Uma das bandas
norte-americanas mais legais na virada dos anos 70 para 80, os
Feelies faziam aquela bela mistura de punk com new wave, que estampou
tantos sorrisos na cara da molecada. Mas há um grave defeito
na discografia deles: a total ausência de discos em catálogo
para serem adquiridos. Sendo assim, resolvi fazer um texto e sonhar
que ele será lido por algum desses boçais das grandes
gravadoras e que o deixará sensibilizado e perguntando
por que eles não têm nada em catálogo. É
mesmo, por que, hein?
A
história dos Feelies começa na minúscula
Haledon, perto de Nova York, em 1976.
Era época dos grupos
punks pipocando por todos os cantos e assim nascia o Outkids,
liderados por Glen Mercer (guitarra) e Bill Million (baixo).
O baterista era Dave Weckerman
e eles fizeram alguns shows por perto, até conhecerem Keith
Clayton (baixo) e Vinnie DeNunzio (bateria). Bill então
passou para a segunda-guitarra e Dave virou percussionista. Pronto:
nascia The Fellies.
Durante dois anos, o grupo
realizou inúmeras apresentações até
ganharem uma identidade sonora própria. Foram anos de mudanças,
com a entrada do excepcional Anton Fier na bateria e Dave aparecendo
como músico não-creditado ao lineup.
Como
a banda tinha boa presença de palco (apesar de não
se sentirem confortáveis, ao vivo) e ótimas canções,
acabaram sendo contratados pela gravadora independente britânica,
Stiff Records.
A gestação,
porém, foi longa e difícil e apenas em 1980 lançariam
o disco de estréia, um clássico em todos os sentidos:
Crazy Rhythms.
Crazy Rhythms
traz uma banda que tinha tudo para explodir: ótimas canções,
bons músicos e que mostrava um grupo que fugia aos padrões
punk e new wave da época.
O grande destaque era o
baterista Anton Fier, com seu jeito nervoso e pontuações
incomuns para um baterista da época. Anton tocaria ao longo
dos anos com Pere Ubu, Herbie Hancock, entre outros.
Apesar de tantos elogios
e ser considerado influência direta para novatos (como o
R.E.M.), o grupo nunca primou pela estabilidade interna.
O disco continha 9 faixas:
Lado
1
01. "The Boy with
the Perpetual Nervousness" 5:10
02. "Fa Cé-La" 2:04
03. "Loveless Love" 5:14
04. "Forces at Work" 7:10
Lado 2
01. "Original Love" 2:55
02. "Everybody's Got Something to Hide (Except Me and My
Monkey)" 4:18
03. "Moscow Nights" 4:34
04. "Raised Eyebrows" 3:00
05. "Crazy Rhythms" 6:13
A
baixa vendagem e o pouco entusiasmo para tocarem ao vivo (apesar
de serem bastante competentes), fez com que fossem pouco promovidos,
para irritação da Stiff.
E o Feelies também
odiavam a postura da gravadora, por a considerarem mais interessada
em auto-promoção do que no desenvolvimento dos artistas.
Glen Mercer disse que a
idéia era ir contra a corrente punk, fazendo um disco mais
limpo, claro e muitas experimentações com percussão,
o que desagradou o selo.
Quando a gravadora rejeitou
uma demo tape com novas músicas para o novo lançamento,
estava claro que o rompimento era inevitável. O que ninguém
podia esperar era o final dos Feelies.
Keith Clayton acabou se
mandando, assim como Anton Fier, que tocou com o Lounge Lizards
e montou o Golden Palominos.
Durante
cinco anos, a banda foi totalmente esquecida. Glenn, Bill e Dave
continuaram tocando juntos e montaram o The Willies (que não
chegou a gravar) e The Trypes, ao lado de Brenda Sauer (baixo)
e Stanley Demeski (bateria).
Os Trypes acabaram lançado
um bom EP - The Explorers Hold - e pararam por
aí.
Mas, em 1985, Glenn, Bill
e Dave resolveram retornar com o antigo grupo, tendo Brenda e
Stanley como membros na nova formação. Em 1986,
lançam The Good Earth, com músicas
que haviam sido rejeitados pela Stiff, em 1981.
A nova formação
mudou completamente o som do grupo. Ao invés da bateria
nervosa de Anton Fier, o grupo ficou marcado por usar bastante
violões e climas mais lentos.
