36 - The Dream Syndicate – The Complete Live at Raji’s

Se você estiver procurando um disco ao vivo e recheadas de guitarras ensandecidas, mas não quer apelar para a merda de haevy metal, pode parar de caçar. Como diria seu Creysson, seus pobremas se terminaram-se!

The Complete Live at Raji’s nada mais é do que o excepcional show Live at Raji’s lançado em 1989, na íntegra. CD duplo com 15 músicas e mostrando o grupo mais feroz do que nunca.

Uma edição cuidadosa e com um texto introdutório de Pat Thomas, o maior conhecedor e fã do Dream Syndicate e que ficou responsável por essas edições. Pat conta, com uma dose de ironia, a história da banda e desfaz alguns equívocos da época, quando a Melody Maker perguntava o porquê do show gravado em 31 de janeiro de 1989 não conter músicas de Ghost Stories, de 1988. O semanário inglês até levantou uma hipótese absurda de que Steve Wynn e companhia nem estavam aí para o novo disco de estúdio do grupo. Só que foi a revista quem cometeu o engano, pois o show foi gravado em 31 de janeiro... de 1988.

E algumas músicas de Ghost Stories se fazem presentes: logo na abertura tocam a cover de “See That My Grave Is Kept Clean”, de Blind Lemon Jefferson. Mas o disco traz maravilhas do antigo repertório: “Still Holding On To You”, “When You Smile” (faixa do primeiro EP do grupo, em 1982) e fecha o disco 1 com duas faixas sublimes: o clássico de Dylan, “All Along The Watchtower” e a grande canção do próprio grupo, “Tell Me When It’s Over”.

O disco 2 é mais pesado, improvisado, nervoso e até certo ponto, estranho. São apenas 6 faixas, todas mais longas, mais esparsas e drives maníacos de guitarras. Não há como resistir a “The Days Of Wine And Roses”, “The Medicine Show” e a suprema beleza das insanidades: “John Coltrane Stereo Blues”. Mais de seis minutos de improviso, velocidade e letra, ora declamada ora cantada.

O destaque fica para a guitarra incendiária de Paul B. Cutler e o entrosamento com Steve Wynn, na guitarra-rítmica. Eles conseguem lembrar velhos duelos de Richard Lloyd e Tom Verlaine, no Television e até o “caos organizado” de Lou Reed e Sterling Morrison, no Velvet Underground. Às vezes é aconselhável abaixar o som do aparelho ou você ficará com aquele zunido no ouvido. Maravilhoso zunido de um som que te transporta ao fechar os olhos. E quer saber que mais? Você pode ouvir a voz e entender as letras, sem precisar apelar para qualquer banda de metal chulé.

Um clássico para quem gosta de discos gravados ao vivo, que na época foi produzido por Elliot Mazer - o mesmo de Ghost Stories e que havia gravado Harvest e Time Fades Away, de Neil Young – e que manteve o som capturado, originalmente, em dois canais.

Pat conta que o disco não tinha como ser remixado, e que nem precisava. E ele está certo! E só podemos agradecer a ele por seu trabalho, afinal essas gravações saíram de uma fita que só uma pessoa possuía. Quem? Pat Thomas, claro.

Então, obrigado Pat pelo legado e Steve, pelo presente!