22- The Cult - Love

Antes de caírem no rock pesado e virarem uma cópia do Guns N' Roses, o Cult era uma das bandas mais interessantes do anos 80. Começaram como uma banda meio gótica, de batida meio tribal. O vocalista Ian Astbury dizia-se influenciado pelos índios norte-americanos e junto com o fabuloso guitarrista Billy Duffy formou uma das parcerias mais simpáticas da nova fase psicodélica que assolou a Inglaterra nos anos 80. Após formarem o Southern Death Cult, Death Cult e depois finalmente o Cult, a banda arregimentou uma legião de fãs. Fizeram um excepcional disco de hard, Electric, e depois caíram de boca no som mais pesado e foram colocados como uma banda de segunda linha. Uma injustiça para um dos grupos mais promissores da década.


Esse disco foi um dos primeiros da minha coleção. Eu estava absolutamente fascinado por "She Sells Sanctuary", um das canções mais rockers e dançáveis ao mesmo tempo. A letra não diz absolutamente nada, mas é impossível ficar parado. Faça uma festa, coloque uma luz negra e outra estroboscópica e veja o resultado que obterá. O pessoal vai suar até desmaiar.

Ian começou com a idéia de montar uma banda de rock influenciado pelos anos 60, logo após largar o exército. Depois de montar o Southern Death Cult, que conquistou um certo público e deu espaço para o cantor, ele resolveu desmontar a banda. Conheceu Billly, montaram o Death Cult, que rendeu a dançante God´s Zoo nas paradas independentes.

A banda debutou com Dreamtime, que trazia "Spiritwalker". Após isso, foi lançado um disco ao vivo, chamado Dreamtime Live at the Lyceum, que chegou a ser lançado na época como um brinde do primeiro álbum. O grupo já tinha sua posição consolidada na Inglaterrra como um dos principais nomes do neo-psicodelismo que atingira a Grã-Bretanha. A letra dizia algo como: "Eu quero minha hora do sonho, eu quero minha hora do sonho, A única coisa intocável que é minha. Eu irei usar meu cabelo comprido, ele é uma extensão do meu coração" - embora na letra do encarte esteja escrita "extensão da minha alma".

A música subiu várias posições nas paradas independentes, já que tinham assinado com a Beggar's Banquet, mesma gravadora do Bauhaus. Ian Astbury deixava seu cabelo cada vez mais comprido. Juntaram o baixista Jamie Stewart e deixaram a bateria com vários membros, sem ter um fixo. O som era bebido dos Doors, Pink Floyd, Love, e outras coisas.

"O Cult era uma banda que te chamava atenção no palco. Ian todo de preto, sendo acompanhado pela selvagem guitarra de Billy, tocando com toda aquela energia saindo deles. O público era formado por góticos, punks, harders, todo tipo. Tinha gosto para tudo. E você saía simplesmente chapado do ginásio. Parecia que tinha acabado de ver uma cerimônia, um ritual", lembra Ian McCulloch, vocalista do Echo and the Bunnymen.

O grupo era simplesmente idolotrado na Inglaterra, sendo cultuado mais até do que o nome sugere. O auge surgiu com o lançamento do álbum Love. Ainda uma excentricidade para o mercado norte-americano, o Cult foi tomando as paradas de sucesso de assalto e ganhando rasgados elogios da mídia, que via naquele quarteto um novo Led Zeppelin, embora a comparação ficasse mais forte com o álbum posterior Electric.

"Não podemos esquecer que o Cult fez ressurgir em muito a volta do Led nos anos 80. Eles tinham uma energia e carisma parecidos em palco", relembra Bono, do U2.

O disco foi gravado em 1985, e o primeiro single "She Sells Sanctuary", foi gravado entre os dias 11 e 15 de março. A versão de 12 polegadas, por incrível que pareça, chegou a sair no Brasil na época, mas passou em branco para variar. Mas nenhuma casa noturna ficava indiferente quando tocava. Era botar todo mundo para dançar.

O álbum abre com "Nirvana", segue com "Big Neon Glitter", "Love", "Brother Wolf", "Sister Moon", "Rain", "The Phoenix", "Hollow Man", até cair em "Revolution". Revolução de quê? Ouça um pedaço da letra :

Imagens que giram sem fim,
eu não posso ver o que elas significam,
Trancando do lado de dentro,
não posso ver o arco-íris livre,
Há uma revolução,
Há uma revolução,
Alegria ou tristeza é que fazem uma revolução,
para salvar o dia de hoje é como se desejassem o vento...

