002 – Steve Wynn & Dream Syndicate

Steve Wynn não é um nome muito famoso, pelo menos para os brasileiros. Mas ele foi líder de uma das bandas mais influentes dos anos 80, o Dream Syndicate. Hoje é um respeitado músico na América e na Europa. Leia a entrevista com um músico muito especial.


 

OK, você não conhece Steve Wynn. Não tem problema, não é sua culpa. Steve foi um dos guitarristas e vocalistas de uma das bandas mais importantes da cena pós-punk (se pudermos usar esse rótulo) da América, no início dos anos 80. Ele liderava um fabuloso grupo chamado Dream Syndicate.

Ok, você continua sem saber quem foi Dream Syndicate. Mais uma vez não tem importância. Mas se você gosta do novo rock independente norte-americano, sentirá suas influências: Luna, Yo La Tengo e até no Black Crowes.

Steve era a voz e a principal guitarra por trás daquela camada meio sônica de guitarras, distorcidas. Sem a violência do Sonic Youth, mas com uma ferocidade similar. A banda fez parte de um movimento batizado pela crítica de Paisley Underground. Reunia banda de estilos similares, quase todas de Los Angeles, como Long Ryders, True West e Green On Red. Apenas essa última teve um álbum lançado no Brasil. No geral, um bando de desconhecidos.

Steve é hoje um artista solo. A banda acabou no final dos anos 80, após uma década de bons serviços prestados ao rock.Grandes discos, como a estréia The Day of Wine and Roses, de 1982, com a clássica “Tell Me When It’s Over”.

Falar com Steve foi complicado não é? Nada disso, foi mais fácil do que o esperado. Após passar um mail, recebi uma resposta duas semanas depois, assim que retornou de sua excursão de duas semanas da Espanha. Continuamos a trocar correspondências e combinamos uma conversa por telefone.

Falando por 30 minutos de sua casa, em Nova York, Steve foi muito educado, paciente e extremamente acessível. Confira alguns momentos da entrevista.

Mofo – Fale um pouco do começo de sua carreira musical.
Steve – Bem, eu fui muito influenciado pela cena punk, no anos 70. No final da década formei a banda The Suspects, que durou pouco tempo e gravou um compacto. Nós éramos horríveis. Ainda bem que teve vida curta. (A formação contava com Steve Wynn, nos vocais e guitarras; Kendra Smith: vocais; Steve Suchil: baixo; Russ Tolman: guitarra e Gavin Blair, na bateria). Depois continuei a trabalhar com a Kendra Smith, que ficou com o baixo e recrutei outros membros em um anúncio de jornal. Apareceram Karl Precoda (guitarra) e Dennis Duck (bateria). Formei o Dream Syndicate.

Mofo – Quais eram as principais influências do Syndicate? Todo mundo cita Neil Young, Lou Reed e Velvet...
Steve – Bem, lógico que Neil, Lou e Velvet são influências. Mas gostávamos muito de bandas dos anos 60, como Quicksilver Messenger Service, Creedence Clearwater Revival, Bob Dylan. Além de muito punk rock.

Mofo – Você sente alguma relação com a primeira geração punk norte-americana, a geração do CBGB (clube nova-iorquino, onde tocavam Ramones, Talking Heads, Blondie, Television, Patti Smith, na primeira metade dos anos 70) ?
Steve – Sentia sim, embora eles fossem de uma geração anterior à minha. Gostava muito do Television, Talking Heads, Db’s. Foram grandes bandas.

Mofo – É correto dizer que a banda fez mais sucesso na Inglaterra do que nos Estados Unidos?
Steve – Atualmente, isso não é verdade. O Dream Syndicate era muito popular na América e tínhamos bom público. A Inglaterra era igualmente boa, assim como o resto da Europa. Hoje em dia excursiono mais pela Europa porque a cena norte-americana está mais difícil, mas sempre que posso excursiono pelos Estados Unidos, como nos último três anos. Eu fiquei surpreso e feliz em encontrar pessoas que sabiam quem eu era e que amavam meu trabalho. Então acho que respondi sua pergunta e não acho isso realmente verdade.

