parceria
com Beatrix Algrave
Após o primeiro
disco, o Cure entra em sua fase mais pesada e que deu a eles o
rótulo de góticos e “darks”, aqui no
Brasil. Em três discos densos e recheados de problemas pessoais
e com as drogas, a banda enfrentou um caminho tortuoso, em que
chegaram quase a beber, literalmente, o orçamento para
gravações de suas canções, época
em que Robert Smith se descreveu como uma pessoa paranóica
e com um visual lembrando um “skinhead maldoso”.
O
Robert Smith que gravou Seventeen Seconds era muito diferente
do que gravou Three Imaginary Boys.
Se, recentemente, Smith
confessou que o primeiro disco da banda é o disco que menos
gosta de toda sua carreira, por ele não ter a menor idéia
de como funcionava uma gravação e por não
ter controle sobre nada – arte gráfica, ordem das
canções, produção – Robert confessa
que Chris Parry fez tudo, sem sua bênção,
e que daquele dia em diante, tomaria às rédeas de
sua carreira, com controle total de criação e lapidação.
Com isso, o grupo começou
a pensar com mais calma e detalhes sua carreira. Robert possuía
um controle muito maior dentro da banda, sendo, de fato, o “dono”
do Cure. E a primeira providência que tomou foi expulsar
Michael Dempsey e recrutar o baixista Simon Gallup.
Uma das primeiras providências
seria escolher qual caminho tomar. Durante o início, Robert
aceitou ser guitarrista do Siouxsie and The Banshees, entre 1979
e 1980. Entretanto, Robert não abandonou o Cure e passou
a se dividir entre os dois grupos. Assim, ele participaria como
guitarrista nos álbuns Nocturne (1983)
e Hyaena (1984).
Muito se especulou que
Dempsey deixou o grupo por causa da indecisão de Smith
entre as duas bandas, mas na verdade ele deixou o Cure pelo fato
de não concordar com os novos rumos musicais que a banda
estava tomando.
Dessa maneira, logo após
o lançamento de Boys Don’t Cry e
a turnê com os Banshees, o The Cure inicia a gravação
de Seventeen Seconds, que seria lançado
em maio de 1980. Este disco é considerado o primeiro da
chamada fase “dark” da banda, que se estenderia ainda
pelos álbuns Faith e Pornography.
Se, por um lado é
uma fase marcada pelo amadurecimento musical do grupo e uso de
arranjos mais elaborados e experimentalismos musicais, reflete
um período particularmente difícil na carreira da
banda, um momento conturbado especialmente para Smith, devido
aos problemas com drogas e o alcoolismo.
Robert
confessa que as dúvidas, o medo do fracasso e sua falta
de diálogo pioravam tudo para ele. “Quando começamos
nós tínhamos horas e horas de conversas para vermos
o que faríamos. Geralmente isso me frustrava porque não
concordava com o que votávamos. Até que um dia eu
disse que eu deveria assumir as decisões, porque afinal
sou em que componho, quem canta e quem tem a obrigação
de dialogar com a platéia. E já que faço
tudo, teria que ser o líder. Eles não gostaram muito,
mas concordaram. Só que eu não tinha idéia
de como lidar com isso. Em alguns shows nossos com outras bandas,
eu via os integrantes brigando e conversando ao mesmo tempo. Em
uma de nossas apresentações com o Joy Divison, eu
olhava o Ian Curtis. Ele era, sem dúvida, o foco no palco,
mas antes de iniciar a apresentação, muitas vezes
ele não tomava partido das decisões. Eu pensava
como isso era possível, mas tudo depende do quanto você
quer ter ou não o poder de decidir o que fazer. E, decididamente,
eu quero ter controle de tudo que faço.”
Além do novo baixista,
a banda passa a contar também com a presença do
tecladista Matthieu Hartley.
Assim a formação do grupo passou a ser: Robert Smith
(vocais e guitarras), Matthieu Hartley (teclados), Laurence Tolhurst
(bateria) e Simon Gallup (baixo).
Logo após as gravações
de Seventeen Seconds, Hartley deixaria a banda
e Smith passaria a assumir também os teclados.
