026 – David Bowie – Young Americans

Young Americans foi adquirido em 1989, mas especialmente por causa da faixa-título e do mega hit Fame, em que Bowie faz parceria com John Lennon. Um disco que mostrou o lado negro do cantor, que participou de programas de black music na TV americana, como Soul Train e cujo hit foi sampleado até por James Brown, o que muito alegra Bowie. É o disco que fez Bowie ser mais aceito na América, apesar do visual todo estranho, sem sobrancelhas e mais magro do que nunca. Era o auge da fase disco e do consumo de cocaína do cantor, que na época vivia em Los Angeles. Foi quando os teatros pequenos deram lugar aos ginásios de esportes. E todo isso por causa de Fame. Lennon tem algo a ver? Possivelmente, mas o mérito maior cabe todo a David Bowie.


Em 1989, eu morava em Ribeirão Preto e havia comprado Diamond Dogs, de 74, obra inspirada em 1984 de George Orwell. Eu fiquei fascinado pelo som estranho de Bowie, e quis mais. Comprei de um amigo uma cópia velha do Young Americans. Confesso que não ouvi muito, por causa da qualidade de som. Muitos chiados e daquelas prensagens nacionais que pouco permitem ouvir. Mas ano depois, comprei em cd e se tornou meu disco favorito, superando Hunky Dory ou Ziggy Stardust.

O disco é daqueles que você coloca para tocar e não pára mais de ouvir. Ele abre com a faixa-título, com sua letra complicada e longa, mas dona de um ritmo inesquecível. Nessa época participavam da banda o desconhecido cantor de soul Luther Vandross e o talentoso guitarrista Carlos Alomar.

“Havia muita energia no estúdio. Os músicos não me conheciam e esperavam alguém espalhafatoso, com vestidos e outras coisas. A única coisa diferente de mim é que eu estava quase sem sobrancelhas. Mas sobrancelhas não cantam e também não chocam muito as pessoas. O clima todo era muito aconchegante para tocarmos’’, lembra David.

Com a presença de John Lennon no estúdio, Bowie regravou “Across the Universe”, dos Beatles. A balada delicada na voz de Lennon, vira quase um soul na voz potente de Bowie. O disco fazia uma leitura da juventude norte-americana explicada por um jovem inglês.

‘’Era o auge da música disco e eu não entendia muito bem o que acontecia na América. Este é um país de muitos contrastes. Quase ninguém me conhecia lá, eu era uma figura excêntrica para os jovens do país. Meus shows não lotavam. As pessoas não entendiam Ziggy, o glitter era coisa de minoria, e mesmo ficando boa parte do tempo lá, eu não era aceito como queria. A prova disso foi o single Young Americans, que muitos pensavam ser cantado por um negro. Quando viram um inglês branquela, não entenderam nada.’’

O público realmente não entendeu, mas fez o disco subir como foguete nas paradas americanas, chegando ao nono lugar. De uma hora para outra, Bowie é consumido pela mídia.

Era uma época que em David saía do estúdio e ia direto para as boates aproveitar a onda da música negra.

‘’Acho um saco ter que dormir. Você perde momentos preciosos da sua vida dormindo. Eu queria aproveitar o tempo o máximo possível, ficar acordado o maior número de horas que pudesse. Por isso, me drogava tanto. Eu não queria ficar exausto nunca.’’

Usando drogas como speed (mistura de cocaína ou heroína com Valium), Bowie acelerava o ritmo frenético da sua vida.

Ele daria uma guinada na carreira com “Fame”.

‘’Essa é um estória gozada. Nós estávamos no estúdio chapados e Lennon começou a gritar ‘’eiimmm’’. Eu jurava que ele berrava “Fame” e Carlos Alomar ficava fazendo um riff de guitarra. No dia seguinte mostrei uma letra ao John, que adorou. Ele teve uma pequena participação vocal, mas como ele foi o inspirador da canção, ficou com a co-autoria.’’

A canção explodiria na América saltando para o primeiro lugar. Bowie era chamado em todos os programas de TV para se apresentar e os shows tiveram que ser mudado de locais, em espaços maiores.

O disco mostrava faixas longas e Bowie fazendo uma panorama da América. Suas letras eram sempre irônicas e pesadas, mas desta vez caiu em cheio no gosto popular.

‘’Me falaram que até o James Brown chupou o riff da canção. Eu não acreditava que o cara mais copiado da América, a quem eu tentava imitar no palco, tinha chupado algo de mim. Foi uma grande honra.’’

O disco ainda ganhou mais faixas extras na versão do selo norte-americano Rykodisc, mas essa edição já está fora de catálogo. Se você nunca ouviu Bowie ou ouviu pouco, tente conhecer Young Americans. Junto com ZiggyStation to StationHunky DoryLow e”Heroes” redefiniu a música da década de 70 e boa parte do que seria feito na década de 80. Um clássico absoluto!

Fique com a letra de Young Americans:

They pulled in just behind the fridge
He lays her down, he frowns,
‘’Gee, my life’s a funny thing and I still too young’’
He kissed then and there she took his ring, took his babies
It took him minutes, took her nowhere
Heaven knows she’d ‘ve taken anything

All night, she wants the young american.

Scanning life through the picture window
she finds the slinky vagabond
He coughs as he passes her ford mustang
Heaven forbid she’ll take anything
But the freak and his type, all for nothing
He misses a step and cuts his hand
Showing nothing he swoops like a song
She cries ‘’Where have all Papa’s heroes gone?’’
All night, she wants the young american
It’s alright, but she wants the young american

All the way from Washington,
her breadwinner begs of the bathroom floor
‘’We live for just these twenty years, do we have to die for fifty more?’’

