Após ficar sem a proteção
de Bowie, Iggy começou a cuidar sozinho de sua carreira-solo.
Vivendo um bom momento profissional, Iggy teve alguns dissabores
quando James Williamson lançou, à sua revelia, Kill
City, disco que o desagradou pelo modo caótico em que foi
gravado, embora anos depois, falasse que era um grande trabalho.
É nessa época também que lança seu
primeiro disco ao vivo, o fraco TV Eye e o bom New Values, em
1979, fechando assim sua participação nos anos de
1970.
O grande sucesso com seus
dois primeiros discos-solos rendeu a Iggy uma desagradável
surpresa quando a pequena Boomp Records colocou no mercado o disco
Kill City, creditado a Iggy Pop & James Williamson.
Iggy odiou o lançamento:
"James lançou apenas para ganhar algum dinheiro em
cima de mim, porque esse não é um disco pronto e
gostaria que James pudesse ter esperado para o terminarmos. Estou
triste, porque é um disco medíocre, o mais perto
do medíocre que posso chegar e não aconselho aos
meus fãs a comprá-lo."
Mas
James deu sua explicação para lançar a bolacha:
"eu quis lançá-lo porque considero um bom documento
do que os Stooges estavam fazendo e, em minha opinião,
é o melhor disco que já gravei."
Nesse disco de 11 faixas,
a banda é composta, por Scott Thurston (baixo, teclado,
harmonica e efeitos); Brian Glascock (bateria, tambores africanos
e vocais); Steve Traino (baixo), os irmãos Tony (baixo)
e Hunt Sales (bateria); John Harden (sax) e Gayna (backing vocals).
A produção e mixagem ficaram a cargo do próprio
Williamson, que tocou todas as guitarras.
Kill
City é na verdade um disco com má qualidade
sonora e confuso, razão pela qual Iggy não gostou
quando ele foi lançado, especialmente após ter lançado
dois discos tão impecavelmentes produzido por David Bowie.
Mas, ao que parece, Iggy mudou de opinião ao longo dos
anos. Em uma entrevista em 1988, quando do lançamento de
Instinct, Iggy disse que ficou irritado quando
esse disco saiu e ninguém o comentou: "eu tenho imenso
orgulho de Kill City, é um grande disco
e ninguém o tocou ou deu bola para ele. Tudo que tocava
nas rádios eram apenas merdas feitas por artistas fabricados."
Verdade ou não,
Iggy tinha conseguido sair um pouco da sombra de Bowie e tinha
encontrado seu verdadeiro público; os punks que o idolatravam
como nunca. Sex Pistols, Buzzcocks, The Damned, The Clash, Siouxsie
and The Banshees, entre outros, faziam questão de mostrar
o seu tributo ao cantor, o mesmo acontecendo na América
com os Ramones. Iggy havia finalmente adquirido o reconhecimento
artístico que tanto sonhava.
Em
maio de 1978, Iggy resolveu chamar alguns velhos parceiros e amigos
para alguns shows: o guitarrista Fred "Sonic" Smith,
ex-MC5 e tocando com a Rendezvous Band, Scott Thurston (guitarras
e teclados), o baixista Gary Rasmusen e o baterista e velho chapa
Scott Asheton. O resultado, gravado entre maio e junho, virou
o disco TV Eye, seu primeiro grande fiasco. Com
uma péssima qualidade de som, não conseguiu captar
todo o som que a banda produzia em um palco. Iggy explica o motivo
do lançamento: "eu fiz o disco porque estava sem grana
e queria fazer dinheiro em um tempo curto. Queria sangrar a companhia
da mesma maneira que eles me sangravam. A melhor coisa é
que me deram US$ 75 mil para fazê-lo e eu gastei apenas
US$ 5 mil. Com o que sobrou consegui viver por um bom tempo e
consegui sair da RCA!"
Após
o lançamento de TV Eye, Iggy estava exausto
e aproveitou o dinheiro conseguido junto à RCA para ir
morar em Berlim novamente. Lá, passou boa parte do tempo
aprendendo a tocar guitarra e compondo novas canções
para um próximo disco.
"Resolvi que era hora
de lançar um disco apenas com canções minhas,
sem parcerias com David ou qualquer outra pessoa. Vi que era hora
de aprender a tocar guitarra melhor e comprei algumas pílulas
dietéticas e tinha aulas por oito ou nove horas. Foi assim
que comecei a escrever novas canções. Eu não
queria mais depender de ninguém e foi a maneira que encontrei
para me virar."
Mas,
Iggy vivia um momento difícil, já que estava novamente
sem uma gravadora. A solução encontrada pelo seu
empresário Peter Davies foi assinar com a divisão
inglesa da Arista, companhia fundada por Clive Davis, o mesmo
que assinou com Iggy em 1971. Mas Clive Davis tinha ainda sérias
reservas contra o cantor, especialmente do fiasco comercial de
Raw Power. A negociação levou boa
parte do ano de 1978 e parte de 1979.
