Eles
explodiram no mundo no começo da década de 80, com
o mega hit "Come on Eileen". E ao invés de perseguirem
o estrelato, seu líder, Kevin Rowland, preferiu modificar
alguns integrantes e partir para um trabalho mais sofisticado,
mais perto do som em que Van Morrison é imbatível:
uma mistura de soul com climas irlandeses. Esse inglês,
filho de pais irlandeses, conseguiu chegar perto da perfeição
com Don't Stand Me Down. Terceiro e último disco de estúdio
do grupo, combinaram músicas longas com arranjos delicadíssimos.
Eu
me lembro muito bem deste lançamento. Eu estava dando meus
primeiros passos no rock propriamente dito e havia comprado minha
segunda Bizz, a número 7. Nela vinha uma
matéria sobre uma banda com um nome totalmente maluco:
Dexys Midnight Runners.
Eu gostei da capa, quatro
pessoas sentadas olhando para a frente, e como tinha lido boas
críticas, comprei. Confesso que de primeira, não
curti muito. Eram músicas muito elaboradas, uma mistura
de soul, com funk, com muitas vozes falando no meio das canções,
cheia de violinos. Acabei curtindo, mas sempre achava meio diferente.
No mesmo ano, descobri que
eles haviam feito uma canção genial, que eu tinha
ouvido nos meus tempos de moleque: "Come on Eileen".
Era de um outro disco, chamado Too-Rye-Ay, o segundo deles.
Essa
é uma banda completamente inusitada. Seu líder é
Kevin Rowland e gravou apenas três discos com a banda, um
melhor do que outro: Searching For The Young Soul Rebels,
Too-Rye-Ay e esse, Don't Stand Me Down.
O nome foi inspirado na droga,
Dexedrina, e eles eram radicalmente contra o uso de substâncias
químicas. Kevin Rowland era a voz, o líder, o cara
que a cada disco desmantelava o grupo e começava outra
formação. Embora inglês (nasceu em Wolverhampton,
no dia 15 de agosto de 1953), era filho de irlandeses e adotou
a paixão dos irlandeses pela música negra norte-americana
e pela música mais celta, Too-Rye-Ay.
O
primeiro álbum é basicamente um disco de soul, com
destaque para "Geno". Nesse meio tempo, mudou quase
totalmente os integrantes e lançou um disco voltado mais
para o celta.
Acertou em cheio com "Come
on Eileen", que alcançou o segundo lugar nas paradas
britânicas e norte-americanas. Mas Kevin não ligava
para o sucesso, não queria ser superstar. O que mais desejava
era poder fazer o que queria. E quando todo mundo esperava um
"Come on Eileen II" veio Don't Stand Me Down.
O disco pode ser chamado
de pequenas peças que vão se encaixando, estórias
que vão sendo contadas. Os arranjos já eram bem
mais elaborados, com longas introduções e improvisações
vocais. As letras eram compridas, lembrando o estilo Van Morrison
de compor.
O mais gostoso nesse disco
é que você não percebe quando começa
uma canção e termina a outra, elas vão se
ligando da mesma maneira que Astral Weeks, segundo álbum
de Van Morrisson, faz isso. Você nunca sabe se está
na faixa três ou cinco, ou sete. Geralmente começa
com uma citação vocal de Kevin, com um instrumento
de fundo, até explodir em uma massa sonora. Dono de boa
voz, e autor de letras curiosas, pode não ter feito muito
sucesso comercial, até porque as músicas eram muito
longas para isso, mas soube cativar o ouvinte. A vantagem do CD
é que possui duas músicas a mais do que o LP.
Eu queria mostrar como ouvia
coisas diferentes, então gravava Dexys e punha para o pessoal
ouvir. E quanto mais eles detestavam, mais eu gostava, porque
o som era delicado, tinha filigranas, ritmo. Todo mundo preferia
os mais normais como U2, Cure, Smiths, Echo. Eu também
preferia, mas não negava que aquela banda estranha me fascinava,
afinal eu estava começando a ficar fascinado por esse tipo
de som, essas referências. Nunca tinha lido uma entrevista
deles, mas sabia que os discos anteriores tinham saído
no Brasil e que talvez desse sorte em algum sebo da vida.
Kevin
Rowland acabou com a banda, lançou um maravilhoso disco
solo em 88, The Wanderer.
Demorou mais dez anos e lançou
outro disco, chamado My Beauty, não tão bom
como o primeiro, mas que foi um fracasso de venda, devido ao encarte.
Kevin de vestido, batom, um Bowie com quase 30 anos de atraso
e sem o charme do camaleão. Era seu primeiro disco pela
Creation, que apostou alto no trabalho. Algumas lendas dizem que
vendeu pouco mais de 500 cópias (eu tenho uma delas) e
que criou um problema sério entre Kevin e o selo.
Kevin sempre foi um artista
complicado. Ele acredita em perfeição e prefere
lançar algo realmente bom só quando se sente seguro.
Jamais topou em assinar para lançar um disco por ano, considera
um crime obrigar um artista a produzir um trabalho sobre o outro,
como se fizesse em escala. Dono de um temperamento difícil,
muda a banda várias vezes durante a gravação
e às vezes leva os produtores à loucura.
Mas é compreensível:
ouvindo "This Is What She's Like", uma canção
de mais de 12 minutos, que começa lenta, como sempre e
explode em violinos, bateria bem marcada. Não tem como
ficar parado. É ouvir para conferir.
Os
dois primeiros são mais fáceis de se achar, inclusive
em edição remasterizada.
Ah, uma última coisa:
pelo tamanho do formato, os quatro integrantes da banda da capa
foram reduzido a apenas dois na capa do CD. Além dos três
discos, o grupo lançou ainda algumas coletâneas de
lados B.
Nas edições
remasterizadas encontrará algumas preciosidades: um versão
ao vivo de "Jackie Wilson Said" de Van Morrison, e uma
versão para "Respect", aquela mesma de Otis Redding
e que ficou imortalizada na voz de Aretha Franklin. Não
deixe de ouvir. É diversão garantida!
Discografia
Discos
Searching For The Young Soul Rebels (1980)
Too Rye Ay (1982)
Geno (1983)
Don't Stand Me Down (1985)
The Very Best Of Dexys Midnight Runners (1991)
BBC Radio One Live In Concert (1993)
1980 - 1982 The BBC Radio 1 Sessions (1995)
It Was Like This (1996)
The Master Series (1996)
Let's Make This Precious The Best Of Dexys Midnight Runners (2003)
The Projected Passion Review (2007)
Singles
Dance Stance - I'm Just Looking (1979)
Geno - Breaking Down The Walls Of Heartache (1980)
There There My Dear - The Horse (1980)
Thankfully Not Living In Yorkshire It Doesn't Apply - The Horse
(1980)
Keep It Part Two (Inferiority Part One) - One Way Love (1980)
Plan B - Soul Finger (1981)
Show Me - Soon (1981)
Liars A To E - And Yes We Must Remain The Wildhearted Outsiders
(1981)
Celtic Soul Brothers - Love Part Two (1982)
Come On Eileen - Dubious (1982)
Jackie Wilson Said - Let's Make This Precious (1982)
Let's Get This Straight From The Start - Old (1982)
The Celtic Soul Brothers (More, Please, Thank You) - Reminisce
Part One (1983)
Dance Stance - There There My Dear (1984)
One Of Those Things - The Occasional Flicker (1985)
This Is What She's Like - Marguerita Time (1985)
Because Of You - Kathleen Mavourneen (1986)
Manhood (2003)
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