73 - Hamfatter - Girls in Graz

por Pedro Damian

Para começar, serei honesto: antes do meu amigo Rubens me apresentar Girls in Graz, eu não havia ouvido falar de Hamfatter. Um pecado que só não é indesculpável pelo fato de existir toneladas de boas bandas que aparecem a cada segundo no movimentado mundo indie, e assim fica difícil conhecer todas adequadamente.

Assim, faço desse texto um agradecimento ao velho amigo Rubão, já que Hamfatter é realmente um dos bons nomes de sua geração, e com Girls in Graz a banda segue por um caminho que poucos grupos do indie pop percorrem, ou seja, um retorno dos anos 00 para os 80. E tudo isso em quatro discos: de Ham-fat'er (2002), para o bem produzido Girls in Graz (2006).

Fazendo um som elaborado e inteligente, os quatro integrantes, Eoin O’Mahony, Emillie Martin (que dividem os vocais), James Ingham e Mark Ellis, fazem soar como refinada ironia o nome da banda (Hamfatter é como são chamadas bandas amadoras que se exibem em troca de comida e bebida).

O Hamfatter não é um grupo que se prende a um estilo. Embora, em Fireworks, de 2003, seu disco anterior, o indie pop tenha sido gênero predominante, com aquele duo de vozes delicadas, masculina e feminina, junto com guitarras e violões dedilhados, nesse trabalho aparece essa característica de “atirar para todos os lados”, com músicas de diversos gêneros, que se unem entre si pela perfeição técnica, entusiasmo, vocais firmes e por arranjos elaborados, características que dão ao disco um caráter mais “adulto” (não que todas as bandas dos anos 80 fossem “adultas” e perfeitas tecnicamente).

A música que abre o CD, homônima do título, é um pop alegre, em que a voz firme de Eoin O’Mahony é ornamentada por um belo arranjo de metais (e um sensual backing vocals de Emillie Martin), lembrando um pouco o som do Belle & Sebastian de seu último disco.

“Seeing You” tem Emillie no principal vocal, e o clima continua alegre, “upbeat”. Sua voz lembra um pouco Johnette Napolitano, do Concrete Blonde, conhecida banda pós-punk americana.

Aliás, dá pra dizer que Girls in Graz é um dos melhores discos desse revival pós-punk que varre o planeta, fácil, fácil. “Left of Square”, a terceira música, é uma de minhas preferidas, até pelos vocais divididos, o que também acontece na canção seguinte, a sensível balada “Spring Summer”. “Sleepy Jean Wakes”, a quinta das onze músicas do disco, com sua melodia folky e órgão Farfisa ao fundo, remete a algumas coisas crusties (leia-se Levellers).

O solo de bateria que abre “Fireworks” (a mesma música que abria o disco anterior) parece saído de uma bateria de escola de samba, e a música continua em ritmo acelerado e quebrado, com os vocais acompanhando a rapidez da bateria. Um cow-punk de primeira.

Em “The Breathing and the Lying”, há uma volta ao passado indie pop do grupo, na qual a voz de Eoin volta a soar tímida. A canção acaba com um emocionante solo de teclados.

Em “Motherwell”, nome de uma cidade escocesa, sede de um dos piores times de futebol daquele país, o ritmo volta a acelerar quase para um cow-punk de novo, e em “Django”, música que a sucede, o clima mantém-se em alta, com Eoin e Emillie dividindo vocais em uma música com andamento ligeiro, linha Violent Femmes.

Já “Dreamer’s Day” não faria feio na imensa discografia do R.E.M., sendo uma música claramente inspirada no famoso grupo da Geórgia. No CD, é apontada como última música um diálogo intitulado “Interdental Music”, que na verdade é a abertura para a décima-segunda, uma faixa-secreta com direito a loops (lembrando Beatles, uma das raras influências confessadas pela banda) e vocais distorcidos.

Misturando passado e presente, sem agarrar nem em uma nem em outra época, o Hamfatter tem apresentado qualidades para se manter com dignidade no concorrido cenário indie mundial. Longa vida à banda!

Faixas

1. Girls In Graz
2. Seeing You
3. Left Of Square
4. Spring Summer
5. Sleepy Jean Wakes
6. Fireworks
7. The Breathing And The Lying
8. Motherwell
9. Django
10. Dreamers' Day
11. Interdental Music