Em 1981, eles
ganharam o mundo com o hit "Don't You Want Me", já
como trio, arrebentando as paradas de sucesso do mundo todo. Nessa
altura do campeonato, o Human League era uma aposta perdida, mas
Phil Oakey conseguiu conduzir o grupo ao estrelato. Em 2005 chegaram
a passar pelo Brasil em um show em que comprovaram seu enorme
carisma. Se você odeia música pop dançante,
com um cantor com visual meio bicha (embora há quem garanta
que de bicha ele não tem nada), caia fora daqui. Mas se
você gosta daquele pop sem vergonha, cheio de sintetizadores
e vocais derramados, típicos dos anos 80, o Human League
é mais do que um prato cheio... é gênero de
primeira necessidade!
Como
toda grande banda, o Human League tem uma história cheia
de acidentes interessantes... Vamos a ela, então...
Em
1977, na cidade inglesa de Sheffield, dois jovens programadores
de computadores, Martyn Ware e Ian Craig Marsh, resolveram montar
uma banda, inspirados no Kraftwerk. Após alguns meses de
economia, compraram um antigo teclado Korg e começaram
a estudar o equipamento, já que não entendiam nada
de música.
Assim, nasceram o The Dead
Daughters, que ensaiaram para uma festa de 21 anos de um amigo.
Nessa época, o cantor era Adi Newton. O grupo, aliás,
havia mudado de nome: The Future. Mas o futuro deles continuava
opaco...
O
Future chegou a gravar algumas demos e até viajaram para
Londres, na esperança de conseguirem algum contrato.
Ninguém gostou muito
do som do grupo, especialmente pela falta de guitarras no som
e Adi acabou pulando fora. Posteriormente ele formaria o Clock
DVA. E aí apareceu o homem que iria mudar o rumo da banda:
Phil Oakey.
Oakey também não
tinha muita experiência musical - era enfermeiro. Jamais
tinha pisado num palco ou testado sua voz, mas Martyn achou que
ele teria grandes chances, pois tinha um belo corte de cabelo
e se vestia muito bem.
Oakey
já conhecia o The Future e acabou aceitando o convite.
O problema é que eles não tinham mais grana para
investir em equipamentos, a não ser um saxofone de Oakey.
Tudo começou quando
Phil ouviu uma melodia e dela escreveu uma letra que acabou resultando
no primeiro compacto, Being Boiled. Nessa altura,
eles já eram The Human League, nome tirado de um jogo de
ficção-científica chamado Star Force. "Being
Boled" apareceu na primeira demo gravado pela banda, junto
com "Circus of Death" e "Toyota City."
Acabaram
conseguindo contrato com um pequeno selo escocês chamado
Fast Records, de Bob Last e lançaram o compacto
Being Boled.
O compacto atraiu uma grande
atenção, apesar das poucas cópias prensadas
e teve ótimo apoio da crítica. Dessa maneira, o
grupo resolveu fazer seu primeiro show, o que aconteceu no dias
12 de junho de 1978, no Bar 2 no Sheffield's Psalter Lane. A apresentação
foi traumática, em parte pela precariedade dos equipamentos
e pela pouca técnica dos músicos.
O
medo de tocar ao vivo acabou sendo solucionado quando apareceu
Adrian Wright, que mexeu na parte visual da apresentação,
colocando telões no palco, mostrando trechos de séries
de televisão e filmes.
O grupo acabou aceitando
um convite para abrir os shows de Siouxsie and the Banshees. Porém,
eles temiam que seus sintetizadores fossem destruídos pelos
raivosos fãs punks, que certamente iriam arremessar tudo
em cima deles. Temendo algo pior, mandaram construir uma parede
de fiberglass no palco. Alguns críticos viram
isso como uma manifestação artística do trio,
dizendo que o Human League queria manter um certo distanciamento
da platéia. Ah, se eles soubessem a verdade...
Em abril de 1979 é
lançado o segundo compacto, The Dignity of Labour,
bem mais experimental e com pouco apelo comercial. No entanto,
o grupo começou a negociar com alguns selos maiores e acabaram
assinando com a Virgin, que havia prometido total liberdade criativa
a eles. E, como forma de agradecimento, chamaram Bob Last para
trabalhar como empresário do trio.
O grupo acabou tendo uma
estréia de fogo já contratado por um selo grande,
abrindo as apresentações de ninguém menos
que Iggy Pop. Eles haviam lançado o compacto "I Don't
Depend on You", que causou uma pequena tensão entre
o grupo e o selo, já que as músicas não possuíam
solos de guitarra. O grupo reclamava que a "total liberdade"
não era bem verdade e tinham que adicionar alguns instrumentos.
Em contrapartida, exigiam que essas faixas fossem lançadas
como se fossem de um grupo chamado The Men.
Foi
dessa maneira que entraram em estúdio para gravar o primeiro
LP, Reproduction. O disco foi gravado em três
semanas durante o mês de julho.
Quando o disco foi lançado,
não obteve muito sucesso comercial, em parte devido ao
som extremamente eletrônico e recebeu algumas resenhas boas
e outras ruins e fracassou com baixas vendagens. O melhor momento
do disco era a canção "Empire State Human",
que se tornou o primeiro compacto do LP.
