Às
vezes falar com grupos desconhecidos pode ser uma tarefa ingrata,
especialmente se tudo o que você tem nas mãos é
apenas um disco. E, confesso, tenho uma certa dificuldade em comentar
álbuns, porque muitas vezes ninguém concorda comigo.
Cansei de comentar algo e ver gente me olhar com um olhar estranho
perguntando "como?" e fico sem jeito. E é ainda
pior quando comento um disco de alguma banda que depois peço
uma entrevista. Muitas vezes me respondem "você achou
isso? bem, não sei, pode ser, mas minha idéia era
tal...". Acaba sendo frustrante. Mas a internet está
aí para ajudar e boa parte dos grupos possuem um site
com informações que pode quebrar um verdadeiro galho.
Eu gosto de entrar nesses endereços - geralmente bem melhores
do que os oficiais de grandes bandas. Ao menos, são mais
descontraídos - e fuçar, ver o que escrevem os integrantes
e os fãs.
O Hamfatter veio
na leva que a Pinkhedgehog me mandou e tentei ler alguma coisa
sobre eles antes de resenhar o disco, que gostei bastante. E aí,
pedi uma entrevista, na famosa cara-de-pau tupiniquim. É
claro que toparam, porque devem ter imaginado se alguém
aqui no Brasil ouve rock, ainda mais uma banda tão pouca
famosa. Pedi uma entrevista para o líder Eoin, que adorou
a idéia, mas demorou para enviar as respostas, dizendo
que todos os integrantes iriam responder as perguntas. "Tá
bom", pensei, "esqueceu de respondê-las e está
culpando os outros membros." Pois não é que
todos eles mesmos responderam às perguntas e ainda fizeram
perguntas entre si, como se fosse um bate-papo descontraído?
Por isso, mantive a palavra "risos" que eles escreveram
no texto, imaginando que deviam estar se divertindo com as perguntas
ou tirando sarro das mesmas.
Ficou bem bacana,
mas lamento ter esquecido de fazer uma pergunta a eles. Aliás,
minto, eu não esqueci. É que eles não iam
entender mesmo. Eu quero saber até hoje o que o Supla faz
no alto da página inicial deles. Será que se eu
usar "palavras- chaves" como Suplicy, Nina Hagen, CPI
e Botox eles entenderão?
Pergunta:
- Como nasceu o grupo?
Eoin (Cantor, baixista e tecladista): – É
um pouco complicado. A primeira versão do Hamfatter era
composta por mim e dois outros caras que não estão
mais conosco. Fizemos shows mais ou menos por seis meses, até
que o guitarrista machucou sua mão e não podia mais
tocar, deixando o grupo. Eu e o baterista acabamos nos separando
por diferenças criativas. Foi quando Jimbo apareceu.
Jimbo (Guitarra e voz): – É verdade,
eu já tinha tocado com o Big O (é como eu chamo
Eoin) algumas vezes antes de entrar no Hamfatter. Estávamos
em uma banda há dois anos quando ele me convidou para fazer
parte da banda. Não, não, espere aí, eu entrei
primeiro como baterista. Tocamos seis meses e resolvi virar guitarrista
quando Mark entrou para o grupo.
Mark (Bateria): - Eu costumava ir aos shows do
Hamfatter e tocava em uma banda chamada TASH, que abria as apresentações
deles. Me juntei ao Hamfatter quando o TASH se separou.
Emilie (Cantora): – Eu era uma fã
do Hamfatter também e fui a todos shows deles durante um
ano e me juntei ao grupo pouco meses depois do Mark porque eles
me ouviram cantar e me convidaram para participar de uma apresentação.
Eu cantei realmente bem e virei a cantora do grupo.
Pergunta:
- De onde vem o nome do grupo?
Eoin: – É realmente uma palavra obscura,
que ninguém conhece, mesmo na Inglaterra. Seu significado
é bem curioso. A palavra é usada para aqueles músicos
de terceira catergoria que viajam tocando, mas que são
tão ruins que não conseguem dinheiro e acabam sendo
pagos com comida. Eu a encontrei em um dicionário um dia
quando estava fazendo palavras cruzadas. Bem rock and roll!
Pergunta:
- Ao ouvir seu disco eu percebi influências de Belle
& Sebastian, Ben Folds Five e Violent Femmes. Vocês
concordam comigo?
Jimbo: – Possivelmente. Não conheço
muito esses grupos para opinar sobre isso.
Emilie: – Er, sim. Eu ainda não
ouvi Violent Femmes, mas concordo que somos influenciados pelas
outras duas bandas que você citou. Eu realmente gosto de
Ben Folds Five.
Mark: – Bem, meu estilo de bateria é
realmente influenciado pelos Beatles.
Jimbo: – É verdade, Mark realmente
ama essas bandas obscuras. Pessoalmente, eu gosto de ouvir o que
Eoin toca.
Eoin: - Eu não concordo. Eu gosto dessas
bandas, mas não quer dizer que me influenciaram. Algumas
coisas eu realmente gostei, mas é como qualquer outra banda
que se ouve por aí. É como Britney Spears. Ela escreveu
grandes melodias antes de se vender para uma grande gravadora.
Pergunta:
- "John Peel (On My Phone)" foi escrito um ano antes
da morte do radialista, certo? Vocês eram fãs dele?
