210 - We've Got a Fuzzbox and We're Gonna Use It

No começo eram um quarteto de meninas feias, usando roupas típicas dos anos 80, com um nome irônico e tocando um punk bem básico, bem tosco. Depois abreviaram para Fuzzbox, abandonaram as guitarras, partiram para dance e ganharam mais dinheiro. Ainda assim, o quarteto We've Got a Fuzzbox and We're Gonna Use It (grande nome!) ou simplesmente Fuzzbox (bem conservador), durou o suficiente para ganhar algumas linhas de biografia. E justiça seja feita: a fase dance é meio chata (apesar do imenso sucesso), mas o visual... ah, quanta diferença!


Se eu te falasse que essas quatro loucas são as mesmas quatro meninas cheias de estilo ao lado você acreditaria em mim? E se eu falasse que o som das "bruacas" é mil vezes melhor do que o das "patricinhas", você ficaria surpreso também?

A saga das quatro meninas começa em Birmigham, a segunda maior cidade inglesa. Maggie Dunne, de 20 anos, convidou sua irmã menor Jo, e duas amigas suas, Vicki Perks e Tina O'Neill para montarem uma banda. As três tinham apenas 16 anos e nenhuma das quatro havia tocado instrumento algum desde então. Tina ficou com a bateria, Maggie com o baixo; Jo com a guitarra e Vicki virou a vocalista.

O som delas era um punk, quase amador, tosco. O visual era o mais exagerado e espalhafatoso possível, começando pelos cabelos. O grupo acabou sendo convidado para abrir um show de um banda local e ensaiaram apenas por duas horas antes de subir no palco.

Resolveram então criar um nome quilométrico - "Fuzzbox" é um tipo de pedal usado para distorcer o som de baixo e guitarras - e divertido, e começaram a gravar. Elas seriam apenas mais uma banda, caso não tivessem participado daquela antológica fita do semanário New Musical Express, a NME C86. Cravaram "Console Me", oitava faixa do lado B e chamaram a atenção.

capa do compacto Love Is the SlugMas atenção mesmo aconteceu quando alcançaram a primeira posição da parada independente britânica com "XX Sex" e ficaram no top 30 nacional com o compacto Love Is the Slug.

As meninas abordavam temas sérios. A primeira canção falava da exploração sexual sofrida pelas mulheres. Elas estavam interessadas em mostrar que podiam se expressar e não serem apenas bonitinhas e engraçadinhas.

capa do disco We've Got a Fuzzbox and We're Gonna Use Itcapa do disco Bostin' Steve Austin

Os dois compactos renderam excursões pela Europa e chamou a atenção de Michael Rosenblatt, da A&M, que assinou com elas para a gravadora norte-americana Geffen que as contratou e lançaram no mesmo ano, o LP We've Got a Fuzzbox and We're Gonna Use It e que teve o nome mudado para Bostin' Steve Austin, no Reino Unido. Steve Austin era o nome de Lee Majors na série O Homem de Seis Milhões de Dólares.

O sucesso as pegou desprevenidas: "começamos como quatro amigas que queriam apenas se divertir um pouco. Nós procurávamos algo para fazer, mas música nunca foi nossa finalidade. Quando vimos que a coisa havia ficado séria, largamos nossas coisas. Maggie deixou o serviço de auxílio aos desempregados e nós três abandonamos a escola", conta Jo.

Após o lançamento do LP, a banda fez uma excursão pela América e na volta, algumas mudanças ocorreram. A primeira delas era mudar a imagem e o nome do grupo, abreviando apenas para Fuzzbox.

O passo seguinte foi gravar um outro disco, com uma sonoridade totalmente nova. Se o primeiro álbum havia sido gravado em condições meio amadoras, o segundo seria rigorosamente planejamento. O primeiro produtor chamado foi Liam Sternberg - do hit "Walk Like An Egyptian", das Bangles -, que foi logo chutado pelas meninas.

"Ele achava que por sermos quatro garotas não tínhamos controle sobre o que queríamos fazer e como um bom macho, resolveu dizer o que faríamos e não faríamos. Nós queríamos uma coisa e ele nos deu outra. Se fôssemos quatro homens, ele não teria agido daquele jeito", conta Jo.

O problema foi contornado quando conheceram Andy Richards, que trabalhava com os Pet Shop Boys e Frankie Goes to Hollywood. Finalmente as meninas conheciam o homem ideal.

"Conseguimos mudar essa imagem de que mulher é burra dentro de um estúdio. 'XX Sex' falava exatamente da exploração sexual por parte dos homens. Mas o mais irritante era termos que nos defender em cada entrevista, quando nos acusavam de nos vendermos sexualmente porque falávamos de sexo. Ora bolas, Prince fala apenas disso e nem por isso é chamado de prostituto", contava Jo, indignada.

Em 1989 é lançado Big Bang, o disco que as colocou em quinto lugar na parada britânica.

Elas agora eram respeitadas pelo seu senso de humor e letras feministas. Com um novo visual, as meninas abraçaram a dance e o pop e o disco rendeu quatro compactos: "Self", "Walking On Thin Ice", "Pink Sunshine" e "International Rescue".

Apenas o segundo compacto (escrita por Yoko Ono) não ficou entre as 30 mais na Inglaterra. Aliás, essa canção foi escrita justamente por tudo que se falou da ex-viúva de John Lennon. Segundo Jo, ela havia sido crucificada por ter sido a responsável pela separação dos Beatles. "Isso mostra como a mídia manipula as mulheres. Os Beatles eram o grupo mais importante do mundo e é ridículo pensar que romperam por causa dela. Yoko foi apenas um bode expiatório."

capa do disco The BBC SessionsOutro tema forte era "Self!", onde voltavam a falar do abuso sexual e físico por parte dos homens: "as mulheres precisam lutar contra essa situação e serem mais determinadas", bradava Jo.

O disco mostrava um forte engajamento das meninas, apesar do som bem mais leve e comercial.

"Descobrimos que os computadores podem nos ajudar muito e nem precisamos ter mais uma orquestra para gravarmos o que desejamos", falava Maggie.

Uma das curiosidades do compacto Self! foi a inclusão da curiosa versão de "Bohemian Rhapsody", do Queen.

O sucesso acabou fazendo com que Vickie tentasse uma carreira-solo acabando com o grupo. Depois disso montou o Vix.

"Não havia sentindo em continuar com o Fuzzbox sem nossa vocalista", conta Jo. Assim, a banda se separou e Maggie tentou continuar a vida, como baixista do Babes In Toyland.

Nos últimos anos algumas coletâneas foram lançadas, sendo Rules and Regulations to Pink Sunshine: The Fuzzbox Story e Look at the Hits on That as melhores. Eis aí dois bons presentes para uma amiga. E se ela fizer cara feia com o som, mostre esse texto e torça para que ela mude de idéia...

Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

XX Sex (compacto, 1986)
Love Is the Slug (compacto, 1986)
We've Got a Fuzzbox and We're Gonna Use It (1986)
Big Bang! (1989)
What's the Point (The Bostinous One) (compacto, 1987)
Self!(compacto, 1989)
Self!(compacto, 1991)
Fuzz & Nonsence (2000)
Rules and Regulations to Pink Sunshine: The Fuzzbox Story (2001)
Love Is the Slug: Complete BBC Sessions (2002)
BBC Sessions (2002)
Look at the Hits on That (2005)


 

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