parceria com Creedance
Kiddo
Iggy é
um mito. O pai do punk, a figura que levou todos os excessos que
o rock consagrou aos extremos. Um poeta urbano com um aguçado
senso de realidade, um tigre com um microfone na cara, um enlouquecido
ao vivo. Em cena fez de tudo e mais um pouco: cortou-se, desmaiou,
simulou sexo com músicos e fãs, provocou arrepios
com seu olhar selvagem e suou noites e noites por puro prazer
e tesão.
Tesão Pela
Vida – A História de Iggy Pop
Capítulo
1 – Seu Rostinho Lindo Vai Parar No Inferno
Apesar
de uma carreira de mais de 30 anos de estrada, chamá-lo
de "dinossauro" soa uma heresia. A cada disco, projeto,
Iggy sempre mostrou coragem, carisma e uma sinceridade rara. Suas
histórias com os Stooges ou internações psiquiátricas
apenas reforçam o mito que construiu.
Por ironia do destino,
Iggy é tido como uma mera descoberta de David Bowie (esse
pensamento existe e muito!). Saiba que Ziggy Stardust, a criação
de Bowie, não existiria sem Iggy Pop. E nem Sex Pistols,
Siouxie and the Banshees, Joy Division, New Order, Jesus &
the Mary Chain, Nick Cave, Smiths, e por aí vai. Iggy fez
(e continua a fazer) músicas de inegávél
mérito e qualidade. Ele é um pensador simples, com
uma sonoridade básica, e embora de forma bem diferente,
acaba se tornando tão influente para o rock quanto um Lou
Reed ou Jimi Hendrix.
Crescendo em Carpenter
Park
"Na época,
o trailer era uma idéia revolucionária para qualquer
um que não precisava morar em um. Meu pai era um doido.”
– Iggy Pop
No dia 21 de outubro de 1947, em Muskegon no estado de Michigan,
nasceu James Newell Osterberg Junior. Ele era filho de Louella
Christensen, descendente de noruegueses e finlandeses e James
Newell Osterberg, de descendência irlandesa e inglesa, que
havia sido adotado quando menino por uma família sueca
que foi morar nos Estados Unidos. Louell era controladora de vôo
enquanto James pai era professor de ensino ginasial.
Quando o pequeno Jim tinha
um ano e meio, a família mudou para Ypsilanti, uma cidade
industrial, nos arredores de Ann Arbor. Sr. Osterberg não
era uma pessoa muito social e não gostava da idéia
de ter vizinhos xeretas aparecendo e observando o que faziam ou
deixavam de fazer no próprio quintal. Iggy definiu seu
pai como uma pessoa meio esquisita e meio socialista. Com sua
aversão aos vizinho, Sr. Osterberg jamais se interessou
em ter uma casa, no sentido tradicional da palavra. Assim sendo,
na primeira oportunidade, ele comprou um trailer e a família
se estabeleceu no Carpenter Trailer Park na estrada US23, perto
do campus da Universidade de Michigan entre as cidades de Ypsilanti
e Ann Arbor.
O parque ficava situado
nos terrenos que pertenciam a um fazendeiro local chamado Leverette.
Geralmente parques de trailers são locais habitados por
dois tipos de pessoas: as de passagem, turistas ou trabalhadores
e suas famílias vindo de outras cidades ou estados onde
o trabalho ficou escasso. Encontram trabalho periódico
em Ann Arbor ou Detroit, que fica perto. Permanecem por um tempo,
depois seguem para outro lugar ou voltam para o estado ou cidade
de onde vieram. Outro grupo de pessoas que vivem em trailers são
as pessoas de poucos recursos, sem condições de
comprar uma casa, mas com algum dinheiro guardado. Não
querendo ficar pagando um aluguel alto, compram um trailer e vivem
em um parque específico que oferece um espaço com
um ponto de eletricidade em troca de um aluguel bem inferior (praticamente
irrisório) do que qualquer apartamento no centro ou subúrbio.
Desta maneira, os Osterberg acabaram sendo a única família
do parque com educação formal completa.