Com o dinheiro que conseguiram
com o lançamento de Three Imaginary Boys,
alugaram 10 dias, no Morgan Studio One, um lugar para a gravação
do novo disco. Entretanto, gastaram apenas 8 dias para finalizarem
o álbum. Smith declarou: “Foi uma sorte termos acabado
tudo tão rápido. Assim, eu pude pegar de volta o
dinheiro dos dias que sobraram, pois havíamos gasto mais
do que devíamos em bebida.”
Apesar da rapidez com que
foi gravado, este foi um disco de gestação conturbada,
mas não tanto quanto os que se seguiriam. Sobre a fase
de elaboração do álbum, Robert demonstrou
em uma declaração à NME, o total
estado de descontrole emocional em que vivia na época.
“Em um dia eu acordava com vontade de matar alguém,
já no outro, nem sequer conseguia me levantar. Era terrível,
não conseguia me convencer a simplesmente começar
a escrever as canções. Eu não lutava contra
isso, visto que na vida diária você deve controlar
certos sentimentos. Foi como se eu estivesse totalmente demente,
por duas semanas”, disse Robert.
Seventeen
Seconds contou com a produção de Robert
Smith e Mike Hedges, e também com a participação
de Chris Parry. O disco abre com uma faixa instrumental intitulada,
“A Reflection”, de pouco mais de dois minutos, e com
poucos e repetitivos acordes menores.
Neste álbum, o acompanhamento sutil dos teclados, em arranjos
de estrutura minimalista, contribui na construção
de uma atmosfera sombria e depressiva.
Sobre este disco Smith
chegou, sem modéstia, a declarar: “Durante Seventeen
Seconds, nós honestamente sentíamos que
estávamos criando algo que ninguém mais tinha feito,
Sobre esse ponto eu imaginava que todo álbum criado era
como se fosse o último álbum do Cure. Dessa forma
considero Seventeen Seconds único, realmente
um genuína conquista do grupo”.
Apesar de seguir um rumo
diferente do primeiro disco, Seventeen Seconds
contou com uma boa recepção por parte da crítica
e também dos fãs, alcançando a 20ª posição
na parada britânica. A exceção a esta aceitação
seriam os Estados Unidos, que torceram o nariz para a fase “dark”
do Cure.
As canções
do disco são: “A Reflection” (instrumental),
“Play For today”, “Secrets”, “In
Your House”, “Three”, “The Final Sound”,
“A Forest”, “At Night” e “Seventeen
Seconds” (faixa título).
Este
álbum traz alguns clássicos da banda como a canção
“A Forest”, sobre a qual Robert afirma: “Com
‘A Forest’ eu queria fazer algo realmente atmosférico,
e com uma sonoridade fantástica. Chris Parry me disse:
‘você tem um grande hit para as rádios em suas
mãos.’ E eu disse: ‘este é o som que
tenho em minha cabeça, não me importa se é
radiofônico ou não.’ Ele sempre me dizia que
eu fazia as coisas com a intenção premeditada de
fazer sucesso, e isso não é verdade. Uma das razões
da banda ser como é, é que, nunca fizemos nada premeditadamente.
Se assim fosse, não teríamos durado tanto.”
Na verdade, Parry estava certo, pois “A Forest” foi
de fato um hit.
Robert conta que a letra
é inspirada em experiências que teve na infância,
um pesadelo que teve quando criança e que virou realidade
na adolescência, um fato real.
Durante a turnê de Seventeen Seconds, o
tecladista Matthieu Hartley, não conseguiu se integrar
à banda e acabou deixando o Cure em setembro. Assim, Robert
passou a assumir mais este instrumento. Essa foi a primeira turnê
por diversos países da Europa, como França, Escócia,
País de Gales, Luxemburgo, Holanda, Bélgica, Suécia
e Alemanha. E o mais curioso é que “A Forest”
tinha feito muito sucesso na Austrália e na Nova Zelândia
e o grupo passou os meses de julho e agosto de 1980 fazendo shows
na Oceania. Foram 9 na Nova Zelândia e 20 na Austrália.
Quando
o grupo terminou sua série de shows do segundo LP, vários
problemas começaram a ocorrer. Robert já não
era mais o único a beber e tomar drogas e o relacionamento
interno apresentava sérios problemas. Se com Laurence Tolhurst,
Robert tinha uma amizade muito profunda, Simon era um autêntico
mal humorado, e não raro, os dois saíam na porrada
para resolver as diferenças.
“Quando eu brigava
com alguém na banda, havia uma troca de ofensas e pronto.