As pífias vendagens
acabaram fazendo com que a Virgin cancelasse a turnê européia
do grupo, que fariam em novembro, quando abririam para os Talking
Heads.
O grupo entrou no ano de
1980 com um EP chamado Holiday '80, com covers
de Bowie e uma canção chamada Marianne. O EP acabou
fracassando nas paradas e no desespero, a Virgin lançou
"Marianne" em um compacto de sete polegadas para tentar
vender algo. Não deu muito certo...
No
dia 15 de maio, o grupo começou uma turnê de 12 datas
pelo Reino Unido, abrindo em Newcastle e fechando no dia 29 de
maio, em Wakefield. Adrian Wright era agora um membro do Human,
convertido a um quarteto. Nesse mesmo mês é lançado
o segundo disco: Travelogue.
Travelogue
estreou bem nas paradas inglesas, na 16ª posição
e mostrava um grupo ainda investindo nas experimentações,
mas com uma roupagem mais acessível.
Porém, a falta de
maiores sucessos e a pouca grana que cada membro recebia (aproximadamente
30 libras semanais) começaram a causar rusgas internas.
Martyn e Phil não se suportavam e Ian Craig não
aceitava mais Adrian como membro do grupo. E tudo piorou quando
Gary Numan conseguiu o topo da parada com seu novo single. Como
resultado, Ian e Martyn deixaram o Human League. Não foram
poucos o que decretaram a morte do grupo.
Mas Phil foi previdente
e antes do primeiro passo, chegou a um acordo legal com os dois
para manter o nome da banda e uma pequena porcentagem dos lucros
do próximo disco e excursão.
Ian e Martyn acabaram montando
o British Electric Foundation (BEF), uma companhia que tinha como
missão lançar novas bandas, caso do novo grupo dos
dois, o excelente Heaven 17.
E
Phil? bem, ele fez algo totalmente impensável ao convidar
duas jovens dançarinas para integrarem a nova formação
do Human League. Phil as encontrou na boate Crazy Daisy, de Sheffield.
Joane Catherall (morena) e Susan Sulley (loira) eram as novas
caras da banda.
Quando a turnê européia
começou, as platéias foram hostis com as duas meninas.
Ironicamente, elas eram
fãs da banda e tinham comprado suas entradas para os shows.
Quando eles se apresentaram na Alemanha, os fãs ficaram
revoltados em não ver a formação original
do grupo e eles foram vaiados. Uma tremenda prova de fogo para
a nova reencarnação do Human League. Ao vivo, a
banda acabou usando alguns tapes que haviam sido preparados por
Martyn Ware.
A
turnê não fez muito sucesso, mas mesmo assim, o grupo
se trancou no Monumental Studios, onde o Heaven 17 estava compondo
seu primeiro disco, o clássico Penthouse &
Pavement.
Essas demos foram bancadas
por Simon Draper, um velho fã do grupo. O primeiro resultado
dessas gravações foi "Boys & Girls",
número 47 nas paradas.
Oakey teve então
a idéia de agregar mais dois músicos ao grupo, Ian
Burden e Jo Callas, ex-Resillos.
Draper pediu que a banda
continuasse a trabalhar no estúdio e de lá saíram
com outro sucesso ainda maior, "The Sound of the Crowd",
número 20 nas paradas.
O
sucesso começou a chegar muito forte quando "Love
Action", bateu no terceiro posto das paradas de compacto.
Por tudo isso, a banda
estava bastante otimista com o novo disco. Otimistas sim, mas
não esperavam, com certeza, tamanho sucesso.
Quando Dare!
saiu, o grupo ganhou as manchetes do mundo todo. Phil Oakey conseguira
o inimaginável: pegar uma banda dada como morta e fazer
dela um tremendo sucesso.
A
histeria atingiu níveis inacreditáveis, quando Simon
Draper convenceu Phil a tirar um quarto compacto do disco, "Don't
You Want Me", para aproveitar a época de Natal, apostando
que a canção teria grande êxito. E como: "Don't
You Want Me" foi número 1 na Inglaterra e o Human
League era a grande sensação do ano.
Curiosamente, Phil não
gostava da música e a achava com pouco apelo comercial.
Pois o compacto - amparado em um belo vídeo - vendeu 1.430.000
de cópias, um dos 25 mais bem sucedidos da história
do rock.
A
gravadora rapidamente começou a relançar os antigos
discos do Human League tentando ganhar ainda mais sobre o sucesso
e em 1982 sai um disco de remixes, Love And Dancing,
creditado a The League Unlimited Orchestra, enquanto a banda saía
em uma grande turnê.
Após o final dos
shows, o grupo lançou um novo compacto, Mirror
Man, segundo lugar nas paradas. O céu era o limite.
Em 1983, o Human League
já era um super-grupo e quando lançaram um novo
compacto, (Keep Feeling) Fascination - novamente
segundo lugar nas paradas e oitavo nos Estados Unidos - a banda
começou a sofrer um bloqueio criativo. O primeiro problema
foi a saída do produtor Martin Rushent, que estava irritado
com a banda, que "requentava" algumas fórmulas,
ao invés de progredir.
