11 - Hamfatter - entrevista

 

Às vezes falar com grupos desconhecidos pode ser uma tarefa ingrata, especialmente se tudo o que você tem nas mãos é apenas um disco. E, confesso, tenho uma certa dificuldade em comentar álbuns, porque muitas vezes ninguém concorda comigo. Cansei de comentar algo e ver gente me olhar com um olhar estranho perguntando "como?" e fico sem jeito. E é ainda pior quando comento um disco de alguma banda que depois peço uma entrevista. Muitas vezes me respondem "você achou isso? bem, não sei, pode ser, mas minha idéia era tal...". Acaba sendo frustrante. Mas a internet está aí para ajudar e boa parte dos grupos possuem um site com informações que pode quebrar um verdadeiro galho. Eu gosto de entrar nesses endereços - geralmente bem melhores do que os oficiais de grandes bandas. Ao menos, são mais descontraídos - e fuçar, ver o que escrevem os integrantes e os fãs.

O Hamfatter veio na leva que a Pinkhedgehog me mandou e tentei ler alguma coisa sobre eles antes de resenhar o disco, que gostei bastante. E aí, pedi uma entrevista, na famosa cara-de-pau tupiniquim. É claro que toparam, porque devem ter imaginado se alguém aqui no Brasil ouve rock, ainda mais uma banda tão pouca famosa. Pedi uma entrevista para o líder Eoin, que adorou a idéia, mas demorou para enviar as respostas, dizendo que todos os integrantes iriam responder as perguntas. "Tá bom", pensei, "esqueceu de respondê-las e está culpando os outros membros." Pois não é que todos eles mesmos responderam às perguntas e ainda fizeram perguntas entre si, como se fosse um bate-papo descontraído? Por isso, mantive a palavra "risos" que eles escreveram no texto, imaginando que deviam estar se divertindo com as perguntas ou tirando sarro das mesmas.

Ficou bem bacana, mas lamento ter esquecido de fazer uma pergunta a eles. Aliás, minto, eu não esqueci. É que eles não iam entender mesmo. Eu quero saber até hoje o que o Supla faz no alto da página inicial deles. Será que se eu usar "palavras- chaves" como Suplicy, Nina Hagen, CPI e Botox eles entenderão?


Pergunta: - Como nasceu o grupo?
Eoin (Cantor, baixista e tecladista):
– É um pouco complicado. A primeira versão do Hamfatter era composta por mim e dois outros caras que não estão mais conosco. Fizemos shows mais ou menos por seis meses, até que o guitarrista machucou sua mão e não podia mais tocar, deixando o grupo. Eu e o baterista acabamos nos separando por diferenças criativas. Foi quando Jimbo apareceu.
Jimbo (Guitarra e voz): – É verdade, eu já tinha tocado com o Big O (é como eu chamo Eoin) algumas vezes antes de entrar no Hamfatter. Estávamos em uma banda há dois anos quando ele me convidou para fazer parte da banda. Não, não, espere aí, eu entrei primeiro como baterista. Tocamos seis meses e resolvi virar guitarrista quando Mark entrou para o grupo.
Mark (Bateria): - Eu costumava ir aos shows do Hamfatter e tocava em uma banda chamada TASH, que abria as apresentações deles. Me juntei ao Hamfatter quando o TASH se separou.
Emilie (Cantora): – Eu era uma fã do Hamfatter também e fui a todos shows deles durante um ano e me juntei ao grupo pouco meses depois do Mark porque eles me ouviram cantar e me convidaram para participar de uma apresentação. Eu cantei realmente bem e virei a cantora do grupo.

EoinPergunta: - De onde vem o nome do grupo?
Eoin:
– É realmente uma palavra obscura, que ninguém conhece, mesmo na Inglaterra. Seu significado é bem curioso. A palavra é usada para aqueles músicos de terceira catergoria que viajam tocando, mas que são tão ruins que não conseguem dinheiro e acabam sendo pagos com comida. Eu a encontrei em um dicionário um dia quando estava fazendo palavras cruzadas. Bem rock and roll!

capa do disco FireworksPergunta: - Ao ouvir seu disco eu percebi influências de Belle & Sebastian, Ben Folds Five e Violent Femmes. Vocês concordam comigo?
Jimbo:
– Possivelmente. Não conheço muito esses grupos para opinar sobre isso.
Emilie: – Er, sim. Eu ainda não ouvi Violent Femmes, mas concordo que somos influenciados pelas outras duas bandas que você citou. Eu realmente gosto de Ben Folds Five.
Mark: – Bem, meu estilo de bateria é realmente influenciado pelos Beatles.
Jimbo: – É verdade, Mark realmente ama essas bandas obscuras. Pessoalmente, eu gosto de ouvir o que Eoin toca.
Eoin: - Eu não concordo. Eu gosto dessas bandas, mas não quer dizer que me influenciaram. Algumas coisas eu realmente gostei, mas é como qualquer outra banda que se ouve por aí. É como Britney Spears. Ela escreveu grandes melodias antes de se vender para uma grande gravadora.