Iggy
só iria conhecer o conceito de casa como algo fixo no chão
quando estava cursando o primeiro ano primário, aos sete
anos de idade. E mesmo assim, a diferença entre a maneira
dele viver e de seus colegas de escola só iria começar
a lhe afetar depois dos dez anos. A família Osterberg morava
em um modelo ‘Full Moon,’ com 45 pés de comprimento
por 8 de largura. Um trailer tem como regra, para economizar espaço,
portas tipo sanfona sem trancas. Exceção feita para
a porta do banheiro. Portanto, com o inicio da puberdade e a descoberta
da satisfação encontrada no próprio sexo,
o menino Jim passou a viver o maior tempo possível se masturbando
no milharal do fazendeiro Leverette.
Aluno Modelo
“Não tenho
nenhuma opinião sobre o que pessoas falam sobre coisas
que eu tenha feito.” – Iggy Pop
Ann Harbor era uma cidade
estudantil, distante 65 km a oeste de Detroit. Devido ao ar poluído,
o pequeno Jim sofreu durante vários anos de bronquite e
princípios de asma, o que obrigava os pais a terem sérias
preocupações com sua saúde. Seu quadro ficava
sistematicamente pior no final de outono, durante a extensão
do inverno e às vezes até o inicio da primavera.
Nunca no calor do verão. Sua condição exigia
que tivesse um adulto supervisionando seus movimentos sempre.
Como seus pais trabalhavam, ele ficava por conta de uma babá.
O pequeno James passou boa parte de seus primeiros oito anos de
vida tomando banhos de vapor e sendo vigiado vinte e quatro horas
por dia. Somente depois dos oito anos ele teve permissão
para sair sozinho pelas redondezas, desde que desse notícias
a cada vinte minutos. Esta vigilância sistemática
continuaria até quase os quatorze anos.
Independente disso, James era uma criança alegre, divertida
e simpática, além de ser excelente aluno, disciplinado,
inteligente e observador, chegando a ser considerado um "aluno
modelo". Seu primeiro educandário foi uma escola comunitária
chamada Carpenter School. James logo demonstrou uma extrema facilidade
com Matemática e Inglês. Durante o segundo ano primário
já podia soletrar palavras grandes não importando
quantas silabas tivessem, causando constrangimentos durante os
campeonatos internos de soletração, em alguns alunos
da terceira e da quarta série. Aos poucos, foi mostrando
também uma forte queda pela arte, sempre engajado nos projetos
musicais e de teatro da escola.
Depois dos oito anos, seu
tratamento contra asma passou a ser uma droga receitada chamado
Quadranol. Sua composição química continha
efedrina para estimular as glândulas adrenais e fazendo
com que os brônquios inchados encolhessem, permitindo assim
que a pessoa voltasse a respirar normalmente. Para não
ficar muito excitado, o composto também incluía
uma dose de fenobarbital, que servia como relaxante e calmante.
Sua dose era meia pílula por dia, mas aos nove anos, James
passou a ter o hábito de roubar algumas e tomar secretamente
uma pílula inteira. Em suas palavras, ele define a experiência
como sendo "Wow!"
Durante toda a sua vida
até então, James foi incutido o medo de andar livremente
pela vizinhança, por medo de ter uma crise repentina e
não ter ninguém para acudi-lo. Mas agora que ele
tomou uma pílula inteira, dentro de seu raciocínio
infantil, ele achou que podia tentar dar uma volta. James Júnior
descobre o que é fazer uma caminhada pelo campo sozinho
pela primeira vez. Ele também descobre o barato que é
tomar drogas e o associa a sua nova sensação de
liberdade. Ainda continuaria havendo um considerável controle
sobre o jovem Jim; o receio e temor pela saúde do menino
foi um hábito difícil para seus pais quebrarem.
E aos poucos, James começava agora a dar sinais claros
de rancor.
Paixão Por
Baseball
Uma das maiores mágoas
era que seu pai jamais o deixou jogar nenhum esporte coletivo.
Seu pai, James Osterberg Senior quando solteiro foi um ótimo
jogador de beisebol, mostrando-se um exímio batedor e guardião
da primeira base. Tanto que chegou a jogar nos times juvenis do
Brooklyn Dodgers antes da Segunda Guerra. Quando ele ia ser aproveitado
para o time profissional, estourou a Guerra e ele acabou convocado.
Ao retornar, resolveu investir em uma educação superior.
Com a mesma facilidade para aprender que seu filho demonstrava,
James Osterberg pai acaba fazendo faculdade e se formando em letras,
se tornando em seguida professor de primeiro grau.
