Essa é
uma coluna triste para mim. Apesar de amar LC e não tê-lo
mais, fiquei muito triste quando consegui o email do baterista
Bruce Mitchell e pedi a ele uma entrevista com Vini Reilly. Bruce
disse que ele iria adorar falar com o Brasil. Como prova de minha
boa fé mandei uns dois discos para ele via correio e jamais
obtive as respostas. Passados quase 5 anos de espera, resolvi
fazer a coluna mesmo sabendo que elas jamais chegarão a
mim. Não importa. O que importa mesmo é a música
de Vini e do Durutti Column. E que saudades de LC...
Em
1987, a gravadora Stiletto (por algum milagre desconhecido) resolveu
editar alguns LPs que jamais alguém sonharia em ver no
Brasil. Assim, pudemos ouvir Closer (Joy Division),
Ignite the Seven Cannons (Felt), Kicking
Against the Pricks (Nick Cave) e Durutti Column, com
LC.
Todos os grupos eram mais
falados do que ouvidos por aqui. É claro que Joy Division
era a grande estrela do pacote; mas o que dizer do grupo de Vini
Reilly?
LC foi
um assombro. Não pela potência, mas sim pela delicadeza,
pelos climas hipnotizantes e por ser um disco quase instrumental,
já que a frágil voz de Vini é quase inaudível.
Em meio aos lançamentos
variados, LC se tornou um companheiro por muito
tempo. Jamais entendi porque a Factory mutilou a capa no relançamento
em CD e lamento que hoje esteja fora de catálogo.
O Durutti Column é, basicamente, Vini Reilly e amigos. Apesar
de ter vindo da mesma Manchester que deu ao mundo Joy Division,
Smiths, New Order, The Fall, Buzzcocks, Magazine, etc etc, Vincent
Gerard Reilly tinha um gosto diferente de seus colegas. Apaixonado
pelo jazz e blues de Art Tatum, Fats Waller e por compositores
clássicos como Benjamin Britten, além de música
flamenca, Vini até teve um começo no punk rock fazendo
parte do Nosebleeds, banda por onde passou Morrissey e Billy Duffy
(Cult).
Vincent Riley até
gravou um single com a banda, Ain't Bin To No Music School,
editada na compilação The Crap Stops Here,
da Rapid Records, em 1980. O punk rock, porém,
não era a praia do frágil Vini, que sofre até
hoje de anorexia nervosa. Com seu jeito tímido, introspectivo,
Vini só poderia expressar uma música de tal timbre.
Assim, logo após
a Factory resolver montar seu selo, o Durutti Column é
contratado.
Apesar de nunca ter
explicado isso corretamente, o nome da banda teria sido uma homenagem
ao anarquista espanhol Buenaventura Durruti Dumange (1896-1936),
figura chave da Guerra Civil Espanhola. Ao que consta, Durruti
(com dois "r" e um "t") conseguiu armar uma
coluna de 6 mil anarquistas em Barcelona e Zaragoza, meses antes
de ser assassinado com um tiro nas costas. Há pessoas,
porém, que negam essa versão, embora Vini tenha
grande paixão pela música espanhola.
Vini
era um velho conhecido dos dois sócios da gravadora, Tony
Wilson e Alan Erasmus.
Os dois resolveram montar
um grupo para o novo selo composto dos ex-integrantes do Fast
Breeders, Fast Breeder, o baterista Chris Joyce e o guitarrista
Dave Rowbotham. Além deles, entraram o vocalista Phil Rainford,
o tecladista Stephen Hopkins e o baixista Tony Bowers.
No futuro, Tony Bowers
e Chris Joyce deixariam o grupo para integrar o Simply Red, do
também nativo de Manchester Mick Hucknall. Phil Rainford
logo seria dispensado por não se adequar à proposta
do grupo.
Estréiam em um show
e participam da coletânea A Factory Sample,
ao lado do Joy Division, John Dowie e do Cabaret Voltaire, com
as músicas "No Communication" e "Thin Ice
(Detail)". Logo após as gravações, Bowers,
Joyce e Robbotham saíram para formar o Moth Men, ficando
Vini sozinho.
