Após
o acidente e o sumiço, Dylan reaparece com dois álbuns
inesperados e mostrando um lado mais country em suas composições.
Nessa nova safra nascem dois discos excepcionais e que traziam
dois grandes clássicos - "All Along the Watchtower"
(famosa pelas versões de Jimi Hendrix e U2) e "Lay
Lady Lay", onde Dylan surpreende cantando em um estilo mais
grave. Dois álbuns que ajudaram a ampliar o leque de influência
sobre seus contemporâneos e que seria copiado ao longo das
quatro décadas seguintes.
"O
primeiro disco de rock bíblico". Foi dessa maneira
que Bob Dylan definiu John Wesley Harding, lançado
em janeiro de 1968, mostrando que o acidente de Dylan não
havia deixado seqüelas maiores, como se tanto especulava.
Muito pelo contrário, Dylan continuava escrevendo e gravando
como nunca.
Após ficar de "molho"
um novo Dylan emergia: mais contido, com um visual mais discreto,
de cabelo curto e barba. Após três anos alucinantes
entre shows e gravações, Bob parecia mais sossegado
e o som refletia essas mudanças.
O crítico Bill King
ao ouvir as novas composições, disse que "Dylan
produziu o novo mito do homem moderado, formando a base de uma
nova personalidade e uma nova identidade artística."
No período em que
sumiu, começou a estudar a Bíblia, mas sem o proselitismo
que marcaria a virada dos anos 70 para os 80, com os álbuns
Slow Train Coming, Saved e Shot
of Love.
Paras as gravações,
ao lado novamente do produtor Bob Johnston, e foi para Nashville
onde passou alguns meses com os seguintes músicos locais:
Pete Drake (Steel Guitar), Charlie McCoy (baixo), e Kenneth A.
Buttrey (Bateria). O próprio Dylan tocou guitarra, harmonica,
e piano.
Além
de ter um cunho mais religioso, as letras eram menores e as canções
mais curtas.
Segundo o poeta e grande
amigo, Allen Ginsberg, Dylan havia lhe dito que resolvera escrever
histórias menores onde cada linha tivesse uma importância
na história, preocupando-se mais com o desenvolvimento
da mesma do que pensar apenas em uma rima.
Apesar
de muitos considerarem o lançamento em dezembro de 1967,
ele realmente só saiu em janeiro do ano seguinte.
O LP fez um grande sucesso,
vendendo mais de 250 mil cópias na primeira semana e recebendo
elogios rasgados.
O álbum trazia as
seguintes faixas:
Lado 1
1. "John Wesley Harding" –
2:58
2. "As I Went Out One Morning" – 2:49
3. "I Dreamed I Saw St. Augustine" – 3:53
4. "All Along the Watchtower" – 2:31
5. "The Ballad of Frankie Lee and Judas Priest" –
5:35
6. "Drifter's Escape" – 2:52
Lado 2
1. "Dear Landlord"
– 3:16
2. "I Am a Lonesome Hobo" – 3:19
3. "I Pity the Poor Immigrant" – 4:12
4. "The Wicked Messenger" – 2:02
5. "Down Along the Cove" – 2:23
6. "I'll Be Your Baby Tonight" – 2:34
O
disco abre com a faixa-título, inspirada no fora-da-lei
John Wesley Hardin, nascido no Texas, em 1853 e que foi preso,
em 1877, após matar um xerife.
Na cadeia, John Wesley
estudou direito e conseguiu o perdão, em 1894, no mesmo
ano em que começou a trabalhar em El Paso, como advogado.
Infelizmente, ele foi morto por um guarda, no ano seguinte.
A grande canção
do disco seria mesmo "All Along the Watchtower", imortalizada
por Hendrix no álbum Electric Ladyland.
Mas o que poucos falam
é que Jimmy Page roubou as progressões de acordes
para escrever "Stairway to Heaven", assim como John
Entwistle, baixista do Who se inspirou nela para escrever "Fiddle
About", do disco Tommy.
