Há muitos anos possuo
vinis e cds do Harry, uma banda de Santos que marcou época
no rock dos anos 80, um grupo sintonizado com o rock eletrônico
e industrial da época, influências que iam de Alice
Cooper a New Order, experimentações e um punhado
de ousadia. Obviamente, tudo isso era indigesto demais para o
público médio e o Harry não brilhou como
merecia. Lançaram dois discos pelo inovador selo Wop-Bop,
de René Ferri e que produziu outras peças de fino
trato como May East, Vzyadoq Moe, Violeta de Outono, Fellini e
etc. Achar material da banda na internet não foi complicado,
mas eu queria uma entrevista com o criador da coisa, afinal nada
melhor do que ele para contar, em detalhes, como tudo aconteceu.
Assim,
escrevi para Johnny Hansen, via facebook. Pensei que viria uma
resposta atravessada, amarga e ranzinza, algo na linha "só
depois que terminamos é que me procuram para uma matéria",
como várias vezes trombei, ao longo dos anos.
Nada disso. Por trás
da cara de mau, havia uma pessoa inteligente, divertida e ácida,
que adora escrever e explica, em detalhes, como tudo ocorreu.
Sim, a entrevista ficou
longa. Sim, às vezes pode cansar. Mas as pessoas não
se queixam que, muitas vezes, é difícil um materia
interessante sobre certas bandas?
Pois, então.
Johnny Hansen conta tudo
- e muito mais - sobre o Harry. E caso exista algum exagero ou
mentira, não me culpe. Eu
apenas tive o trabalho de ler, editar, aprender e me divertir
com a matéria.
Ah, sim, Hansen é
um cara legal. Provavelmente dirá que essa não é
a intenção dele, mas ele é.
Mofo: - Como começou
o Harry? Como era a cena roqueira em Santos? Vocês davam
mais shows em SP do que no litoral?
Johnny Hansen: - A gênese
do Harry foi o The Yardrats, que eu e o Johnsson montamos em 76.
A ideia era fazer punk rock (já tínhamos lido sobre
os Pistols e os Ramones, mas não ouvíramos nada),
mas o Johnsson tinha um órgão, e eu ainda estava
aprendendo a tocar baixo, e tínhamos bastante dificuldade
de encontrar guitarristas, bateristas e vocalistas fixos. A guitarra
eu assumi em 78, e o Johnsson se virava nos vocais, embora tenhamos
tido outro, Olie Crudge, que ia e vinha.
Quando
o Johnsson foi estudar fora de Santos, formei o TTF (Tubular Teacher
Forever), depois o Jean Cocteau (as influencias do Bill Nelson,
do Be Bop Deluxe começavam a se manifestar), o V8 (eu não
sabia que havia uma banda de metal argentina com o mesmo nome,
não consegui achar um nome substituto e acabei com a banda),
Self Destructor, Atmosphere e finalmente Harry and the Addicts,
em 1985.
Tocávamos na baixada
no início, e a partir de 86, fizemos o circuito paulistano
(Rose Bom Bom, Ácido Plastico, Anny 44), mas fomos praticamente
ignorados. Isso me deixou sem chão, porque eu achava que
o som estava muito bom, mas não sabia mais o que fazer.
Foi quando um DJ disse
que tinha um contato na CBS, e que não poderia garantir
nada, mas que o cara escutaria qualquer coisa que ele levasse,
só que em inglês não dava. Como eu não
consigo cantar em português (é sério!), chamamos
a Denise, que cantava no nosso projeto comercial, o Bi-Sex (roubei
o nome dos australianos do Mi-Sex, porque sabia que ninguém
os conhecia aqui).
Mas a fita nem foi entregue
na CBS, nem me lembro do motivo, mas eu soube que o René
Ferri, da Wop-Bop estava começando um selo, e iria lançar
o Violeta de Outono, e deixei a fita lá. Ele me ligou 3
dias depois querendo assinar. Naquela
época, gravar um disco era a meta máxima, não
que eu fosse dado a fazer concessões, mas já tinha
feito gravando em português, então eu não
tive coragem de perguntar se teria problema um vocal masculino
em inglês. Infelizmente, quando soube que não teria,
já era tarde demais.
Desde o Self Destructor,
a formação já era o César Di Giacomo
na bateria, e o Renato Grillo no baixo (inclusive no Bi-Sex, que
só era acrescido da Denise). Em fins de 84, o Johnsson
voltou a Santos, e estava juntando grana para comprar algum teclado,
mas no início de 85, o Grillo morre num acidente com arma
de fogo, e ele teve que assumir o baixo. O Bi-Sex acabou logo
depois, e eu não quis manter o nome Atmosphere, daí
o Harry and (the Addicts), que fez sua estreia num bar em Santos,
no dia 18/12/85.
