202 - The Feelies

Uma das bandas norte-americanas mais legais na virada dos anos 70 para 80, os Feelies faziam aquela bela mistura de punk com new wave, que estampou tantos sorrisos na cara da molecada. Mas há um grave defeito na discografia deles: a total ausência de discos em catálogo para serem adquiridos. Sendo assim, resolvi fazer um texto e sonhar que ele será lido por algum desses boçais das grandes gravadoras e que o deixará sensibilizado e perguntando por que eles não têm nada em catálogo. É mesmo, por que, hein?


O Feelies em 1979A história dos Feelies começa na minúscula Haledon, perto de Nova York, em 1976.

Era época dos grupos punks pipocando por todos os cantos e assim nascia o Outkids, liderados por Glen Mercer (guitarra) e Bill Million (baixo).

O baterista era Dave Weckerman e eles fizeram alguns shows por perto, até conhecerem Keith Clayton (baixo) e Vinnie DeNunzio (bateria). Bill então passou para a segunda-guitarra e Dave virou percussionista. Pronto: nascia The Fellies.

Durante dois anos, o grupo realizou inúmeras apresentações até ganharem uma identidade sonora própria. Foram anos de mudanças, com a entrada do excepcional Anton Fier na bateria e Dave aparecendo como músico não-creditado ao lineup.

show de 1978Como a banda tinha boa presença de palco (apesar de não se sentirem confortáveis, ao vivo) e ótimas canções, acabaram sendo contratados pela gravadora independente britânica, Stiff Records.

A gestação, porém, foi longa e difícil e apenas em 1980 lançariam o disco de estréia, um clássico em todos os sentidos: Crazy Rhythms.

Crazy Rhythms traz uma banda que tinha tudo para explodir: ótimas canções, bons músicos e que mostrava um grupo que fugia aos padrões punk e new wave da época.

O grande destaque era o baterista Anton Fier, com seu jeito nervoso e pontuações incomuns para um baterista da época. Anton tocaria ao longo dos anos com Pere Ubu, Herbie Hancock, entre outros.

Apesar de tantos elogios e ser considerado influência direta para novatos (como o R.E.M.), o grupo nunca primou pela estabilidade interna.

O disco continha 9 faixas:

capa do disco Crazy RhythmsLado 1

01. "The Boy with the Perpetual Nervousness" 5:10
02. "Fa Cé-La" 2:04
03. "Loveless Love" 5:14
04. "Forces at Work" 7:10

Lado 2

01. "Original Love" 2:55
02. "Everybody's Got Something to Hide (Except Me and My Monkey)" 4:18
03. "Moscow Nights" 4:34
04. "Raised Eyebrows" 3:00
05. "Crazy Rhythms" 6:13

A baixa vendagem e o pouco entusiasmo para tocarem ao vivo (apesar de serem bastante competentes), fez com que fossem pouco promovidos, para irritação da Stiff.

E o Feelies também odiavam a postura da gravadora, por a considerarem mais interessada em auto-promoção do que no desenvolvimento dos artistas.

Glen Mercer disse que a idéia era ir contra a corrente punk, fazendo um disco mais limpo, claro e muitas experimentações com percussão, o que desagradou o selo.

Quando a gravadora rejeitou uma demo tape com novas músicas para o novo lançamento, estava claro que o rompimento era inevitável. O que ninguém podia esperar era o final dos Feelies.

Keith Clayton acabou se mandando, assim como Anton Fier, que tocou com o Lounge Lizards e montou o Golden Palominos.

Durante cinco anos, a banda foi totalmente esquecida. Glenn, Bill e Dave continuaram tocando juntos e montaram o The Willies (que não chegou a gravar) e The Trypes, ao lado de Brenda Sauer (baixo) e Stanley Demeski (bateria).

Os Trypes acabaram lançado um bom EP - The Explorers Hold - e pararam por aí.

Mas, em 1985, Glenn, Bill e Dave resolveram retornar com o antigo grupo, tendo Brenda e Stanley como membros na nova formação. Em 1986, lançam The Good Earth, com músicas que haviam sido rejeitados pela Stiff, em 1981.

A nova formação mudou completamente o som do grupo. Ao invés da bateria nervosa de Anton Fier, o grupo ficou marcado por usar bastante violões e climas mais lentos.