Com Simon, não. Ele partia para cima de mim, me socando,
empurrando e me ameaçando. Como quase sempre brigávamos
embriagados ou bêbados, nunca havia um rompimento entre
nós, mas eu o odiava por isso. Mas também eu não
queria perder um outro baixista e muito menos o Simon, que conseguia
entender bem minhas idéias e é um excelente músico.”
O terceiro álbum
do Cure (considerando que Boys Don’t Cry
era uma coletânea), Faith foi um parto
bem mais difícil do que o anterior. Levando em consideração
os problemas que a banda enfrentou no período e o clima
das músicas, poderíamos dizer que foi um parto a
fórceps. Suas canções refletem um estado
sombrio e mórbido, marcado pela morte, pelo isolamento,
pelas drogas e pelo álcool. Foi gravado durante um mês
em vários estúdios diferentes. Como o próprio
Robert Smith admitiria este era “o problemático terceiro
álbum do Cure.”
Uma mórbida coincidência
que sem dúvida deu o tom ao disco é que, todos os
membros da banda haviam perdido pelo menos um familiar recentemente.
Smith
lembra como a proposta do disco era diferente, a princípio,
e como esses acontecimentos marcaram a nova direção
do álbum: “Quando ouvi a fita demo pela primeira
vez na sala da casa de meus pais as canções soavam
realmente felizes. Então, com menos de duas semanas, o
clima da banda estava completamente mudado. Eu escrevi ‘The
Funeral Party’ e ‘All Cats are Grey’ em uma
noite, e isso realmente mudou o tom de todo o álbum.”
Smith conta que durante
a turnê do disco o clima era particularmente pesado e difícil
para a banda. “Quando nós fizemos a turnê de
Faith, nosso humor estava tão sombrio.
Isso não era nada saudável porque nos trazia a mente
momentos realmente horríveis, noite após noite,
e isso era terrivelmente depressivo. ”
A
música de trabalho do disco era Primary, uma canção
pesada, em que, mais uma vez, Robert usava seus medos da infância.
“Eu estava brincando com a idéia de que seria melhor
morrer bem jovem, inocente e sonhador ou até ganhar como
um prêmio, a morte.”
Durante os shows a entrada da banda era sempre precedida pelo
curta-metragem, de animação, Carnage Visors
de autoria de Richard Gallup, irmão de Simon. Robert Smith
havia composto a trilha sonora para esse desenho animado. Segundo
Smith esta trilha sonora ӎ uma das melhores coisas
que já fiz, é toda instrumental”. Quanto ao
filme ele declarou “O filme era muito violento, ele (Richard)
o fez na garagem de sua casa. Todo mundo odiou, de verdade. Hoje
em dia as pessoas dizem, ‘Me lembro bem, um filme genial’.
Mas na época ninguém gostou, as pessoas se sentiram
ameaçadas.”
Outro sentimento que contribuiu
para o tom soturno do disco foi o isolamento, que Smith atribuiu,
de certa forma, ao sucesso alcançado. “Muitas pessoas
reagiram de forma negativa ao fato de estarmos fazendo sucesso,
ainda que em uma escala muito limitada. Na verdade, isso não
passava de inveja. Muitos diziam que nós havíamos
mudado, que não éramos mais os mesmos. Então
nós perdemos muitos amigos e fomos nós tornando
cada vez mais isolados. Então, passamos a beber sozinhos
para esquecer disso, e tocar essas canções.”
A recepção
nada calorosa por parte da crítica também contribuiria
para que essa sensação de isolamento se tornasse
ainda mais acentuada. A Record Mirror chegou a fazer
a seguinte declaração sobre o álbum: “oco,
raso, pretensioso, sem importância e despido de qualquer
coração ou alma reais; um estilo que deveria ter
morrido com o Joy Division”.
Entretanto, mesmo com as
críticas negativas o disco atingiu a 14ª posição
na parada britânica e é considerado por muitos fãs
como um dos melhores do Cure.
O disco foi lançado
em abril de 1981 e contou, mais uma vez, com a produção
de Mike Hedges e Robert Smith, e trazia a seguinte formação
Smith (teclados, voz, guitarras), Gallup (baixo) e Tolhurst (bateria).