Mofo – O que você pode dizer sobre o movimento Paisley Underground, no qual você fez parte?
Steve – Bem, esse foi um nome inventando pelo Michael Quercio do Three O’ Clock e que a crítica adotou. Representa um período de inocência de nossas vidas e muita experimentação, importante em nossas carreiras. Nós todos éramos um pouco psicodélicos, cada um à sua maneira.

Mofo – Você ficou surpreso quando eu disse que era do Brasil. O que você conhece daqui?
Steve
 – Fiquei realmente surpreso. Nunca pensei que houvesse alguém que gostasse do meu trabalho por aí. Eu conheço alguma coisa: Mutantes, Gilberto Gil, Tropicália. Eu não ouvi nada dos novos artistas brasileiros, mas gostaria de conhecer. A música brasileira é muito excitante, cheia de ritmos. É uma cultura muito interessante.

Mofo – Você gostaria de tocar no Brasil?
Steve
 – Eu adoraria, principalmente agora que descobri que tenho público por aí. Seria sensacional.

Mofo – Me fale do seu novo disco. Você vai lançar em fevereiro de 2001, certo?
Steve
 – Sim, eu gravei meu novo álbum no estúdio Wavelab, em Tucson, no mês passado e estou muito emocionado com o resultado obitdo. Será duplo, com mais de 80 minutos, e se chamará Here Come The Miracles. A banda será basicamente a mesma que excursionou comigo pela Espanha: Chris Brokaw, Linda Pitmon e Dave DeCastro, além de Chris Cacavas nos teclados. O que posso dizer? É provavelmente meu álbum solo favorito e uma boa combinação de coisas que fiz no passado em termos de idéias e som. Eu sinto que esse trabalho captou meu estilo de música mais do que qualquer coisa que eu tenha feito anteriormente.

Mofo – Quem você citaria como bandas que foram influenciados pelo seu som?
Steve
 – Luna, Yo La Tengo, Eleventh Dream Day, Afghan Whigs e Black Crowes eu posso afirmar que foram, porque eles me disseram isso. Eu acho que muitas outras bandas pegaram alguns elementos nossos. Essa é a beleza da música. Você pode fazer o que quer e passar isso aos outros. É uma diálogo contínuo.

Mofo – Obrigado pela entrevista. Espero poder vê-lo no Brasil algum dia.
Steve
 – Eu adoraria ir. Quem sabem não lançam meu último trabalho por aí e eu receba um convite para tocar. Me arranje uma gravadora no Brasil e irei… risos.

Discografia

com os Suspects

It’s Up To You / Talking Loud (compacto, 1979)

com o 15 Minutes

That’s What You Alway Say / Last Chance For You (compacto, 1981)

com o Dream Syndicate

The Dream Syndicate (EP, 1982)
The Days Of Wine and Roses (1982)
This Is Not The New Dream Syndicate Album… LIVE (1984)
Medicine Show (1984)
Out Of The Grey (1986)
Ghost Stories (1988)
It’s Too Late To Stop Now (1989)
Live at Raji’s (1989)
Tell Me When It’s Over – The Best of The Dream Syndicate (1992)
3 1/2 The Lost Tapes: 1985-1988 (1993)
The Day Before Wine And Roses (EP ao vivo, 1994)

com Danny & Dusty

The Lost Weekend (1985)

com o Gutterball

Gutterball (1993)
Trial Separation Blues (1993)
Motorcycle Boy (1993)
Turnyor Hedinkov (1995)
Weasel (1995)

discos-solos

Straight To The Swapmeet: Legendary Authorized Bootleg Vol. 1 (EP, 1990)
Kerosene Man (1990)
Dazzling Display (1992)
Fluorescent (1993)
Takeyour Flunky And Dangle (1994)
Melting In The Dark (1995)
Two Decades (cassete, 1997)
Sweetness And Light (1997)
The Suitcase Sessions (1998)
Advertisements For Myself (1998)
Pick Of The Litter (1999)
My Midnight (1999)
Momento (com Australian Blonde, 2000)
The Emusic Singles Collection (2001)
Here Come The Miracles (2001)
Steve Wynn and the Miracle 3 – Live At Big Mama (2002)
Official Bootleg Series – Live (2003)
Static Transmission (2003)
Blue Rose Christmas Party 2002 (2004)
Riding Shotgun (2004)
From A Man Of Mysteries (2004)
What I Did After My Band Broke Up (2005)