por Pedro Damian
Para
começar, serei honesto: antes do meu amigo Rubens me apresentar
Girls in Graz, eu não havia ouvido falar
de Hamfatter. Um pecado que só não é indesculpável
pelo fato de existir toneladas de boas bandas que aparecem a cada
segundo no movimentado mundo indie, e assim fica difícil
conhecer todas adequadamente.
Assim, faço desse
texto um agradecimento ao velho amigo Rubão, já
que Hamfatter é realmente um dos bons nomes de sua geração,
e com Girls in Graz a banda segue por um caminho
que poucos grupos do indie pop percorrem, ou seja, um retorno
dos anos 00 para os 80. E tudo isso em quatro discos: de Ham-fat'er
(2002), para o bem produzido Girls in Graz
(2006).
Fazendo um som elaborado
e inteligente, os quatro integrantes, Eoin O’Mahony, Emillie
Martin (que dividem os vocais), James Ingham e Mark Ellis, fazem
soar como refinada ironia o nome da banda (Hamfatter é
como são chamadas bandas amadoras que se exibem em troca
de comida e bebida).
O Hamfatter não
é um grupo que se prende a um estilo. Embora, em Fireworks,
de 2003, seu disco anterior, o indie pop tenha sido gênero
predominante, com aquele duo de vozes delicadas, masculina e feminina,
junto com guitarras e violões dedilhados, nesse trabalho
aparece essa característica de “atirar para todos
os lados”, com músicas de diversos gêneros,
que se unem entre si pela perfeição técnica,
entusiasmo, vocais firmes e por arranjos elaborados, características
que dão ao disco um caráter mais “adulto”
(não que todas as bandas dos anos 80 fossem “adultas”
e perfeitas tecnicamente).
A música que abre
o CD, homônima do título, é um pop alegre,
em que a voz firme de Eoin O’Mahony é ornamentada
por um belo arranjo de metais (e um sensual backing vocals de
Emillie Martin), lembrando um pouco o som do Belle & Sebastian
de seu último disco.
“Seeing You”
tem Emillie no principal vocal, e o clima continua alegre, “upbeat”.
Sua voz lembra um pouco Johnette Napolitano, do Concrete Blonde,
conhecida banda pós-punk americana.
Aliás, dá
pra dizer que Girls in Graz é um dos melhores
discos desse revival pós-punk que varre o planeta,
fácil, fácil. “Left of Square”, a terceira
música, é uma de minhas preferidas, até pelos
vocais divididos, o que também acontece na canção
seguinte, a sensível balada “Spring Summer”.
“Sleepy Jean Wakes”, a quinta das onze músicas
do disco, com sua melodia folky e órgão Farfisa
ao fundo, remete a algumas coisas crusties (leia-se Levellers).
O solo de bateria que
abre “Fireworks” (a mesma música que abria
o disco anterior) parece saído de uma bateria de escola
de samba, e a música continua em ritmo acelerado e quebrado,
com os vocais acompanhando a rapidez da bateria. Um cow-punk
de primeira.
Em “The Breathing
and the Lying”, há uma volta ao passado indie
pop do grupo, na qual a voz de Eoin volta a soar tímida.
A canção acaba com um emocionante solo de teclados.
Em “Motherwell”,
nome de uma cidade escocesa, sede de um dos piores times de futebol
daquele país, o ritmo volta a acelerar quase para um cow-punk
de novo, e em “Django”, música que a sucede,
o clima mantém-se em alta, com Eoin e Emillie dividindo
vocais em uma música com andamento ligeiro, linha Violent
Femmes.
Já “Dreamer’s
Day” não faria feio na imensa discografia do R.E.M.,
sendo uma música claramente inspirada no famoso grupo da
Geórgia. No CD, é apontada como última música
um diálogo intitulado “Interdental Music”,
que na verdade é a abertura para a décima-segunda,
uma faixa-secreta com direito a loops (lembrando Beatles,
uma das raras influências confessadas pela banda) e vocais
distorcidos.
Misturando passado e presente,
sem agarrar nem em uma nem em outra época, o Hamfatter
tem apresentado qualidades para se manter com dignidade no concorrido
cenário indie mundial. Longa vida à banda!
Faixas
1. Girls In Graz
2. Seeing You
3. Left Of Square
4. Spring Summer
5. Sleepy Jean Wakes
6. Fireworks
7. The Breathing And The Lying
8. Motherwell
9. Django
10. Dreamers' Day
11. Interdental Music
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