Não me lembro a data, nem onde estreamos em São
Paulo, mas com certeza foi em 86. Éramos
totais estranhos na cena roqueira santista. Eu tinha fama de grande
guitarrista, mas quando assumi novos conceitos estéticos,
onde a guitarra tinha um espaço bem limitado, o papo que
corria em Santos era "o Hansen, coitado, tocava pra caralho,
mas começou a se drogar, enlouqueceu e hoje só faz
barulho", ah ah ah ah ah...
Mofo:
- Quais eram as suas grandes influências? New Order, Skinny
Puppy, Kraftwerk, Moroder?
Johnny Hansen: - O buraco
é mais embaixo. A primeira coisa que eu ouvi sem ser o
que meus pais ouviam, foi o Alice Cooper, em 73 (Billion
Dollar Babies).
Daí para o rock
pesado da época (Purple, Sabbath) e mergulhar no que gerou
aquilo e comecei a pesquisar os anos 60. Na época, eu tinha
um conceito de que os 60's é que tinham sido foda, que
os 70's não eram tão legais, mas sempre havia a
distância entre ouvir e fazer. O punk rock ligou esses pontos,
e para mim, os 80's foram maravilhosos porque é sensacional
você ouvir obras primas no mesmo instante em que elas são
lançadas.
O New Order sempre é
a principal referência lembrada quando se fala da gente,
mas eu não acho que haja nenhuma música nossa que
pudesse ser confundida com eles, da mesma maneira que o Kon Kan
era. Em 83, eu descobri o Chrome, que embora não seja parecido
conosco, foi fundamental para que eu estabelecesse a estética
sonora do Harry.
O Skinny Puppy também,
embora eu só curta mesmo a fase que vai até o Vivi
Sect Vi. E bandas como Beatles ou Queen foram importantes no sentido
de amplitude. Li uma resenha sobre a coletânea Chemical
Archives numa revista alemã. O cara não
gostou, porque achou que cada faixa parecia uma banda diferente.
Eu concordo com ele, mas eu vejo isso como algo positivo.
Mofo:
- Vocês tiveram um primeiro EP com a Denise nos vocais.
Me fale da produção desse trabalho, lançado
pela Wop-Bop, e o contato com René Ferri.
Johnny Hansen: - Já dei um resumo sobre isso na
primeira pergunta.
Eu estava preocupado, porque
até então o selo independente mais estabelecido
era o Baratos Afins, e eu inclusive levara uma demo de ensaio
(sem Denise) para o Calanca, mas quando voltei lá, ele
nem mencionou o assunto.
E eu já tinha ouvido
falar que os discos que ele produzia eram gravados às pressas
(não estou criticando, cada um faz com os recursos que
tem), e com ele na mesa de mixagem. Para mim, isso ficou estabelecido
como critério de gravação independente, e
não me agradava nada, pois eu queria tempo e liberdade.
Graças aos deuses,
o René nos deu os dois, tivemos 60 horas para gravar as
3 músicas do EP (pode não ser o máximo, mas é
melhor do que 12 horas para gravar um disco inteiro), e ele só
foi no estúdio uma única vez e ficou menos de meia
hora lá. O problema é que eu sabia muito bem o que
queria fazer, mas não sabia COMO fazer.
Botamos o Verta na produção,
mas nem ele nem o técnico sabiam ainda como midiar uma
Linn Drum (que era do estúdio) num Poly 800 (que era do
Verta). Era só ligar um cabo de um a outro, mas simplesmente
niguém tinha essa informação, e por isso
os baixos de "Blood and Shame" foram tocados manualmente
em cima da bateria programada.
Nas
outras faixas, "Caos" e "Adeptos", o Cesar
tocou numa Simmons. Os vocais foram processados com pedais de
guitarra mesmo. Pusemos uma regulagem mais discreta para a Denise,
mas em "Blood and Shame" coloquei do jeito que eu queria,
pois eu não me importava se nem percebessem que aquilo
era voz.
O técnico, o Tonheco,
não deve ter captado o espírito da coisa, mas ao
menos não impunha barreiras como a maioria ("Eu sou
técnico, sei como deve se fazer"). Ao contrário,
quando regulei o flanger e o delay para minha voz, ele perguntou
pelo mic da sala de controle: "vai gravar a voz desse jeito?",
e quando eu disse que ia, ele começou a rir e disse "vamos
nessa".
"Caos" tinha
uma guitarra, como "Adeptos", mas tinha mais teclados,
e eu sempre gostei de guitarra pesada e alta, e ela estava cobrindo
a tecladeira. Fui abaixando, mas não adiantava muito. Como
eu estava alucinado (cheguei perto de ter uma overdose durante
a mixagem), zerei a guitarra e gritei "Foda-se!". Depois
me arrependi, e por isso coloquei a versão demo como bônus
track, porque, embora a qualidade sonora não fosse
boa, conceitualmente não conseguimos superá-la,
mesmo gravando num grande estúdio.
