Antes
de caírem no rock pesado e virarem uma cópia do
Guns N' Roses, o Cult era uma das bandas mais interessantes do
anos 80. Começaram como uma banda meio gótica, de
batida meio tribal. O vocalista Ian Astbury dizia-se influenciado
pelos índios norte-americanos e junto com o fabuloso guitarrista
Billy Duffy formou uma das parcerias mais simpáticas da
nova fase psicodélica que assolou a Inglaterra nos anos
80. Após formarem o Southern Death Cult, Death Cult e depois
finalmente o Cult, a banda arregimentou uma legião de fãs.
Fizeram um excepcional disco de hard, Electric, e depois caíram
de boca no som mais pesado e foram colocados como uma banda de
segunda linha. Uma injustiça para um dos grupos mais promissores
da década.
Esse disco foi um dos primeiros
da minha coleção. Eu estava absolutamente fascinado
por "She Sells Sanctuary", um das canções
mais rockers e dançáveis ao mesmo tempo. A letra
não diz absolutamente nada, mas é impossível
ficar parado. Faça uma festa, coloque uma luz negra e outra
estroboscópica e veja o resultado que obterá. O
pessoal vai suar até desmaiar.
Ian
começou com a idéia de montar uma banda de rock
influenciado pelos anos 60, logo após largar o exército.
Depois de montar o Southern Death Cult, que conquistou um certo
público e deu espaço para o cantor, ele resolveu
desmontar a banda. Conheceu Billly, montaram o Death Cult, que
rendeu a dançante God´s Zoo nas paradas independentes.
A banda debutou com Dreamtime,
que trazia "Spiritwalker". Após isso, foi lançado
um disco ao vivo, chamado Dreamtime Live at the Lyceum,
que chegou a ser lançado na época como um brinde
do primeiro álbum. O grupo já tinha sua posição
consolidada na Inglaterrra como um dos principais nomes do neo-psicodelismo
que atingira a Grã-Bretanha. A letra dizia algo como: "Eu
quero minha hora do sonho, eu quero minha hora do sonho, A única
coisa intocável que é minha. Eu irei usar meu cabelo
comprido, ele é uma extensão do meu coração"
- embora na letra do encarte esteja escrita "extensão
da minha alma".
A música subiu várias
posições nas paradas independentes, já que
tinham assinado com a Beggar's Banquet, mesma gravadora do Bauhaus.
Ian Astbury deixava seu cabelo cada vez mais comprido. Juntaram
o baixista Jamie Stewart e deixaram a bateria com vários
membros, sem ter um fixo. O som era bebido dos Doors, Pink Floyd,
Love, e outras coisas.
"O Cult era uma banda
que te chamava atenção no palco. Ian todo de preto,
sendo acompanhado pela selvagem guitarra de Billy, tocando com
toda aquela energia saindo deles. O público era formado
por góticos, punks, harders, todo tipo. Tinha gosto para
tudo. E você saía simplesmente chapado do ginásio.
Parecia que tinha acabado de ver uma cerimônia, um ritual",
lembra Ian McCulloch, vocalista do Echo and the Bunnymen.
O
grupo era simplesmente idolotrado na Inglaterra, sendo cultuado
mais até do que o nome sugere. O auge surgiu com o lançamento
do álbum Love. Ainda uma excentricidade para o mercado
norte-americano, o Cult foi tomando as paradas de sucesso de assalto
e ganhando rasgados elogios da mídia, que via naquele quarteto
um novo Led Zeppelin, embora a comparação ficasse
mais forte com o álbum posterior Electric.
"Não podemos
esquecer que o Cult fez ressurgir em muito a volta do Led nos
anos 80. Eles tinham uma energia e carisma parecidos em palco",
relembra Bono, do U2.
O disco foi gravado em 1985,
e o primeiro single "She Sells Sanctuary", foi gravado
entre os dias 11 e 15 de março. A versão de 12 polegadas,
por incrível que pareça, chegou a sair no Brasil
na época, mas passou em branco para variar. Mas nenhuma
casa noturna ficava indiferente quando tocava. Era botar todo
mundo para dançar.
O álbum abre com "Nirvana",
segue com "Big Neon Glitter", "Love", "Brother
Wolf", "Sister Moon", "Rain", "The
Phoenix", "Hollow Man", até cair em "Revolution".