Eoin: - Ele me telefonou uma vez dizendo que
teve que esperar séculos para ouvir minha demo porque o
pessoal da segurança da BBC estava checando todos os pacotes
que chegavam com medo de encontrar bombas ou armas químicas.
Não sei realmente o motivo.
Mark: – Eu ouvia seu programa direto, mas
acho que ela era um pouquinho melhor no início de sua carreira,
quando ele tocava as bandas que ele realmente curtia.
Emilie: – Sim, ele fez grandes coisas e
patrocinou realmente muitas bandas boas, até ficar velho
e bastante irritado. Mas mesmo assim ficava procurando as bandas
de dance music estranhas para tocar em seu show.
Eoin: – Era o que eu gostava dele. Uma
vez ouvi ele tocar um disco de 45 rpm em 33 rpm, porque ele preferia
a música dessa maneira.
Jimbo: - Eu vou ser honesto: Eu amava esse cara
e ouvia sempre seu programa.
Pergunta:
- Vocês sentem afinidade com a cena atual? Como vocês
descreveriam o som do Hamfatter?
Jimbo: – Nós fazemos um som meio Pop, Rock,
Folk com um pouco de Bossa Nova...
Emilie: – e um Indie-Pop, Blues, Ska com
Piano Chansons…
Eoin: – E também world music..
Jimbo: - e jazz… (risos)
Eoin: – e Hip-Hop… (risos)
Jimbo: – E um pouco de drum'n'bass, claro.
(risos gerais)
Eoin: – Falando sério, gostamos
de imaginar que podemos oferecer um pouco de cada coisa. Gostamos
muito de alternar estilos e o público nunca saberá
o que virá a seguir.
Jimbo: – Acho que muitas bandas são
muito sérias com o que tocam, tipo você precisa se
sentir triste e miserável para fazer boa música.
Não gosto disso.
Mark: – Tocamos música alegre para
fazer pessoas alegres. E para pessoas tristes, também..
Eoin: – No Strawberry Fair (um festival
musica que tem uma vez por ano em Cambridge) existem várias
pessoas com aquele olhar triste, meio gótico em nossa audiência
e que se tornam felizes com o que tocamos.
Emilie: – E todos vestem casacos coloridos
e todos são bem legais com seus pais. Eles até os
ajudam com as compras.
Pergunta: - O que
vocês conhecem de música brasileira, além
da Bossa Nova?
Eoin: – Eu sou mais fã da Bossa
Velha. Sou bem conservador.
Jimbo: – Lambada! Alguém se lembra ainda
disso? Você conhece alguém que faz aí no Brasil
o mesmo som que Paul Simon gravou em Rhythm of the Saints?
Se alguém que ler essa entrevista souber, por favor nos
avise!
Eoin: – Eu amo samba. Eu costumava tocar
um pouco, mas em um instrumento do qual não me lembro o
nome. Era gogo? (Não, Eoin é agogô...).
Imagino que você já tenha ouvido o samba inglês
e o considera uma verdadeira porcaria.
Pergunta:
- Poderiam me dizer seus discos favoritos e cinco artistas prediletos?
Mark: – Cinco? Er, eu poderia citar vários
ok?
Emilie: – Santeria (uma banda de Cambridge)
– "Silver Locket" e "In All Honesty",
a versão de "Killing Me Softly", dos The Fugees…
Jimbo: - Nizlopi, com que tocamos algumas semanas
atrás. Eles são fantásticos. E a canção
do The Streets, "A Grand Don’t Come for Free"…
Mark: – Qualquer coisa dos Beatles e "Some
Might Say", do Oasis…
Eoin: – Qualquer coisa de Scott Walker,
e também qualquer coisa de Jacques Brel (ele é brilhante!),
The Violent Femmes. "Fairytale of New York", dos The
Pogues. E o disco Liberation do The Divine Comedy
é genial.
Pergunta:
- O que acham da atual cena roqueira?
Jimbo: – Eu não sei muito sobre
a cena rock no BrasilI, mas se você pensar aqui em termos
de Inglaterra e descartando essas bandas que fazem canções
no formato Top of the Pops, podemos encontrar boas bandas,
como The Kaiser Chiefs, The Killers, que é um dos grandes
nomes da cena indie, apesar de serem americanos.
Mark: – Eles estavam muito bem no festival
de Glastonbury.
Emilie: - Você foi ao Glastonbury, Mark?
Mark: – Não, mas os vi na televisão.
Em minha opinião, a atual cena é realment boa, muito
melhor do que nos anos 90, quando só tínhamos dois
bons grupos, Oasis e Stereophonics.
Todos: – O que? Isso é um absurdo!
Emilie: – O que você me diz do Pulp?
Eoin: – E o Blur, e os Cardigans?
Jimbo: – E o Bon Jovi?
Mark: – OK, ok, eu retiro o que eu disse. Mas hoje
temos bandas melhores.
Eoin: – Eu direi o que penso. Há
realmente grandes bandas na área de Cambridge. E se existem
grandes bandas em todas as cidades da Grã-Bretanha, eu
não entendo porque as paradas não podem ser totalmente
preenchidas com esses sons.
Pergunta: - Para
encerrar: deixem uma mensagem para os futuros fãs...
Emilie: – Obrigado por nos ouvirem. Esperamos
vê-los em breve. Muitos beijos do Hamfatter.
Discografia
Ham-fat'er (2002)
You May' (2003)
Fireworks (2003)
Girls in Graz (2005)
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