30 - Freak Circus - entrevista

É possível ser punk 30 anos depois do movimento, mas não uma mera imitação? Sim, se você ouvir Freak Circus, uma das novas bandas britânicas que abraça os lemas de 76 com a mesma paixão que empunham seus instrumentos. O grupo vai pela contramão e de quebra abrem o novo disco com uma faixa intitulada "All You Need Is A Gun". Mas que ninguém pense que pregam a violência; a idéia é a ironia desses dias tão violentos. Com um disco bem bacana lançado recentemente, me atrevi a pedir uma entrevista. Eis o que respoderam...


Pergunta: - Olá, poderiam me dizer como a banda começou?
Wolfman (Vocais): - Bom, alguns de nós são realmente unha e carne como é o meu caso com o Moonface (baixo), que é meu irmão. Eu conheci Aquafibio (guitarra) na escola em nossa cidade-natal, Weymouth e formamos nossas primeiras bandas com vários outros bateristas. No começo, éramos mais ligados ao glam rock e dividíamos uma grande paixão por Bowie e Bolan. O Freak Circus nasceu das cinzas de uma banda pop de nome Dead Joe, no qual desenvolvemos paixão pelos aspectos da música punk, seguindo a tradição iniciada por Iggy Pop. Nessa época, tínhamos um baterista dedicado, Lobster Boy, que dividia as funções entre o Dead Joe e nós. Quando ele nos deixou, The Non Bearded Ady assumiu admiravelmente as funções.

Pergunta: - Freak Shall Inherit The Earth é um disco bem bacana. Me fale um pouco dele, por favor...
Wolfman: - Obrigado por ter gostado. É nossa estréia pela Pink Hedgehog e contém nossas melhores canções que gravamos e distribuímos durante nossos shows.
Aquafibio: - O CD é um amálgama de canções feitas em estúdio com a primeira formação junto com coisas da atual e mais bem produzidas ("Troubling Trainspotters for Loose Change", "It Took Some Time" e "Custers Last Cluster Bomb").
Wolfman: -
Yeah, nessas músicas novas tentamos capturar a energia de nossas apresentações. Mas, apesar de parecerem cruas, elas possuem melodia. Para ser honesto, amamos tudo e ainda que tenhamos usado diversos métodos de gravação, o disco parece que tem uma grande coesão. Não me importo que pareça uma coletânea e fico muito orgulhoso que finalmente elas possam alcançar o mundo todo.
Aquafibio: - Basicamente, é um disco sem um conceito definido e sim um compêndio de canções que significa muito para nós.

Pergunta: Vocês se vêem como compositores pops ou essa é uma visão muito limitada?
Aquafibio:
- Gostamos de pensar que conhecemos algumas fórmulas que irá agradar os ouvintes instantaneamente e que também sabemos quando devemos ignorar essas limitações.
Wolfman: - Basicamente, as canções aparecem de mim ou do Aquafibio. Nós as apresentamos ao grupo ainda bem cruas e as desenvolvemos coletivamente. Algumas elas podem mudar completamente de rumo, como foi o caso de "Sex Vampire", por exemplo, escrita pelo Aquafibio. Lobster Boy fez bastante mudanças com sua bateria e a tornou uma das mais leves. Temos uma grande gama de estilos em nossa música e o pop é um deles, por isso podemos fazer baladas ou canções simplesmente punks, mas sem perder a força.

Pergunta: - No que se inspiram para escrever as letras?
Aquafibio: -
Em experiências pessoais e algumas delas são bem bizarras.
Wolfman: - Não acho que as minhas tenham algo de pessoal, pois tenho uma tendência a reservar meu lado pessoal para outros projetos. As músicas geralmente começam com uma idéia inicial de um título. Um bom exemplo é "Custers Last Cluster Bomb", uma melodia no qual Aquafibio estava escrevendo e que me deu para escrever um título. Às vezes elas podem refletir uma idéia nossa sobre algo como é o caso de "Ugly Head" que fala sobre as ideologias de fãs ou "Chemistry" , que é uma homenagem ao punk.

Vocês ainda acreditam no poder da música e nos ideais punks de 76?
Aquafibio: -
Sim, pois se não tiver fé na música e no amor, não há nenhuma razão para continuar a viver.
Non-Bearded Ady: - A vida muda, é só dar uma olhada no Live Aid. E a música ainda tem o poder de eriçar os pêlos da sua nuca, embora eu não tenha certeza que muitas músicas tenham feito algum efeito em mim durante muito tempo.
Wolfman: - Eu acredito que o espírito de 76 ainda esteja vivo. Há vezes em que desaparece, mas no final, música e rebelião andam de mãos dadas. Talvez a revolta seja um pouco mais forte, mas é a música que dá uma voz aos jovens. Não é necessário ser um punk, mas acho que o punk é o exempl mais óbvio. Talvez o gótico seja outro. Seria ótimo que nossos discos ajudassem os outros a encontrar sua própria voz, mas não os fazemos com essa intenção. É algo bem mais egoísta: criamos músicas que queremos ouvir e é fantástico que outras pessoas se liguem no nosso som.