Sem o que lançar,
a Virgin pegou uma canção nova, "I Love You
Too Much", e a lançou junto com o EP Fascination,
com os remixes de "Fascination" e "Mirror Man",
apenas para o mercado norte-americano. Conclusão: o EP
foi um dos campões de importação na Inglaterra,
naquele ano.
A banda sofria uma pressão
tremenda para fazer um segundo hit mundial. A banda ficou dois
meses trancada no estúdio e Simon Draper chamou o produtor
Hugh Padgham. Ele havia recém-produzido o disco Synchronicity
do The Police, e a eterna "Every Breath You Take". A
missão dele era orientar o grupo em uma nova direção.
Quando
Hysteria saiu, um clima de decepção
tomou conta de fãs e da gravadora. O disco conseguiu a
terceira posição nas paradas, mas o disco não
agradou muito e logo estava fora das paradas.
A grande canção
do disco era "Louise", mas o clima de fracasso era evidente.
Por isso, o grupo se reuniu no início de 1985 na casa de
Phil Oakey com o produtor Colin Thurston, que havia produzido
Reproduction. Jo Callas anuncia que irá
deixar o grupo e é substituído por Jim Russell,
ex-Associates.
Nesse meio tempo, Phil
Oakey lançou um disco em parceria com o lendário
produtor Giorgio Moroder chamado Philip Oakey & Giorgio
Moroder, que conseguiu apenas o número 52 nas
paradas. A idéia inicial da gravadora era chamar Moroder
para produzir a banda.
A
banda passaria outro ano em branco e muitos davam o grupo como
encerrado. Mas, a banda voltou com disco Crash,
amparado no hit "Human", que estreou na sétima
posição das paradas. A canção deu
ao grupo o primeiro lugar nas paradas norte-americanas, repetindo
o feito de Dare! e revitalizando a carreira do
grupo.
Após uma grande
turnê, Ian Burden anunciou que estava de saída e
a banda sumiu durante o ano de 1987.
Com
o silêncio, a Virgin colocou no mercado a coletânea
Greatest Hits, terceiro posto nas paradas e no
ano seguinte, os dois primeiros discos são lançados
em CDs pela primeira vez.
Novo disco só em
1990 com Romantic?, um fracasso em todos os sentidos.
O baque foi tão
forte que eles ficaram cinco anos sem lançar mais nada.
Naturalmente acabaram dispensados pela Virgin, em 1992, o que
arrasou o trio. Na mesma leva, a gravadora também dispensara
o Heaven 17, encerrando uma era gloriosa das bandas new waves.
Em
1994, um pequeno selo chamado East West, de propriedade da Time
Warner Company, anuncia que assinou com o grupo, após assistirem
alguns ensaios e ouvirem as novas canções.
No dia 31 de dezembro daquele
ano lançam um novo compacto, Tell Me When,
batendo na 7ª posição, mais do que banda e
selo esperavam naquele momento, especialmente após participarem
do programa televisivo Top Of The Pops.
Ironicamente, a mesma música
havia sido recusada pela Virgin, em 1992, que lamentava o "sucesso"
de sua antiga contratada.
Em
1995 sai Octopus, primeiro disco em cinco anos.
Produzido pelo tecladista Ian Stanley, ex-Tears for Fears, um
antigo fã do grupo e que soube valorizar os vocais de Phil
Oakey e a ajudar a elaborar arranjos inspirados, que não
se ouvia desde Dare!.
Uma grande volta, sem dúvida
alguma.
Após Octopus,
o grupo lançou ainda algumas coletâneas, e apenas
mais um disco de estúdio e isso em 2001: Secrets.
O
disco fez algum sucesso e mostrou a velha classe da banda em 16
novas canções, mostrando que tinham envelhecido
com dignidade e ainda conseguiam cativar com novas canções.
Em 2005, o grupo passou
pelo Brasil, onde realizou alguns shows e conquistou os antigos
fãs com muita simpatia e seus antigos hits.
Deixo vocês com a
discografia do grupo e uma foto atual do trio. Um abraço
e até a próxima coluna.
Discografia
Being Boled (compacto,
1978)
The Human League Cassete (fita cassete, 1979)
The Dignity Of Labour (compacto, 1979)
The Taverner Tape (fita cassete, 1979)
I Don't Depend On You (compacto, 1979)
Reproduction (1979)
Empire State Human (compacto, 1979)
Holiday '80 (EP, 1980)
Travelogue (1980)
Only After Dark (compacto, 1980)
In Darkness (1981)
Dare (1981)
Love & Dancing (1982)
Hysteria (1984)
Electric Dreams (1984)
Crash (1986)
Human League Greatest Hits (1988)
Romantic? (1990)
Octopus (1995)
Human League Greatest Hits (1995)
Soundtrack To A Generation (1996)
The Human League - The Best Of (1998)
Secrets (2001)
The Very Best Of (2003)
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