Alguns
grupos foram meio subestimados na história da música.
Mofo estréia hoje falando de uma dessas bandas e sua obra
prima: Ocean Rain do Echo and the Bunnymen.
Mexer
ou não em um texto tão antigo, ainda que não
te agrade? A resposta é sim, mexer se você o acha
tão ruim. Por essa maneira estou reescrevendo essa primeira
coluna no primeiro dia de 2007. Com mais material nas mãos
e conhecimento é obrigação recontar a história.
Sendo assim...
"O maior álbum já feito". É, a
modéstia não era o ponto fraco do Echo and the Bunnymen.
Foi desta maneira que gravadora e o próprio grupou promoveram
Ocean Rain.
Aos fatos: Ocean
Rain é certamente um dos grandes álbuns
da década de 80 e o melhor disco do grupo. E um pouquinho
de propaganda e arrogância não faz nenhum mal para
tentar vender um pouco mais...
O curioso é
que o disco começou da maneira errada. Após Porcupine,
o Echo and the Bunnymen começava a se desintegrar internamente.
Após uma exaustiva turnê pelo mundo, o grupo se trancou
alguns dias em Bath, na tentativa de gravar novas músicas.
"As
gravações em Bath foram horríveis. Ficamos
cinco dias e nada funcionou. A bateria parecia estar toda errada.
Tentávamos um som meio parecido com a de Mo Tucker (baterista
do Velvet Underground). Para piorar, fiquei gripado e decidimos
voltar para casa. Eu estava convicto que ia sair do grupo e que
não faria mais nada. Mas Pete me ligou e disse que aquelas
letras eram as melhores que eu já tinha escrito e me inquiriu
se não queria me encontrar. 'Eu posso refazer os arranjos
de bateria se você cantá-las'. Acabamos indo nós
dois para os estúdios Amazon e ele sugeriu usar escovinhas,
algo que não havíamos tentado antes. Eu ainda estava
um pouco gripado, mas tudo soou brilhante. A melhor coisa que
já havíamos feito. Cheguei em casa tarde da noite
e Lorraine - minha esposa - estava me esperando. Toquei para ela
uma parte da canção e ela começou a chorar.
Pensei que ela tinha odiado, mas ela disse que era a canção
mais linda que eu já havia escrito. O disco feito foi feito
nesse estado de espírito."
Foi
dessa maneira que nasceu o compacto The Killing Moon,
talvez o grande clássico do grupo e a música preferida
da maioria esmagadora dos fãs. O assassino da lua cativou
milhões de pessoas e o compacto foi um estrondoso sucesso,
chegando ao nono posto das paradas.
Lançado em 20 de janeiro
de 1984, alcançou o nono lugar nas paradas e o lado B trazia
ainda algo mais belo, uma versão longa da canção
batizada de "The Killing Moon All Night Version".
Para gravar Ocean
Rain, a banda fez uma exigência extravagante: queria
gravar o disco em Paris. A razão disso é que Ian
havia ouvido Café Bleu, do Style Council
e gostado do clima do álbum e pediu para que trabalhassem
no mesmo estúdio, o Des Dames. Mac achava que o clima romântico
de Paris faria a banda se reconciliar, além de proporcionar
o ambiente ideal. Acertou em cheio!
Ao lado de Gil Norton, o
grupo começou a trabalhar em um disco curto - apenas nove
músicas - cheio de cordas - e com Pete de Freitas tentando
se comunicar com os demais músicos contratados em um francês
canhestro, já que nenhum deles falava francês.
Enquanto
a banda se esforçava no novo disco, a gravadora lançou
um EP chamado The Sound of Echo, que trazia quatro
canções conhecidas do grupo - "Never Stop";
"Rescue"; "The Cutter"; "The Back Of
Love" -, além de uma versão matadora de "Do
It Clean", gravado ao vivo no Royal Albert Hall, em 18 de
julho de 1983.
Curiosamente, há três
versões de "Do It Clean" no Royal Albert Hall
com essa mesma data, mas essa é, de longe, a melhor de
todas.
A felicidade era
latente entre todos e aumentou muito mais quando "The Killing
Moon" foi eleito a melhor canção do mês
de janeiro pelos semanários ingleses. O grupo ainda escreveria
outras pequenas pérolas perfeitas como "Seven Seas",
"Silver" e a faixa-título.
Em
13 de abril é a vez de lançarem outro compacto,
Silver, contendo talvez o melhor b-side da década
de 80 e até superior (se isso é possível)
à canção do lado A: "Angels and Devils".
Apesar do modesto
sucesso nas paradas - 30ª posição - o Echo
mostrava que o novo disco seria uma paulada.
Veja a letra de
"Angels and Devils"...
