"Um saco
no chute dessa coisa gótica!". Foi assim que
Ian Astbury definiu o terceiro disco do Cult, que deixou o lado
gótico, que ele nunca gostou e caiu de boca no rock and
roll dos anos 70, inspirados em Led Zeppelin, Bad Company, Jimi
Hendrix e Steppenwolf. Uma mudança radical e que se tornaria
mais clara em Sonic Temple. Electric marca a virada da carreira
do grupo, especialmente na América.
Ian
Astbury jamais gostou de ver o Cult condicionado ao estilo gótico.
Segundo ele, isso limitou
demais o começo do grupo, inclusive, na América,
apesar do enorme sucesso que faziam no Reino Unido e outros países
europeus.
Após o sucesso de
Love, o Cult queria se aproximar do rock que
sempre amaram, dos anos 70, e grupos como Led Zeppelin, Bad Company,
Free e Jimi Hendrix.
Mas as primeiras gravações
começaram de maneira diferente. Após a excursão
promocional do disco anterior, o grupo se trancou nos estúdios
The Manor, em Oxfordshire, com o mesmo produtor de Love,
Steve Brown.
Foram gravadas 12 novas
canções e o álbum se chamaria Peace.
"Quando Love saiu, sabíamos que o
título iria irritar a crítica. Como alguém
poderia chamar de 'amor' um disco, em pleno ano de 1985? Pois,
pensamos em chamar o novo de Peace, só
para irritá-los ainda mais", conta Ian. Anos
depois, o disco apareceria inteiro, na caixa Rare Cult,
lançada em 2000.
Mas
as sessões desagradaram o grupo, que considerou o som "superficial"
demais.
Resolveram partir para
Nova York atrás do produtor Rick Rubin, que havia feito
um tremendo sucesso, primeiro com grupos de rap, como Public Enemy
e Run D.M.C e chamando a atenção de meio mundo,
com o disco Reign in Blood, do Slayer.
"Ao ouvirmos o trabalho
de Rick com o Slayer, ficamos chapados. Queríamos aquele
peso, aquelas guitarras. Tínhamos que trabalhar com ele",
conta o guitarrista Billy Duffy.
A idéia inicial
era que ele remixasse "Love Removal Machine". Rick gostou
da canção, mas sugeriu que a regravassem. Logo,
ele estaria gravando o disco todo com o Cult.
Rick pegou a banda em um
momento difícil. As drogas e as bebidas começavam
a tomar conta do grupo, que brigava a todo instante nos estúdios
do lendário Electric Lady Sound, construído por
Jimi Hendrix.
Ian
conta que, a certa altura, notaram um homem mais velho, quieto
e que ouvia com atenção as músicas.
Quando deu por si, percebeu
que era nada menos que Robert Plant, o ex-vocalista do Led Zeppelin.
"Robert foi extremamente gentil conosco. Disse que havia
gostado das músicas, embora elas refletissem um período
de transição do grupo. E ele estava certíssimo",
relata Ian.
Em fevereiro de 1987, é
editado o single Love Removal Machine. O susto
dos fãs era grande. Saía os arranjos mais góticos,
para entrar um rock vigoroso, forte e que copiava, nos primeiros
acordes, "Star Me Up", dos Rolling Stones.
"Nós sempre
fomos apaixonados pelas bandas dos anos 70, como Led Zeppelin,
Free etc. Não somos uma banda muito fã de blues.
Na verdade, gostamos das bandas que foram influenciadas pelo blues",
explicava Billy.
Em
abril é lançado o disco, Electric,
que confirmava o que o single espelhava: muito peso, letras mais
simples, um rock mais urgente.
"Cansei de ser associado
ao gótico, nunca fui gótico. Bem, talvez tenha sido
mais no meu visual do que na música, mas confesso que nossos
discos anteriores tinham coisas supérfluas demais, arranjos
pomposos. Mas agora mudamos, queremos algo mais seco, direto."
