Dez anos de intervalo
entre as gravações. E um intervalo dos mais movimentados:
um disco sem Ian e Pete; Ian se arriscando (e dando mal) em carreira-solo;
a volta como Electrafixion e, finalmente, como Echo and the Bunnymen.
A mágica era um pouco menos intensa, mas a beleza estava
de volta. Só que ao invés de disputarem as paradas
com os Smiths, a briga era com a nova geração, Oasis,
Blur. E, mesmo assim, o Echo voltou em grande forma. Dez anos
em uma coluna: prepare-se porque o que não falta é
história.
Quando
Ian McCulloch anunciou sua saída do Echo e logo após
houve a morte do baterista Pete de Freitas, todos pensaram que
a banda estava morta, certo? Errado.
Mesmo com tudo indicando
o fim, Will Sergeant e Les Pattinson resolveram seguir a vida,
para espanto dos fãs e raiva de Ian.
Enquanto o vocalista lançava
o primeiro disco-solo, Candleland, com a presença
de Liz Fraser, do Cocteau Twins, na faixa-título, o Echo
anunciava que estava de volta com os obscuros Noel Burke nos vocais,
Damon Reece na bateria e o roadie Jake Brockman efetivado
como um quinto membro oficial.
Ian teve momentos fracos
com o disco. Apesar do bom compacto "Proud to Fall",
Ian se serviu de uma bandinha chamada Prodigal Sons, mero xerox
do Echo. O disco até chegou a ficar entre as 20 mais no
Reino Unido - 18ª posição para ser mais exato
-, mas era óbvio que Ian estava fazendo o disco mais para
mostrar que estava vivo do que outra coisa. A morte do pai, o
alto consumo de bebidas e drogas estava minando completamente
sua criatividade e sua voz.
Não
menos feliz, e até pior, foi a volta do Echo. Especula-se
que Will quis retornar o grupo para se vingar de Ian, que deixou
o quarteto sem um aviso prévio. O fato é que o disco
lançado, Reverberation, foi um fiasco
total.
Noel, ex-integrante do
St. Vitu's Dance, não conseguia dar o mesmo glamour de
Ian e o grupo entrou numa produção estranhíssima
e fadado ao fracasso. Ironicamente, uma das canções
de trabalho, tinha um título bem apropriado - "Prove
Me Wrong".
Enquanto Ian fazia shows
na América e Europa com os Prodigal Sons e fechava as apresentações
com "The Killing Moon", levando os fãs ao choro
convulsivo, Noel Burke levava os fãs ao desespero em shows,
mas por destruir os clássicos da banda.
Essa
fase é tão obscura e mal-sucedida, que para se ter
uma idéia, quando a banda retornou anos depois, Ian simplesmente
fez questão de apagar todos os registros com essa formação,
como se nunca tivesse acontecido.
Ele, por exemplo, vetou
qualquer canção dessa época na caixa Crystal
Days 1979-1999.
Esse é um dos motivos
que a única foto que consegui do Echo com Noel seja um
fotograma dele em um vídeo. É simplesmente impossível
encontrar alguma coisa. Minha única relíquia, uma
matéria do NME, ao vivo de 1991 com uma foto dele,
se perdeu no tempo.
Desesperada, a banda até
abriu mão de tocar clássicos antigos para não
aumentar a raiva dos fãs, optando por músicas novas
e covers como "2000 Light Years From Home", dos Stones,
o que só aumentava os protestos. Definitivamente, não
foi um bom período, aqueles que compreenderam os anos de
1991 a 1993.
Enquanto
isso, era lançado de maneira semi-oficial, um disco ao
vivo chamado BBC Radio One - Live In Concert,
com a formação clássica, porém, em
uma apresentação pouco inspirada, gravada no dia
11 de janeiro de 1988, em Liverpool.
Mas fase ruim nunca vem
sozinha e Ian aumentou ainda mais a dor lançando um horroroso
segundo disco-solo, Mysterio.
O único "mistério"
era saber como Ian podia ter decaído tanto a ponto de lançar
algo tão ruim. Nem uma cover de "Lover Lover Lover",
de Leonard Cohen, o ajudou.
Ian
se recorda desses dias com muita dor.
Sem os antigos companheiros,
bebendo cada vez mais e vendo sua inspiração sumindo
de vez, o cantor conta que muitas vezes era sua família
as únicas pessoas que acreditavam nele, quando nem ele
achava mais possível uma volta.
O tempo, no entanto, foi
aproximando Will e Ian. Bons amigos e ótimos inimigos,
os dois começaram a conversar em 1993. Ian não o
perdoava pela aventura com Noel Burke e Will queria reativar a
parceria. Mas o Echo não existia mais.