Já com o René,
as coisas eram mais fáceis, ele estava, mesmo que, talvez,
inconscientemente, totalmente sintonizado com nossa estética.
Ele apareceu com a ideia da capa, quase se desculpando por que
ela não teria o nome da banda. Eu acho capas sem nada escrito
o máximo, mas achava que eu era o único louco que
teria coragem de lançar um disco de estreia sem o nome
da banda na capa, e aí aparece ele com a mesma ideia, e
ainda com uma moldura em alto relevo em torno da foto, um adesivo
com o nome da banda e encarte. Me senti como se estivesse na Factory,
rsrsrsrsrs...
Mofo:
- O segundo lançamento, Fairy Tales, já mostrava
a banda bem mais evoluída que o primeiro trabalho. Por
que Denise não estava mais? E o que mudou com a saída
dela, especialmente em termos sonoros?
Johnny Hansen: - A Denise
engravidou na época em que estávamos fazendo os
shows de divulgação do EP, e pelas nossas contas,
não teria como fazer os shows do LP, cujas gravações
já estavam agendadas.
Então foi combinado
que ela não gravaria o disco, para que pudéssemos
reproduzi-lo ao vivo. Mas depois de uma briga homérica
durante um show em Curitiba, ela saiu e depois quis voltar, mas
mantivemos a porta fechada. O Verta foi convidado para produzir
o EP por várias coisas:
1) Ela já trabalhava em gravadora, então achamos
que ele teria mais cancha que a gente.
2) Ele tinha um Poly 800. Acho que era a única pessoa com
um sintetizador que conhecíamos na época.
3) Ele estava antenado com nossas ideias. Ele já trabalhava
de DJ em casas noturnas e tinha um belo acervo de discos (embora
nem sempre os tocasse onde trabalhava).
Assim, a solução
natural foi convida-lo para se integrar a banda ao invés
de simplesmente produzir o LP. Na verdade, não esperávamos
que ele fosse aceitar, mas ele aceitou na hora. As negociações
com o René, como sempre, foram fáceis. Eu disse
à banda que iria pedir 100 horas para ele, para ver se
ele daria pelo menos 80, mas ele disse "100? Ok, podem marcar".
Claro que não deu, e voltei lá e pedi mais 100 para
ver se ele liberava mais 50 que fossem. De novo "Mais 100?
Marquem lá".
Já com o disco pronto,
ele veio até com uma ideia legal para a capa, mas em preto
e branco, e dessa vez queríamos cores. O Verta foi fazer
algo no Sesc Pompéia e estava rolando uma exposição
do Araquém Alcantara, que embora fosse de Santos, não
conhecíamos pessoalmente, e viu a foto que acabou sendo
a capa e ficou alucinado.
Entramos em contato com
ele, que pediu uma verdadeira fortuna pelo uso da foto. Falamos
com ele de novo, que éramos uma banda sem recursos, e ele
"imagina se vão ficar sem usar a foto por causa de
dinheiro", e acho que ele baixou pela metade, mesmo assim
era grana pra caralho. E sobrou para mim a missão de chegar
para o René e dizer "olha, em vez daquela foto feita
pela sua esposa (na época, a Célia Saito, que fez
a capa do EP) e não vai te custar nada, queremos essa foto
aqui, que vai custar essa montanha de grana".
Mas arriscamos e ele pagou.
Valeu, afinal foi eleita 2ª melhor capa do ano na Bizz. O
EP foi gravado no Transamérica, um puta estúdio,
porque era Plano Cruzado e estava tudo barato. Um ano depois,
a inflação voltou e teríamos que procurar
algo mais condizente com a realidade. Escolhemos o Big Bang porque
nos pareceu aconchegante e porque ele tinha um sampler
Emax lá. Só que quando chegamos para gravar, ele
tinha sido vendido. Chamamos o Marco Mattoli, o dono, e ele combinou
que alugaria um sampler por alguns dias por conta dele,
acabou sendo o D50 do Marcelo Golbetti (Premeditando o Breque),
que acabou se tornando sócio no estúdio depois.
A evolução
foi por conta de vários fatores: o estúdio já
não era um bicho de sete cabeças para nós,
e mesmo o Big Bang sendo mais simples, tivemos melhor aproveitamento
porque tanto o Mattoli como o técnico Yves Zimmelmann,
sabiam explorar o que tinham até os últimos recursos
(o Golbetti também ajudou bastante nos dias em que esteve
lá).
Nem tínhamos um
sequencer decente, o Mattoli que sequenciava tudo no MC 500 dele.
O Cesar e o Johnsson gravaram suas partes e picaram a mula, mas
eu fiquei com o Verta até a ultima sessão de mixagem.
Batemos uma vez ou outra de frente, mas o conflito de egos só
viria mesmo durante o Vessels' Town.
