parceria com Beatrix
Algrave
No final da década
de 90, o The Cure era um grande mistério. Afinal, a banda
existia ou não depois do fraco disco Wild Mood Swings?
A resposta seria dada em 2000 com o lançamento de Bloodflowers,
um trabalho com apenas nove faixas, mas que Robert Smith considera
um dos três melhores de toda sua carreira. E, mais uma vez,
após o lançamento, começaram os rumores de
que a banda daria adeus. Boatos ainda não cumpridos. Veja
mais um pouco da vida do grupo...
No
final de 1998, o The Cure entrava novamente em estúdio
para a gravação de um novo disco. Após o
fraco desempenho do lançamento anterior, Wild Mood
Swings, Robert Smith começava a gravar algumas
de suas melhores músicas da carreira.
"Nós começamos
a gravar o disco no Natal de 1998 queríamos um som mais
eletrônico e fizemos isso em algumas faixas, incluindo 'Coming
Up'. Nós sentamos, as ouvimos enquanto tomávamos
drogas e achávamos que aquilo que era o futuro, aqueles
montes de loops. Mas em 1999 eu voltei a ouvi-las e as
achei horríveis! Nada soava como o Cure de antigamente.
Escrevi 'Out Of This World' e decidi que era isso que eu queria
fazer, porque ela tinha mais emoção do que as seis
canções que havíamos gravados. Quando disse
a todos que iríamos jogar fora as antigas faixas e recomeçar,
acharam que eu estava louco, mas provei que eles estavam errados."
As gravações
se iniciaram logo após uma pequena excursão de 15
shows pela Europa, entre os meses de julho a outubro, época
dos festivais no continente.
O
grupo ainda passou parte de 1999 gravando o disco, e as gravações
foram finalizadas em junho daquele ano, mas apenas em fevereiro
de 2000 era lançado Bloodflowers. Robert
Smith o considera um de seus três melhores discos e a continuação
de Disintegration, de 1989, o seu favorito.
"Em 1989, quando
eu estava perto de completar 30 anos, fizemos Disintegration,
que para mim era algo muito particular. Desde então, nunca
mais consegui gravar um álbum como esse. No ano passado,
quando me aproximava dos 40, eu senti vontade de fazer um álbum
que fosse o contraponto de Disintegration. É
meu disco mais introvertido e reflete meus sentimentos nesse período
da minha vida. Na verdade, quando fiz 39 anos, fiquei pensando
muito sobre como seria chegar aos 40 anos. Demorei seis meses
para escrever as canções antes de entrarmos em estúdio
e uma vez lá dentro, queria que a banda soasse como um
grupo. Eu tinha uma idéia bem clara de como queria que
soassem e fossem estruturadas, o que não foi muito agradável
aos demais integrantes do Cure. Levei quatro meses gravando -
dois com a banda e dois sozinho. É um disco muito melancólico,
como se eu tivesse feito uma retrospectiva dos últimos
10 anos da banda. Senti que precisava fazer uma balanço
após uma década, pois queria saber se, aos 40 anos,
ainda teria disposição para continuar fazendo o
mesmo."
Robert
conta que o nome foi tirado de duas idéias: "eu li
um livro de poemas do pintor Edward Munch, onde ele dizia que
tinha certeza que havia feito um bom trabalho quando ele sentia
que uma flor de sangue saía de seu coração.
Achei essa imagem muito romântica. Como coincidência,
na mesma época, estava lendo outro livro de poesia sobre
a Primeira Guerra Mundial e um dos poemas descreve um soldado,
que após ser atingido por uma bala, abriu uma flor de sangue
em seu corpo. Eu vi a analogia entre dor e arte e gostei dela."
Robert conta que escreveu
letras bastante pessoais, como é o caso de "Where
The Bird Always Sing": "essa canção fala
de uma pessoa que está passando por terríveis problemas,
mas que não acredita que isso esteja acontecendo porque
ele merece, mas apenas porque as coisas assim acontecem. Essa
foi uma época em que debati muito o valor da religião
das pessoas, do valor do pecado. Nada mais me irrita do que essa
idéia de punição."
Outra
canção interessante é "39", onde
ele confessa que tinha perdido a inspiração para
escrever: "quando comecei a escrever '39' realmente achei
que isso havia ocorrido comigo. Originalmente, queria que o disco
soasse bem monótomo, como se tivesse apenas uma nota, mas
com o tempo a idéia foi mudando. Enquanto a escrevia, me
fazia perguntas do tipo 'onde estão minhas paixões?',
'o que aconteceu com minha vontade de mudar o mundo?', e coisas
assim e tive que admitir que não tinha mais o mesmo fogo,
a mesma paixão, de quando mais jovem."
De certa maneira, Bloodflowers
voltava ao som original da banda, nos anos 80, e que havia sido
abandonado nos anos 90. "Wild Mood Swings
não era bem o disco que eu queria fazer e pela primeira
vez percebi que estava completamente deslocado quando ele saiu.
A Inglaterra vivia o auge do britpop, e ainda assim ele
vendeu 1 milhão de cópias. Porém, ele estava
muito longe do que era o antigo Cure."
O
disco foi acompanhado de uma gigantesca turnê mundial pela
Europa, América e Austrália: 67 apresentações
entre os meses de fevereiro e outubro de 2000, onde invariavelmente
abriam com duas novas canções; "Out Of This
World" e "Watching Me Fall".
Muitos consideraram Bloodflowers
como o disco final do Cure, já que Robert Smith falava
em começar um carreira-solo. Robert confessou que desejava
gravar sozinho, mas não em terminar a banda. "Esses
boatos aparecem todo ano."
Ele também ressalta
que muitos fãs gostaram do disco por causa de sua estrutura
longa. "Alguns preferem o The Cure dos singles,
com músicas curtas, mas alguns preferem o The Cure com
faixas mais longas, densas e me incluo entre eles. Acho que esse
é realmente um de nossos melhores trabalhos."
O disco recebeu grandes
críticas e foi acompanhado de boas vendagens, apesar de
não conter nenhuma canção de apelo comercial.
Muitos consideraram o "canto do cisne" do The Cure e
um ótimo momento para a banda pular fora do cenário.
Após
um ano cheio, a banda deu uma outra parada e lançou em
2001, uma outra coletânea: Greatest Hits.
As faixas foram todas escolhidas por Robert, que conta um pouco
do processo: "eu escolhi as faixas e como era um 'grandes
sucessos', pensei que era para escolher os grandes sucessos. Se
tivesse sido um 'best of', teria escolhido outras canções,
mas não era um 'best of' do The Cure. Eu não gosto
dessas coisas, mas a gravadora queria um e era a melhor maneira
de pular fora do meu contrato com eles. E, sendo assim, não
é meu disco favorito..."
Após Bloodflowers,
o grupo entraria novamente em outro período de hibernação,
quando todos dariam o Cure como morto. Mas isso não aconteceu
e faz parte do próximo capítulo. Um abraço
e até lá!
|