Discos
de rock instrumental no Brasil são raros.
É um mercado difícil,
que exige um público mais paciente, atento e que procura
uma sonoridsade distante dos modismos vingentes. Mas há
quem arrisque e consiga ótimos resultados.
Editado pelo selo inglês Voiceprint,
Desert Wind é o primeiro trabalho solo do guitarrista
Giuseppe Frippi, ex-membro dos Voluntários da Pátria,
Akira S e as Garotas que Erraram, Alvos Móveis e do CO2.
O CD nasceu da necessidade de Frippi
trilhar um caminho próprio, sem estar preso a um grupo.
Compondo desde 2007, Frippi entrou em
estúido em 2009, com ajuda de grandes músicos,
entre eles João Parahyba, membro do Trio Mocotó
e que já emprestou seu talento para Toquinho, Ivan Lins,
Cesar Camargo Mariano, Jorge Benjor, e do excepcional baixista
Celio Barros.
Frippi resolveu misturar antigas influências
- Robert Fripp, Bill Frisell, John
Scofield, Jeff Beck, Frank Zappa, John McLaughlin, Jimi Hendrix,
Santana, John Coltrane, Ravi Shankar, Don Cherry, etc - e a
paixão por música oriental, psicodelismo, ambient
music, progressivo e ritmos brasileiros.
"Após gravarmos em 2009,
os temas foram mixados por Janja Gomes (filho do João
Parahyba) e, em 2010 o trabalho entrou na fila da masterização
do Omid Burgin (tinha ouvido alguns trabalhos anteriores dele
e fiquei muito impressionado. Queria que fosse ele a masterizar).
A master foi concluída em agosto de 2010. E só
saiu esse ano", explica o músico.
Frippi
explica que "queria inverter
o processo de criação ao que estava acostumado
em minhas parcerias e participações anteriores,
que era o de definir o conceito do trabalho antes de começar
a por a mão na massa. Neste novo contexto, os temas saíram
espontaneamente sem um script definido e o resultado final foi
muito satisfatório."
Ao se tornar
artista 'solo' - embora não tenha feito tudo sozinho
- Frippi pode mostrar todo seu talento e encontrar sua própria
"voz".
Apesar de investir em ritmos brasileiros,
curiosamente, nenhum título é em português.
"Como ele foi
lançado pela Voiceprint, um selo internacional, me incentivou
a não me ater a um limite geográfico ou lingüístico
para dar nome às faixas (e, afinal, a presença
do Brasil está muito viva na música)."
O disco abre com a bela "La Joie
De Vivre", com a guitarra de Frippi viajando na percussão
de Parahyba. Tema delicado e sutil. O título foi tirado
de um livro de Emile Zola e também de um quadro do pintor
espanhol Pablo Picasso.
O segundo tema, "La
Milonga del Duende", é nas palavras do próprio
músico, um tango "meio torto", "já
que é em 7/4, mas tem aquele clima soturno portenho".
A faixa título é outra
que merece uma atenção especial, e mostra (outro)
belo trabalho de Parahyba e seu entrosamento perfeito com Celio
Barros. A dupla, aliás, é um dos grandes trunfos
do disco.
Raga Nº2 foi o primeiro tema a ser
gravado e uma das mais que mais agradou à Frippi e que
deverá fazer o mesmo com o ouvinte. O CD ainda traz ótimos
climas em "Savana Party", "Happiness is gonna
come" e "The fall Blues".
Porém, como todo disco de música
instrumental, há uma clara limitação na
mídia. A maneira mais fácil de comprá-lo
é através do site da Voiceprint.
Aos fãs, Frippi avisa que já
está trabalhando em um segundo CD, novamente com a dupla
Parahyba e Barros.
Desert Wind é um dos bons lançamentos
de 2011 e que merece ser ouvido com atenção.
Ficha técnica
Faixas
01. La Joie De Vivre
02. La Milonga Del Duende
03. Happiness Is Gonna Come
04. Desert Wind
05. Fall Blues
06. Savana Party
07. …Ed É Subito Sera
08. A La Guerre Comme A La Guerre
09. A Little Song 4 U
10. Raga No. 2
11. Eppur Si Muove
12. Senza Titolo
Músicos
Giuseppe
Frippi: guitarras, violões live sampling e programação
João Parahyba: bateria, percussão e programação
Celio Barros: baixo elétrico, upright, contrabaixo acústico
Participações
Janja Gomes: Percussão e samples
Giovanni Santhiago Lenti: Percussão adicional
Roberto Araujo: oboé & french horn
Ubaldo Versolato: flauta, sax barítono
Gabriel Levy: accordeão