Outra canção
famosa é "The Ballad
of Frankie Lee and Judas Priest", título que deu nome
ao famoso grupo de heavy metal, do cantor Rob Halford, o Judas
Priest.
Outra atração
era a capa, com Dylan tendo ao lado dois cantores indianos Baul.
Ao fundo, percebe-se um homem de idade, que é Charlie Joy,
um carpinteiro de Woodstock (onde Dylan morava) usando o mesmo
casaco que Bob utilizou na capa de Blonde on Blonde.
O disco causou alguma tensão
entre Dylan e a Columbia. O presidente do selo, Clive Baker, queria
lançar urgentemente um compacto, mas o cantor se recusou,
querendo manter um perfil mais discreto.
Mais
calmo, Dylan vivia um bom período pessoal, com o nascimento
da filha Anne e reconciliar com os pais, meses antes de seu pai
morrer de enfarte.
Dylan sentiu muito a perda
e fez questão de ir ao funeral do pai em Hilbbing.
Um dos grandes momentos
do lançamento foi o show em memória a Woody Guthrie,
ídolo maior de Bob e que falecera no dia 3 de outubro de
1967.
Dylan pediu que Harold
Leventhal, antigo amigo e empresário de Woody, para agendar
uma apresentação especial.
Atendendo ao pedido, Leventhal
agendou dois shows no Carnegie Hall, em 20 de janeiro de 1968,
tendo como convidados Judy Collins, Jack Elliott, Arlo Guthrie,
Richie Havens, Odetta, Tom Paxton e Pete Seeger.
Dylan subiu ao palco com
The Crackers (na verdade, The Band) e tocou três músicas:
"Grand Coulee Dam", "Dear Mrs. Roosevelt"
e "I Ain't Got No Home".
Se Dylan havia surpreendido
por lançar um disco mais "conservador" em uma
época em que todas as bandas apostavam alto na psicodelia
e em drogas, aumentaria ainda mais o espanto ao editar um novo
LP, Nashville Skyline.
Algumas
surpreenderam: primeiro, que Dylan estava realmente cantando,
com uma voz mais empostada, em alguns momentos até de maneira
irreconhecível.
Quem ouviu pela primeira
vez "Lay Lady Lay", grande sucesso do álbum custou
a crer que era Bob Dylan.
O álbum abre com
uma das mais belas parcerias da história: Dylan e Johnny
Cash cantam uma canção que Bob havia gravado em
seu segundo álbum, The Freewheelin' Bob Dylan,
"Girll from the North Country".
A segunda surpresa era
que as 10 músicas mal chegavam a 30 minutos de execução,
algo estranho para quem adorava longas canções.
Nashville Skyline foi um sucesso estrondoso, vendendo mais de
1,2 milhão de cópias, chegando ao terceiro posto
na parada. "Lay Lady Lay" alcançou o sétimo
lugar entre os compactos.
O LP trazia as seguintes
faixas:
Lado 1
1. "Girl from the North Country"
(with Johnny Cash) – 3:41
2. "Nashville Skyline Rag" – 3:12
3. "To Be Alone with You" – 2:05
4. "I Threw It All Away" – 2:23
5. "Peggy Day" – 1:59
Lado 2
1. "Lay Lady Lay" – 3:20
2. "One More Night" – 2:25
3. "Tell Me That It Isn't True" – 2:45
4. "Country Pie" – 1:35
5. "Tonight I'll Be Staying Here with You" – 3:23
Dylan
tocou na televisão com Johnny Cash, no dia 7 de junho,
em um programa apresentado por Cash, o dueto de abertura do disco.
Para a apresentação, pediu um cenário limpo,
austero.
Cash era fã de Dylan
e disse que o acompanhou desde o segundo LP, lançado em
1963 e o considerava um ótimo cantor country. A idolatria
chegou ao ponto de Johnny escrever um texto sobre Bob na contra-capa
do LP.