A
saída foi reativar a banda em um novo projeto, Electrafixion.
Enquanto a gravadora lançava mais uma coletânea,
chamada The Cutter, com três músicas
gravadas ao vivo na Suécia.
A coletânea, era
apenas uma forma de ganhar uns trocados a mais e, em novembro
de 1994, o Electrafixion debuta com o inspirado compacto Zephyr.
O compacto mostrava uma
banda barulhenta, cheia de tesão, com Ian cantando alguns
tons mais baixos, mas com muita disposição. Enquanto
isso, Will tocava seus estranhos projetos-solos, sendo o Glide,
seu mais novo filho.
Em
setembro de 1995, a banda lança seu único disco,
Burned, um excelente trabalho, mostrando que
os dois ainda tinham muita lenha para queimar.
O disco recebeu elogios
rasgados dizendo que o Electrafixion tinha muito a ensinar às
novas bandas britânicas que brigavam pelo topo da parada
e que Will e Ian haviam voltando em grande forma.
Muitos viram uma influência
do Nirvana e disseram que o grupo fazia um grunge à moda
inglesa! Havia também uma história até hoje
mal explicada.
E tem mais: Ian jura que
duas canções - "Lowdown" e "Too Far
Gone" nasceu de um projeto que ele gravou com Johnny Marr,
ex-Smiths e que foram perdidas, pois as fitas foram roubadas de
sua van! Verdade ou mentira, o que restou foi uma canção
dos dois que acabaria virando o tema da Seleção
Inglesa para a Copa de 1998 - "How Does It Feel (To be on
Top of the World)" - que tanto embaraço causou a Ian
por ter sido gravada com as Spice Girls! Uma bela salada, hein?
No
entanto, uma perguntava, restava: "Seria ainda possível
a volta do Echo?"
A resposta foi sim. A primeira
providência foi resgatar o baixista Les Pattinson afastado
da música desde o final do grupo e que vivia da construção
de barcos, seu hobby.
Les tocava apenas ocasionalmente
e chegou a participar de um disco solo de Terry Hall, ex-vocalista
dos Specials. Mas como seria a volta?
Ótima. Enquanto
a gravadora lançava outra coletânea oportunista,
Ballyhoo, o novo grupo preparava a volta em grande
estilo.
Em 16 de junho de 1997,
o grupo lança novo compacto após quase 10 anos,
Nothing Lasts Forever. A canção
fez um estrondoso sucesso, chegando ao oitavo posto nas paradas,
contendo Noel Gallagher, do Oasis, nos vocais de apoio. Ao que
parece, Noel insistiu muito para sua participação.
O
grupo até viajou para o Marrocos onde gravou um vídeo
com muito estilo. No dia 24 de junho, é lançado
uma segunda parte do single, com outras faixas.
Em julho de 1997, é
lançado o disco Evergreen, após
10 anos. O título, algo como "sempre vivo", traz
a banda como trio e músicos convidados. Will disse que
o título é uma referência à tolerância
que se ganha com a idade e não aos tempos passados.
O disco renderia outros
compactos - I Want to be There (When You Come) e
Don't Let It Get You Down - e uma imensa turnê
mundial.
Ian
confessa que estava ansioso e nervoso com a volta, pois não
confiava muito em seu taco, e que só ficou mais calmo quando
sua esposa ouviu e aprovou as novas músicas, dizendo que
sabia que ele poderia voltar è velha forma.
Para comemorar, o grupo
começou a turnê no dia 14 de maio de 1997, em Liverpool
e que se estenderia até 29 de agosto de 1998, encerrando
no festival de Reading, ao lado dos Beastie Boys e Foo Fighters
e recebendo tratamento de estrelas.
Era a volta triunfal do
agora trio, mas que sofreria alguns abalos ao longo dos anos.
Mas isso é tema para outra coluna. Um abraço e até
a próxima.
Discografia
Crocodiles (1980)
Shine's So Hard (1981)
Heaven Up Here (1981)
Porcupíne (1983)
Ocean Rain (1984)
Songs to Learn and Sing (1985)
Echo & The Bunnymen (1987)
Reverberation (1990)
BBC Radio 1 In Concert (1992)
Evergreen (1997)
Ballyhoo (1997)
What Are You Going To Do With Your Life? (1999)
Flowers (2001)
Crystal Days 1979-1999 (2001)
Live In Liverpool (2002)
Siberia (2005)
Fillmore - San Francisco Ca 12/5/05 (2006)
House of Blues - West Hollywood Ca 12/6/05 (2006)
The Very Best of Echo & the Bunnymen - More Songs To Learn
& Sing (2006)
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