Em 1989, o Echo and the Bunnymen
parecia ter virado apenas história. Corria um boato - que
depois mostraria-se verdadeiro - de que a banda poderia até
voltar, mas sem Ian McCulloch, algo chocante para os fãs.
Seria como um retorno dos Smiths sem Morrissey. O choque foi ainda
maior quando o mesmo Ian anuncia sua carreira-solo e lança
um belo disco, Candleland. Um LP que poderia ter sido um novo
de sua ex-banda e que trazia uma linda parceria com a não
menos maravilhosa Elizabeth Fraser, do Cocteau Twins, em uma faixa
de derreter corações: "Candleland".
Mas
Candleland não era a primeira experiência
solo de Ian.
Em 1984, havia lançado
um compacto, cantando "September Song", de Kurt Weil
e Maxwell Anderson, apenas por diversão.
O single - editado nos
formatos 7 e 12 polegadas - alcançou a modesta 51ª
posição no Reino Unido
e tenho orgulho de ter ambos.
Mas o que era uma brincadeira
ficou sério após o adeus do Echo and the Bunnymen.
A vida de Ian andava complicada, em termos pessoais, já
que descobrira que seu pai estava gravemente enfermo na última
turnê da banda.
A banda fazia a última
apresentação no Japão, no dia 25 de abril
de 1988, em Fukuoka, no Shimin Kaikan Hall, quando o baixista
Les Pattinson o avisa sobre outro ataque cardíaco sofrido
por seu pai. Sem ter como embarcar de volta para a Inglaterra
naquele momento, resolveu subir ao palco, pegando o primeiro vôo
disponível minutos depois e desembarcando em casa poucos
minutos depois de seu pai falecer.
"Deixei a banda após
o último show. Embora a mídia saiba que oficialmente
sai do grupo em outubro, meu adeus aconteceu lá pelo dia
26 ou 28 de abril. Foi uma grande apresentação,
sabia que meu pai estava muito doente e já tinha tomado
a decisão de deixá-los", confessou em uma entrevista,
um ano depois, quando promovia Candleland.
Para piorar o clima, o
baterista Pete de Freitas morrera em um estúpido acidente
de moto, no dia 14 de junho de 1989, com apenas 27 anos.
O
fim da banda, a morte de seu pai e de Pete só fez Ian se
tornar mais autodestrutivo, abusando da bebida e da cocaína.
"Em alguns dias, ele
parecia duas pessoas", dizia o guitarrista Will Sergeant.
Você não sabia qual Ian estava presente: o cara brilhante,
meu chapa de tantos anos ou aquela criatura idiota, drogada, aturdida."
Ian, no entanto, queria
mostrar que estava vivo e poderia seguir em frente. Após
ouvir o disco de estréia dos islandeses do Sugarcubes,
Life's Too Good, ficou impressionado com o som
das guitarras e acabou pedindo para que o produtor Ray Shulman,
ex-Gentle Giant, assumisse o controle de seu primeiro disco.
Acompanhado do próprio
Ray (baixo, teclados e programação), Ian assumiu
a guitarra e se juntou ao baterista do The Cure, Boris Williams,
o baixista Mike Jobson e com a diva Liz Fraser do Cocteau Twins
na faixa-título.
Candleland
chegou ao 18º posto no Reino Unido, mas teve uma vendagem
bem modesta. O disco trazia as seguintes faixas:
Lado A
01. "The Flickering Wall" –
3:35
02. "The White Hotel" – 3:15
03. "Proud to Fall" – 3:57
04. "The Cape" – 4:09
05. "Candleland" – 3:18
Lado B
01. "Horse's Head" – 4:47
02. "Faith and Healing" – 4:36
03. "I Know You Well" – 4:06
04. "In Bloom" – 5:02
05. "Start Again" – 5:00
A
grande faixa sem dúvida é "Candleland",
embora o primeiro compacto tenha sido "Proud to Fall".
"É uma
das melhores coisas que já fiz, a melhor música
que ouvi este ano. É bem suave. Mesmo as músicas
mais "rock" do disco são suaves. É um
álbum reflexivo. Eu não queria tentar provar que
ainda sou um rocker. Muitas coisas aconteceram na minha vida nos
últimos dezoito meses",
explicou o vocalista à jornalista Anamaria G. de Lemos,
em uma entrevista para a Revista BIZZ.
Sempre sonhador, Ian disse
que ainda poderia escrever a melhor canção de todos
os tempos e confessava que sua favorita era "Ceremony",
do New Order.
"Houve uma época
em que pensei que 'Killing Moon' fosse essa música, e ainda
acho que é a melhor escrita nos anos 80. 'Birthday' (do
Sugarcubes) chega perto porque não explica nada. É
magia, um truque, mas não um mistério. 'Candleland'
está num nível próximo, mas não é
o bastante. Há algo em 'Killing Moon' que partiria o meu
coração, mais do que 'Candleland'. Talvez... não
no próximo álbum, mas no terceiro, Deus me abençoe
com o talento divino para compor."
Justiça
seja feita, Candleland é uma boa estréia,
um LP superior à segunda tentativa do próprio, Mysterio,
de 1992.
Certamente há arranjos
parecidos demais com o Echo, ou até mesmo o New Order.
Mas a beleza da faixa-título, ou a bela "Proud
to Fall" , o primeiro single
fez do disco um bom investimento.
Para promover o disco,
Ian montou uma nova banda, batizada de Prodigal Sons (antiga canção
do Rolling Stones, editado no LP Beggar's Banquet,
de 1968), formada pelo baterista
Steve Humphries, ex-Marc Almond, por um baixista de nome Ed, de
apenas 18 anos e de Liverpool. Para
a guitarra rítmica, foi chamado um outro desconhecido,
John ex-Timberwalle e o também guitarrista Mike Mooney,
que tocou com a banda, em 1983, durante alguns shows da turnê.
Subir em um palco e ver
os fãs berrarem pelos clássicos do Echo and the
Bunnymen era muito doloroso para Ian, que tentava valorizar as
novas composições.
Após um segundo
disco solo igualmente sem sucesso, acabaria reencontrando o velho
amigo Will no projeto Electrafixion... Mas isso é papo
para um outro dia.
Um abraço e até
a próxima coluna.
Discografia
Discos
Candleland (1989)
Mysterio (1992)
Slideling (2003)
Pro Patria Mori (2012)
Singles
"September Song" (1984)
"Proud to Fall" (1989)
"Faith and Healing" (1990)
"Candleland (The Second Coming)" (1990)
"Honeydrip" (1992)
"Lover Lover Lover" (1992)
"Dug for Love" (1992)
"Sliding" (2003)
"Love in Veins" (2003)
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