Ainda estou bastante satisfeito
com o resultado final do Fairy Tales, embora
reconheça que a qualidade de áudio não é
tão boa quanto eu pensava na época. Só o
som da guitarra é que ficou uma merda mesmo, usamos equipamento
top e gravamos de tudo quanto é jeito. Mas se na hora,
eu tirava o timbre que queria, na fita o que vinha era outra coisa.
E não tínhamos a quem perguntar, porque eu acho
que não existe uma guitarra bem gravada aqui no Brasil,
no mínimo, até o ano 2000.
Mofo: - Os discos
tiveram boa divulgação, renderam muitos shows?
Johnny Hansen: - O feedback
do EP foi razoável, algumas resenhas em jornais, até
uma notinha na Manchete, na Bizz não foi resenhado, entrou
apenas na seção Rápido e Rasteiro (mas foi
a capa do disco que ilustrou a seção), mas o Tom
Leão resenhou para a Somtres.
O problema para shows,
que perdura até hoje, é que nunca tivemos uma pessoa
para agendar shows para nós, e não somos os melhores
vendedores do mundo. Mas um show digno de nota dessa época,
foi no Crepúsculo de Cubatão, a casa do Ronald Biggs,
no Rio. O Tom Leão estava lá na 1ª noite. Infelizmente,
não conseguimos acertar o som direito, mas na segunda noite,
o som saiu redondinho e o Fernando Naporano estava lá.
E quem fez a mesa foi o Geraldo D'Arbilly, que tocou no Peso e
depois na banda inglesa Blue Rondo A La Turk. Temos esse show
gravado em vídeo.
Já o Fairy
Tales teve uma recepção inicial bem mais
calorosa com resenhas de destaque na Folha, capa do Caderno 2,
destaque na Bizz, uma crítica muito criativa do Ayrton
Mugnaini Jr, na Somtres. Pena que foi aí que descobrimos
que sem jabá é impossível manter a chama
acesa.
Já na época
do Bi-Sex, a nossa demo rolava nas FMs de Santos, e sempre ficava
em 2º lugar nas mais pedidas, e um dia um locutor me disse
'"a de vocês é a mais pedida, mas o 1º
lugar tem que ser do Tim Maia”.
Meses depois, o René
nos procurou, dizendo que ia bancar a gravação de
mais 4 faixas, que seriam incluídas como bônus na
versão em cassete. Eu perguntei a ele se ele não
queria investir um pouco mais e lançar o CD, porque na
época, teria sido o primeiro CD independente lançado
aqui, mas ele disse que o CD não iria durar e o futuro
da música estava no cassete (estavam lançado o tal cassete
digital na época, o DCC, além da fita ADAT). Ele
estava mais ou menos certo, mas na época era impossível
prever que o vinil voltaria com força, e o CD demorou muito
para mostrar que não seria tão durável.
Mofo:
- Fale da gravação de "Vessels' Town, pela
Stilleto e do "Chemical Archives", pela Cri du Chat.
Johnny Hansen: - Ah, o Vessels' Town...
O nosso disco por um selo maior, mas que mesmo assim se tornou
o item mais raro, por causa da péssima distribuição.
O disco que o André
Forastieri alegou ser nosso melhor trabalho, e eu só fui
entender essa declaração quase 15 anos depois. O
disco que saiu com problema de prensagem, a primeira tiragem (tem
que ter havido duas, pq a primeira vinha com dois encartes, um
envelope em papel fosco, e outro igual, mas em folha única
e papel brilhoso; a segunda só vinha com um deles, já
não me lembro mais qual).
Ele também
foi lançado em cassete e só fui ficar sabendo disso
anos depois. O Vessels' Town foi gravado apenas
por mim e pelo Verta. O César já tinha saído
pq a mistura de rock com eletrônico estava cada vez mais
diluída (eu praticamente estava só cantando, e ele
tinha cada vez menos e menos músicas onde não se
usava a bateria eletrônica) e o Johnsson trabalhava em Cubatão,
no esquema de turno, o que dificultava para shows, já que
não havia como um cobrir um colega como normalmente se
faz em horários fixos (por isso, o Marreco que tocou guitarra
nas apresentações de lançamento do Taxidermy,
chegou a substituir o Johnsson no baixo em vários shows,
entre 87 e 88).
Fora isso, trabalhar em
Cubatão traz grandes prejuízos à sua saúde,
e foi isso o que aconteceu com ele naquela época, ele ficou
doente, os médicos pareciam não descobrir o que
ele tinha, e por isso, ele apareceu uma única vez no estúdio
Mosh, onde o disco foi gravado, já na fase final de mixagem.
Mas nós o creditamos assim mesmo, afinal a maioria das
músicas era dele.
Se o Fairy Tales
foi o meu disco (claro que todos colaboraram, mas todos entraram
num barco para o qual eu já tinha apontado a direção),
Vessels' Town foi o disco do Verta. A essa altura,
ele já não era mais apenas alguém com um
pouco de maior experiência do que nós; ele já
estava com um equipamento bem melhor, tinha feito cursos de programação
na Roland, já tinha um domínio bem melhor da linguagem.