Revolução de quê? Ouça um pedaço
da letra :
Imagens que giram sem
fim,
eu não posso ver o que elas significam,
Trancando do lado de dentro,
não posso ver o arco-íris livre,
Há uma revolução,
Há uma revolução,
Alegria ou tristeza é que fazem uma revolução,
para salvar o dia de hoje é como se desejassem o vento...
Como se pode ver não
há nada de revolucionário, na letra, que além
de meio espírita pode ser considerado meio tola. Nada a
ver com a Revolução que os Beatles pregaram no final
dos anos 70, ou dos discursos inflamados de Dylan.
O disco consolidou a banda
com a faixa seguinte, "She Sells Sanctuary" e fecha
com "Black Angel". Ah!, antes que me esqueça:
o baterista era Mark Brzezicki, do Big Country, outra banda que
um dia será contada aqui.
Fique com a letra de She
Sells:
On the heads that turn
Make my back burn
Oh the heads that turn
Make my back burn
The sparkle in your eyes
Keeps me alive
The sparkle in your eyes
Keeps me alive
And the world and the world
The world turns around
And the world and the world
The world drags me down
Oh the heads that turn
Make my back burn
The fire in your eyes keeps me alive
The fire in your eyes keeps me alive
I'm sure in her you'll find
The sanctuary
I'm sure in her you'll find
The sanctuary
And the world and the world
The world turns around
And the world and the world
The world drags me down
Traduzindo ficaria mais ou
menos assim
Toda cabeça que
gira
Faz minha costa queimar
Toda cabeça que gira
Faz minha costa queimar
A faísca em seus olhos
Me mantém vivo
A faísca dos seus olhos
Me mantém vivo
E o mundo e o mundo
o mundo gira
O mundo me deixa esfarrapado
E quando as cabeças giram
minhas costas queimam
O fogo dos seus olhos
me mantém vivo
O fogo dos seus olhos me mantém vivo
Eu estou certo que encontrarei
O Santuário
Eu estou certo que encontrarei
O Santuário
E o mundo e o mundo
o mundo gira
O mundo me deixa esfarrapado
Como se pode ver não
é uma grande letra, mas que prova muito a força
espiritual do grupo. Uma força que ficou mais evidente
em Electric. Pena que depois o Cult tenha se tornado uma
banda de segundo escalão, sem a devida importância
que tinha quando era apenas mais uma banda que sonhava em ter
vivido nos anos 60, com o visual dos 80.
Em 98, Ian lançou
um disco voltado mais para a música eletrônica. O
álbum não agradou nenhum antigo fã e foi
um fracasso de vendas. O Cult ressurgiu agora em 2000 e chegou
até a tocar no Brasil. O show, porém, foi decepcionante.
Mas a banda promete continuar. Espero que com o antigo talento
demonstrado em seus primeiros álbuns.
Discografia
Discos
Dreamtime (1984)
Love (1985)
Electric (1987)
Sonic Temple (1989)
Ceremony (1991)
Rarites & Remixes (1991)
Pure Cult: The Best of The Cult (For Rockers, Ravers, Sinners,
Lovers & Sinners) (1993)
The Cult (1994)
High Octane Cult: Ultimate Collection, 1984-1995 (1996)
Painted In My Heart (2000)
Pure Cult: The Singles 1984-1995 (2000)
The Best of Rare Cult (2000)
Beyond Good and Devil (2001)
Born into This (October 2007)
TBA (2009)
Caixas
Singles Collection: 1984-1990
(1991)
Rare Cult (November 2000)
Rare Cult: The Demos Sessions (2002)
Singles
1984 "Spiritwalker"
1984 "Go West"
1984 "Resurrection Joe"
1985 "She Sells Sanctuary"
1985 "Rain" 17
1985 "Revolution"
1987 "Love Removal Machine"
1987 "Lil' Devil"
1987 "Wild Flower"
1989 "Fire Woman"
1989 "Edie (Ciao Baby)"
1989 "Sun King"
1990 "Sweet Soul Sister"
1991 "Wild-Hearted Son"
1992 "Heart Of Soul"
1992 "The Witch"
1993 "Sanctuary MCMXCIII"
1994 "Coming Down (Drug Tongue)"
1994 "Star"
1999 "Painted On My Heart"
2001 "Rise"
2001 "Breathe"
2002 "True Believers"
2007 "Dirty Little Rockstar"
2008 "Illuminated"
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