Com o contrato acertado
entre as duas partes, Iggy voou até Los Angeles com a missão
de chamar James Williamson. Iggy o queria como produtor, mas não
queria gravar o novo disco nos Estados Unidos. Mas Iggy acabou
aceitando gravar na América por causa dos custos: "a
verdade é que gravar nos Estados Unidos é bem mais
barato do que na Europa e era muito importante para mim gastar
da melhor maneira cada dólar destinado ao álbum.
A América é o melhor lugar do mundo quando se precisa
fazer algo de maneira correta e rápida."
Iggy resolveu pegar leve
com as drogas e fez um excelente disco. New Values
mostrava um autor maduro, com uma excelente banda de apoio: Scott
Thurston (guitarra e teclados); Jackie Clarke (baixo) e Klaus
Kruger (ex-Tangerine Dream, bateria), que havia conhecido em Berlim.
Williamson tocou guitarra em apenas uma canção,
"Tell Me A Story".
Foram produzidas 15 canções
nos estúdios da Paramount, em Los Angeles, sendo três
descartadas. Das 12 que entraram no disco, sete eram de autoria
de Iggy, sendo outras quatro em parceria com Thurston e uma com
Williamson.
As letras confessionais
de Iggy conseguiram um grande apoio nas melodias de sua banda.
O cantor conta que "Don't Look Down", composta com Williamson,
foi feita em uma semana de muita paz: "ele é provavelmente
um dos caras que melhor me conhece no mundo e temos uma grande
afinidade. Quando começamos a bolar a canção,
tiramos uns dias para gozarmos umas férias no México.
Quando voltamos, sentamos e a completamos. Eu tentei ser bem explícito
nesse disco, queria que as pessoas o entendessem."
New
Values teve uma ótima repercussão junto
ao fãs e aos críticos, quando lançado em
abril de 1979. Iggy se mostrava mais maduro, com ótimas
idéias e uma banda afiada e o disco acabou entrando na
parada inglesa dos mais vendidos. Era a prova de que tinha vida
própria após a mão de David Bowie.
Com o resultado, o cantor
saiu novamente em uma excursão européia, prevista
para os meses de abril, maio e junho. Na formação
do grupo houve apenas uma baixa em relação ao time
que o gravou, saindo o baixista Jackie Clarke e entrando Glen
Matlock, que havia tocado nos Sex Pistols.
Foram 28 shows em lugares
pequenos, sendo a maioria deles em universidades e clubes. Após
a turnê, Iggy resolveu que era hora de entrar novamente
em estúdio e gravar um novo disco, indo para o País
de Gales junto com Kruger e Matlock, já que Thurston havia
saído para entrar no The Motels. Foram acrescentados os
músicos Steve New, Barry Andrews (XTC) e Ivan Kral (do
grupo de Patti Smith) para formar um novo grupo e James Williamson
voou diretamente de Los Angeles para novamente produzir o disco.
Mas, desta vez, o pau comeu
solto entre Iggy e James. Irritado com a direção
mais comercial que o guitarrista queria imprimir à banda,
as gravações terminaram após duas semanas.
"Iggy estava irritado com a direção musical
que James tentava impor e decidiu que já tinha aguentando
demais. James queria uma produção pomposa e gravar
em 48 canais ao invés de 24. Iggy, por outro lado, detestou
algumas idéias dele e ficava berrando 'o que você
fez com minha gravação? quem você pensa que
é, Phil Spector? esse disco é meu!'. Assim, os dois
se separaram", conta Ivan Kral.
O disco passou a ser produzido
por Pat Moran e só seria lançado em 1980.
Enquanto
o novo trabalho não era lançado, a Arista convenceu
o cantor a fazer uma excursão pela América, após
a divisão americana concordar em lançar New
Values. Com uma nova banda - Brian James (do Damned,
guitarra); Ivan Kral (guitarra e teclados); Glen Matlock (baixo)
e Klaus Kruger (bateria), Iggy deu mais 28 shows nos Estados Unidos
entre os meses de outubro até dezembro.
O ano de 1979 se encerraria
com essa excursão e em fevereiro de 1980, Iggy já
estava caindo novamente na estrada para promover seu novo disco,
Soldier. Mas isso é papo para uma outro
dia. Um abraço e até a próxima coluna.
Discografia
The Idiot (1977)
Lust for Life (1977)
Kill City (1977)
TV Eye (1978)
New Values (1979)
Soldier (1980)
Party (1981)
Zombie Birdhouse (1982)
Blah Blah Blah (1986)
Instinct (1988)
Brick by Brick (1990)
American Caesar (1993)
Naughty Little Doggie (1996)
Nude & Rude: The Best of Iggy Pop (1996)
The Best of Iggy Pop... Live (1996)
King Biscuit Flower Hour (1997)
Your Pretty Face Is Going to Hell (Get Back/Original Masters)
Iggy Pop & the Stooges (1998)
Avenue B (1999)
Live (2000)
Milleniun Edition (2000)
Skull Ring (2003)
Ultimate Live (2004)
Platinum & Gold Collection (2004)
Penetration (2005)
The Best of Iggy Pop (2005)
A Million In Prize: The Anthology (2005)
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