173 - Iggy Pop - Kill City a New Values


Após ficar sem a proteção de Bowie, Iggy começou a cuidar sozinho de sua carreira-solo. Vivendo um bom momento profissional, Iggy teve alguns dissabores quando James Williamson lançou, à sua revelia, Kill City, disco que o desagradou pelo modo caótico em que foi gravado, embora anos depois, falasse que era um grande trabalho. É nessa época também que lança seu primeiro disco ao vivo, o fraco TV Eye e o bom New Values, em 1979, fechando assim sua participação nos anos de 1970.


capa de Kill Citycontra-capa de Kill City

O grande sucesso com seus dois primeiros discos-solos rendeu a Iggy uma desagradável surpresa quando a pequena Boomp Records colocou no mercado o disco Kill City, creditado a Iggy Pop & James Williamson.

Iggy odiou o lançamento: "James lançou apenas para ganhar algum dinheiro em cima de mim, porque esse não é um disco pronto e gostaria que James pudesse ter esperado para o terminarmos. Estou triste, porque é um disco medíocre, o mais perto do medíocre que posso chegar e não aconselho aos meus fãs a comprá-lo."

uma capa alternativa de Kill CityMas James deu sua explicação para lançar a bolacha: "eu quis lançá-lo porque considero um bom documento do que os Stooges estavam fazendo e, em minha opinião, é o melhor disco que já gravei."

Nesse disco de 11 faixas, a banda é composta, por Scott Thurston (baixo, teclado, harmonica e efeitos); Brian Glascock (bateria, tambores africanos e vocais); Steve Traino (baixo), os irmãos Tony (baixo) e Hunt Sales (bateria); John Harden (sax) e Gayna (backing vocals). A produção e mixagem ficaram a cargo do próprio Williamson, que tocou todas as guitarras.

Kill City é na verdade um disco com má qualidade sonora e confuso, razão pela qual Iggy não gostou quando ele foi lançado, especialmente após ter lançado dois discos tão impecavelmentes produzido por David Bowie. Mas, ao que parece, Iggy mudou de opinião ao longo dos anos. Em uma entrevista em 1988, quando do lançamento de Instinct, Iggy disse que ficou irritado quando esse disco saiu e ninguém o comentou: "eu tenho imenso orgulho de Kill City, é um grande disco e ninguém o tocou ou deu bola para ele. Tudo que tocava nas rádios eram apenas merdas feitas por artistas fabricados."

Verdade ou não, Iggy tinha conseguido sair um pouco da sombra de Bowie e tinha encontrado seu verdadeiro público; os punks que o idolatravam como nunca. Sex Pistols, Buzzcocks, The Damned, The Clash, Siouxsie and The Banshees, entre outros, faziam questão de mostrar o seu tributo ao cantor, o mesmo acontecendo na América com os Ramones. Iggy havia finalmente adquirido o reconhecimento artístico que tanto sonhava.

capa do disco TV EyeEm maio de 1978, Iggy resolveu chamar alguns velhos parceiros e amigos para alguns shows: o guitarrista Fred "Sonic" Smith, ex-MC5 e tocando com a Rendezvous Band, Scott Thurston (guitarras e teclados), o baixista Gary Rasmusen e o baterista e velho chapa Scott Asheton. O resultado, gravado entre maio e junho, virou o disco TV Eye, seu primeiro grande fiasco. Com uma péssima qualidade de som, não conseguiu captar todo o som que a banda produzia em um palco. Iggy explica o motivo do lançamento: "eu fiz o disco porque estava sem grana e queria fazer dinheiro em um tempo curto. Queria sangrar a companhia da mesma maneira que eles me sangravam. A melhor coisa é que me deram US$ 75 mil para fazê-lo e eu gastei apenas US$ 5 mil. Com o que sobrou consegui viver por um bom tempo e consegui sair da RCA!"

Após o lançamento de TV Eye, Iggy estava exausto e aproveitou o dinheiro conseguido junto à RCA para ir morar em Berlim novamente. Lá, passou boa parte do tempo aprendendo a tocar guitarra e compondo novas canções para um próximo disco.

"Resolvi que era hora de lançar um disco apenas com canções minhas, sem parcerias com David ou qualquer outra pessoa. Vi que era hora de aprender a tocar guitarra melhor e comprei algumas pílulas dietéticas e tinha aulas por oito ou nove horas. Foi assim que comecei a escrever novas canções. Eu não queria mais depender de ninguém e foi a maneira que encontrei para me virar."

Mas, Iggy vivia um momento difícil, já que estava novamente sem uma gravadora. A solução encontrada pelo seu empresário Peter Davies foi assinar com a divisão inglesa da Arista, companhia fundada por Clive Davis, o mesmo que assinou com Iggy em 1971. Mas Clive Davis tinha ainda sérias reservas contra o cantor, especialmente do fiasco comercial de Raw Power. A negociação levou boa parte do ano de 1978 e parte de 1979.