O problema é que gravando em dois, fica aquele equilíbrio
de 50 x 50%, sem ninguém para desempatar. O Yves Zimmelmann,
o mesmo técnico que gravou o Fairy Tales,
estava trabalhando lá, o que foi ótimo, porque além
de ser um bom técnico (exceto em gravação
de guitarra, mas ninguém na época poderia ter feito
melhor), ele já estava sintonizado com nosso conceito e
com o nosso estilo de fazer as coisas (embora, pelo que eu me
lembre, ele não se drogava durante as sessões).
Mas tudo rolou a contento,
acho que o maior choque de frente foi em Stephanie Jensten: o
Verta fez a programação da música, que começava
com um sample de violão e terminava do mesmo jeito.
Mas no estúdio, eu ouvi um sample de um teclado
chamado PPG Wave, que me lembrou as coisas antigas do OMD, e nós
o usamos no refrão e eu tive a ideia de todos os outros
instrumentos irem sumindo até que só ficasse o som
dele. Uma das diferenças entre eu e o Verta é justamente
essa, ele esquematiza tudo antes, e procura seguir milimetricamente,
enquanto eu me desvio do caminho, se achar que a nova rota pode
ser mais interessante.
Curioso que nenhum de nós
pensou em fazer os dois mixes e depois decidir qual ficou melhor,
ficamos brigando pelo final como se tivéssemos uma só
tacada, e acabou prevalecendo o meu, porque eu aleguei que a música
era minha, rsrsrsrs.
O Verta fez a carranca
dele e se deitou num sofá lá. No finalzinho da música,
o teclado que estávamos usando não tinha polifonia
suficiente para tudo que estávamos usando e quando entrou
um dos últimos sons programados, o chimbal sumiu. Eu me
viro pro Verta e pergunto o que fazer, e ele sem se mexer do sofá
diz "se vira, a música é sua", ah ah ah
ah ah ah.
Eu viro pro Yves e digo
"deixa assim mesmo" (sempre fui menos preocupado com
detalhes do que ele). Tempos depois, ele admitiu que a minha ideia
tinha ficado melhor mesmo, e eu toda vez que o chimbal some, sinto
aquela puta esvaziada na música, eh eh.
Infelizmente, fomos para
a Stilletto, que foi um dos selos mais interessantes que já
surgiram nesse país, no momento em que eles começaram
a ir a deriva. O disco foi mal distribuído, teve o problema
de prensagem que sempre fazia alguma música do lado 1 pular, e
teve pouca divulgação. De cabeça, eu me lembro
de uma resenha na Ilustrada, se não me engano do Marcos
Sá Leitão, onde ele concluía "Santos
não é Manchester, é melhor" (eu só
não entendo porque, não lembro mais se foi o Sá
Leitão, ou o Marcos Smirkoff, que fez uma resenha do Fairy
Tales na Bizz, nos colocando no topo, e na Bolsa de Discos,
um deles classificou o disco apenas como regular), uma crítica
negativa na Bizz, do Arthur Couto (que foi o primeiro cara da
grande imprensa a nos dar apoio em seu fanzine Gass,
e fez o release de divulgação do Fairy Tales),
que nos acusou de termos nos rendido a dance music.
Na época, fiquei
meio envergonhado, porque achava que ele tinha uma certa razão,
mas hoje vejo que ele não tinha entendido direito alguns
conceitos do Verta da mesma forma que eu também não
tinha entendido. Mas ouvindo hoje, em termos de qualidade de áudio,
o Vessels' Town dá um banho no Fairy
Tales, e embora haja umas duas ou três músicas
onde eu faria algo diferente, acho que ele envelheceu melhor.
Fizemos uns poucos programas
de rádio e um de TV (sem tocar, apenas sendo entrevistados)
arrumados pelo divulgador da Stilletto, o César Cardoso
(sobrinho do Wanderley), um rapaz bastante esforçado e
de boa vontade. Ainda não tínhamos resolvido a questão
das limitações técnicas para reproduzir as
novas músicas ao vivo, e o César disse que assim
que estivéssemos prontos para tocar, que ele agendaria
mais TV para nós.
Mas uma tarde o Verta me
liga dizendo que o César tinha se desligado da Stilletto,
e estava esperando para saber quem seria o substituto para dar
continuidade ao trabalho. Passados alguns meses, sem ninguém
nos chamar para nada, eu ligo para o Verta e pergunto quem era
o novo divulgador do selo, e ele responde que simplesmente não
haviam contratado nenhum substituto. Foi quando eu percebi que
a Stilletto estava com os dias contados.
Mofo: - Em 1996,
vocês terminaram, antes de retornarem em 2005. O que você
fez durante todo esse tempo?