Seu
filho James Osterberg Júnior herdou de seu pai o talento
natural para jogar baseball. Porém, as únicas ocasiões
em que tinha oportunidade para demonstrar o talento eram nas partidas
amadores em campos de férias. Eventos onde seu pai era
um dos professores/conselheiros e vigias. Sr. Osterberg era responsável
por organizar os times, a partida e ainda servia de pitcher (ou
lançador) para os dois times. O pequeno James, uma vez
já na adolescência, estava começando a se
sentir frustrado pela constante presença controladora do
pai. Foi em uma destas partidas que Jim de taco na mão,
ao receber o lançamento do pai, tentou acertar a tacada
de forma que a bola fosse direto de volta em direção
do lançador. Iggy diria que ele mirou nos dentes de seu
pai. Bom batedor que era, dito e feito, a bola acertou o pai na
cabeça, resultando em um galo.
Foi cursando Junior High
School no Ann Arbor High que o pequeno James começou a
sentir os primeiros conflitos com garotos de sua idade. O motivo
era o mais simples possível. Jim estudava com meninos ricos,
abastados e que o ridicularizavam por morar em um trailer. "Os
meninos não deixavam que eu me aproximassem deles por me
considerarem uma pessoa pobre, esquisita. Eu tinha tanto conhecimento
ou até mais do que eles, mas era julgado pela aparência
modesta da minha família. Isso me machucou muito."
Uma importante lição
de vida aprendida pelo pequeno Jim aconteceu quando vários
meninos de sua turma da escola vieram lhe visitar. James inicialmente
pensou que vieram como amigos, mas os garotos criaram uma algazarra
na casa, mexendo e desarrumando tudo. Depois, para coroar o dia,
passam a empurrar o trailer pelos lados, sacudindo-o na esperança
de ver se a geringonça poderia ser virada. Mesmo não
conseguindo o que queriam, muitas coisas acabaram caindo e se
espalhando ou espatifando pelo chão. Esta foi a lição.
Sempre desconfiar de gente com melhor situação financeira
que você, principalmente se vierem com um papo de ser seu
amigo.
Ainda
um bom aluno, James mostrou ser um bom orador. Acabou se tornando
vice-presidente de sua turma, o que lhe conferiu a tarefa de orador
em um projeto da escola que imitava as reuniões internacionais
realizadas na ONU. O projeto foi chamado "The Model United
Nation". "Eu não me lembro qual país Jim
tinha que representar. Ele ficou dias e dias trabalhando nisso
e fez um excelente projeto sobre como deveria ser a Nações
Unidas naquele tempo", lembra sua mãe. Foi também
durante o segundo grau que Jim passou a se desenvolver com composições
escritas. Jim escrevia tão bem que alguns de seus poemas
acabaram sendo publicadas em revistas estudantis. Muitos dos outros
alunos consideravam este material bem avançado para os
tempos. Foi também nesta fase que a música entrou
definitivamente em sua vida.
A Descoberta do
Som
“Na fábrica,
com a criação de cada pára-choque, fazia-se
um estrondo impressionante. Era um som tão simples, que
até nós podíamos domá-lo.”
– Iggy Pop
Quando Jim tinha nove anos,
ele fez um passeio escolar com o resto de sua turma. Morando em
Ann Arbor ao lado de Detroit, centro automobilístico do
país, no lugar de um museu ou o zoológico, o passeio
foi visitar a fábrica de automóveis da Ford que
ficava em River Rouge. Este passeio foi representativo, porque
nele, Jim acabou ouvindo um som. Era o barulho da maquinaria fazendo
pára-choques de ferro. A cada impacto, um estrondo e seu
eco subseqüente. Este estrondo, simplista em sua essência,
fazia o coração bater mais forte, tamanho volume,
graças a violência do impacto. Jim jamais iria esquecer
daquele som.
A partir daí, Jim
passaria a perceber com maior atenção, os sons que
existia ao seu redor. Morar em um trailer, onde tudo é
elétrico, trouxe para Jim uma variação diferente
de sons e uma noção para apreciá-los. Um
dos sons que passou a chamar muita sua atenção era
o aquecedor elétrico de ambiente, uma espécie de
ventilador que soprava ar quente. O barulho do aparelho em si
o deixava intrigado ao ser ligado ou desligado. Jim às
vezes usava a grade do aparelho, tocando-a feito uma harpa. Outro
som que ele gostava de ouvir era o zumbido emitido pelo barbeador
elétrico do seu pai. Iggy hoje credita a seu trailer e
todo o metal que o cercava, por provocá-lo a ser baterista.