Pergunta: Vocês se sentem parte de alguma cena em particular? Como descreveriam a música que fazem, apenas punk?
Wolfman: -
Essa é uma questão difícil para mim, pois acho que cobrimos uma vasta gama de gÇeneros, mas ao mesmo tempo acho que temos uma base bem punk. Não iria tão longe dizendo que fazemos parte de alguma cena específica, mas às vezes acontece e depois some. Acho que sempre terá espaço para o punk influenciado a música, pois libera energia. E após um longo e pesado dia, muito de nós quer apenas uma bebida e sair pulando para exorcizar os demônios.
Non-Bearded Ady: - Somos mais melódicos que os grupos dos anos 70 e temos a mesma energia deles.
Aquafibio: - Certamente nossas composições são contemporâneas, mas a música é derivada de nossas influências.
Wolfman: - De certa forma, apesar de sermos ingleses, nosso som tem mais a ver com a cena de Nova York, do CBGB. Mas algum acham que temos um pouco de Bowie, o que é bom, pois não queremos soar como uma banda americana e sim captar a música que gostamos.
Aquafibio: -
Penso que do jeito que a cena musical de hoje está, ela oferece mais escolhas para os ouvintes e quem compra discos tem uma variedade maior de estilos.
Wolfman: -
Acho que isso acontece por causa da internet, porque as pessoas podem ouvir exatamente o que desejam sem serem guiados pela imprensa musical.

Pergunta: - O que conhecem de música brasileira, excetuando bossa nova?
Aquafibio -
Gosto muito. Sérgio Mendes é um gênio, especialmente o disco Brazil 66.
Wolfman: - Já que eu disse que a internet facilita muito o acesso às novas músicas, acho que me sinto obrigado a procurar algo sobre a cena independente brasileira. Farei isso imediatamente!

Pergunta: - Quais são seus cinco discos favoritos e cinco artistas?
Wolfman: -
Muda demais, mas meus artistas favoritos são Guided by Voices, Iggy Pop, Cat Power, The Ramones e David Bowie. Entre os álbuns meu favorito é Berlin de Lou Reed. Under the Bushes, Under the Stars, do Guided by Voices chega perto. O primeiro dos Ramones é um clássico e uma influência imensa em mim como compositor. E não posso me esquecer da primeira fase de Bowie; Hunky Dory é meu favorito. No momento o novo da PJ Harvey, White Chalk, é o que mais ouço.
Aquafibio: - Meus favoritos são The Man Who Sold The World (Bowie); Gentleman (Afghan Whigs), Soft Bulletin (Flaming Lips); Thunder and Lightning Strike e And the Glass Handed Kites, ambos do Go-Team.
Non-Bearded Ady: - Difícil, mas gosto de Kings of Leon, Green Day, My Chemical Romance, Muse e Bowling for Soup.
Wolfman: -
Eu sei que o Moonface gosta de ouvir coisas mais clássicas e trilha sonoras, especialmente as de Ennio Morricone e Danny Elfman. E acho que pode ouvir todas essas nossas influências em Freak Shall Inherit The Earth, que é bem diversificado!

Garfields Birthday e Freak CircusPergunta: - O que vocês acham da atual cena rock?
Aquafibio: -
Acho ótimo ter tanta escolha. A cena é fantástica, mas é sempre necessário pesquisar antes de achar algo.
Non-Bearded Ady: - Está melhorando, mas não suporto a cena americana de thrash metal.
Wolfman - Não há nada que me deixe muito animado. Há muitas bandas estranhas e boas, mas isso acaba sendo um ciclo. Espero ansioso uma nova revolução punk.

Pergunta: - Obrigado pela entrevista. Deixem uma mensagem final.
Non-Bearded Ady: -
Comprem o disco. Será de item de colecionador quando chegar à platina. Se pedir com jeitinho, poderá ter o seu auytografado antes da banda ficar famosa!
Aquafibio: - Agradecemos a todo pelo apoio e pelos cds que compraram.
Wolfman: -
É gozado como estamos sendo reconhecidos pelo que já fizemos. Talvez seja resultado de sermos um tesouro bizarro, não sei! Mas o fãs são maravilhosos nesse sentido e nossa mensagem tem se espalhado. Para o final dessa entrevista, gostaríamos de deixar uma mensagem para aqueles que ainda não nos conhecem: The Freak Circus está chegando!