Em 1980 editam o primeiro
LP, The Return of the Durutti Column. Um título
irônico e uma música esparsa chamam a atenção
da crítica, apesar das baixas vendagens. Extremamente cuidadosa
com o visual, a Factory lança o disco em uma capa de papel
aerado, mudando depois para uma mais conservadora. O trabalho
foi produzido por Martin Hannett, que ficou meses nos estúdios
Cargo Studios, em Rochdale e no Strawberry Studios, em Stockport,
com Vini.
O LP trazia uma música
cheia de ecos, com a guitarra com a guitarra de Reilly em primeiro
plano, com acompanhamentos ocasionais de Peter Crooks (baixo)
e Toby (bateria).
A capa aerada foi logo
tirada de circulação, pois riscava qualquer disco
que era colocado ao lado ou mesmo em cima dela. A "volta"
do título, segundo Vini, foi tirado quando o grupo Situationists
Internationale, anunciou a volta das atividades, em Estrasburgo,
em 1966, com o título de "The Return of the Durutti
Column" em alguns manifestos. Era Durutti mesmo, com apenas
uma letra "r" e dois "ts".
Segundo Vini, "sempre
me interessei pelo Situationists Internationale, um grupo anarquista
na Europa que publicou um livro com uma capa aerada para destruir
as capas dos outros livros que ficassem ao seu lado, na prateleira.
Isso era muito radical, nos anos 60, e através de seus
slogands, críticas e idéias, desejavam mudanças.
Eles usaram o título 'the Return of the Durutti Column'
várias vezes e achei muito interessante fazer uma música
tranquila com um gesto tão anarquista."
Essa deve ser a verdadeira
origem do nome da banda e não uma homenagem direta ao anarquista
espanhol.
Vini começou a realizar
uma série de participações em discos,
O disco trazia as seguintes
faixas:
Lado 1
1. "Sketch for Summer" - 3:01
2. "Requiem for a Father" - 5:08
3. "Katharine" - 5:30
4. "Conduct" - 5:02
Lado 2
1. "Beginning" - 2:28
2. "Jazz" - 1:38
3. "Sketch for Winter" - 2:24
4. "Collette" - 2:23
5. "In 'D' " - 1:39
6. "Sketch for Winter (diff. mix)" - 2:25
Os shows do Durutti sempre
foram raros, devido à frágil saúde de Vini
e por necessitar de uma acústica especial para suas músicas.
Em novembro de 1980 lança o compacto "Lips That Would
Kiss (Form Prayers to Broken Stone)"/"Madeleine",
pela Factory, e, em março e 1981, o segundo, "Enigma"/"Danny,
pelo selo Sordid Sentimentale, que também havia lançado
um do Joy Division. Apenas 2.730 cópias foram editadas.
Vini editou mais duas canções
para a coletânea From Brussels With Love,
da Factory Benelux, "Sleep Will Come" (uma homenagem
ao amigo Ian Curtis) e "Piece For An Ideal".
Em
novembro de 1981, lança, quase sem querer, o segundo LP,
LC. Nessa época, Vini já tinha
a companhia do baterista Bruce Mitchell.
"Eu não tinha
planos reais para um segundo álbum, até que o guitarrista
Bill Nelson me enviou um gravador de quatro canais e eu o liguei
a uma bateria eletrônica e uma câmera de eco. Gravei
todo o álbum em cinco horas, no meu quarto, enquanto minha
mãe dormia ao lado. Ao finalizar, chamei Bruce, fomos a
um estúdio e o terminamos em duas horas. Foi apenas uma
maneira de passar o tempo."
O "acidente"
tornou-se a grande obra-prima do grupo, com vocais delicados,
guitarras esparsas e outra homenagem a Ian Curtis, "Missing
Boy", que se tornaria uma favorita dos fãs ao vivo.
O título é uma abreviação do slogan
anarquista, "Lutte Continuum" (A Luta Continua).
LC tinha as seguintes faixas:
Lado 1
1. "Sketch for Dawn
1"
2. "Portrait for Frazer"
3. "Jacqueline"
4. "Messidor"
5. "Sketch for Dawn 2"
Lado 2
1. "Never Known"
2. "The Act Committed"
3. "Detail for Paul"
4. "The Missing Boy"
5. "The Sweet Cheat Gone"
Vini
Reilly finalmente saiu da toca e resolveu tocar pelo mundo, arrebanhando
fãs em todos os países que tocou: EUA, Canadá,
Finlândia, Espanha, Itália, Espanha, Bélgica
etc.