Ele passaria a batucar em tudo, usando as panelas de sua mãe
como tambores e seus brinquedos como baquetas.
Jim se tornara um menino
atento a música que rolava nos finais dos anos 50 e começo
da década de 60. Seus artistas favoritos eram o mais ecléticos
possíveis: jazzistas como John Coltrane, Archie Shepp,
Sun Ra, e crooners como Frank Sinatra. Bluesmen como Howlin' Wolf,
Muddy Waters, eram influências da cidade de Chicago que
não ficava muito longe. Grupos vocais de negros também
eram apreciados, uma influência da cidade vizinha Detroit.
E rockers como Jerry Lee Lewis, Carl Perkins e Elvis Presley,
uma influência em praticamente todo garoto da época.
Tanta paixão acabou fazendo com que relaxasse sua vida
acadêmica e optasse por tornar-se um baterista. Mas não
foi nada fácil.
Os Iguanas
“Todos nós
quando garotos sonhávamos com o sucesso, em atrair outros
adolescentes, em encontrar o prazer de viver. Eu descobri isso
através da música.” – Iggy Pop
Foi ainda em Junior High
School que James passou a tocar bumbo na banda da escola. Ele
tinha um colega de sala que tocava bem violão chamado Jim
McLaughlin. Osterberg convence McLaughlin a se juntar a ele e
entrar em uma apresentação de talentos promovida
anualmente pela a escola. Este acabou sendo o primeiro gosto pela
ribalta dos dois. Apresentam "Let There Be Drums" e
outro número, um improviso a base de um riff criado por
McLaughlin cujo o nome até ele mesmo já esqueceu.
No
ano seguinte, já em High School, McLaughlin chama seu amigo
e vizinho Sam Swisher para se juntar ao grupo tocando saxofone.
Nasce assim The Iguanas no outono de 1963, Osterberg então
com 15 anos de idade. Como havia dois Jims na banda, Jim Osterberg
passava ser chamado de Jim O. O primeiro emprego dos Iguanas foi
uma apresentação realizada em uma festa na University
High School. A banda foi paga com nove dólares pela noite,
um total de três dólares para cada um, uma boa soma
já que em 1963, um compacto simples custava meio dólar.
Empolgado com a recepção
do público, Jim O incentiva a investir mais na banda, e
portanto gravam as primeiras demos com a ajuda do pai de Jim McLaughlin,
que preparava profissionalmente a trilha sonora para patinadores
olímpicos. A sessão rendeu a gravação
de sete instrumentais. São eles "Out of Limits",
"Walk Don't Run", "Surfin' Bird", "Johnny
B. Goode", "Tequila", "Pipeline" e "If
I Had A Hammer", versão americana para o sucesso Italiano
“Datemi Un Martello.” Pelo repertório escolhido,
verifica-se a influência de surf music da costa oeste e
a ausência total de bandas inglesas que em 1963, ainda não
haviam conquistado o mercado norte-americano.
No início de 1964,
The Iguanas sentiram a necessidade de um baixo para dar chão
ao som e um segundo guitarrista. Chegava então Nick Kolokithas
e Don Swickerath, respectivamente guitarra e baixo, transformando
assim o trio em um quinteto. The Iguanas fizeram um relativo sucesso
em Ann Arbor, e durante a maior parte do ano, tocaram em festas
colegiais e fraternidades, depois evoluindo para conseguirem apresentações
em clubes noturnos e concertos.
Conforme
seu envolvimento com The Iguanas e a cena musical de Ann Arbor
ia consumindo mais de seu tempo, mais preocupados e irritados
ficaram seus pais. "Eu me lembro de uma discussão
que tive com meu pai porque ele disse que estava decepcionado
comigo por ter largado a escola para me tornar músico e
que eu deveria sair de casa se quisesse continuar com isso. Eu
disse que saía, mas no primeiro segundo que botei os pés
fora do lar fiquei assustado e ele foi bastante compreensivo e
carinhoso para rever sua opinião e me ajudar." Depois
do desapontamento inicial, os pais de Jim decidiram que o correto
seria dar total apoio à escolha do filho, tanto na parte
material, como emocional.
