram outro
disco ao vivo, Rockinnreelininaucklandnewzealandxxx,
gravado no dia 30 de agosto, em Auckland, na Nova Zelândia
e que foi lançado no mês seguinte, ficando em quarto
lugar na parada independente inglesa.
O grupo passou boa parte
de 1988 descansando e, apenas em outubro, entraram em estúdio
com a intenção de gravar um disco que pudesse chamar
a atenção de um grande selo.
Um
intervalo para fazerem quatro shows comemorativos ao Halloween,
a festa favorita de Lux. No início de 1989, o diretor John
Waters, especialistas em filmes cults e B, convida o grupo para
participarem de seu novo filme, Cry-Baby.
A banda grava "King
of The Drapes", "Teenage Rage" e "High School
Hellcats", ao vivo, em um gravador de dois canais.
No entanto, as canções
foram recusadas por pelos produtores. Porem, acabaram conseguindo
um contrato com a Engima, que agora pertencia a EMI.
Em janeiro lançam
um single excepcional e que ficou na 35ª posição
da parada inglesa (não era mais a independente) e que teve
um vídeo divertidíssimo veiculado maciçamente
na MTV. O nome da música era "Bikini Girls With Machine
Guns". Veja a letra e a capa do single...
Bikini Girls With
Machine Guns
i been a drag racer
on LSD,
and i rode bare-assed on top of the shpinx,
i even had a gorilla on the slopes of kismet,
and man, that was fun for a while you bet but...
bikini girls with machine guns,
bikini girls with machine guns,
that stuff will kill ya,
it's loaded with fun,
bikini girls with machine guns
well i savored
many foriegn kinds of delicacies,
intoxicated til i can't tell
what the hell i could see,
had all the violence and liquor
within close reach, but all bars,
pills and threeways lead me back to the beach and...
now they say that virtue
is it's own reward,
but when that surf comes in
i'm gunna get my board,
got my own ideas about the righteous kick,
you can keep the rewards,
i'd just as soon stay sick...
No
mês seguinte sai o novo disco, Stay Sick!,
com uma bela foto de Ivy na capa e Candy del Mar fixada como baixista.
A banda é também
destaque na capa da coletânea The Last Temptation
of Elvis, feita pelo semanário inglês New
Musical Express.
O Cramps participa de três
grandes festivais, na Dinamarca, Finlândia e Reino Unido,
além de mais 42 apresentações na América.
Ao final da gigantesca
turnê, o grupo perde Candy del Mar e Nick Knox, que deixam
os Cramps.
Knox estava cansado da
vida de viagens e de ser apenas um coadjuvante do casal Lux e
Ivy, e volta para Nova York. Os dois foram substituídos
por Slim Chance (ex-Mad Daddys) e Jim Sclavunos (ex-Teenage Jesus
and The Jerks e que depois tocaria, assim como Kid Congo, com
Nick Cave and the Bad Seeds).
Com os dois, lançam
outro disco, Look Mom No Head!. O disco tinha
como maior destaque a participação de um grande
fã da banda na faixa "Miniskirt Blues": Iggy
Pop.
Mas
a maior surpresa viria a seguir: Sofia Coppola, filha do famoso
diretor Francis Ford Coppola, convida Lux para fazer alguns overdubs
de gritos no novo filme do pai, Dracula.
O grupo perde Sclavunos,
entrando rapidamente Nickey Alexander (Weirdos) em seu lugar,
que logo dá lugar a Harry Drumdini. Seria com Slim e Drumdini
que gravariam os dois próximos discos.
Em 1993, participam do
programa "Beavis and Butt-Head", com o vídeo
de "Bikini Girls". A banda consegue um contrato com
a Warner e lançam em 1994, Flamejob.
A gravadora queria que
o grupo conseguisse vendas expressivas como as de Stay
Sick!, com mais de 200 mil cópias, fato que surpreendeu,
inclusive, a banda.
Em 1995, o grupo sai para
outra série interminável de shows, passando pela
América do Sul (alguém poderia me dizer se vieram
ao Brasil? eu não me lembro!), Europa e Japão. Em
uma de outras bizarrices fizeram uma ponta no seriado Beverly
Hills 90201, que passou nos trópicos com o ridículo
título de Barrados no Baile (ok, o seriado
era igualmente idiota...)
Dispensados
pela Warner, migram para a Epitaph e lançam em 1997 Big
Beat from Badsville (que milagrosamente saiu aqui no
Brasil, e que cansei de vender quando trabalhava na Sweet Jane,
por 12 reais!) e outra tour.
A Epitaph é conhecida
como um selo de "speed punk".
O acordo surgiu de uma
maneira inusitada. Lux explica: "eles ligaram para a Medicine
Records, o selo da Warner pelo qual gravamos Flamejob
e perguntaram o motivo do disco não ter saído em
vinil. A Medicine disse que o vinil era algo sem valor, pré-histórico
e então a Epitaph pediu autorização para
lançá-lo nesse formato. Eles nos chamaram para conferirmos
a qualidade das prensagens e ficamos maravilhados com o trabalho.
Por isso, quando saímos da Warner assinamos com eles."
Lux afirma que o fato
de serem um selo de bandas punk não o incomoda: "eu
não estou muito familiarizado com esse rótulo de
'punk music'. Tenho idéias diferentes do que é ser
punk, do período em que começamos e tínhamos
essa veia punk. Hoje o gênero está mais rápido,
alto e duro, mas eu não vejo problema nisso, pelo contrário,
porque estão dando emprego para novos grupos e pessoas
que gostam do gênero e querem divulgá-lo. Para mim,
o nome punk é tão vasto! Isso me lembra quando fomos
chamados pais do psychobilly. E até hoje considero William
Burroughs (escritor beat, autor do livro Naked Lunch)
o maior punk do planeta!"
O
grupo começou novamente um entra-e-sai infernal e ficaram
em um hiato grande de lançamento até Fiends
of Dope Island sair em 2003, com Choper Franklin no baixo.
Infelizmente, o Cramps
se encerrou após a morte de Lux Interior, em 4 de fevereiro
de 2009, aos 62 anos, por problemas coronários, que já
o acompanhavam há alguns anos.
Sem o carismático
cantor e marido amado, Poison Ivy não viu razões
para continuar com o grupo, afinal, quem poderia substituí-lo?
Nem Iggy Pop.
Um final triste para uma
grande banda, que deixou influências enormes. Basta dizer
que o jovem e ainda desconhecido Morrissey disse, após
um show da banda, em Manchester, que a "vinda dos Cramps
foi a coisa mais importante na cidade nos últimos 10 anos!"
Um abraço a todos
e até a próxima coluna!
Discografia
Gravest Hits (1979)
Songs the Lord Taught Us (1980)
Psychedelic Jungle (1981)
Smell of Female (1983)
…Off the Bone (Collection) * (1983)
Bad Music for Bad People * (1984)
A Date with Elvis (1986)
Rockinnreelininaucklandnewzealandxxx (1987)
Stay Sick! (1990)
Look Mom, No Head! (1991)
FlameJob (1994)
Big Beat from Badsville (1997)
Fiends of Dope Island (2003)
The Cramps Box (2003)
* coletâneas
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