017 -The Jesus and Mary Chain – Darklands

Eles saíram da Escócia para tentar o sucesso, aborrecidos com o som que ouviam nas rádios. Sua mistura de noise total com melodias doces e letras que falavam de amor, morte, conquistaram os corações da garotada britânica. Pouco depois, a banda foi mudando os integrantes e o som foi ficando mais experimental. Mas nos dois primeiros discos, e em especial, em Darklands, colocaram seu nome definitivamente entre os mais influentes dos anos 80.


Tudo bem, todo mundo considera Psychocandy, a estréia do The Jesus and Mary Chain como seu disco básico. Afinal, misturavam doces baladas com guitarras que mais pareciam serraselétricas e que quase estouravam os tímpanos de quem fosse ouvir.

Mas Darklands tem seus méritos, muitos até. Foi o primeiro disco que colocou duas músicas do grupo nas rádios do Brasil (“Happy When It Rains” e “April Skies”). Foi
também uma mistura perfeita das duas propostas e um dos melhores discos da década.

Muitos acusaram de chuparem até os ossos o Velvet Underground nesse trabalho. Bobagem: isso não é demérito. Afinal, Smiths, Echo, Siouxsie, Cure, Joy, New Order, para ficar entre os principais
se inspiraram fortemente na banda de Lou Reed. O que faz esse disco tão especial? Basicamente a combinação de ruídos, que mais parecem uma banda dos anos 60.

Liderados pelos irmãos Jim e William Reid, contavam ainda com Douglas Hart no baixo e Bobby Gillespie, que depois formaria o Primal Scream. Seu som insuportavelmente alto e suas letras cheias de palavrões, referências a drogas, sexo, fizeram com que fossem banidos da Escócia, país de origem. Na Inglaterra não era muito diferente e eram tratados como escória pela BBC, que odiava tocar os compactos do grupo.

Esse grupo, que teve origem em East Kilbride, em 1983, quando os irmãos Reid resolveram formar o grupo com o baixista Douglas Hart e Murray Dalglish na bateria. Começaram a fazer sucesso em Glasgow tocando como banda de abertura de qualquer show disponível.

Em maio de 1984 mudaram-se para Londres para tentar a carreira. Caíram nas graças de Alan McGee, dono da Creation Records.

Nessa época já contavam com Bobby. Tiraram o nome The Jesus and Mary Chain de um filme antigo de Bing Crosby. Debutaram com um compacto chamado “Upside Down”, que vendeu 35 mil cópias.

Após o sucesso, várias gravadoras maiores tentaram assinar com a banda. Acabaram optando pela Blanco Y Negro, uma subsidiária da Warner. O disco de estréia foi aclamado como uma das melhores coisas de 1985, um novo frescor musical inédito há tempos (ué, mas não tinham falado a mesma coisa dos Smiths um ano antes? Esses críticos ingleses….)

Já com toda moral entre os críticos, começaram a atrair fãs do antigo movimento punk, e dos góticos. Seu set list era básico: 35 minutos, a banda imóvel no palco, e Bobby martelando um kit de duas peças.

“As pessoas vieram ouvir a banda e não ver um bando de malucos pulando. Por isso, nossa postura”, declarou Jim.

Jim e William usavam cabelos totalmentes eriçados, e todos os membros se vestiam de preto e colocavam óculos escuros. Apesar dos irmãos dividirem os vocais e as guitarras, Jim era mais vocalista e William ficava mais com as guitarras.

O disco de estréia misturava melodias doces como “Just Like a Honey”, com backing vocal femininos, com a fúria de “You Trip me Up”. O disco saiu no Brasil e confesso foi meio difícil
não ficar meio surdo nas primeiras audições.

Já famosos na Inglaterra, tentaram uma carreira nos EUA, que sempre abriram os braços para as bandas inglesas. Mas alguma coisa acontecia com a nova geração inglesa, que tocava apenas em pequenos teatros, não tinham muita vendagem e não explodiam como na Europa. Até os Smiths, os mais famosos, tinham dificuldade.
O mercado norte-americano só recebia banda com um som mais despojado na sua concepção, como o U2 ou Simple Minds.

De volta da América, após fazerem uma tour por vários teatros norte-americanos, voltaram para trabalharem no segundo disco. Abandonaram por um tempo a microfonia insuportável, buscaram melodias que ficassem coladas no ouvinte, mas as letras continuavam falando da mesma coisa.

Um exemplo é April
Skies:

hey honey what you trying
to say
as I stand here
don’t you walk away
and the world comes tumbling down
hand in hand in a violent life
making love on the edge of a knife
and the world comes tumbling down
and it’s hard
for me to say
and it’s hard
for me to stay
i’m going down
to be by myself
i’m going back
for the good of my health
and there’s one thing
i couldnt do
sacrifice myself to you
sacrifice
baby baby i just can’t see
just what you mean to me
i take my aim and i fake my words
i’m just your long time curse
and if you walk away
i can’t take it
but that’s the way that you are
and that’s the things that you say
but now you’ve gone too far
with all the things you say
get back to where you come from
i can’t help it
under the april skies
under the april sun
sun grows cold
sky gets black
and you broke me up
and now you won’t come back
shaking hand, life is dead
and a broken heart
and a screaming head
under the april sky

Traduzindo ficaria mais ou
menos assim:

Hey, querida, o que você
está tentando dizer
enquanto fico aqui parado.
Não vá embora como se o mundo estivesse acabando

De mãos dadas contra uma vida violenta
Fazendo amor na lâmina de uma faca
E o mundo desabando
E é duro para mim dizer,
E é duro para mim dizer,
Estou indo até o fundo para estar comigo mesmo
Estou voltando para o meu bem-estar
E não nenhuma coisa que eu não possa fazer
A não ser me sacrificar para você
Sacrificar
Querida, eu não posso ver
O que você significa para mim
Eu pego minha verdade e disfarço minhas palavras
Peguei um longo curso até você
E se você desaparecer eu não poderei suportar
Mas é o caminho que você faz
E são as coisas que você faz
Mas agora sabemos que está tudo distante
Com todas as coisas que você fala
Volte para o locar que você saiu
Eu não posso te ajudar
Sobre um céu de abril
Sobre o sol de abril
O sol nasce frio
O céu fica preto
E você me partiu
E agora não pode voltar mais
Mãos tremendo, a vida está morta
e um coração partido
e uma cabeça que berra
sobre o céu de abril

O disco ainda tinha ótimas
baladas amargas como a faixa-título, “Deep Onde Perfect
Morning”, “Cherry Came Too”, “On The Wall”
e “About You”. Infelizmente não saiu no Brasil
em CDs, apenas em vinil e na época. E para piorar, os CDs
são apenas em edições européias, especificamente
os dois primeiros, que construíram todo o som do grupo.

Para tentar adquirir os dois
primeiros álbuns e o restante da discografia tente o site
http://www.amazon.co.uk. Bobby largou a banda para formar o Primal
Scream, Douglas Hart sumiu e vários membros passaram pelo
grupo. Os irmãos Reid brigaram, voltaram, lançaram
vários excelentes trabalhos, até o finado Munki.
Mas jamais deixaram a peteca cair. Um abraço e até
a próxima coluna.

Discografia

Psychocandy (1985)
Darklands (1987)
Barbed Wire Kisses (1988)
Automatic (1989)
Honey’s Dead (1992)
The Sound Of Speed (1993)
Stoned & Dethroned (1994)
Munki (1998)
The Complete John Peel Sessions (2000)
21 (2002)
Live In Concert (2003)