EmiliePergunta: - "John Peel (On My Phone)" foi escrito um ano antes da morte do radialista, certo? Vocês eram fãs dele?
Eoin: - Ele me telefonou uma vez dizendo que teve que esperar séculos para ouvir minha demo porque o pessoal da segurança da BBC estava checando todos os pacotes que chegavam com medo de encontrar bombas ou armas químicas. Não sei realmente o motivo.
Mark: – Eu ouvia seu programa direto, mas acho que ela era um pouquinho melhor no início de sua carreira, quando ele tocava as bandas que ele realmente curtia.
Emilie: – Sim, ele fez grandes coisas e patrocinou realmente muitas bandas boas, até ficar velho e bastante irritado. Mas mesmo assim ficava procurando as bandas de dance music estranhas para tocar em seu show.
Eoin: – Era o que eu gostava dele. Uma vez ouvi ele tocar um disco de 45 rpm em 33 rpm, porque ele preferia a música dessa maneira.
Jimbo: - Eu vou ser honesto: Eu amava esse cara e ouvia sempre seu programa.

JimboPergunta: - Vocês sentem afinidade com a cena atual? Como vocês descreveriam o som do Hamfatter?
Jimbo:
– Nós fazemos um som meio Pop, Rock, Folk com um pouco de Bossa Nova...
Emilie: – e um Indie-Pop, Blues, Ska com Piano Chansons…
Eoin: – E também world music..
Jimbo: - e jazz… (risos)
Eoin: – e Hip-Hop… (risos)
Jimbo: – E um pouco de drum'n'bass, claro. (risos gerais)
Eoin: – Falando sério, gostamos de imaginar que podemos oferecer um pouco de cada coisa. Gostamos muito de alternar estilos e o público nunca saberá o que virá a seguir.
Jimbo: – Acho que muitas bandas são muito sérias com o que tocam, tipo você precisa se sentir triste e miserável para fazer boa música. Não gosto disso.
Mark: – Tocamos música alegre para fazer pessoas alegres. E para pessoas tristes, também..
Eoin: – No Strawberry Fair (um festival musica que tem uma vez por ano em Cambridge) existem várias pessoas com aquele olhar triste, meio gótico em nossa audiência e que se tornam felizes com o que tocamos.
Emilie: – E todos vestem casacos coloridos e todos são bem legais com seus pais. Eles até os ajudam com as compras.

Pergunta: - O que vocês conhecem de música brasileira, além da Bossa Nova?
Eoin: – Eu sou mais fã da Bossa Velha. Sou bem conservador.
Jimbo:
– Lambada! Alguém se lembra ainda disso? Você conhece alguém que faz aí no Brasil o mesmo som que Paul Simon gravou em Rhythm of the Saints? Se alguém que ler essa entrevista souber, por favor nos avise!
Eoin: – Eu amo samba. Eu costumava tocar um pouco, mas em um instrumento do qual não me lembro o nome. Era gogo? (Não, Eoin é agogô...). Imagino que você já tenha ouvido o samba inglês e o considera uma verdadeira porcaria.

MarkPergunta: - Poderiam me dizer seus discos favoritos e cinco artistas prediletos?
Mark:
– Cinco? Er, eu poderia citar vários ok?
Emilie: – Santeria (uma banda de Cambridge) – "Silver Locket" e "In All Honesty", a versão de "Killing Me Softly", dos The Fugees…
Jimbo: - Nizlopi, com que tocamos algumas semanas atrás. Eles são fantásticos. E a canção do The Streets, "A Grand Don’t Come for Free"…
Mark: – Qualquer coisa dos Beatles e "Some Might Say", do Oasis…
Eoin: – Qualquer coisa de Scott Walker, e também qualquer coisa de Jacques Brel (ele é brilhante!), The Violent Femmes. "Fairytale of New York", dos The Pogues. E o disco Liberation do The Divine Comedy é genial.

tocando no Cavern ClubPergunta: - O que acham da atual cena roqueira?
Jimbo: – Eu não sei muito sobre a cena rock no BrasilI, mas se você pensar aqui em termos de Inglaterra e descartando essas bandas que fazem canções no formato Top of the Pops, podemos encontrar boas bandas, como The Kaiser Chiefs, The Killers, que é um dos grandes nomes da cena indie, apesar de serem americanos.
Mark: – Eles estavam muito bem no festival de Glastonbury.
Emilie: - Você foi ao Glastonbury, Mark?
Mark: – Não, mas os vi na televisão. Em minha opinião, a atual cena é realment boa, muito melhor do que nos anos 90, quando só tínhamos dois bons grupos, Oasis e Stereophonics.
Todos:
– O que? Isso é um absurdo!
Emilie: – O que você me diz do Pulp?
Eoin: – E o Blur, e os Cardigans?
Jimbo: – E o Bon Jovi?
Mark:
– OK, ok, eu retiro o que eu disse. Mas hoje temos bandas melhores.
Eoin: – Eu direi o que penso. Há realmente grandes bandas na área de Cambridge. E se existem grandes bandas em todas as cidades da Grã-Bretanha, eu não entendo porque as paradas não podem ser totalmente preenchidas com esses sons.

Pergunta: - Para encerrar: deixem uma mensagem para os futuros fãs...
Emilie: – Obrigado por nos ouvirem. Esperamos vê-los em breve. Muitos beijos do Hamfatter.

Discografia

Ham-fat'er (2002)
You May' (2003)
Fireworks (2003)
Girls in Graz (2005)