Ao lado do Can, o Faust foi uma das bandas alemãs mais interessantes já surgidas. Talvez ainda mais radical que eles, o Faust usou colagens de maneiras inusitadas, influenciados por Frank Zappa. Ao longo de quase 40 anos de carreira, deixaram um rastro de ótimos discos, muitas idéias e uma legião de fãs.

Tudo começou no longíquo ano de 1969, quando Werner "Zappi" Diermaier (bateria), Hans Joachim Irmler (teclados) e Arnold Meifert (percussão) tocavam em Campylognatus Citelli.

Em Hamburgo, fizeram amizade com mais três músicos do grupo Nukleus: Jean Herve Perón (baixo), Rudolf Sosna (guitarra) e Gunter Wuesthoff (saxofone). Nascia o Faust e com um mão do jornalista Uwe Nettelbeck, construíram um estúdio perto Wemme.

O grupo nada tinha de convencional para uma banda de rock. Seus temas eram estranhos ao meio da época, pois abordavam o lado escuro, o medo, o caos, o irracionalismo, surrealismo, mesclado com a influência de Kurt Weill e Bertolt Brecht, além de utilizarem música concreta, inspirado nas colagens feito por Frank Zappa.

O som era por demasiado repulsivo às paradas, mas o Faust construiu um culto "underground", digamos assim, e assim como o mestre norte-americano eram exímios críticos e adoravam fazer paródias ácidas e violentas. Eram considerados o lado pesado, negro e denso do rock progressivo, embora fossem mesmo um dos expoentes do "krautrock", termo cunhado pela imprensa inglesa no início dos anos 70, para designar os novos grupos germânicos.

Em 1971, assinam um contrato com a gravadora Polydor e lançam o primeiro disco, Faust. Nada mais natural que fosse um tremendo fiasco comercial, embora tenha recebidos elogios dos críticos e ganhassem fãs entusiasmados com as idéias. A versão original da capa trazia um vinil de cor clara com uma um raio de punho na capa, além de uma capa de plástica por cima com as letras escritas em vermelho. Faust, aliás, é punho, em alemão.

O disco trazia apenas três faixas e já mostrava toda a inovação que o sexteto alemão apresentava.

1. "Why Don't You Eat Carrots?" (Faust) – 9.31
2. "Meadow Meal" (Faust, Sosna) – 8.02
3. "Miss Fortune" (Faust) – 16.35

O segundo disco, Faust So Far trazia alguns elementos mais palatáveis ao grande público, com base mais tradicionais em rock.

Com nove faixas variando de dois a 10 minutos, o grupo tornava-se menos difícil, embora a popularidade não tenha aumentado muito.

Em 1973, o grupo assina com a Virgin, por intermédio de Richard Branson, que aposta em uma campanha ousada para conseguir boas vendagens ao grupo. Branson resolve lançar o novo disco ao irrisório preço de 48 pences, o mesmo de um compacto.

Dessa maneira nasce o terceiro álbum, Faust Tapes que sequer era um disco pensado, mas um conjunto de canções e gravações caseiras que não eram para terem sido lançadas.

Porém, calhou em se tornar o melhor álbum de toda a longa discografia da banda. O grupo conseguiu vender mais de 100 mil cópias, uma boa marca e no ano seguinte, Branson repetiu a idéia ao lançar Camembert Electrique do Gong, por 59 pences.

O disco trazia apenas duas faixas:

Lado A

1. "Untitled" – 22:37

Lado B

1. "Untitled" – 20:49

Mas elas foram quebradas em 26 pedaços quando saíram em CD, no ano de 2001.

1. "Exercise - With Several Hands on a Piano" (Faust) – 0:52
2. "Exercise - With Voices, Drum and Sax" (Faust) – 0:21
3. "Flashback Caruso" (Sosna) – 4:01
4. "Exercise - With Voices" (Faust) – 1:48
5. "J'ai Mal Aux Dents" (Sosna) – 7:14
6. "Untitled" (Faust) – 1:03
7. "Untitled (Arnulf and Zappi on drums)" (Faust) – 1:42
8. "Dr. Schwitters - Intro" (Faust) – 0:25
9. "Exercise (continues track 1)" (Faust) – 1:11
10. "Untitled" (Faust) – 1:18
11. "Untitled" (Faust) – 0:50
12. "Dr. Schwitters (Snippet)" (Faust) – 0:49
13. "Untitled (Arnulf on drums)" (Faust) – 1:03
14. "Untitled (Arnulf on drums)" (Faust) – 0:47
15. "Untitled (all on saxes)" (Faust) – 4:33
16. "Untitled" (Faust) – 2:18
17. "Untitled (Rudolf)" (Faust) – 0:34
18. "Untitled (Rudolf)" (Faust) – 0:51
19. "Untitled (Rudolf)" (Faust) – 1:15
20. "Untitled" (Faust) – 2:28
21. "Untitled" (Faust) – 0:20
22. "Untitled" (Faust) – 1:13
23. "Untitled" (Faust) – 0:59
24. "Stretch Out Time" (Sosna) – 1:35
25. "Der Baum" (Péron) – 3:49
26. "Chère Chambre" (Péron) – 3:07

