234 - Echo and the Bunnymen - Evergreen

Dez anos de intervalo entre as gravações. E um intervalo dos mais movimentados: um disco sem Ian e Pete; Ian se arriscando (e dando mal) em carreira-solo; a volta como Electrafixion e, finalmente, como Echo and the Bunnymen. A mágica era um pouco menos intensa, mas a beleza estava de volta. Só que ao invés de disputarem as paradas com os Smiths, a briga era com a nova geração, Oasis, Blur. E, mesmo assim, o Echo voltou em grande forma. Dez anos em uma coluna: prepare-se porque o que não falta é história.


capa do disco CandlelandQuando Ian McCulloch anunciou sua saída do Echo e logo após houve a morte do baterista Pete de Freitas, todos pensaram que a banda estava morta, certo? Errado.

Mesmo com tudo indicando o fim, Will Sergeant e Les Pattinson resolveram seguir a vida, para espanto dos fãs e raiva de Ian.

Enquanto o vocalista lançava o primeiro disco-solo, Candleland, com a presença de Liz Fraser, do Cocteau Twins, na faixa-título, o Echo anunciava que estava de volta com os obscuros Noel Burke nos vocais, Damon Reece na bateria e o roadie Jake Brockman efetivado como um quinto membro oficial.

Ian teve momentos fracos com o disco. Apesar do bom compacto "Proud to Fall", Ian se serviu de uma bandinha chamada Prodigal Sons, mero xerox do Echo. O disco até chegou a ficar entre as 20 mais no Reino Unido - 18ª posição para ser mais exato -, mas era óbvio que Ian estava fazendo o disco mais para mostrar que estava vivo do que outra coisa. A morte do pai, o alto consumo de bebidas e drogas estava minando completamente sua criatividade e sua voz.

capa do disco ReverberationNão menos feliz, e até pior, foi a volta do Echo. Especula-se que Will quis retornar o grupo para se vingar de Ian, que deixou o quarteto sem um aviso prévio. O fato é que o disco lançado, Reverberation, foi um fiasco total.

Noel, ex-integrante do St. Vitu's Dance, não conseguia dar o mesmo glamour de Ian e o grupo entrou numa produção estranhíssima e fadado ao fracasso. Ironicamente, uma das canções de trabalho, tinha um título bem apropriado - "Prove Me Wrong".

Enquanto Ian fazia shows na América e Europa com os Prodigal Sons e fechava as apresentações com "The Killing Moon", levando os fãs ao choro convulsivo, Noel Burke levava os fãs ao desespero em shows, mas por destruir os clássicos da banda.

Echo com Noel BurkeEssa fase é tão obscura e mal-sucedida, que para se ter uma idéia, quando a banda retornou anos depois, Ian simplesmente fez questão de apagar todos os registros com essa formação, como se nunca tivesse acontecido.

Ele, por exemplo, vetou qualquer canção dessa época na caixa Crystal Days 1979-1999.

Esse é um dos motivos que a única foto que consegui do Echo com Noel seja um fotograma dele em um vídeo. É simplesmente impossível encontrar alguma coisa. Minha única relíquia, uma matéria do NME, ao vivo de 1991 com uma foto dele, se perdeu no tempo.

Desesperada, a banda até abriu mão de tocar clássicos antigos para não aumentar a raiva dos fãs, optando por músicas novas e covers como "2000 Light Years From Home", dos Stones, o que só aumentava os protestos. Definitivamente, não foi um bom período, aqueles que compreenderam os anos de 1991 a 1993.

capa do disco BBC Radio One - Live In ConcertEnquanto isso, era lançado de maneira semi-oficial, um disco ao vivo chamado BBC Radio One - Live In Concert, com a formação clássica, porém, em uma apresentação pouco inspirada, gravada no dia 11 de janeiro de 1988, em Liverpool.

Mas fase ruim nunca vem sozinha e Ian aumentou ainda mais a dor lançando um horroroso segundo disco-solo, Mysterio.

O único "mistério" era saber como Ian podia ter decaído tanto a ponto de lançar algo tão ruim. Nem uma cover de "Lover Lover Lover", de Leonard Cohen, o ajudou.

capa do disco MysterioIan se recorda desses dias com muita dor.

Sem os antigos companheiros, bebendo cada vez mais e vendo sua inspiração sumindo de vez, o cantor conta que muitas vezes era sua família as únicas pessoas que acreditavam nele, quando nem ele achava mais possível uma volta.