As canções
que compõem o disco são: “The Holy Hour”,
“Primary”, “Other Voices”, “All
Cats Are Grey”, “The Funeral Party”, “Doubt”,
“The Drowning Man” e “Faith”.
Entre os destaques estão
"The Holy Hour," "All Cats Are Grey," e a
faixa título, "Faith", que traz o mesmo clima
atmosférico do álbum anterior.
Em
outubro do mesmo ano, lançam um novo single, Charlotte
Sometimes. Robert disse que escreveu a canção
inspirado em um livro infantil, Penelope Farmer.
Foi nessa época
que o grupo embarcou na primeira excursão pelos Estados
Unidos, país que nunca entendeu muito a banda. Foram apenas
seis shows e a certeza de que nunca mais seriam convidados para
voltarem. “Eles nos odiaram: não entendiam nossas
letras, nossa música, nossa maquiagem, nossa roupa, nossa
atitude”, lembra Robert.
Na
verdade, o grupo havia ido por causa do disco Happily
Ever After, uma coletânea reunindo Seventeen
Seconds e Faith, nos Estados Unidos
e gravadora precisava que o grupo tocasse no país para
divulgá-lo.
O quarto álbum do
Cure, Pornography, foi lançado em 1982.
Este disco pode ser considerado o mais soturno da trinca. A começar
pelo lirismo da canção que abre o disco - “One
Hundred Years” -, que começa com o verso: "It
doesn't matter if we all die" (Não importa se nós
todos morrermos). O que indica bem o clima que norteou esse trabalho.
Nesse período a banda ameaçou seriamente se separar,
tal era o grau de abuso de álcool e drogas. Um crítico
a época chegou a declarar que perto de Pornography,
Ian Curtis era “um saco de risadas”.
Nesse período Robert
já havia desenvolvido o seu visual marcante, com batom
bem vermelho nos lábios e muito spray nos cabelos desfiados
e arrepiados. Muitos fãs passaram, na época, a copiar
o estilo de se pintar e se vestir de Smith.
Smith conta que para compor
as canções do disco ia para um banheiro, pois queria
um lugar que evocasse a sordidez que queria para as letras do
disco. “É verdade que nós compomos algumas
das canções em banheiros, porque eles são
sujos e repugnantes. Simon não lembra de nada, mas eu tenho
uma foto minha sentado em um banheiro, tentando compor algumas
canções. É, de fato, uma foto trágica.
Nós estávamos imersos no lado mais sórdido
da vida e isso evidentemente afetava todos no grupo.”
Pornagraphy
traz as canções: “One Hundred Years”,
“A Short Term Effect”, “The Hanging Garden”,
“Siamese Twins”, “The Figurehead”, “A
Strange Day”, “Cold” e “Pornography”.
A versão australiana trazia, ainda, “Charlotte Sometimes,”
como faixa bônus.
E o grupo aprontava bizarrices:
em junho, estavam tocando em Bruxelas, no Ancienne Belguique,
no dia 11 de junho. Era a última data da turnê promocional
do disco e todos estavam de péssimo humor e irritados com
a viagem pela Europa, por causa do disco estar atraindo platéias
cada vez mais raivosas e depressivas. Robert lembra que o visual
da banda - usando batons de boca em volta dos olhos, todos de
pretos e suando feito doentes embaixo das luzes – os deixava
com um ar de quem tinha tomado um soco no meio da cara, quando
o calor começava a derreter a maquiagem.
Nesse dia, Robert e Simon
estavam quase se pegando no tapa, novamente. E nos camarins, resolveram
que iriam radicalizar. Robert disse que não tocaria guitarra
e seria baterista; Simon assumiu a guitarra e Lol, o baixo. Para
aumentar a confusão convidaram uma figura estranha, chamado
Gary Biddes, para assumir os vocais. Gary era amigo de Simon.
Assim, tocaram a última
canção da noite “The Cure Are Dead”.
Mas Gary não cantou. Ao invés disso, começou
a berrar no microfone o quanto Robert era insuportável.
Foi o estopim para os dois e Simon começassem uma briga
em cima do palco, para espanto da platéia, que vaiava,
assobiava, enquanto Lol tentava manter uma atitude profissional
tocando o baixo.
Robert lembra que a vida
entre os integrantes estava longe de ser um monte de risadas.
