Em sua vasta
e extraordinária discografia, Giant Steps ocupa um lugar
especial na vida de John Coltrane. Primeiro, por conter sua composição
favorita - "Naima" - nome de sua primeira esposa. Segundo,
pelo quilate dos músicos e das composições.
A faixa-título é considerada por alguns como a mais
intricada e complicada da história do jazz. Verdade ou
mentira, Giant Steps mostra um Coltrane cada vez mais maduro e
seguro do que buscava. Um homem que só não foi mais
longe porque teve a vida tirada precocemente. Ainda assim, sua
herança é espantosa...
"Não
estou certo do que procuro, exceto que é alguma coisa que
ainda não foi executada. Mas não sei o que é.
Só saberei quando conseguir tocá-la."
Em poucas palavras, essa
era a essência de John Coltrane.
Músico inquieto,
Coltrane não conseguia parar de buscar o som que tanto
sonhava. Considerado difícil e até intragável
por parte da crítica especializada, Trane daria com Giant
Steps um passo à frente em sua carreira.
Para início de conversa,
era o primeiro álbum pela Atlantic Records. A empresa dos
irmãos Ertegun, Ahmet e Nesuhi, tinha fechado um contrato
de um ano renovável por mais um com o saxofonista, tão
logo o antigo acordo do músico com a Prestige havia expirado.
Apesar de não ser um grande contrato, dava-lhe boas condições
financeiras.
Os irmãos eram fãs
de Coltrane desde os tempos em que tocava com Miles e logo descobriram
que tinham assinado contrato com um artista extremamente exigente
e que sabia exatamente o que desejava.
Segundo Nesuhi "John
Coltrane era único dentro de um estúdio. Ele sabia
exatamente o que ele e os músicos deveriam soar e caso
não gostasse de algo que estivesse sendo tocado, dizia
imediatamente. Nós tínhamos cuidados especiais em
dar o som que desejava."
As
gravações aconteceram em duas etapas: nos dias 4
e 5 de maio de 1959 foram gravadas "Giant Steps", "Cousin
Mary", "Countdown", "Spiral", "Syeeda's
Song Flute" e "Mr. P.C.", com Coltrane no sax tenor,
Flanagan (piano), Paul Chambers (baixo) e Art Taylor (bateria).
No dia 2 de dezembro, foi
a vez de "Naima", com Wynton Kelly e Jimmy Cobb nos
lugares de Flanagan e Taylor, respectivamente. Cobb, Kelly e Chambers
eram músicos do quinteto fixo de Miles Davis.
Coltrane fez de Giant
Steps um disco muito especial. A faixa-título
é considerada um desafio tamanha dificuldade técnica
e mudanças de acordes.
A segunda-faixa, "Cousin
Mary" é dedicada a uma prima do saxofonista. Segundo
ele, "Mary é uma pessoa bem alegre, divertida e tentei
manter a essência dele nesse blues".
A terceira seria "Countdown",
inspirada em "Tune Up", de Miles Davis. "Spiral"
é a quarta faixa e a quinta tem uma conotação
especial para Coltrane: "Syeeda's Song Flute" é
uma homenagem à Antonia Coltrane, filha de Naima, então
esposa do músico. Antonia tinha 10 anos quando ela foi
composta e segundo John, corria para o piano quando o ouvia tocando.
"John me chamava de
Toni e às vezes de Boni porque eu era tão magrinha
quando menina. Ele costumava me levar a todos os lugares quando
estava em casa. No verão, íamos até Coney
Island e ele me observava andar de bicicleta e nos dias de inverno
me levava para ver os filmes de terror de Vincent Price e arreganhava
os dentes enquanto eu berrava de medo. E sempre que chegava de
uma turnê, me dava um monte de moedas para eu guardar."
Syeeda
era o nome mulçumano de Antonia (Antonia Syeeda Coltrane)
e a melodia foi inspirada vendo a pequena Toni tocando quando
criança.