No mesmo ano se juntam a Tony Conrad e lançam o experimental Outside the Dream Syndicate.

Em 1974 é o ano de grande disco, Faust IV. O álbum foi gravado no estúdio Manor, na Inglaterra, mas como as gravações se arrastavam o produtor Uwe Nettelbeck optou por utilizar material gravado em Wumme, sendo uma delas a curiosa "Sad Skinhead". O disco abre com uma faixa que homenageia o estilo "krautrock", com esse mesmo nome. Veja a letra de "Sad Skinhead"...

Apart from all the bad times you gave me
I always felt good with you
Going places, smashing faces
what else could we do?
Apart from all the good times I gave you
you always felt bad with me
Going places, smashing faces
what else could have happened to us?

Um detalhe: há uma edição antiga em CD em que as faixas estão com nomes e ordens trocados. Se for comprar, prefira a versão remasterizada lançada em 2006.

Após o lançamento, o grupo se separou, após a Virgin se recusar a lançar um quinto disco, que anos mais tarde receberia o título de Munich and Elsewhere. Na verdade, existe um Faust 5, mas não em vinil e sim em cassete. Após as gravações em Munique, Jochen Irmler e Rudolf Sosna iriam produzir um novo disco para a Virgin, que recusou. Mas, tempos depois surgiu um cassete promo com as gravações.

O grupo então parou e cada integrante foi para um lado até 1990, quando Irmler, Diermaier e Péron se reuniram para alguns shows. Em 1994, Péron and Diermaier tocaram, pela primeira vez, nos Estados Unidos, juntos com Steven Wray Lobdell. Em 10 de novembro de 1996, Perón anuncia que Sosna morreu.

Ainda em 1996, Diermaier e Péron conhecem Olivier Manchion and Amaury Cambuzat (Ulan Bator). Juntos, tocam pela primeira vez sob o nome "Collectif Met(z)" . Dias depois, como Faust se apresentam no Garage, em Londres e no Transmusicales de Rennes, com Chris Cutler.

Perón deixa a banda em 1997 e até 2004, o grupo sairá em excursão tendo Zappi W. Diermaier, Hans Joachim Irmler, Steven Wray Lobdell, Lars Paukstat, Michael Stoll.

A banda segue em extensa turnê pelo mundo com diversos lançamentos, mas perderam o querido amigo e produtor Uwe Nettelbeck, em 17 de janeiro de 2007.

Deixo vocês com a discografia do grupo. Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

Faust (1971)
Faust So Far (1972)
The Faust Tapes (1973)
Outside the Dream Syndicate (1973)
Faust IV (1974)
Faust 5 (1975)
Munich and Elsewhere (1986)
The Last LP: Faust Party No. 3, 1971-1972 (1988)
Faust Concerts, Volume 1: Live in Hamburg, 1990 (1994)
Faust Concerts, Volume 2: Live in London, 1992 (1994)
Rien (1995)
You Know FaUSt (1996)
BBC Sessions/Kisses for Pythagoras LP Lmt. Ed. (1996)
71 Minutes of Faust (1996)
Untitled (1996)
Edinburgh 1997
Faust Wakes Nosferatu (1998
Ravvivando (1999)
Faust/Faust So Far (2000)
The Wumme Years: 1970-1973 (2000)
Land of Ukko & Rauni [live] (2000)
BBC Sessions + (2001)
Freispiel (2002)
Patchwork 1971-2002 (2002)
Derbe Respect, Adler (2004)
Outside the Dream Syndicate - Alive (2005)
Collectif Met(z) (2005)
Impressions (2006)
Nobody Knows if it Ever Happened (2007)
... In Autumn (2007)
Direct Injection (2007)
Trial and Error (DVD, 2007)
Disconnected (2007)
Od Serca Do Duszy (2007)