Call it a day
When night becomes our mad escape
Forgetting the things you mean to say
When all the right
words come too late and
Everything falls out of place
Under the pillow
Out of the race
Out of the window
Devils on my shoulder
So, so happy
When happiness spells misery
And mister me hoping to be
Where ugliness meets beauty
Hope if you'll see
The demon in you
The angel in me
The Jesus in you
The devil in me
Angels on my shoulder
Call it a day
When night
becomes our bad escape
Forgetting the things you mean to say
When all the right words come too late and
Everything falls out of place
Under the pillow
Out of the race
Out of the window
Devils on my shoulder
So, so happy
When happiness
spells misery
And mister me hoping to be
Where ugliness meets beauty
And if you see'll see the demon in you
The angel in me
The Jesus in you
The devil in me
The demon's in you
The devil's in me
Devil on my shoulder
Angels coming closer
Ian McCulloch considera "The
Killing Moon" e "Ocean Rain" suas duas melhores
letras. Em uma entrevista de 1990, disse que "The Killing
Moon" não era a melhor canção da década
e 80 porque tinha perdido o posto para "Ceremony", escrita
pelo Joy Division, mas gravada pelo New Order. "Aqueles bastardos
escreveram minha canção favorita! Disse a eles que
o posto era para ser de 'The Killing Moon', mas eles me tiraram
isso."
O
grande destaque do disco era realmente o baterista Pete de Freitas,
que conseguiu casar perfeitamente sua bateria ao clima das composições
meio sombrias do grupo.
Ocean Rain,
contudo, está longe de ser um disco depressivo. É
um disco sedutor, misterioso, sensual e certamente o grande momento
do grupo.
Com uma capa igualmente misteriosa
e até seguindo o mesmo clima da de Porcupine,
as fotos foram tiradas na Caverna de Carnglaze, em Liskeard, Cornwall
por Brian Griffin. As cavernas de Cornwall dava um
ar mais sofisticado a banda, com seus tons azuis escurecidos.
Era perfeito para contrastar com a ''clareza'' da capa de Porcupine.
Lançado no dia 4 de
maio de 1984, Ocean Rain foi um tremendo sucesso
chegando ao 4º posto da parada britânica, mas fracassando
na norte-americana - 87º lugar.
A canção-título,
que fecha o álbum mostra o autor e vocalista dando tudo
de si, explorando todos os ângulos e possibilidades de sua
alma. "Era assim como me sentia. 'Nocturnal Me' fiz uma estória
baseada no fantasma de Jim Morrison enquanto ele viveu em Paris.
O lado B com "Killing Moon", "Seven Seas",
"My Kingdom" e "Ocean Rain" é perfeito.
Uma canção complementa a outra, é o nosso
melhor momento."
O grupo já
cumpria uma extensa e longa turnê pelo mundo pelo Japão
(onde foram aclamados como estrelas) e pelos Estados Unidos (onde
não foram aclamados). "Todo mundo diziam após
'The Cutter' que seríamos os novos Doors nos Estados Unidos.
Eu também acreditava nisso, mas a coisa nunca funcionou
nesse sentido", disse Ian.
Durante
uma pequena pausa da turnê, a banda promoveu o disco em
um dia batizado como "The Crystal Day" e que, entre
outras coisas, aparecia a banda participando de um programa matinal
- 8:30 horas - improvisando na Catedral Anglicana e depois fazendo
uma apresentação no St. George's Hall, que não
recebia um grupo de rock desde 1961, quando os Beatles tocaram
lá.
Essa pequena apresentação
acabou gerando um EP em edição limitada chamada
Life at Brian's - Lean And Hungry, onde aparecem
tocando uma emocionante versão de "All You Need Is
Love", dos próprios Beatles.
Lançado em 6 de julho
de 1984, continha: "Seven Seas"; "All You Need
Is Love"; "The Killing Moon"; "Stars Are Stars"
e "Villiers Terrace". Uma pequena preciosidade e sou
dono de uma dessas cópias, orgulhosamente...
O
compacto foi precedido em 10 antes pelo novo compacto do Echo,
Seven Seas, uma das mais belas canções
de Ocean Rain e que chegou ao 16º posto na parada de compacto
no Reino Unido.
O grupo continuou
excursionando até 31 de agosto, quando encerraram a segunda
parte da turnê pelos Estados Unidos, em Austin, no Texas.
Cansados um dos outros, resolveram tirar o ano de 1985 de férias,
para cuidarem de suas vidas pessoais.
Porém,
antes de terminar o ano, Ian McCulloch supreendeu o mundo ao lançar
um compacto solo, com uma canção de Kurt Weill e
Maxwell Anderson, September Song. Foi um choque
e rendeu até um belo clip promocional, já que Ian
mostrou um lado desconhecido. Mas valeu mais como uma curiosidade,
pois não fez sucesso algum.
Dessa maneira, o
Echo só voltaria aos holofotes em 1986, embora em 1985
tenham lançado a soberba coletânea Songs
to Learn and Sing. Mas isso é papo para outra
coluna. Um abraço!
Discografia
Crocodiles (1980)
Shine's So Hard (1981)
Heaven Up Here (1981)
Porcupíne (1983)
Ocean Rain (1984)
Songs to Learn and Sing (1985)
Echo & The Bunnymen (1987)
Reverberation (1990)
BBC Radio 1 In Concert (1992)
Evergreen (1997)
Ballyhoo (1997)
What Are You Going To Do With Your Life? (1999)
Flowers (2001)
Crystal Days 1979-1999 (2001)
Live In Liverpool (2002)
Siberia (2005)
Fillmore - San Francisco Ca 12/5/05 (2006)
House of Blues - West Hollywood Ca 12/6/05 (2006)
The Very Best of Echo & the Bunnymen - More Songs To Learn
& Sing (2006)
|