Tonia disse que jamais
se esquecerá, quando, em 1967, John apareceu em sua formatura,
mesmo separado de Naima e deu a ela um presente para que não
se esquecesse dele: uma flauta. Meses depois, Trane morreria.
A sexta música,
"Naima" é uma homenagem à esposa Juanita
Naima Grubb. Coltrane considerava sua melhor composição
e é igualmente a mais executada de todo o extenso catálogo
de John Coltrane. O disco fecha com "Mr. P.C." com um
maravilhoso trabalho do baixista Paul Chambers, de quem John era
grande fã.
Nesuhi disse que ficou
assustado com a maneira na qual o disco foi gravado: "naquela
época, todos gravavam apenas em dois canais, mas na Atlantic
usávamos oito. Normalmente, os músicos traziam partituras,
ensaiavam e depois gravavam. Mas John e os músicos chegaram
sem partitura alguma, e faziam dois takes, no máximo. John
mal abria a boca, no máximo, mostrava o que queria e era
só isso. A música estava pronta e imediatamente
pegavam seus casacos e iam embora."
Ao ser lançado,
Giant Steps foi recebido com críticas
confusas, mas teve boas vendagens. Com o passar do tempo, tornou-se
um clássico e teve incontáveis relançamentos.
Um dos melhores é o da Rhino, que traz 15 faixas, sendo
as seguintes:
Disco
original
1. "Giant Steps"
–4:43
2. "Cousin Mary" –5:45
3. "Countdown" –2:21
4. "Spiral" –5:56
5. "Syeeda's Song Flute" –7:00
6. "Naima" –4:21
7. "Mr. P.C." (Mr. Paul Chambers) –6:57
Takes alternativos
editados no relançamento da Altantic, em 1974:
8. "Giant Steps"
–3:40
9. "Naima" –4:27
10. "Cousin Mary" –5:54
11. "Countdown" –4:33
12. "Syeeda's Song Flute" –7:02
Há, também,
takes alternativos para:
13. "Giant Steps"
–3:32
14. "Naima" –3:37
15. "Giant Steps" –5:00
As
faixas 8,9, 13 e 14 foram gravados possivelmente em 26 de março
ou 1º de abril (há uma divergência sobre isso)
contendo Cedar Walton no piano e Lex Humphries na bateria.
O legado de Coltrane é
imenso e até hoje estudado e admirado por todos aqueles
que admiram não apenas o jazz, mas a música, em
geral.
Deixo vocês com a
discografia. Um abraço e até a próxima coluna.
Discografia-solo
Dakar (1957)
Coltrane (1957)
Lush Life (1957)
Traneing In (1957)
Blue Train (1957)
Cattin’ With Coltrane and Quinichette (1957)
Wheelin’ And Dealin’ (1957)
The Believer (1957)
The Last Trane (1957)
Soultrane (1958)
Settin’ The Pace (1958)
Black Pearls (1958)
Standard Coltrane (1958)
The Stardust Session (1958)
Bahia (1958)
Coltrane Time (1958)
Blue Trane: John Coltrane Plays The Blues (1958)
Like Sonny (1958)
Giant Steps (1959)
Coltrane Jazz (1959)
Echoes Of An Era (1959)
My Favorite Things (1960)
Coltrane’s Sound (1960)
Coltrane Plays The Blues (1960)
The Best of John Coltrane (1961)
The Heavyweight Champion (1961)
Africa/Brass (1961)
Olé Coltrane (1961)
The Complete Africa/Brass (1961)
Live At The Village Vanguard (1961)
Impressions (1961)
The Complete Paris Concerts (1961)
The Complete Copenhagen Concerts (1961)
Live In Stockholm, 1961 (1961)
Ballads (1961)
Coltrane (1962)
From The Original Master Tapes (1962)
Live At Birdland (1962)
