98 - Giuseppe Frippi - Desert Wind

Discos de rock instrumental no Brasil são raros.

É um mercado difícil, que exige um público mais paciente, atento e que procura uma sonoridsade distante dos modismos vingentes. Mas há quem arrisque e consiga ótimos resultados.

Editado pelo selo inglês Voiceprint, Desert Wind é o primeiro trabalho solo do guitarrista Giuseppe Frippi, ex-membro dos Voluntários da Pátria, Akira S e as Garotas que Erraram, Alvos Móveis e do CO2.

O CD nasceu da necessidade de Frippi trilhar um caminho próprio, sem estar preso a um grupo.

Compondo desde 2007, Frippi entrou em estúido em 2009, com ajuda de grandes músicos, entre eles João Parahyba, membro do Trio Mocotó e que já emprestou seu talento para Toquinho, Ivan Lins, Cesar Camargo Mariano, Jorge Benjor, e do excepcional baixista Celio Barros.

Frippi resolveu misturar antigas influências - Robert Fripp, Bill Frisell, John Scofield, Jeff Beck, Frank Zappa, John McLaughlin, Jimi Hendrix, Santana, John Coltrane, Ravi Shankar, Don Cherry, etc - e a paixão por música oriental, psicodelismo, ambient music, progressivo e ritmos brasileiros.

"Após gravarmos em 2009, os temas foram mixados por Janja Gomes (filho do João Parahyba) e, em 2010 o trabalho entrou na fila da masterização do Omid Burgin (tinha ouvido alguns trabalhos anteriores dele e fiquei muito impressionado. Queria que fosse ele a masterizar). A master foi concluída em agosto de 2010. E só saiu esse ano", explica o músico.

Frippi explica que "queria inverter o processo de criação ao que estava acostumado em minhas parcerias e participações anteriores, que era o de definir o conceito do trabalho antes de começar a por a mão na massa. Neste novo contexto, os temas saíram espontaneamente sem um script definido e o resultado final foi muito satisfatório."

Ao se tornar artista 'solo' - embora não tenha feito tudo sozinho - Frippi pode mostrar todo seu talento e encontrar sua própria "voz".

Apesar de investir em ritmos brasileiros, curiosamente, nenhum título é em português.

"Como ele foi lançado pela Voiceprint, um selo internacional, me incentivou a não me ater a um limite geográfico ou lingüístico para dar nome às faixas (e, afinal, a presença do Brasil está muito viva na música)."

O disco abre com a bela "La Joie De Vivre", com a guitarra de Frippi viajando na percussão de Parahyba. Tema delicado e sutil. O título foi tirado de um livro de Emile Zola e também de um quadro do pintor espanhol Pablo Picasso.

O segundo tema, "La Milonga del Duende", é nas palavras do próprio músico, um tango "meio torto", "já que é em 7/4, mas tem aquele clima soturno portenho".

A faixa título é outra que merece uma atenção especial, e mostra (outro) belo trabalho de Parahyba e seu entrosamento perfeito com Celio Barros. A dupla, aliás, é um dos grandes trunfos do disco.

Raga Nº2 foi o primeiro tema a ser gravado e uma das mais que mais agradou à Frippi e que deverá fazer o mesmo com o ouvinte. O CD ainda traz ótimos climas em "Savana Party", "Happiness is gonna come" e "The fall Blues".

Porém, como todo disco de música instrumental, há uma clara limitação na mídia. A maneira mais fácil de comprá-lo é através do site da Voiceprint.

Aos fãs, Frippi avisa que já está trabalhando em um segundo CD, novamente com a dupla Parahyba e Barros.

Desert Wind é um dos bons lançamentos de 2011 e que merece ser ouvido com atenção.

Ficha técnica

Faixas

01. La Joie De Vivre
02. La Milonga Del Duende
03. Happiness Is Gonna Come
04. Desert Wind
05. Fall Blues
06. Savana Party
07. …Ed É Subito Sera
08. A La Guerre Comme A La Guerre
09. A Little Song 4 U
10. Raga No. 2
11. Eppur Si Muove
12. Senza Titolo

Músicos

Giuseppe Frippi: guitarras, violões live sampling e programação
João Parahyba: bateria, percussão e programação
Celio Barros: baixo elétrico, upright, contrabaixo acústico

Participações

Janja Gomes: Percussão e samples
Giovanni Santhiago Lenti: Percussão adicional
Roberto Araujo: oboé & french horn
Ubaldo Versolato: flauta, sax barítono
Gabriel Levy: accordeão