Peter Buck, do R.E.M.,
colaborou para a nova sonoridade, ajudando Bill e Glenn a encontrar
o novo som.
Ainda no mesmo ano, o grupo
lançou um EP - No One Knows - com covers
de Beatles ("She Said She Said" e Neil Young ("Sedan
Delivery), além de duas composições próprias.
The
Good Earth tinha as seguintes músicas:
Lado 1
01. "On the Roof"
02. "The High Road"
03. "The Last Roundup"
04. "Slipping (into something)"
05. "When Company Comes"
Lado 2
01. "Let's Go"
02. "Two Rooms"
03. "The Good Earth"
04. "Tomorrow Today"
05. "Slow Down"
Nessa
mesma época, o diretor Jonathan Demme os convidou para
participarem do filme Something Wild. Demme já
conhecia o Feelies de longa data e os Feelies aceitaram fazer
uma ponta, como o grupo que toca em uma baile da escola, tocando
algumas canções como The Willies.
Em 1987, o grupo lançou
ainda um disco de um projeto paralelo: Shore Leave
é creditado ao Yung Wu e todas as canções
foram escritas por Dave Weckerman, exceto três: "Big
day" (B.Eno/P.Manzanera); "Child of the moon" (M.Jagger/K.Richard)
e "Powderfinger" (Neil Young). O disco contava com a
participação do tecladista John Baumgartner.
Em 1988 é a vez
do terceiro disco, Only Life, que parecia um
cruzamento dos dois primeiros discos. Talvez seja o disco que
melhor mostrou os dois lados do grupo: a bateria nervosa herdada
de Anton Fier com climas mais bulcólicos de seu predecessor.
Na
promoção do disco, foram convidados para abrir os
shows de Lou Reed, embora nunca tenha sido fãs de subir
em um palco. As apresentações foram realizadas mais
para agradar a nova gravadora - A&M, já que o Feelies
tinha uma gravado uma cover do Velvet no LP, "What Goes On".
O LP tinha as seguintes
faixas:
Lado A
01. "It's Only Life"
02. "Too Much"
03. "Deep Fascination"
04. "Higher Ground"
05. "The Undertow"
Lado B
01. "For Awhile"
02. "The Final Word"
03. "Too Far Gone"
04. "Away"
05. "What Goes On" (Lou Reed)
Escaldados pelas brigas
com a Stiff, aceitaram o pedido da nova casa. O grupo conseguiu
ganhar novos fãs, mas a sorte pareceu falhar novamente
quando a gravadora foi comprada pela Polygram, que pouca atenção
deu ao quinteto, apesar de ganharem um bom dinheiro para gravar
um novo disco.
Time
For A Witness só foi lançado três
anos depois, em 1991 e marca o final do grupo.
Apesar de bem gravado e
tocado, a nítida impressão é que não
conseguiriam alcançar outros patamares. Para piorar, foram
convencidos pelo empresário a fazerem shows em grandes
teatros, resultando num imenso prejuízo financeiro já
que não eram tão famosos.
O LP tinhas 10 faixas:
Lado A
01. "Waiting"
02. "Time For A Witness"
03. "Sooner or Later"
04. "Find a Way"
05. "Decide"
Lado B
01. "Doin' It Again"
02. "Invitation"
03. "For Now"
04. "What She Said"
05. "Real Cool Time" (Dave Alexander, Ron Asheton, Scott
Asheton, Iggy Pop)
Bill
acabou percebendo que o Feelies estava chegando ao fim e no mesmo
ano resolveu deixar a banda e se mudou para a Flórida.
Os demais acabaram fazendo o mesmo: Stan se juntou ao Luna; Brenda
com o The Speed the Plough e Wild Carnation; e Glenn e Dave montaram
o The Wake Ooloo.
Chegava ao fim a história
de um dos grupos mais cultuados da safra new wave norte-americana.
Infelizmente, os discos
da banda estão totalmente fora de catálogo. A solução,
então, é apelar para os programas de internet ou
lojas on-line que vendem discos raros. Deixo vocês com a
discografia do grupo.
Um abraço e até
a próxima coluna.
Discografia
Crazy Rhythms (1980)
The Good Earth (1986)
No One Knows (EP, 1986)
Only Life (1988)
Time for a Witness (1991)
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