Com a nova formação
de quinteto, uma nova sessão de demos foram gravados, novamente
na casa de Jim McLauglin. Agora com McLaughlin e Kolokithas fazendo
vocais, gravam um repertório que já demonstra a
influência da época imposta pela invasão do
rock britânica no mercado americano. Gravam então
"Twist And Shout", "Things We Said Today",
"Slow Down", "I Feel Fine", "Tell Me",
"Wild Weekend", e "California Sun". Gravam
também a mais clássica dos roques de garagem, "Louie
Louie", primeira ocasião conhecida em que Iggy assume
os vocais.
Com a invasão britânica,
Jim O passou logo a admirar além dos Beatles, a banda irlandesa
Them (que tinha como destaque o vocalista Van Morrison) e a banda
mod The Kinks. Aliás, "You Really Got Me" foi
durante um certo tempo uma das suas canções prediletas.
O ano de 1965 traria também o impacto da canção
"Satisfaction" e a primeira prova da influência
dos Rolling Stones sobre o circuito rhythm & blues. Agora,
a adoração de Jim O pelos Kinks só fora suplantada
quando ele ouviu The Who. Curiosamente, embora The Who só
fosse conseguir conquistar efetivamente o mercado americano após
sua participação no festival de Monterey em 1967,
dentro do estado de Michigan a banda ganhou fãs imediatos
desde seu primeiro lançamento, "My Generation"
em 1965.
The Iguanas se mantiveram
ativos durante todo o ano. Tanto trabalho rendeu ao grupo verba
para investir em um compacto simples. A sessão de gravação
foi realizado no United Sound Studio entre final dezembro de 1964
e inicio de janeiro de 1965. Gravaram então três
canções. Duas composições novas, "I
Don't Know Why" escrita por Kolokithas e "Again And
Again" escrita por James Osterberg (Iggy). Além destes
dois, teve ainda o grande número do momento da banda, "Mona"
de Bo Diddley.
O estúdio era de
quatro canais onde em um canal se gravou a banda tocando o número,
no segundo e terceiro canal gravaram a voz e no quarto percussões
e detalhes na bateria. Lançaram o compacto Mona/I Don't
Know Why através de um selo que eles mesmo criaram, Forte
Records, no melhor estilo faça você mesmo. Cerca
de 1000 cópias foram produzidas onde a banda passou a vender
durante seus shows. Em Ann Arbor, alguns compactos chegaram a
fazer parte das seleções em jukeboxes, aquelas caixas
que tocam discos por uma moeda. Outros chegaram a tocar nas rádios
locais e até em uma programação na cidade
vizinha de Detroit. Não chegou a entrar em nenhuma parada
de sucesso, porém ajudou o suficiente para os Iguanas conseguirem
apresentações em várias cidades como Lansing,
Chicago e Toledo, iniciando um período que pode ser considerado
o auge do grupo.
James
Osterberg acabou os seus estudos em 1965, quando resolveu fazer
da banda um grupo com apresentações constantes.
Conseguiram no verão daquele ano seis apresentações
semanais, com cinco entradas por noite no Club Ponytail em Harbor
Springs. Jim O recebia a considerável quantia para a época
de 55 dólares semanais. Uma das primeiras coisas que ele
fez com seu primeiro pagamento foi comprar os recém lançados
"Bring It All Back Home" de Bob Dylan e "Out Of
Our Heads" dos Rolling Stones, seus dois primeiros LPs. Até
então, ele só tinha compactos.
O Harbor Springs era um resort, ponto de alta classe, com hospedes
seletos.
Entre
outras bandas que estavam tocando no local durante a estadia dos
Iguanas estavam The Kingsmen, The Shagri-las, The Four Tops, The
Guess Who e The Reflections. Além do repertório
da banda, em várias ocasiões, tiveram que servir
como banda para cantores ou cantoras contratadas. Crooners com
carreiras menos marcante; gente como Bobby Goldsboro.
O ambiente e clientela
luxuosa serviu para fazerem contatos. Entre estes, conseguiram
alguém para bancar a ida e estadia da banda em Chicago
naquele outono para tocarem no aniversario da filha, que adorara
a recente apresentação do grupo. O dinheiro e a
atenção acabaram subindo a cabeça de Jim
O que resolve pintar o cabelo de platina, coisa para aparecer
no palco, uma vez que o baterista ficava sempre escondido lá
trás. O problema é que fora do palco, um adolescente
andando pelas ruas de cabelo comprido e platinado no interior
de Michigan em 1965, geralmente atrai atenção mesmo
que não queira. E foi de fato o que aconteceu. Jim acabou
preso e depois despedido do Club Ponytail.