Johnny Hansen: - Fizemos
shows esparsos depois do lançamento do Vessels'
Town, gravamos faixas para as coletâneas Minimal
Synth Ethics (o volume 1 foi lançado em vinil,
o 2 em CD), quer dizer, gravamos uma, "Hardware", para
o volume 2. "Rottweilers's Fest", a instrumental que
aparece no volume 1, havia sido gravada nas sessões do
Vessels' Town, e tinha um vocal de uma amiga
do Verta, mas embora ela cantasse bem, não conseguiu se
encaixar no nosso esquema, e o Verta, numa atitude parecida com
as minhas, resolveu lançá-la instrumental mesmo.
Nessa época, eu
estava com meu projeto paralelo, o Bad Cock (embora o Verta e
Johnsson tivessem os seus, respectivamente, Third World Fear e
CPC, só eu levei a coisa mais adiante, fazendo shows),
e pela falta de tempo dos outros, fazia mais shows com ele do
que com o Harry.
Isso
foi até 1994, quando o Enéas Neto, na época
a frente da loja Muzik e do selo Cri Du Chat, manifestou interesse
em relançar material nosso em CD, já que com exceção
das faixas nas coletâneas (inclusive Zombies num cd que
veio encartado na revista Audio News), a maior parte do material
era inédita nesse formato.
Tivemos uma reunião
com o René, detentor dos direitos dos fonogramas (ainda
que as gravações master já estivessem em
nosso poder) e compramos 5 ou 6 músicas, as da Stilletto já
eram nossas, pq nunca houve contrato formal entre as partes, e
gravamos 4 inéditas. Assim, nasceu a coletânea Chemical
Archives, lançada entre o final de 94 e o início
de 95 (um jeito elegante de dizer que não me lembro mais
a data certa) e fizemos alguns shows para promovê-la.
Em 96, fomos até
o sítio do César, em Serra Negra, para gravar um
disco novo por nossa conta, pois, a essa altura, o Verta já
tinha um notebook com um Cakewalk. Tínhamos um novo membro,
o Marco Costa, um dos primeiros fãs da banda, e que calhou
de mudar para Santos e de ter um W30 igual ao do Verta. Então,
nos ocorreu a ideia de fazê-lo se juntar a nós, porque
tendo o mesmo hardware, poderia também substituir o Verta
nos shows, já que ele andava cada vez com menos tempo.
Fizemos shows alternados
como trio e como quarteto nessa época. E o Marco também
era baterista e, às vezes, o Johnsson ia para o baixo e
retomávamos nossa raiz punk. Gravamos várias bases,
mas nenhum vocal definitivo, apenas fizemos (eu e o Johnsson)
algumas vozes guia. Mas o Verta acabou sendo transferido para
o Rio, o Johnsson se mudou para o interior de SP e eu estava de
mudança para Fortaleza, onde iria abrir uma loja de CDs.
O projeto, ao qual nos referíamos como Black Hill Sessions
(o Verta tinha uma sugestão de nome para o disco, esqueci
qual era, mas lembro-me que a detestava, rsrs) acabou sendo abandonado.
As faixas mais perto do final e com vocais guia mais razoáveis
acabaram sendo incluídas como bônus no box Taxidermy.
Com essa separação
geográfica, uma pausa era inevitável. O último
show nesse período foi apenas comigo e com o Marco (e foi
gravado em MD) e depois fui para Fortaleza. Como eu me achava
o mais interessado em carregar a bandeira, arrumei um tecladista
lá, o Paulo Eduardo, e chegamos a gravar uma faixa do New
Order para um tributo, usando o nome Harry. Mas nos 9 anos em
que lá fiquei, nos apresentamos apenas duas vezes, uma
em Fortaleza mesmo, e outra no festival Electrone, em Recife.
Eu voltaria de lá para o lançamento do Taxidermy,
em 2005, apenas para o show de lançamento, mas acabei ficando
por aqui de vez.
Mofo:
- Fale então sobre o box, Taxidermy – Boxing Harry,
um apanhado de toda a carreira da banda e músicas inéditas.
Johnny Hansen: - O Chemical Archives
resolvia apenas parcialmente o nosso acervo em CD. Deixamos músicas
fortes como "Lycanthropia" e "Soldiers" de
fora, porque se, algum dia, o Fairy Tales fosse
lançado em CD (uma possibilidade distante naquele tempo),
ainda geraria algum interesse.
Um selo, do Sul, se não
me engano, o RDS, lançou o catálogo da Wop-Bop em
CDem 2000 ou 2001, incluindo o Fairy Tales, mas:
1) O som é péssimo,
não sei o que usaram como fonte, já que as masters
estavam com o Verta.
2) Como não assinamos nada na compra das músicas
com o René, ele deve ter se esquecido disso, mas metade
do Fairy Tales já era nosso, então
nenhuma edição poderia ser lançada sem que
fossemos consultados. Mas ninguém estava a fim de encrenca.