Como se pode ver não há nada de revolucionário, na letra, que além de meio espírita pode ser considerado meio tola. Nada a ver com a Revolução que os Beatles pregaram no final dos anos 70, ou dos discursos inflamados de Dylan.

O disco consolidou a banda com a faixa seguinte, "She Sells Sanctuary" e fecha com "Black Angel". Ah!, antes que me esqueça: o baterista era Mark Brzezicki, do Big Country, outra banda que um dia será contada aqui.

Fique com a letra de She Sells:

On the heads that turn
Make my back burn
Oh the heads that turn
Make my back burn
The sparkle in your eyes
Keeps me alive
The sparkle in your eyes
Keeps me alive
And the world and the world
The world turns around
And the world and the world
The world drags me down
Oh the heads that turn
Make my back burn
The fire in your eyes keeps me alive
The fire in your eyes keeps me alive
I'm sure in her you'll find
The sanctuary
I'm sure in her you'll find
The sanctuary
And the world and the world
The world turns around
And the world and the world
The world drags me down

Traduzindo ficaria mais ou menos assim

Toda cabeça que gira
Faz minha costa queimar
Toda cabeça que gira
Faz minha costa queimar
A faísca em seus olhos
Me mantém vivo
A faísca dos seus olhos
Me mantém vivo

E o mundo e o mundo
o mundo gira
O mundo me deixa esfarrapado
E quando as cabeças giram
minhas costas queimam

O fogo dos seus olhos me mantém vivo
O fogo dos seus olhos me mantém vivo
Eu estou certo que encontrarei
O Santuário
Eu estou certo que encontrarei
O Santuário

E o mundo e o mundo
o mundo gira
O mundo me deixa esfarrapado

Como se pode ver não é uma grande letra, mas que prova muito a força espiritual do grupo. Uma força que ficou mais evidente em Electric. Pena que depois o Cult tenha se tornado uma banda de segundo escalão, sem a devida importância que tinha quando era apenas mais uma banda que sonhava em ter vivido nos anos 60, com o visual dos 80.

Em 98, Ian lançou um disco voltado mais para a música eletrônica. O álbum não agradou nenhum antigo fã e foi um fracasso de vendas. O Cult ressurgiu agora em 2000 e chegou até a tocar no Brasil. O show, porém, foi decepcionante. Mas a banda promete continuar. Espero que com o antigo talento demonstrado em seus primeiros álbuns.

Discografia

Discos

Dreamtime (1984)
Love (1985)
Electric (1987)
Sonic Temple (1989)
Ceremony (1991)
Rarites & Remixes (1991)
Pure Cult: The Best of The Cult (For Rockers, Ravers, Sinners, Lovers & Sinners) (1993)
The Cult (1994)
High Octane Cult: Ultimate Collection, 1984-1995 (1996)
Painted In My Heart (2000)
Pure Cult: The Singles 1984-1995 (2000)
The Best of Rare Cult (2000)
Beyond Good and Devil (2001)
Born into This (October 2007)
TBA (2009)

Caixas

Singles Collection: 1984-1990 (1991)
Rare Cult (November 2000)
Rare Cult: The Demos Sessions (2002)

Singles

1984 "Spiritwalker"
1984 "Go West"
1984 "Resurrection Joe"
1985 "She Sells Sanctuary"
1985 "Rain" 17
1985 "Revolution"
1987 "Love Removal Machine"
1987 "Lil' Devil"
1987 "Wild Flower"
1989 "Fire Woman"
1989 "Edie (Ciao Baby)"
1989 "Sun King"
1990 "Sweet Soul Sister"
1991 "Wild-Hearted Son"
1992 "Heart Of Soul"
1992 "The Witch"
1993 "Sanctuary MCMXCIII"
1994 "Coming Down (Drug Tongue)"
1994 "Star"
1999 "Painted On My Heart"
2001 "Rise"
2001 "Breathe"
2002 "True Believers"
2007 "Dirty Little Rockstar"
2008 "Illuminated"

 

 

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