Eles estavam começando a crescer como banda, a construir
um culto de gente obsessiva, deprimida, neurótica e suicida
desde Faith. Nessa época, Lydia Lunch
abria os shows do grupo e tinha convidado Steve Severin, dos Banshees
para ser seu músico. Laurence e Simon odiaram a presença
de Severin, que tentava dinamitar o Cure e levar Robert para o
seu grupo. Além disso, ele apresentou o LSD ao cantor,
e roubava as bebidas de Lol, tudo na tentativa de encerrar o Cure,
como o próprio Severin confessou, anos depois.
“Com tudo isso, nossas
condições psicológicas ao final da turnê
eram péssimas, sem falar que as canções nos
deixavam ainda mais pesados. Entre 1982 e 1983 eu vivia extremamente
deprimido e abusava das drogas. Não tinha nenhum problema
sério, apenas o tédio que todo garoto experimenta,
mas isso inevitavelmente influencia em seus atos. Eu acreditava
que estávamos indo no caminho errado, que não faríamos
sucesso e estava cheio do que o Cure representava. Enfim, uma
típica crise de jovens com 20 anos.”
O grupo ainda tentou economizar
algum dinheiro, gravando e tocando nos escritórios da Fiction
Records. “Eu me sentia em um beco sem saída, sabia
que estávamos guardando dinheiro para comprar mais drogas
e isso virou uma rotina bizarra. Perdi todos meus amigos, sem
exceção, o que era compreensível, pois meu
comportamento era detestável e egoísta. Eu só
pensava em fazer um grande disco, embora eu só caminhasse
na direção errada.”
As
canções que saíram exalavam ódio,
medo, paranóia, tudo derivado das drogas. É de admirar
que a gravadora bancasse um single com a canção
“The Hanging Garden”, afinal o Jardim de Enforcamento
não possui nada de pop em seu título e a música,
muito menos.
Quando Pornography
se tornou o maior sucesso comercial da banda, chegando ao 9º
posto dos mais vendidos em maio de 1982, Robert achou que sua
vida daria uma guinada. Ele estava surpreso e extasiado porque
tinha certeza que o disco seria um fracasso e que sepultaria a
carreira do Cure.
“Foi um período
estranho. Nós fizemos um Top of the Pops com ‘The
Hanging Garden’ e chegamos a um beco sem saída. Ninguém
do meio gostava da gente, nós não tínhamos
dinheiro para fazer longas viagens, nossa carreira na América
não existia, porque nossos discos não eram lançados
lá, principalmente após nossos poucos e fracos shows
por lá.”
Para piorar, sua relação
com Simon Gallup ia se deteriorando. “Sempre houve uma certa
tensão, porque eu costumo ter mais atenção
do que ele e na turnê do disco, nós chegamos ao limite
em um show na França, em Estrasburgo.
Lol Tolhurst lembra bem
do dia: “eu estava no bar conversando com integrantes do
grupo que fariam a apresentação de abertura, quando
ouvimos um barulho escandaloso vindo do bar. De repente, estavam
Robert e Simon atracados e brigando, até que desapareceram.
Eu pensei que seria o fim do Cure.”
Ao final da turnê,
Robert resolveu que era hora de por a vida em ordem. Foi para
Lake District para se livrar das drogas, bebendo apenas cerveja
e pensando em suas opções. “Naqueles dias
eu tomei duas decisões: deixar um pouco o Cure de lado
e embarcar no Siouxsie and The Banshees, que faziam mais sucesso
do que nós e expulsar Simon da banda.”
Robert não sabia
se queria ser um “músico sério” e tocar
com os Banshees ou levar o Cure por um caminho mais pop. “Eu
queria me livrar daquela audiência que nos perseguia.”
Dessa maneira, Gallup abandona
o grupo e o Cure passa a ser formado apenas por Smith e Tolhurst.
Ainda
em 1982, o grupo resolveu lançar um single bem leve: Let’s
Go To Bed. O sucesso da canção foi um prêmio
para Robert, que preservou o Cure, enquanto lutava com suas dúvidas.
Robert a considera sua canção favorita do grupo,
exatamente por não significar coisa alguma. “Eu queria
que o grupo fosse o Cure e não a banda de Robert Smith
e por isso escrevi a canção mais anti-Pornography
possível, com os elementos mais banais.”
Mas ele ainda teria sérias
dúvidas no ano de 1983 sobre sua vida dentro do grupo...
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