All night, he wants the young american
It’s alright, but he wants the young american

Do you remember your President Nixon?
Do you remember the bills you have to pay, or even yesterday?
Now you have been the Un-American
just you and your id singing falsetto
Abour leather, everywhere and not a myth left ftom the Ghetto
Well, well, would you carry a razor, in case, just in case of depression
sit on your hands on a bus of survivors
blushing at all the Afro-sheeners
Ain’t that close to love
ain’t that poster of love?
Well, it ain’t that Barbie Doll. Her hearts have been broken just like you.

All night, you want the young american
It’s alright, but you want the young american

But you ain’t a pimp and you ain’t a Hustler
Pimps gost a Cadi, Lady got a Chrysler
Black got respect, White got his soul train
Mama’s got cramps and look your hands
I heard the news today, oh boy, I got a suite and you got defeat

Ain’t there a man, who can say no more?
Ain’t there a child, I can hold without judging?
Ain’t there a pen, that will write before they die?
Ain’t you proud, that you’ve stillgot faces?
And ain’t there one damn song that can make me break down and cry?

All night, I want the young american
It’s alright, but I want the young american

Traduzindo ficaria mais ou menos assim:

Esconderam-no dentro da geladeira
Ele a fez ficar estendida, franziu as sobrancelhas
‘’Puxa, minha vida é um pouco gozada e sou ainda muito novo’’
Depois, beijou-a e ela tirou o anel, tirou-lhe as crianças
Ele levou minutos, levou a nenhum lugar
Só o Céu sabe como ela queria alguma coisa

Essa noite, ela deseja o jovem americano

Observando a vida através da janela,
encontra o furtivo vagabundo
Ele tosse enquanto ela passe no seu Ford Mustang
O Céu a proíbe de levar tudo
Apenas o maluco e outros como ele, tudo para nada
Ela pisa em falso e corta a mão
Fingindo não ser nada, voa como uma canção
Ela grita ‘’Para onde foram todos os heróis de papai?’’

Essa noite, ela deseja o jovem americano
OK, mas ela quer o jovem americano

Todo o caminho desde Washington
O seu ganha-pão chega do chão do banheiro
‘’Vivemos apenas para estes vinte anos, devemos morrer por outros cinquenta?’’

Essa noite, ele deseja o jovem americano
OK, mas ele quer o jovem americano

Lembra-se do seu Presidente Nixon?
Lembra-se das contas que você tem que pagar, ou apenas a de ontem?
Agora tem sido um não-americano
somente você e seu ego cantando em falsete
Sobre couro por todo lugar e não um mito saído do Gueto

Bem, bem, porque você não carrega uma lâmina, apenas em caso de depressão?
Pergunta à tua mão, num ônibus de sobreviventes,
corando todo o esplendor afro
Não está próximo do amor,
não é a imagem do amor?
Bem, não é a Barbie. O coração dela foi despedaçado como o teu.

Essa noite, você deseja o jovem americano
OK, mas você quer o jovem americano

Mas você não é um cafetão e também não é uma prostituta
Os cafetões tem um Cadilac, as damas, um Chrysler.
Os Pretos têm respeitos, os Brancos o seu Soul Train*
A mãe tem cãibras e olha para tuas mãos
Ouvi as notícias hoje, meu querido, eu tenho um séquito e você, uma derrota

Não há aqui um homem que saiba dizer basta?
Não há uma criança que eu possa abraçar sem julgar?
Não há uma caneta, para que escrevam antes de morrer?
Não tem orgulho de ainda possuir uma face?
E não há uma desgraça de canção que me ponha para baixo e me faça chorar?

Essa noite, eu desejo o jovem americano
OK, mas eu quero o jovem americano

*Soul Train pode ser um trocadilho com o programa de música negra dos EUA, ou também entendido como uma alma igual a dos negros, que exigem os mesmos respeitos e direitos. É uma tradução complicada de ser feita, mas que pode ser entendida no contexto da letra.

Discografia

David Bowie (1967)
Space Oddity (também conhecido como Man of Words/Man of Music, 1969)
The Man Who Sold The World (1971)
Hunky Dory (1971)
The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars (1972)
Aladdin Sane (1973)
Pin Ups (1973)
Diamond Dogs (1974)
David Live (1974)
Young Americans (1975)
Station to Station (1976)
ChangesOneBowie (1976)
Low (1977)
“Heroes” (1977)
Stage (1978)
Prokofiev’s Peter and the Wolf (1978)
Lodger (1979)
Scary Monsters (And Super Creeps) (1980)
ChangesTwoBowie (1981)
Christiane F. Win Kinder (trilha sonora, 1982)
David Bowie in Betrtort Brecht’s Baal (1982)
“Peace on Earth” /“Little Drummer Boy” (com Bing Crosby, 1982)
Ziggy Stardust: The Motion Picture (1983)
Let’s Dance (1983)
Golden Years (1983)
Love You Till Tuesday (1984, gravado em 1969)
Tonight (1984)
Never Let Me Down (1987)
Tin Machine (1989)
Sound and Vision (1989)
ChangesBowie (1990)
Tin Machine II (1991)
Oy Vey, Baby (1992)
Black Tie White Noise (1993)
Singles: 1969-1993 (1993)
Buddha of Suburbia (1994)
1.Outside (1995)
Earthling (1997)
The Best of David Bowie 1969/1974 (1997)
The Best of David Bowie 1974/1979 (1998)
“hours…” (1999)
Singles Collection (1999)
Bowie at the Beeb: The Best of the BBC Radio Sessions (2000)
London Boy (2001)
Heathen (2002)
Reality (2003)