O ano de 1982 é
tirado para cuidar da saúde, que vê a popularidade
do Durutti crescer a ponto de ser editado um disco pirata que
se torna um "álbum oficial", Live at
the Venue London, editado em 1983.
No mesmo ano, é
editado um novo LP de estúdio, Another Setting,
que mantém a a tristeza e a melancolia características
da banda.
Ainda
em 1983 Vini recebe um convite para gravar para Portugal e realizar
algumas gravações no estúdio Valentim de
Carvalho. Ele viaja com a namorada Jacqueline.
A gravação
seria editada pela Factory, mas por problemas de direitos jamais
explicados, foi lançado pelo selo Fundação
Atlântica, que edita o LP Amigos em Portugal.
O disco é dividido
em dois lados, "Amigos em Portugal" e "Dedications
for Jacqueline" e trazia as seguintes faixas:
"Amigos em Portugal"
1. Amigos em Portugal
2. Menina ao Pé duma Piscina
3. Lisboa
4. Sara e Tristana
5. Estoril à Noite
6. Vestido Amarrotado
"Dedications for Jacqueline"
7. Wheels Turning
8. Lies Of Mercy
9. Saudade
10. Games Of Rhythm
11. Favourite Descending Intervals
12. To End With
O
Durutti havia se tornado uma banda "cult" pelo mundo
todo e Vini vê sua agena lotada com shows pelo Japão,
Austrália, Leste Europeu. As platéias são
receptivas, especialmente a japonesa, que aprecia muito a introspecção
do grupo.
Em 1984 é editado
um novo disco, Without Mercy, de apenas duas
faixas, 18:46 "Without Mercy I" (18:46, Lado A) e "Without
Mercy II" (19:35, Lado B).
A capa trazia uma paisagem
pintada por Henri Matisse, Trivaux Pond.
A Factory resolveu editar
um EP, no ano seguinte, com novas músicas, que acabaram
sendo editadas na versão em CD:
Goodbye
The Room
Little Mercy
Silence
E.E.
Hello
All That Love And Maths Can Do
The Sea Wall
O prestígio de Vini
era tão grande, que ninguém menos do que Robert
Fripp, eterno líder do King Crimson, o escolheu com o o
maior gênio da guitarra. Nessa época, o Durutti Column
era uma banda de fato, com os seguintes músicos: Vini Reilly
(guitars, keyboards and production), Bruce Mitchell (drums, percussion
and xylophone), Tim Kellett (trumpet), John Metcalfe (viola),
Eleanor (cello) e Maunagh Fleming (cor anglais). Pouco tempo depois,
Kellett iria para o Simply Red e o grupo ficaria basicamente sendo
o trio Vini, Bruce Mitchell e John Metcalfe.
Vini
Reilly continua tocando, compondo e dando esporádicos shows.
Sua discografia é extensa e de difícil catalogação.
Os títulos estão espalhados em fitas cassetes, piratas,
gravadoras, sem contar que a maioria esmagadora se encontra fora
de catálogo.
Sua saúde é
irregular, alternando bons e maus momentos. Poderia ficar citando
todos os discos, e explicando cada gravação, mas
a música do Durutti é muito melhor de ser ouvida
do que analisada.
Assim, Deixo
com vocês a foto do terceiro lançamento do grupo
no Brasil - LC e Without Mercy
foram os dois primeiros - Vini Reilly.
Um abraço e até
a próxima coluna.
Discografia
The Return of the Durutti Column (1980)
LC (1981)
Another Setting (1983)
Live at the Venue London (1983)
Amigos em Portugal (1983)
Without Mercy (1984)
Domo Arigato (1985)
Circuses and Bread (1986)
Valuable Passages (1986)
Live at the Bottom Line New York (1987)
The Guitar and Other Machines (1987)
The First Four Albums (1988)
Vini Reilly (1989)
Obey the Time (1991)
Lips That Would Kiss (1991)
Dry Materiali (1991)
Sex & Death (1995)
Fidelity (1996)
Time Was Gigantic (1998)
A Night in New York (1999)
Rebellion (2001)
Someone Else's Party (2003)
Tempus Fugit (2004)
The Best Of The Durutti Column (2004)
Keep Breathing (2006)
Idiot Savants (2007)
Sunlight to Blue (2008)
Live in Bruxelles 13 August 1981 (2008)
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