O grupo trazia como novo
membro o baterista Les Warner, que havia participado da turnê
de Love. O resto permanecia igual: Ian Astbury (vocais), Billy
Duffy (guitarra) e Jamie Stewart (baixo).
O LP trazia as seguintes
faixas:
Lado A
1. "Wild Flower"
– 3:39
2. "Peace Dog" – 3:35
3. "Lil' Devil" – 2:48
4. "Aphrodisiac Jacket" – 4:10
5. "Electric Ocean" – 2:50
6. "Bad Fun" – 3:33
Lado B
1.
"King Contrary Man" – 3:32
2 . "Love Removal Machine" – 4:17
3 . "Born to Be Wild" (Mars Bonfire) – 3:55
4 . "Outlaw" – 2:52
5 . "Memphis Hipshake" – 4:00
Todas as faixas eram assinadas
pela dupla Astbury-Duffy, exceto o clássico "Born
to Be Wild", do Steppenwolf. O segundo compacto do disco
foi "Lil' Devil" e o terceiro "Wild Flower".
Electric foi recebido com
críticas diversas. Alguns gostaram da virada da banda,
outros detestaram e os acusaram de "americanizarem"
o som em demasia. O disco chegou em quarto lugar na parada britânica,
com boas vendagens. Love tinha conseguido somar
300 mil cópias na Inglaterra e 1,5 milhão, nos EUA,
enquanto Electric somou 3 milhões de cópias
pelo mundo todo.
O
grupo resolve partir para uma excursão monstruosa, de mais
de 150 shows, tendo como banda convidada, um grupo desconhecido
de nome Guns N' Roses. Mas, antes de sairem em cena, a banda faz
uma mudança, convidado Kid Chaos para ser baixista, passando
Jamie para a segunda guitarra.
Electric Tour
foi um verdadeiro caos. A banda perdeu facilmente o controle,
destruindo os equipamentos na Austrália, impossibilitando
a excursão para o Japão. O grupo abusava das drogas
e bebidas, especialmente Ian, que criou um clima insuportável.
Com isso, Les Warner e Kid Chaos resolveram deixar o grupo e a
banda entrou de férias durante os primeiros meses de 1988.
As férias deram
nova vida ao grupo, que partiriam para um novo disco, o maior
sucesso comercial deles, Sonic Temple. Mas isso
é papo para outro dia. Um abraço e até a
próxima coluna.
Discografia
Discos
Dreamtime (1984)
Love (1985)
Electric (1987)
Sonic Temple (1989)
Ceremony (1991)
Rarites & Remixes (1991)
Pure Cult: The Best of The Cult (For Rockers, Ravers, Sinners,
Lovers & Sinners) (1993)
The Cult (1994)
High Octane Cult: Ultimate Collection, 1984-1995 (1996)
Painted In My Heart (2000)
Pure Cult: The Singles 1984-1995 (2000)
The Best of Rare Cult (2000)
Beyond Good and Devil (2001)
Born into This (October 2007)
TBA (2009)
Caixas
Singles Collection: 1984-1990
(1991)
Rare Cult (2000)
Rare Cult: The Demos Sessions (2002)
Singles
1984 "Spiritwalker"
1984 "Go West"
1984 "Resurrection Joe"
1985 "She Sells Sanctuary"
1985 "Rain" 17
1985 "Revolution"
1987 "Love Removal Machine"
1987 "Lil' Devil"
1987 "Wild Flower"
1989 "Fire Woman"
1989 "Edie (Ciao Baby)"
1989 "Sun King"
1990 "Sweet Soul Sister"
1991 "Wild-Hearted Son"
1992 "Heart Of Soul"
1992 "The Witch"
1993 "Sanctuary MCMXCIII"
1994 "Coming Down (Drug Tongue)"
1994 "Star"
1999 "Painted On My Heart"
2001 "Rise"
2001 "Breathe"
2002 "True Believers"
2007 "Dirty Little Rockstar"
2008 "Illuminated"
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