O Verta ou o Cesar entraram em contato com o cara do selo (nunca
soube o nome dele) e pediram apenas que ele nos mandasse uma caixa
para nós, o que ele concordou, tendo até aparecido
numa festa que o César organizou em Santos, e prometendo
que mandaria os CDs naquela semana. E nunca mais ouvimos falar
dele. Não deixa de ser um collector's item e até
veio com as 4 faixas bônus do cassette, sendo que 3 delas
não existem em CD nem mesmo no box ("Dive to Drown"
porque ficou um horror, embora a música seja boa, "Fairy
Tales", por ser muito longa e "Radio Dull", até
hoje eu não sei o motivo).
Foi revoltante ter que
entrar no Extra (por alguma razão, a coleção
da Wop-Bop foi distribuída na rede em todo país,
para um público que provavelmente nunca ouviu falar daquelas
bandas), para ter que comprar um disco da minha própria
banda.
Em 2004, antes do conceito
do box, o Rodrigo Lariú (do selo Midsummer Madness) entrou
em contato com o Verta, interessado em lançar o Fairy
Tales e o Vessels' Town em cd, com faixas
extras, mas separadamente. Eu, que ainda estava no Ceará,
e o Verta passamos semanas no telefone discutindo sobre quais
extras entrariam ou não. Começamos a pensar em shows.
Nessa época, o Cesar tinha um trio, mais por diversão
do que outra coisa, chamado Avalanche, que tocava covers e muito
do nosso material.
O Avalanche era formado
por ele, o Marreco (que já tocara baixo em shows conosco)
na guitarra, e o Lee Luthier no baixo. Considerando que o Cesar
era ex-membro, eles estavam afiados no nosso material, a distancia
geográfica que nos separava, e o fato de que o Midsummer
Madness era um selo mais voltado para guitar bands, resolvemos
que usaríamos o Avalanche como banda de apoio nos shows.
Mas, ainda em 2004, o Alex
Nakanda (ex Vanishing Point e ex Cybernetic Faces) gravou uns
4 ou 5 covers do Harry e postou no site da Fiber, mantido pelo
Enéas Neto, e a principal referencia na música eletrônica
por aqui. As músicas bateram o recorde de downloads do
site, surpreendendo tanto o Enéas como a nós mesmos,
que não achávamos que o Harry ainda gerasse algum
interesse. Daí nasceu a ideia do box contendo os 2 álbuns
e o EP. Conversamos com o Lariú que levou de boa, não
descartando um disco de inéditas no futuro, e usamos as
faixas gravadas em Serra Negra para entrarem como bônus
tracks. Além disso, a Fiber promoveu um concurso de remixes,
no qual os 2 vencedores teriam suas faixas incluídas no
box.
Fizemos o show de lançamento
em 2005, tocando junto com a banda belga The Neon Judgement, e
mais alguns no circuito de SP. Ficou difícil shows em outros
lugares, pois o fato da banda contar agora com 6 membros (ao vivo,
para futuras gravações, seria mantida a formação
do Fairy Tales) inviabilizava transportes e hospedagens.
O último show foi no Centro
Cultural Vergueiro no final de 2006. Além do que, os outros
tinham pouco tempo para a banda devido a seus afazeres.
Eu, como estava desempregado
depois que fechei a loja, ao menos tinha tempo para compôr
material novo, e era frustrante não dar vazão a
ele. Assim, em 2009, caí fora e montei o H.A.R.R.Y. and
The Addict com o Ricardo Santos. Fizemos várias músicas
novas e regravamos alguns clássicos do Harry antigo, que
não foram lançados oficialmente, mas estão
disponíveis na net. E fizemos nossa estreia abrindo para
a clássica banda belga Vomito Negro, ao mesmo tempo em
que estava sendo lançado o tributo Sky Is Grey,
com outras bandas tocando nosso material.
Infelizmente, esse começo
promissor foi esfriando, pela falta de espaço numa cena
que só tem encolhido nos últimos anos, fizemos uma
meia dúzia de shows em 2009 (a partir de nossa estreia
em julho), 2 shows em 2010, 1 em 2011 e só, até
agora. Eu me mudei para São Thomé das Letras, mas
continuava indo regularmente a Santos, onde nunca deixei de ensaiar
com o Avalanche. Daí surgiu a base do que seria o novo
projeto.
Mofo: - Gostaria
que fizesse um paralelo sobre a cena independente dos anos 80
com a atual. Converso com muitas pessoas e elas reclamam que o
espaço hoje é bem mais reduzido, o interesse do
público é bem menor e que muitos locais oferecidos
possuem condições precárias. É isso
mesmo?
Johnny Hansen: - Esta provavelmente será a resposta
mais curta, pois a pergunta já explica tudo. Até
uns 15 anos atrás, existia até um circuito nas lojas
para a venda de demo tapes em cassetes. Bandas absolutamente desconhecidas
encontravam um público ávido por material novo.
