Demorou.
Demorou muito. Muito mesmo. Mas finalmente saiu em cd o único
disco do catálogo dos Talking Heads que faltava. E como
fazia falta! Mesmo que os motivos sejam completamente inexplicáveis,
gravadora e banda estão desculpados. Afinal, 16 das 33
canções não estavam presentes no álbum
duplo de 1982. Assim sendo, o cd (também duplo) é
uma peça de extrema importância para os fãs
e amantes do pop e rock.
Os Talking Heads foram
a banda mais importante dos Estados Unidos nos anos 80. Sua mistura
de rock básico, com ritmos africanos, letras que retratavam
fenômenos do cotidiano, além da postura nervosa,
agitada e hipnótica de David Byrne, marcaram de forma monumental
seus contemporâneos e fãs.
Quando foi lançado,
o disco cobriu com perfeição toda a primeira fase
do grupo, desde o disco de estréia Talking Heads:
77, até a trilogia com Brian Eno (não
foi apenas Bowie que teve sua trilogia com Brian...) quando
a banda se apresentava com 10 pessoas no palco, sendo um deles
o virtuose guitarrista Adrian Belew, que tocou com Frank Zappa
e King Crimson.
O primeiro disco cd mostra
a banda ainda como um quarteto e utilizando apenas a trinca baixo-bateria-guitarra
e algum violão eventual, nas nove primeiras faixas. É
um som rude e até desagradável para que conhece
o grupo apenas de Stop Making Sense. As primeiras
sete faixas foram gravadas em 1977 e as cinco seguintes, no ano
de 1978, que não constavam no disco original. O disco segue
com a banda entrando no ano de 1979, ainda como quarteto, mas
dessa vez mais seguros e confiantes e mais apurados, com Jerry
Harrison tocando sintetizadores. O cd 1 fecha com uma bela interpretação
de “Heaven”, a melhor canção de todo
o catálogo do grupo.
O cd 2 é um outro
papo. Com Belew, Nona Hendryx (vocais), Busta Jones (baixo e guitarra),
Dollette McDonald (backing vocals), Steve Scales (percussão)
e Bernie Worrell (percussão e vocais), o grupo está
em outro patamar, deixando de serem uma banda de rock para se
transformarem em um grupo com grande cuidado visual e sonoro,
na tentativa de traduzir os intricados arranjos dos discos com
Eno para o palco.
Se o grupo ainda não
tinha atingido a sofisticação visual mostrada em
Stop Making Sense, ao menos o som não
fica nada a dever. Em um período em que quase se separaram
pela ingerência de Eno sobre Byrne, o quarteto original
mostra que se a convivência cotidiana era insuportável,
ia muito bem, obrigado, em cima de um palco. Tina, por exemplo,
não se limita ao baixo, tocando sintetizador com competência.
Byrne deixa um pouco a guitarra de lado para dar um ar mais teatral
e mostrar que foi um dos grandes performers da década.
Destacar uma faixa das 14 que compõem o lado B seria covardia,
pois há um fio condutor em todas.
O cd já vale o alto
investimento se tivesse “apenas” 16 músicas
a mais. Mas vale ressaltar que mantiveram o alto padrão
gráfico do vinil original, com as centenas de fotos e trazendo,
de quebra, informações técnicas preciosas,
além da enorme melhora sonora, que ressalta a perfeição
cada timbre dos instrumentos. Resumindo: um disco tão bom
ou até melhor que Stop Making Sense.
Agora é esperar
(e torcer) para que mais esse lançamento saia por aqui.
Imagino que seja pouco provável, mas como o Brasil é
um país altamente imprevisível, não custa
torcer.
CD1
1 - New Feeling
2 - A Clean Break (Let's Work)
3 - Don't Worry About the Government
4 - Pulled Up
5 - Psycho Killer
6 - Who Is It?
7 - The Book I Read
8 - The Big Country
9 - I'm Not in Love
10 - The Girls Want to Be With the Girls
11 - Electricity (Drugs)
12 - Found a Job
13 - Mind
14 - Artists Only
15 - Stay Hungry
16 - Air
17 - Love --> Building on Fire
18 - Memories Can't Wait
19 - Heaven
CD2
1 - Psycho Killer
2 - Warning Sign
3 - Stay Hungry
4 - Cities
5 - I Zimbra
6 - Drugs (Electricity)
7 - Once in a Lifetime
8 - Animals
9 - Houses in Motion
10 - Born Under Punches (The Heat Goes On)
11 - Crosseyed and Painless
12 - Life During Wartime
13 - Take Me to the River
14 - The Great Curve
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