Mas se para James, a música
era sua paixão, para os outros integrantes, o grupo era
apenas uma diversão de adolescência. Com o fim do
verão e o inicio das primeiras aulas na faculdade para
a maioria dos integrantes dos Iguanas, a turma resolveu que era
melhor deixar a banda de lado para não atrapalhar os estudos.
Jim O ficou arrasado quando os outros integrantes resolveram deixar
o grupo. "Fiquei muito frustrado com isso. Música
era a minha vida, e para eles não. Eles queriam ficar compondo
ao estilo Beatles. Eu queria rock mais bruto, tipo Kinks, Who,
Them, Stones. Acabamos nos separando."
Aluno da Universidade
de Michigan
“Tentei faculdade
por um semestre mas percebi os estudantes como sendo brutos e
idiotas.” – Iggy Pop
Para
curar a dor, James Osterberg volta a estudar, conseguindo ingressar
na Universidade de Michigan com facilidade, já que possuía
um excelente histórico escolar. Acabou matriculando-se
no curso de antropologia, e durante o tempo que esteve se dedicando
às suas aspirações acadêmicas, conheceu
através de uma amiga a banda The Velvet Underground.
A amiga é na verdade
a mãe de um colega de sala, Tom Wehrer. Anne Wehrer era
uma mulher extremamente engajada com movimentos culturais. Membro
do grupo teatral The One Group, seus esforços e influência
sobre assuntos culturais dentro da Universidade de Michigan lhe
proporcionou a tarefa de co-dirigir The Dramatic Arts Center.
Esta instituição, sobre sua tutela, passou a se
dedicar a produções de peças avant-garde
e exposições de filmes experimentais de 16mm. Junto
com seu marido, acabam fundando The Ann Arbor Film Festival, The
Ann Arbor Blues Festival e uma serie de concertos gratuítos
no parque da cidade.
Seus contatos se estendiam
para os dois pólos culturais do país, Nova York
e Los Angeles. A ponto que sua casa foi freqüentada por gente
como Jane Fonda ou Andy Warhol quando estes estiveram na cidade.
Andy Warhol estava excursionando os Estados Unidos com seu show
The Exploding Plastic Inevitable. Esta exposição
consistia em ter uma banda em um palco tocando enquanto filmes
e slides eram projetados sobre eles ao mesmo tempo em que três
pessoas dançam e encenavam coreografias específicas,
geralmente ligados ao sadomasoquismo. Tudo isto enquanto fazia-se
jogos de luzes. Um conceito totalmente novo, idealizado inicialmente
por um escritor beatnik chamado Byron Gysin, que usou para seus
recitais. Warhol é o primeiro a pegar a idéia e
explorar ela ao máximo dentro do conceito de show de música.
É claro que hoje em dia, um show de rock com show de luz
é coisa comum. Mas para março de 1966, isto era
uma novidade.
A apresentação
do show The Exploding Plastic Inevitable foi realizado na própria
Universidade, onde houve sobre a tutela de Ann Wehrer vários
eventos artísticos desta natureza. A banda que tocava neste
evento montado por Andy Warhol era a coisa mais estranha que já
se ouviu naquele pedaço do mundo. Chamavam-se The Velvet
Underground e eram de fato extremamente diferentes do que se espera
de uma banda supostamente de rock. Presente ao evento estava Jim
O., que odiou a banda com toda a paixão. Após o
evento, foi realizada uma festa na casa de Wehrer e através
de sua amizade com Tom, Jim freqüentou. Lá conheceu
e conversou com Andy Warhol, Lou Reed, John Cale e Nico, embora
o VU musicalmente não fosse nada para ele então.
Levaria meses até Iggy passar a realmente entender e se
alimentar musicalmente desta fonte. No entanto, não demoraria
muito para James concluir que a vida de estudante de antropologia
pouco lhe acrescentava. Logo o interesse por música falou
mais alto e Iggy acabou arranjando um emprego em uma loja de discos
chamada Discount Records.
The Prime Movers
“Muita da seriedade
nos ensaios empregado nos Stooges eu aprendi com esses caras.”