Com o contrato acertado entre as duas partes, Iggy voou até Los Angeles com a missão de chamar James Williamson. Iggy o queria como produtor, mas não queria gravar o novo disco nos Estados Unidos. Mas Iggy acabou aceitando gravar na América por causa dos custos: "a verdade é que gravar nos Estados Unidos é bem mais barato do que na Europa e era muito importante para mim gastar da melhor maneira cada dólar destinado ao álbum. A América é o melhor lugar do mundo quando se precisa fazer algo de maneira correta e rápida."

Iggy resolveu pegar leve com as drogas e fez um excelente disco. New Values mostrava um autor maduro, com uma excelente banda de apoio: Scott Thurston (guitarra e teclados); Jackie Clarke (baixo) e Klaus Kruger (ex-Tangerine Dream, bateria), que havia conhecido em Berlim. Williamson tocou guitarra em apenas uma canção, "Tell Me A Story".

Foram produzidas 15 canções nos estúdios da Paramount, em Los Angeles, sendo três descartadas. Das 12 que entraram no disco, sete eram de autoria de Iggy, sendo outras quatro em parceria com Thurston e uma com Williamson.

As letras confessionais de Iggy conseguiram um grande apoio nas melodias de sua banda. O cantor conta que "Don't Look Down", composta com Williamson, foi feita em uma semana de muita paz: "ele é provavelmente um dos caras que melhor me conhece no mundo e temos uma grande afinidade. Quando começamos a bolar a canção, tiramos uns dias para gozarmos umas férias no México. Quando voltamos, sentamos e a completamos. Eu tentei ser bem explícito nesse disco, queria que as pessoas o entendessem."

capa do disco New ValuesNew Values teve uma ótima repercussão junto ao fãs e aos críticos, quando lançado em abril de 1979. Iggy se mostrava mais maduro, com ótimas idéias e uma banda afiada e o disco acabou entrando na parada inglesa dos mais vendidos. Era a prova de que tinha vida própria após a mão de David Bowie.

Com o resultado, o cantor saiu novamente em uma excursão européia, prevista para os meses de abril, maio e junho. Na formação do grupo houve apenas uma baixa em relação ao time que o gravou, saindo o baixista Jackie Clarke e entrando Glen Matlock, que havia tocado nos Sex Pistols.

Foram 28 shows em lugares pequenos, sendo a maioria deles em universidades e clubes. Após a turnê, Iggy resolveu que era hora de entrar novamente em estúdio e gravar um novo disco, indo para o País de Gales junto com Kruger e Matlock, já que Thurston havia saído para entrar no The Motels. Foram acrescentados os músicos Steve New, Barry Andrews (XTC) e Ivan Kral (do grupo de Patti Smith) para formar um novo grupo e James Williamson voou diretamente de Los Angeles para novamente produzir o disco.

Mas, desta vez, o pau comeu solto entre Iggy e James. Irritado com a direção mais comercial que o guitarrista queria imprimir à banda, as gravações terminaram após duas semanas. "Iggy estava irritado com a direção musical que James tentava impor e decidiu que já tinha aguentando demais. James queria uma produção pomposa e gravar em 48 canais ao invés de 24. Iggy, por outro lado, detestou algumas idéias dele e ficava berrando 'o que você fez com minha gravação? quem você pensa que é, Phil Spector? esse disco é meu!'. Assim, os dois se separaram", conta Ivan Kral.

O disco passou a ser produzido por Pat Moran e só seria lançado em 1980.

Enquanto o novo trabalho não era lançado, a Arista convenceu o cantor a fazer uma excursão pela América, após a divisão americana concordar em lançar New Values. Com uma nova banda - Brian James (do Damned, guitarra); Ivan Kral (guitarra e teclados); Glen Matlock (baixo) e Klaus Kruger (bateria), Iggy deu mais 28 shows nos Estados Unidos entre os meses de outubro até dezembro.

O ano de 1979 se encerraria com essa excursão e em fevereiro de 1980, Iggy já estava caindo novamente na estrada para promover seu novo disco, Soldier. Mas isso é papo para uma outro dia. Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

The Idiot (1977)
Lust for Life (1977)
Kill City (1977)
TV Eye (1978)
New Values (1979)
Soldier (1980)
Party (1981)
Zombie Birdhouse (1982)
Blah Blah Blah (1986)
Instinct (1988)
Brick by Brick (1990)
American Caesar (1993)
Naughty Little Doggie (1996)
Nude & Rude: The Best of Iggy Pop (1996)
The Best of Iggy Pop... Live (1996)
King Biscuit Flower Hour (1997)
Your Pretty Face Is Going to Hell (Get Back/Original Masters) Iggy Pop & the Stooges (1998)
Avenue B (1999)
Live (2000)
Milleniun Edition (2000)
Skull Ring (2003)
Ultimate Live (2004)
Platinum & Gold Collection (2004)
Penetration (2005)
The Best of Iggy Pop (2005)
A Million In Prize: The Anthology (2005)




 

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