Peter Buck, do R.E.M., colaborou para a nova sonoridade, ajudando Bill e Glenn a encontrar o novo som.

Ainda no mesmo ano, o grupo lançou um EP - No One Knows - com covers de Beatles ("She Said She Said" e Neil Young ("Sedan Delivery), além de duas composições próprias.

capa do disco The Good Earthcapa do EP No One KnowsThe Good Earth tinha as seguintes músicas:

Lado 1

01. "On the Roof"
02. "The High Road"
03. "The Last Roundup"
04. "Slipping (into something)"
05. "When Company Comes"

Lado 2

01. "Let's Go"
02. "Two Rooms"
03. "The Good Earth"
04. "Tomorrow Today"
05. "Slow Down"

Nessa mesma época, o diretor Jonathan Demme os convidou para participarem do filme Something Wild. Demme já conhecia o Feelies de longa data e os Feelies aceitaram fazer uma ponta, como o grupo que toca em uma baile da escola, tocando algumas canções como The Willies.

Em 1987, o grupo lançou ainda um disco de um projeto paralelo: Shore Leave é creditado ao Yung Wu e todas as canções foram escritas por Dave Weckerman, exceto três: "Big day" (B.Eno/P.Manzanera); "Child of the moon" (M.Jagger/K.Richard) e "Powderfinger" (Neil Young). O disco contava com a participação do tecladista John Baumgartner.

Em 1988 é a vez do terceiro disco, Only Life, que parecia um cruzamento dos dois primeiros discos. Talvez seja o disco que melhor mostrou os dois lados do grupo: a bateria nervosa herdada de Anton Fier com climas mais bulcólicos de seu predecessor.

capa do disco Only LifeNa promoção do disco, foram convidados para abrir os shows de Lou Reed, embora nunca tenha sido fãs de subir em um palco. As apresentações foram realizadas mais para agradar a nova gravadora - A&M, já que o Feelies tinha uma gravado uma cover do Velvet no LP, "What Goes On".

O LP tinha as seguintes faixas:

Lado A

01. "It's Only Life"
02. "Too Much"
03. "Deep Fascination"
04. "Higher Ground"
05. "The Undertow"

Lado B

01. "For Awhile"
02. "The Final Word"
03. "Too Far Gone"
04. "Away"
05. "What Goes On" (Lou Reed)

Escaldados pelas brigas com a Stiff, aceitaram o pedido da nova casa. O grupo conseguiu ganhar novos fãs, mas a sorte pareceu falhar novamente quando a gravadora foi comprada pela Polygram, que pouca atenção deu ao quinteto, apesar de ganharem um bom dinheiro para gravar um novo disco.

capa do disco Time For A WitnessTime For A Witness só foi lançado três anos depois, em 1991 e marca o final do grupo.

Apesar de bem gravado e tocado, a nítida impressão é que não conseguiriam alcançar outros patamares. Para piorar, foram convencidos pelo empresário a fazerem shows em grandes teatros, resultando num imenso prejuízo financeiro já que não eram tão famosos.

O LP tinhas 10 faixas:

Lado A

01. "Waiting"
02. "Time For A Witness"
03. "Sooner or Later"
04. "Find a Way"
05. "Decide"

Lado B

01. "Doin' It Again"
02. "Invitation"
03. "For Now"
04. "What She Said"
05. "Real Cool Time" (Dave Alexander, Ron Asheton, Scott Asheton, Iggy Pop)

Bill acabou percebendo que o Feelies estava chegando ao fim e no mesmo ano resolveu deixar a banda e se mudou para a Flórida. Os demais acabaram fazendo o mesmo: Stan se juntou ao Luna; Brenda com o The Speed the Plough e Wild Carnation; e Glenn e Dave montaram o The Wake Ooloo.

Chegava ao fim a história de um dos grupos mais cultuados da safra new wave norte-americana.

Infelizmente, os discos da banda estão totalmente fora de catálogo. A solução, então, é apelar para os programas de internet ou lojas on-line que vendem discos raros. Deixo vocês com a discografia do grupo.

Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

Crazy Rhythms (1980)
The Good Earth (1986)
No One Knows (EP, 1986)
Only Life (1988)
Time for a Witness (1991)


 

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