The European Tour (1962)
The Complete Graz Concert vol 1 (1962)
The Complete Graz Concert vol 2 (1962)
The Complete Stockholm Concert vol 1 (1962)
The Complete Stockholm Concert vol 2 (1962)
Stockholm’62 The Complete Second Concert vol 1 (1962)
Stockholm’62 The Complete Second Concert vol 1 (1962)
Coltrane Live At Birdland (1963)
The Gentle Side of John Coltrane (1963)
The Paris Concert (1963)
‘63 The Complete Conpenhagen Concert vol 1 (1963)
‘63 The Complete Conpenhagen Concert vol 1 (1963)
Live In Stockholm,1963 (1963)
Afro Blue Impressions (1963)
Newport ‘63 (1963)
Coast To Coast (1964)
Crescent (1964)
A Love Supreme (1964)
Dear Old Stockholm (1964)
The John Coltrane Quartet Plays (1965)
The Major Works of John Coltrane (1965)
Transition (1965)
New Thing At Newport (1965)
Live In Paris (1965)
Live In Antibes 1965 (1965)
Love In Paris (1965)
A Love Supreme: Live In Concert (1965)
A Live Supreme (1965)
New York City ’65 vol 1 (1965)
New York City ’65 vol 2 (1965)
Live In Seattle (1965)
OM (1965)
First Meditations (1965)
Meditations (1965)
Sun Ship (1965)
Kulu Se Mama (1965)
Live At The Village Vanguard Again! (1966)
Live In Japan (1966)
Interstellar Space (1966)
Stellar Regions (1966)
Expression (1967)
A John Coltrane Retrospective (1967)
Discografia com
outros músicos
com Dizzy Gillespie
Dee Gee Days (1952)
com Johnny Hodges
Used To Be Duke (1954)
com Miles Davis (quando músico fixo da banda de
Miles Davis)
Miles (1955)
Cookin’ (1956)
Relaxin’ (1956)
Workin’ (1956)
Steamin’ (1956)
‘Round About Midnight (1956)
Milestones (1958)
Miles And Coltrane (1958)
‘58 Sessions (1958)
Compact Jazz/Miles Davis (1958)
Mostly Miles (1958)
Live In New York (1958)
Kind Of Blue (1959)
On Green Dolphin Street (1960)
Live In Zurich (1960)
Miles Davis In Stockholm (1960)
com Miles Davis
(já não mais como membro fixo, apenas convidado)
Some Day My Prince Will Come (1961)
Circle In The Round (1961)
com Tadd Dameron
Mating Call (1956)
com Paul Chambers
Chamber’s Music (1956)
com Elmo Hope
The All Star Sessions (1956)
com Sonny Rollins
Tenor Madness (1956)
com Prestige All
Stars
Tenor Conclave (1956)
Interplay For Two Trumpets And Two Tenors (1956)
The Cats (1957)
com Thelonious
Monk
Thelonious Himself (1957)
Thelonious Monk With John Coltrane (1957, lançado em 1961)
Monk’s Music (1957)
Live At The Five Spot Discovery! (1958)
The Complete Riverside Recordings (1958)
The Complete Blue Note Recordings (1958)
com Oscar Pettiford
Winners’s Circle (1957)
com Art Blakey
Art Blakey’s Big Band (1957)
com Sonny Clark
Sonny’s Crib (1957)
com Wilbur Harden
Dial Africa (1958)
Africa – The Savoy Sessions (1958)
com Cannonball
Adderley
Cannonball & John Coltrane (1959)
com Milt Jackson
Bags & Trane (1959)
com Don Cherry
The Avant-Garde (1960)
com Eric Dolphy
John Coltrane Quartet With Eric Dolphy (1961)
John Coltrane Meets Eric Dolphy (1961)
com Duke Ellington
Duke Ellington & John Coltrane (1962)
com Johnny Hartman
John Coltrane And Johnny Hartman (1963)
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