Essa curiosidade desapareceu. Hoje só há espaço
para bandas cover, o público só quer ouvir o que
conhece, e a maioria não tem discernimento para decidir
se gosta de algo ou não, e a mídia faz a festa impingindo
porcarias.
Não é uma
questão de gosto músical: pode conferir que os fãs
de funk/pagode/axé não sabem escrever, não
reconhecem uma ironia e aceitam qualquer ideia que lhes é
impingida, por mais absurda que seja. Isso é ótimo
para governos que querem se perpetuar no poder a troco de panis
et circensis e bolsa isso ou bolsa aquilo, mas para quem
trabalha com cultura, é um pesadelo. E, infelizmente, o
fenômeno parece mundial, tanto que as grandes bandas e artistas
tem preferido fazer turnês tocando seus álbuns clássicos
na íntegra do que promover novos trabalhos.
Mofo:
- Hansen, agradeço a entrevista Fale dos projetos futuros
seus e da banda. E deixe um recado aos fãs..
Johnny Hansen: - De uns
anos para cá, voltei a me interessar sério pela
guitarra. Ligando os pontos, percebi que eu não tenho nada
gravado com uma guitarra decente (quase o mesmo pode ser dito
do Cesar, que só gravou bateria de verdade em duas faixas,
o resto foi tudo com electronica), o interesse do público
pelo material já estabelecido, o fato de que várias
coisas que eu vinha tocando com o Avalanche soam melhor do que
as versões originais e a questão de que não
somos mais tão jovens, então se fosse preciso deixar
ao menos um legado, essa seria a hora.
Resolvemos regravar o
Fairy Tales apenas com guitarra, baixo e bateria.
Na verdade, regravamos 7 das 10 faixas, porém acrescentamos
9 inéditas (uma boa parte composta naquela época,
e umas poucas novas mesmo). Eu tinha visto o video da série
Classic Albums relativo ao Never Mind The Bollocks,
dos Sex Pistols, um disco que até hoje soa bem produzido
(afinal, o produtor Chris Thomas, foi o mesista do Álbum
Branco), e vi o engenheiro de som Bill Price mostrando
a parede de guitarras que o Steve Jones (um dos unsung heroes
do instrumento) construía gravando várias vezes
as bases uma por cima da outra.
E finalmente, creio que
consegui diminuir a distância entre conceito e resultado
final. O Johnsson acabou ouvindo os bounces (uma amostra
não mixada e não timbrada, feita geralmente logo
após a gravação para referência) e
se interessou pelo projeto com ele já em andamento, e veio
para Santos e gravou teclados (sem nada programado, tudo tocado
a mão) nas faixas, que ainda serão mixadas.
A questão é
decidir o que fazer com elas. CDs perderam todo o atrativo. Gostariamos
de lançar em vinil, mas sai muito caro, e teria que haver
algum selo interessado. Talvez montemos uma capa e botemos para
baixar gratuitamente na net mesmo. E fora dos Sesc da vida, não
há muito espaço para shows (cansamos dos buracos
alternativos, sem equipamento, sem pagamento e ainda nos tratando
como eles estivessem fazendo um favor em nos deixar tocar em seus
porões), mas na hora não pensamos, fomos lá
e fizemos. Ainda não sabemos também com que nome
lançaremos esse trabalho.
O
H.A.R.R.Y. and The Addict ainda existe, e também está
com gravações novas em fase de mixagem.
Pensei em usar The Yardrats
de novo, afinal é um trabalho que remete a nossas origens,
mas um anime japonês está usando um nome parecido
e isso iria ferrar com a busca no Google (para a qual, o nome
Harry já é um problema).
Deveremos manter o nome
Harry (and the Addicts) mesmo, ficarei
com 2 projetos de nome parecido, mas não posso resolver
todos os problemas do mundo.
Encerrando, gostaria de
agradecer a você e ao seu blog pela chance de uma entrevista
tão detalhada, e reconheço que fazer um trabalho
assim por aqui, exige uma dose de insensatez tão grande
quanto a necessária a mim para continuar fazendo música
nesse lugar após tantos anos de obscuridade. Mas vamo que
vamo...
Para quem quiser conhecer
a música do Harry, basta acessar esses endereços:
http://soundcloud.com/hansenharryebm
http://soundcloud.com/h-a-r-r-y-and-the-addict
http://www.reverbnation.com/johnnyhansenhansenharryebm
http://hansenharryebm.tnb.art.br/
http://harryandtheaddict.tnb.art.br/
http://www.myspace.com/harryandtheaddict
http://www.harrynet.com.br
Espero que tenham gostado. Um abraço
e até a próxima coluna!
Discografia
Caos EP (1987)
Harry Tales (1988)
Vessels' Town (1990)
Chemical Archives (1994)
Taxidermy - Boxing Harry (2005)
|