O tempo, no entanto, foi aproximando Will e Ian. Bons amigos e ótimos inimigos, os dois começaram a conversar em 1993. Ian não o perdoava pela aventura com Noel Burke e Will queria reativar a parceria. Mas o Echo não existia mais.

capa da coletânea The CutterA saída foi reativar a banda em um novo projeto, Electrafixion. Enquanto a gravadora lançava mais uma coletânea, chamada The Cutter, com três músicas gravadas ao vivo na Suécia.

A coletânea, era apenas uma forma de ganhar uns trocados a mais e, em novembro de 1994, o Electrafixion debuta com o inspirado compacto Zephyr.

O compacto mostrava uma banda barulhenta, cheia de tesão, com Ian cantando alguns tons mais baixos, mas com muita disposição. Enquanto isso, Will tocava seus estranhos projetos-solos, sendo o Glide, seu mais novo filho.

capa do disco BurnedEm setembro de 1995, a banda lança seu único disco, Burned, um excelente trabalho, mostrando que os dois ainda tinham muita lenha para queimar.

O disco recebeu elogios rasgados dizendo que o Electrafixion tinha muito a ensinar às novas bandas britânicas que brigavam pelo topo da parada e que Will e Ian haviam voltando em grande forma.

Muitos viram uma influência do Nirvana e disseram que o grupo fazia um grunge à moda inglesa! Havia também uma história até hoje mal explicada.

E tem mais: Ian jura que duas canções - "Lowdown" e "Too Far Gone" nasceu de um projeto que ele gravou com Johnny Marr, ex-Smiths e que foram perdidas, pois as fitas foram roubadas de sua van! Verdade ou mentira, o que restou foi uma canção dos dois que acabaria virando o tema da Seleção Inglesa para a Copa de 1998 - "How Does It Feel (To be on Top of the World)" - que tanto embaraço causou a Ian por ter sido gravada com as Spice Girls! Uma bela salada, hein?

capa da coletânea BallyhooNo entanto, uma perguntava, restava: "Seria ainda possível a volta do Echo?"

A resposta foi sim. A primeira providência foi resgatar o baixista Les Pattinson afastado da música desde o final do grupo e que vivia da construção de barcos, seu hobby.

Les tocava apenas ocasionalmente e chegou a participar de um disco solo de Terry Hall, ex-vocalista dos Specials. Mas como seria a volta?

Ótima. Enquanto a gravadora lançava outra coletânea oportunista, Ballyhoo, o novo grupo preparava a volta em grande estilo.

Em 16 de junho de 1997, o grupo lança novo compacto após quase 10 anos, Nothing Lasts Forever. A canção fez um estrondoso sucesso, chegando ao oitavo posto nas paradas, contendo Noel Gallagher, do Oasis, nos vocais de apoio. Ao que parece, Noel insistiu muito para sua participação.

O grupo até viajou para o Marrocos onde gravou um vídeo com muito estilo. No dia 24 de junho, é lançado uma segunda parte do single, com outras faixas.

Em julho de 1997, é lançado o disco Evergreen, após 10 anos. O título, algo como "sempre vivo", traz a banda como trio e músicos convidados. Will disse que o título é uma referência à tolerância que se ganha com a idade e não aos tempos passados.

O disco renderia outros compactos - I Want to be There (When You Come) e Don't Let It Get You Down - e uma imensa turnê mundial.

Ian confessa que estava ansioso e nervoso com a volta, pois não confiava muito em seu taco, e que só ficou mais calmo quando sua esposa ouviu e aprovou as novas músicas, dizendo que sabia que ele poderia voltar è velha forma.

Para comemorar, o grupo começou a turnê no dia 14 de maio de 1997, em Liverpool e que se estenderia até 29 de agosto de 1998, encerrando no festival de Reading, ao lado dos Beastie Boys e Foo Fighters e recebendo tratamento de estrelas.

Era a volta triunfal do agora trio, mas que sofreria alguns abalos ao longo dos anos. Mas isso é tema para outra coluna. Um abraço e até a próxima.

Discografia

Crocodiles (1980)
Shine's So Hard (1981)
Heaven Up Here (1981)
Porcupíne (1983)
Ocean Rain (1984)
Songs to Learn and Sing (1985)
Echo & The Bunnymen (1987)
Reverberation (1990)
BBC Radio 1 In Concert (1992)
Evergreen (1997)
Ballyhoo (1997)
What Are You Going To Do With Your Life? (1999)
Flowers (2001)
Crystal Days 1979-1999 (2001)
Live In Liverpool (2002)
Siberia (2005)
Fillmore - San Francisco Ca 12/5/05 (2006)
House of Blues - West Hollywood Ca 12/6/05 (2006)
The Very Best of Echo & the Bunnymen - More Songs To Learn & Sing (2006)


 

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