E a recíproca era
verdadeira, pois Dylan sempre guardou com carinho um violão
que recebeu de Cash, no festival, de Newport, em 1965, aquele
que ficou famoso por ter sido vaiado ao tocar com um grupo de
blues elétrico, abrindo a apresentação com
"Maggie's Farm".
E ele voltou a surpreender
o mundo ao se recusar tocar no festival de Woodstock, ao lado
de sua casa. Um dos motivos para a recusa foi que estava farto
de ver sua casa invadida por fãs, incentivados pelo empresário
do cantor, Albert Grossman, dono de vários estabelecimentos
comerciais na região e que lucrava em cima de sua maior
estrela. Dylan acabou deixando a cidade e voltando para Nova York,
irritado.
Ao invés de tocar
no mítico festival, Dylan fez uma única apresentação
no festival da Ilha de Wight, na Inglaterra, show que rendeu vários
piratas ao longo das décadas. Um dos motivos para poucas
apresentações era o desconforto físico que
sentia após o acidente.
Mesmo
dizendo-se "ansioso por voltar aos palcos", Dylan dizia
que seu corpo sofria muito em algumas condições
climáticas, adversas, como em locais úmidos que
faziam seus ossos doerem.
Ainda assim, Dylan subiu
ao palco com o The Band e fez um show com um gordo cachê,
recebendo 21 mil libras, mais parte da bilheteria e seis mil libras
para despesas. The Band recebeu um cachê de oito mil libras.
Esse seria seu único
show no ano, em um evento que teria como estrelas, o The Who e
o The Nice. Além dessa apresentação, ele
se apresentou, no dia 14 de julho, no Mississippi River Festival,
ao lado do Band, onde tocou Ain't Got No Home" (Guthrie),
"In The Pines" (Leadbelly) e "Slippin' and Slidin'
(Little Richard)".
Após dois discos
brilhantes, Dylan causaria estranheza com o novo disco duplo,
Self Portrait, editado em 1970. Mas isso é
papo para outro dia. Um abraço e até a próxima
coluna.
Discografia
Bob Dylan (1962)
The Freewheelin' Bob Dylan (1963)
The Times They Are A-Changin' (1964)
Another Side of Bob Dylan (1964)
Bringing It All Back Home (1965)
Highway 61 Revisited (1965)
Blonde on Blonde (1966)
Bob Dylan's Greatest Hits (1967)
John Wesley Harding (1968)
Nashville Skyline (1969)
Self Portrait (1970)
New Morning (1970)
Bob Dylan's Greatest Hits, Vol. 2 (1971)
Pat Garrett and Billy the Kid (1973)
Dylan (1973)
Planet Waves (1974)
Before the Flood (1974)
Blood on the Tracks (1975)
The Basement Tapes (1975)
Desire (1976)
Hard Rain (1976)
Street Legal (1978)
At Budokan (1979)
Slow Train Coming (1979)
Saved (1980)
Shot of Love (1981)
Infidels (1983)
Real Live (1984)
Biograph (1985)
Empire Burlesque (1985)
Knocked Out Loaded (1986)
Dylan & the Dead (1988)
Down in the Groove (1988)
Oh Mercy (1989)
Under the Red Sky (1990)
The Bootleg Series Volumes 1-3 (1991)
Good as I Been to You (1992)
The 30th Anniversary Concert Celebration (1993)
World Gone Wrong (1993)
Bob Dylan's Greatest Hits, Vol. 3 (1994)
MTV Unplugged (1995)
Time Out Of Mind (1997)
The Bootleg Series, Vol. 4: Bob Dylan Live 1966 (1998)
The Essential Bob Dylan (2000)
"Love and Theft" (2001)
The Bootleg Series, Vol. 5: Bob Dylan Live 1975 (2002)
The Bootleg Series, Vol. 6: Bob Dylan Live 1964 (2004)
No Direction Home: The Soundtrack (The Bootleg Series Vol. 7)
(2005)
The Best of Bob Dylan (2005)
Modern Times (2006)
Dylan (2007)
Tell Tale Signs - Rare and Unreleased 1989-2006 (2008)
Together Through Life (2009)
|