No começo
eram um quarteto de meninas feias, usando roupas típicas
dos anos 80, com um nome irônico e tocando um punk bem básico,
bem tosco. Depois abreviaram para Fuzzbox, abandonaram as guitarras,
partiram para dance e ganharam mais dinheiro. Ainda assim, o quarteto
We've Got a Fuzzbox and We're Gonna Use It (grande nome!) ou simplesmente
Fuzzbox (bem conservador), durou o suficiente para ganhar algumas
linhas de biografia. E justiça seja feita: a fase dance
é meio chata (apesar do imenso sucesso), mas o visual...
ah, quanta diferença!
Se eu te falasse que essas
quatro loucas são as mesmas quatro meninas cheias de estilo
ao lado você acreditaria em mim? E se eu falasse que o som
das "bruacas" é mil vezes melhor do que o das
"patricinhas", você ficaria surpreso também?
A
saga das quatro meninas começa em Birmigham, a segunda
maior cidade inglesa. Maggie Dunne, de 20 anos, convidou sua irmã
menor Jo, e duas amigas suas, Vicki Perks e Tina O'Neill para
montarem uma banda. As três tinham apenas 16 anos e nenhuma
das quatro havia tocado instrumento algum desde então.
Tina ficou com a bateria, Maggie com o baixo; Jo com a guitarra
e Vicki virou a vocalista.
O som delas era um punk,
quase amador, tosco. O visual era o mais exagerado e espalhafatoso
possível, começando pelos cabelos. O grupo acabou
sendo convidado para abrir um show de um banda local e ensaiaram
apenas por duas horas antes de subir no palco.
Resolveram então
criar um nome quilométrico - "Fuzzbox" é
um tipo de pedal usado para distorcer o som de baixo e guitarras
- e divertido, e começaram a gravar. Elas seriam apenas
mais uma banda, caso não tivessem participado daquela antológica
fita do semanário New Musical Express, a NME C86.
Cravaram "Console Me", oitava faixa do lado B e chamaram
a atenção.
Mas
atenção mesmo aconteceu quando alcançaram
a primeira posição da parada independente britânica
com "XX Sex" e ficaram no top 30 nacional com o compacto
Love Is the Slug.
As meninas abordavam temas
sérios. A primeira canção falava da exploração
sexual sofrida pelas mulheres. Elas estavam interessadas em mostrar
que podiam se expressar e não serem apenas bonitinhas e
engraçadinhas.
Os dois compactos renderam
excursões pela Europa e chamou a atenção
de Michael Rosenblatt, da A&M, que assinou com elas para a
gravadora norte-americana Geffen que as contratou e lançaram
no mesmo ano, o LP We've Got a Fuzzbox and We're Gonna
Use It e que teve o nome mudado para Bostin'
Steve Austin, no Reino Unido. Steve Austin era o nome
de Lee Majors na série O Homem de Seis Milhões
de Dólares.
O
sucesso as pegou desprevenidas: "começamos como quatro
amigas que queriam apenas se divertir um pouco. Nós procurávamos
algo para fazer, mas música nunca foi nossa finalidade.
Quando vimos que a coisa havia ficado séria, largamos nossas
coisas. Maggie deixou o serviço de auxílio aos desempregados
e nós três abandonamos a escola", conta Jo.
Após o lançamento
do LP, a banda fez uma excursão pela América e na
volta, algumas mudanças ocorreram. A primeira delas era
mudar a imagem e o nome do grupo, abreviando apenas para Fuzzbox.
O passo seguinte foi gravar
um outro disco, com uma sonoridade totalmente nova. Se o primeiro
álbum havia sido gravado em condições meio
amadoras, o segundo seria rigorosamente planejamento. O primeiro
produtor chamado foi Liam Sternberg - do hit "Walk Like An
Egyptian", das Bangles -, que foi logo chutado pelas meninas.
"Ele achava que por
sermos quatro garotas não tínhamos controle sobre
o que queríamos fazer e como um bom macho, resolveu dizer
o que faríamos e não faríamos. Nós
queríamos uma coisa e ele nos deu outra. Se fôssemos
quatro homens, ele não teria agido daquele jeito",
conta Jo.
O problema foi contornado
quando conheceram Andy Richards, que trabalhava com os Pet Shop
Boys e Frankie Goes to Hollywood. Finalmente as meninas conheciam
o homem ideal.
"Conseguimos mudar
essa imagem de que mulher é burra dentro de um estúdio.
'XX Sex' falava exatamente da exploração sexual
por parte dos homens. Mas o mais irritante era termos que nos
defender em cada entrevista, quando nos acusavam de nos vendermos
sexualmente porque falávamos de sexo. Ora bolas, Prince
fala apenas disso e nem por isso é chamado de prostituto",
contava Jo, indignada.
Em
1989 é lançado Big Bang, o disco
que as colocou em quinto lugar na parada britânica.
Elas agora eram respeitadas
pelo seu senso de humor e letras feministas. Com um novo visual,
as meninas abraçaram a dance e o pop e o disco rendeu quatro
compactos: "Self", "Walking On Thin Ice",
"Pink Sunshine" e "International Rescue".
Apenas o segundo compacto
(escrita por Yoko Ono) não ficou entre as 30 mais na Inglaterra.
Aliás, essa canção foi escrita justamente
por tudo que se falou da ex-viúva de John Lennon. Segundo
Jo, ela havia sido crucificada por ter sido a responsável
pela separação dos Beatles. "Isso mostra como
a mídia manipula as mulheres. Os Beatles eram o grupo mais
importante do mundo e é ridículo pensar que romperam
por causa dela. Yoko foi apenas um bode expiatório."
Outro
tema forte era "Self!", onde voltavam a falar do abuso
sexual e físico por parte dos homens: "as mulheres
precisam lutar contra essa situação e serem mais
determinadas", bradava Jo.
O disco mostrava um forte
engajamento das meninas, apesar do som bem mais leve e comercial.
"Descobrimos que os
computadores podem nos ajudar muito e nem precisamos ter mais
uma orquestra para gravarmos o que desejamos", falava Maggie.
Uma das curiosidades do
compacto Self! foi a inclusão da curiosa
versão de "Bohemian Rhapsody", do Queen.
O sucesso acabou fazendo
com que Vickie tentasse uma carreira-solo acabando com o grupo.
Depois disso montou o Vix.
"Não havia
sentindo em continuar com o Fuzzbox sem nossa vocalista",
conta Jo. Assim, a banda se separou e Maggie tentou continuar
a vida, como baixista do Babes In Toyland.
Nos últimos anos
algumas coletâneas foram lançadas, sendo Rules
and Regulations to Pink Sunshine: The Fuzzbox Story e
Look at the Hits on That as melhores. Eis aí
dois bons presentes para uma amiga. E se ela fizer cara feia com
o som, mostre esse texto e torça para que ela mude de idéia...
Um abraço e até
a próxima coluna.
Discografia
XX Sex (compacto, 1986)
Love Is the Slug (compacto, 1986)
We've Got a Fuzzbox and We're Gonna Use It (1986)
Big Bang! (1989)
What's the Point (The Bostinous One) (compacto, 1987)
Self!(compacto, 1989)
Self!(compacto, 1991)
Fuzz & Nonsence (2000)
Rules and Regulations to Pink Sunshine: The Fuzzbox Story (2001)
Love Is the Slug: Complete BBC Sessions (2002)
BBC Sessions (2002)
Look at the Hits on That (2005)
|