parceria com Beatrix
Algrave
Nessa coluna falaremos
do período mais difícil para o The Cure, tanto musicalmente
quando internamente. Inúmeros problemas, entre os quais
o processo movido por Lol Tolhurst, obrigou o grupo a dar um tempo
e voltar em 1996 com um disco pouco inspirado - Wild Mood Swings.
O período se encerraria com a coletânea Galore e
a participação de Robert Smith na festa de 50 anos
de David Bowie, no Madison Square Garden, no dia 9 de janeiro.
Após
um estafante ano em 1992, o Cure parou com tudo no primeiro semestre
do ano seguinte. Sua única atividade foi um show solitário,
no dia 13 de junho, no Finsbury Park, participando do Great X-pectations
Festival.
Mas o ano foi marcado por
uma grande tensão, pois Lol Tolhurst, expulso da banda
em 1988, processou o grupo exigindo maior participação
financeira, o que deixou o cantor aborrecido: "pessoalmente
estou muito triste da forma com que Lol foi excluído da
banda. Não que eu me sinta mal por ter tomado tal decisão,
porque ele estava se tornando alguém muito estranho. Infelizmente,
algumas vezes precisamos ter alguns baques para que possamos recomeçar.
Não esperava que ele voltasse ao Cure, mas fiquei muito
chateado quando nossa amizade terminou."
Quando
Lol foi excluído, os dois lados se viram em uma longa batalha
judicial, já que o ex-membro exigia uma fatia maior nos
royalties do grupo. A batalha duraria algum tempo, até
o grupo ganhar a causa, o que acabou adiando o lançamento
de um novo disco.
Enquanto o julgamento acontecia,
o grupo lançou, quase simultaneamente, dois discos no segundo
semestre de 1993: Show, em setembro de 1993 e
Paris, no mês seguinte.
Os dois álbuns eram
gravados ao vivo e serviram mais para saciar a sede dos fãs,
que haviam vistos os mais de 100 shows realizados no ano anterior.
Wish continha as seguintes músicas: "Tape",
"Open", "High", "Pictures Of You",
"Lullaby", "Just Like Heaven", "Fascination
Street", "A Night Like This", "Trust",
"Doing The Unstuck", "The Walk", "Let's
Go To Bed", "Friday I'm In Love", "Inbetween
Days", "From The Edge Of The Deep Green Sea", "Never
Enough", "Cut", "End". A versão
em CD continha ainda "To Wish Impossible Things", "Primary",
"Boys Don't Cry", "Why Can't I Be You?" e
"A Forest".
Já Paris
continha: "The Figurehead", "One Hundred Years",
"At Night", "Play For Today", "Apart",
"In Your House", "Lovesong", "Catch",
"A Letter To Elise", "Dressing Up", "Charlotte
Sometimes" e "Close To Me".
O grupo também participou
de um disco tributo a Jimi Hendrix; Stone Free: A Tribute
to Jimi Hendrix, tocando "Purple Haze".
O
julgamento comeu muito tempo e dinheiro da banda, que entrou em
hibernação forçada durante 1994. Para piorar,
Porl Thompson resolveu também deixar a banda em 1993, para
tocar com Robert Plant e Jimmy Page! Com isso, Roger O'Donnel
passou para os teclados e Perry Bamonte deixou os sintetizadores
e assumiu o posto de guitarrista. Após o ganho de causa
contra Lol, o grupo teve outra surpresa, quando Boris Williams
resolveu também deixar a banda. O escolhido só viria
em 1995: Jason Cooper, aprovado após responder um anúncio
colocado em um jornal.
"O processo contra
Lol consumiu muito dinheiro e acabou nos forçando a parar
totalmente. Mas o que mais me irritou foi que tudo aquilo acabou
se tornando uma grande palhaçada e Lol sabia disso. Meu
Deus, as coisas que falamos nos tribunais! Uma vez fomos obrigados
a comentar uma conta de US$ 3 mil que havíamos feito no
Orient Express, coisas íntimas. Foi um grande
circo!", lembra Robert.
Em
1995 a banda realizou apenas 11 shows pela Europa enquanto preparava
o novo disco, como uma forma de aquecimento da nova formação.
Para os fãs brasileiros,
no entanto, o grande momento aconteceu em janeiro de 1996, quando
a banda realizou dois shows: no dia 21 de janeiro no estádio
do Pacaembu, em São Paulo e no dia 26 de janeiro, na Praça
da Apoteose, no Rio de Janeiro, no Hollywood Rock.
Os shows no Brasil abriram
uma maratona de 98 apresentações por todo ano, e
que marcaria a volta do grupo ao disco, com Wild Mood
Swings, em maio do mesmo ano. Em abril saíra o
primeiro compacto, The 13th.
Wild Mood Swings
não era um grande disco. Na verdade pode ser considerado
o mais fraco da discografia da banda, embora Robert Smith não
concorde com essa visão: "particularmente fiquei muito
satisfeito com esse disco, mais até do que eu projetava
inicialmente. Por outro lado, ele foi exatamente o oposto do que
eu queria. Quando começamos, eu tinha uma idéia
bem clara do que desejava, que era algo mais acústico e
melancólico. O disco se chamaria 'Bare' e queria criar
atmosferas em que poderíamos usar um quarteto de cordas
e pianos. Mas a medida que grávamos senti que estava deixando
a banda chateada e isso me aborreceu e decidimos então
fazer aquilo que desejávamos. E de repente, as canções
ganharam outras formas. De certa maneira, foi a primeira vez que
um disco do Cure foi resultado de um esforço coletivo e
não apenas do meu ego."
Em junho é lançado
o segundo single, Mint, "uma canção
totalmente feita para Simon, que às vezes parecia tão
feliz como se tivesse ganho um carro novo. Então escrevi
uma sobre dois amigos saindo para passear de automóvel."
Em novembro é a
vez de Gone!, uma canção que refletia
bem o espírito de Robert: "Gone! é eu falando
para mim mesmo 'levante-se e mexa-se!". Strange Affection
acabaria sendo um outro single do disco.
Em
1997, Robert seria convidado para uma festa que muito o alegrou:
os 50 anos de seu ídolo David Bowie, que fez um grande
concerto comemorativo no Madison Square Garden, em Nova York,
tendo como convidados Sonic Youth, Billy Corgan (Smashing Pumpkins),
Frank Black (ex-Pixies), Lou Reed e Foo Fighters.
Robert cantou "Quicksand"
(do disco Hunky Dory, de 1971) e "The Last
Thing You Should Do" (do então recém-lançado
Earthling).
Ao
final da apresentação, ele confessou que ficou extremamente
emocionado com o convite recebido: "David é uma grande
influência em minha vida e em minha música e uma
das grandes pessoas desse nosso meio. Fiquei muito feliz em dividir
o palco com ele naquele dia!"
O
primeiro semestre de 1997 seria de férias para a banda,
que lançaria no segundo semestre o compacto Wrong
Number, e uma coletânea, em outubro do mesmo ano,
de nome Galore e que cobria o período
de 1987 até 1996 e faria 15 shows entre junho e dezembro.
O Cure teria então
outra parada até 2000, quando sairia Bloodflowers.
Mas isso é papo para outro dia. Um abraço e até
a próxima coluna.
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