– Iggy Pop
Quando o Butterfield Blues
Band tocou em Ann Arbor pela primeira vez em 1965, acabou germinando
o interesse de alguns garotos brancos em tentarem tocar blues
seriamente. Embora eles já gostavam do chamado blues clássico,
o exemplo de ver músicos brancos tocando blues de qualidade,
impulsionou o nascimento da banda The Prime Movers no verão
de 1965. A formação inicial contava com os irmãos
Erlewine - Daniel e Michael; Robert Sheff, Robert Vinopal e Spider
Winn. A divisão de tarefas contava com Michael na guitarra
rítmica, gaita e vocais, Daniel na guitarra solo e vocais,
Sheff nos teclados e vocais, Viopal no baixo, enquanto Winn cuidava
da bateria. Com a entrada do ano de 1966, Viopal acaba deixando
o grupo e sendo substituído por Jack Dawson. Depois foi
a vez de Winn deixar o grupo.
Tendo
uma boa reputação com baterista, James Osterberg
foi então procurado e convidado a integrar o grupo. James
tinha apenas 18 anos, percebendo rapidamente que os rapazes desta
banda, além de mais velhos, eram músicos melhores.
Todos os integrantes da banda moravam juntos em uma casa em North
Division Street e o novo integrante logo se mudou para lá.
Nesta vida comunitária a banda forjou o seu som e James
Osterberg aprendeu a ser um baterista melhor, um profissional
melhor e levar ensaios extremamente a sério. Aprende também
sobre arte, política e experimentalismo.
Esta seria a formação
considerada clássica dos Prime Movers e a banda rapidamente
passaria a ganhar fama e respeito pelas cidades vizinhas, graças
a uma boa dose de blues tradicional, com pitadas de soul e gospel.
Por causa de sua passagem pela banda The Iguanas, o pessoal dos
Prime Movers passam a referir a ele como Iggy, o apelido ficando
pelo resto de sua carreira. Michael Erlewine comenta sobre seu
antigo colega de grupo, que neste ponto de sua vida Iggy é
um rapaz que não fuma, não bebe, é extremamente
polido, educado e bastante tímido.
The Prime Movers trabalhavam
com um empresário chamado Jeep Holland, que era largamente
conhecido na cidade graças ao seu trabalho com a principal
banda da região na época, The Rationals. Holland
tentou transformar The Prime Movers em uma banda pop, seguida
a mesma direção apontada pelos Beatles, que ele
usava com The Rationals. No entanto, The Prime Movers recusou
a proposta. Tocando e representando exclusivamente música
enraizada no verdadeiro blues, The Prime Movers viu passarem várias
oportunidades para um contrato com uma gravadora. No entanto,
seu firme propósito em promover blues lhe deu extrema credibilidade
e a banda conseguiu fama equivalente a outras bandas novas da
área como The Amboy Dukes e MC5. Com a fama dos Prime Movers,
crescia também a notoriedade de seus integrantes.
Um
destes fãs era Scott Asheton que passava a ir até
a casa na rua North Division para assistir os ensaios. Certo dia
pediu a Iggy se ele pudesse ensinar-lhe como tocar. Iggy o colocou
sentado na sua bateria e lhe deu as primeiras dicas sobre o instrumento.
Scott demonstrou ter um dom natural para manter a batida no tempo.
Embora Iggy já vira esse e outros caras com ele na loja
de discos onde trabalhava, foi através do contato com Scott
que Iggy passou a conhecer melhor os seus amigos.
O irmão de Scott,
Ron Asheton freqüentara a mesma escola que Iggy. Não
se falavam, a pinta de mal do Ron não dando espaço,
embora a pinta de pobretão de Jim O também não
devia ter agido a favor. Os dois se viam pelos corredores, talvez
até se cumprimentassem, mas nada muito além. No
entanto, foi somente agora, após Iggy freqüentar a
faculdade, que passariam a se ver mais, se encontrando perto de
um café popular entre os universitários que ficava
ao lado de uma drogaria, a Marshall's Drug Store. Com Iggy trabalhando
na Discount Records, sua amizade com os irmãos Asheton
se aproximaria, firmando-se ainda mais a partir deste período
como baterista dos Prime Movers. Junto com os irmãos Ashetons,
geralmente estavam seus amigos Dave Alexander e Billy Chetham,
todos frequentadores assíduos tanto da drogaria, quanto
da loja de discos, Discount Records.
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