Edgard já
era um músico conhecido e respeitado quando resolveu seguir
os passos do ídolo Pete Townshend e começar uma
carreira-solo paralela a do Ira! E, assim como Pete, lançou
um exepcional disco do estréia, mostrando que tinha muito
talento e que poderia viver perfeitamente sem o grupo, no futuro.
Amigos Invisíveis é a prova de que Edgard era um
dos nomes mais importantes do pop e rock brasileiro dos anos 80
e 90.
Após
a fraca repercussão do excelente e ousado Psicoacústica,
em 1988, Edgard se trancou novamente no estúdio Nas Nuvens,
no Rio de Janeiro, com os engenheiros Paulo Junqueiro e Mauro
Bianchi para gravar o primeiro disco-solo. Edgard tinha reservado
algumas composições que, segundo ele, não
casaria muito com o Ira!
Nasi resumiu de maneira
brilhante a diferença entre os dois primeiros álbuns
do Ira! e o período de Psicoacústica.
Segundo ele, os integrantes quase choravam ao ler as letras dos
dois primeiros discos feitas por Scandurra, por serem hinos à
juventude.
O terceiro, segundo ele,
já trazia uma banda mais madura, mais consciente da vida
adulta, com outros problemas e as letras refletiam as angústias
da época.
Todavia, Edgard continuava
a compor "hinos", especialmente ao filho recém-nascido
Daniel, que foi homenageado com uma foto na contra-capa e uma
faixa "Bem Vindo Daniel".
Isso, sem falar, que mesmo
antes de nascer, já era citado no disco Vivendo
e Não Aprendendo, do Ira!, de 1986, nas faixas
"Casa de Papel", e na letra de "Dias de Luta"
("se meu filho nem nasceu / eu ainda sou o filho...")
Edgard
tinha se inspirado no eterno líder do The Who, autor de
vários discos-solos nas décadas de 70 e 80 enquanto
o The Who era uma das grandes estrelas do planeta.
Pete tinha optado por lançar,
nesses álbuns, canções bem mais pessoais
do que eram destinadas à banda.
Segundo Roger Daltrey,
apesar de excelentes, elas eram tão íntimas que
se sentia desconfortável em cantá-las. Assim, Pete
brindou os fãs com álbuns personalíssimos.
E,
de certa forma, Edgard se inspirou na idéia, indo mais
longe: com exceção do teclado em "Abraços
e Brigas", cortesia da esposa Taciana Barros, Edgard tocou
todos os instrumentos.
Assim, Edgar (guitarra
solo, guitarras base, guitarra 12 cordas, violão espanhol,
contra-baixo Hofner, órgão elétrico, sintetizadores,
violino pícolo, metalofone, voz, vocais, percussão
e bateria) se empenhou de corpo e alma ao projeto.
Batizado de Amigos
Invisíveis, Edgard disseca a paixão pelas
histórias em quadrinhos, relacionamento, fala do rebento,
faz um releitura do clássico do Ira! ("Gritos na Multidão")
e outra do Who ("Our Love Was", a única que teve
Bianchi como engenheiro).
Aliás, em "Our
Love Was", Edgard coloca trechos do início de Quadrophenia,
primeiro disco que ouviu da banda, aos 13 anos, e grande paixão.
A faixa originalmente está no disco The Who Sell
Out, de 1967.
Mais pessoal, impossível.
O
disco abre com a instrumental "Estamos Nesse Trem".
Segue por "Amor em
B.D", até chegar à empolgante "Minha Mente
Ainda É A Mesma": ("Ainda me lembro dos meus
tempos de esperança / Daquelas noites que passava sem dormir
/ Poder chorar, gritar, cuspir na sua comida / O tempo já
mudou..."). Edgard mostra um excelente apuro como produtor
na faixa, criando um clima positivo, emotivo e tocando como poucas
vezes fizera com o Ira!, desnudando-se.
A próxima faixa
recebeu uma releitura do Ira! no disco Isso É Amor
(1999), "Abraços e Brigas". Escrita com a esposa
Taciana Barros, traz uma versão mais intimista do que no
álbum com seu ex-grupo.
Edgard faz uma versão
quase acústica - algo impensável - para a raivosa
e visceral "Gritos na Multidão" - e abusa das
faixas instrumentais: além de "Estamos Nesse Trem",
há "Quero Voltar Pra Casa", "Amigos Invisíveis",
"1978" e "Bem Vindo Daniel".
Edgard não só
queria voltar pra casa, como estava em casa, falando de seus sonhos
e esperanças.
O álbum trazia as
seguintes faixas:
Lado A
1. Estamos Nesse Trem
2. Amor em B.D.
3. Minha Mente Ainda é a Mesma
4. Abraços e Brigas
5. Gritos na Multidão
6. Quero Voltar Pra Casa
7. Our Love Was
Lado B
1. Amigos
Invisíveis
2. 1978
3. Culto de Amor
4. Bem Vindo Daniel
5. Vou Me Entregar Como Nunca
Ao ser lançado em Cd, em 2000,
ganhou mais duas faixas:
13. Minha Mente Ainda é a Mesma
(monitor mix)
14. Estamos Nesse Trem (monitor mix)
O disco teve excelente
repercussão junto à crítica, apesar das vendagens
poucas expressivas. O problema, porém, veio depois. Após
ficar meses cuidando do disco, Edgard teve que voltar às
pressas com a banda para gravar um novo LP.
Exausto
da maratona, por ter feito alguns shows promocionais e sem tempo
para escrever novas músicas, é lançado Clandestino,
disco que deixa uma sensação de ter sido feito de
forma apressada e sem muito esmero.
Apesar do sucesso radiofônico,
"Tarde Vazia", Clandestino teve que
utilizar várias canções antigas de Edgard
("Nasci Em 62", "O Dia, A Semana, O Mês)
para pode ser editado. Se isso foi importante para "esvaziar
o baú", nas palavras do próprio Edgard, deixou
fãs e críticas insatisfeitos, e criando desconforto
interno.
O disco trazia as seguintes
faixas:
Lado A
1. Melissa
2. Tarde Vazia
3. Efeito Bumerangue
4. Boneca de Cera
5. Cabeças Quentes
Lado B
1. O Dia, A Semana, O Mês
2. Patroa
3. Consciência Limpa
4. Clandestino
5. Nasci Em 62
Edgard só voltaria
a carreira-solo em 1996, com Benzina, um disco
mais eletrônico, estilo que abraçou até hoje.
Apesar de ser pouco lembrado,
Amigos Invisíveis é um dos tesouros
perdidos da década de 80. Pena que já está
fora de catálogo e muito dificilmente de ser achado. A
solução é apelar para alguns blogs especializados
em anos 80 e curtir essa obra-prima.
Um abraço e até
a próxima coluna.
Discografia
Amigos Invisíveis
(1989)
Benzina (1996)
Dream Pop (2003)
Benzina Remixes (2004)
Amor Incondicional (2007)
|