037 – Echo and the Bunnymen – Crystal Days 1979-1999

Você deve estar perguntando o motivo de mais uma coluna do Echo. Eu admito que pode ser um exagero, mas tem um forte motivo, afinal o conteúdo é maravilhoso. A segunda melhor banda de Liverpool sempre foi um show à parte ao vivo, recriando suas canções e de outros artistas. Me lembro de uma matéria do Pepe Escobar na BIZZ, dizendo que havia saído o pirata da década, e que fora gravado em qualquer lugar ou qualquer tempo. Quase morri quando li a matéria e queria o disco. Mas, segundo o autor, só havia em Portobello Road e custava 80 libras. Tive a sorte de achar, sete anos depois, aqui em São Paulo, por 20 reais numa loja que havia duas cópias. Não sei o motivo de não ter comprado a outra cópia, o imbecil. O disco se chamava “On Strike” ou “Songs the Lord Thought Us”. Ali tinha cover de Modern Lovers, Doors, Velvet, Talking Heads, Television, Dylan, entre outros. Foi paixão imediata por aquele disco, com uma capa amarela feia e uma foto qualquer da banda, Mas o som é excelente e hoje guardo como o maior tesouro da minha coleção. Quatro músicas estão nessa caixa, que poderia ter feito o serviço completo. Mas há uma versão de “Heroin” do Velvet, inédita e maravilhosa.


Essa paixão ainda vai render outras bios do Echo. Concordo que há outras bandas que eu devesse falar como o Pixies, por exemplo, mas essa caixa é preciosa por vários motivos. Aqui estão registradas as primeiras gravações de quando a banda era um trio (Ian, Les e Will) e mais uma bateria eletrônica chamada Echo.

A banda sempre foi conhecida por suas excelentes apresentações ao vivo. A única coisa mais ou menos oficial é um Live in BBC, que não é grande coisa. Esta caixa vem para satisfazer seus fãs, já que é muito difícil encontrar artigos do Echo, seja pirataria, livro ou singles.

Ian produziu dois álbuns solo, um single raro e formou o Electrafixion, com Will, uma bandinha simpática, mas não tão boa assim. O Echo ainda lançou um disco chamado Reverberation, já sem Ian e sem Pete, que havia morrido em um acidente de moto. Nada que valha a pena.

São 4 cds. vamos analisar cada um deles:

CD1: mostra o começo do grupo quando era apenas um trio e canções dos dois primeiro discos, Crocodiles e Heaven Up Here. Ainda há b-sides, como “The Subject”, uma versão de Villliers Terrace, no programa de John Peel. Um disco para aumentar o apetite do ouvinte.

CD2: Abre com músicas de Porcupine, mas há raridadades como uma versão longa de “The Killing Moon”, um lado b maravilhoso chamado “Angels and Devils”, uma versão Discotheque de “Never Stop”, entre outras coisas.

CD3: Aqui a caixa começa a ficar um pouco mais interessante com músicas como “Over Your Shoulder”, lado b do compacto de 7 polegadas de “Bring On The Dancing Horses” e duas músicas inéditas: “Satisfaction” (não confundir com a dos Stones) e “Lover I Love You”. Há ainda um b-side de “The Game” se não estou enganando, “Ship of Fools”. É também o mais triste de todos, porque nas faixas seguintes cai na década de 90, quando Pete de Freitas já havia morrido.

Foi uma perda irreparável para a banda, mais ou menos com a saída de Johnny Marr dos Smiths ou uma suposta saída de The Edge do U2. A única coisa que faltou foi o compacto de 12″ chamado Shine’s So Hard, onde há versões definitivas ao vivo de “Crocodiles” e de “Over The Wall”. São quatro músicas que mostra o impacto da banda ao vivo e a diferença que Pete fazia ao vivo. A gravação é de 1980.

CD4: O disco quatro são as inéditas. É um must! Começa com “In The Midnight Hour”, clássico de Wilson Pickett, passa pela desconhecida “Start Again”, entra com “Zimbo” com uma banda de percussionistas do Burundi. Depois de “Angels and Devils”, começa as canções de On Strike: “She Cracked” (Modern Lovers), “It’s All Over Now Baby Blue” (Bob Dylan), “Soul Kitchen” (Doors), “Action Woman” (Litter). O disco contém uma música do Velvet que a banda nunca havia gravado: “Heroin”.

O mais divertido é a versão de Do It Clean. Explico: eu tenho duas versões como essa de 1983 (o mesmo ano da faixa da caixa), em dois discos diferentes, da mesma data. Uma de seis minutos e outra de nove e agora aparece essa, com a mesma data, um fato bem curioso e bem diferente, já que são todas no mesmo dia. Mas a explicação é simples: naquele dia, o grupo fez três pequenos shows no Royal Albert Hall, em 1983.

Eu confesso que o show deles de 1987 aqui no Brasil foi um desbunde. A banda no seu auge ainda, tocando com muita garra e cumplicidade com o público. O show de 1999, já sem Pete e Les, que resolveu abandonar a banda, não teve um décimo da energia. Os músicos foram contidos, educados, mas sem fazer virar um acontecimento, como foi em 87. Saí decepcionado com os coelhinhos, pois sei que podiam render mais.

Vale dizer que uma dos grandes atrativos da caixa são trechos de entrevistas que fizeram com Ian, Les e Will. Dois momentos chamam muito a atenção: a primeira, quando falam de alguns shows gravados na Suécia, em 1985. Esse shows são considerados vitais para a banda, pois neles foram gravados boa parte das canções de On Strike. Até hoje guardo um cassete de um programa de rádio sueco, que um amigo conseguiu sabe lá deus como! Nesses trechos, Ian conta que eles tinham certeza que eram a melhor banda de rock do mundo e imbatíveis ao vivo. Egolatrias à parte, faziam realmente bons shows.

Um outro momento tocante é quando relatam a perda do baterista Pete de Freitas. O grupo vivia um período de separação, mas a morte de Pete, em um besta acidente de moto, abalou muito os três. Quando voltaram, anos depois, disseram que um dos responsáveis foi o “espírito de Pete”, que nunca havia aceitado a separação do quarteto. Vale dizer que Pete de Freitas foi um dos maiores bateristas surgidos na década de 80. Seu estilo inconfundível jamais foi preenchido dentro do grupo.

A história do baterista é também importante por ele ter causado um racha praticamente definitivo dentro do Echo. Já em 1986, o baterista adquirira o hábito de beber muito e de repente, Pete simplesmente sumiu do mapa. Ele havia ido para a América com um bando de loucos, montado um grupo chamado Sex Of Gods, onde era guitarrista.

Só que a viagem foi toda bancada pelo baterista, que patrocinou os mais diversos e malucos projetos, além de pagar todas as contas. O resultado foi trágico: em poucas semanas, Pete dilapidou totalmente sua fortuna pessoal e foi salvo pelos outros três membros da banda, que mandaram duas pessoas buscaram. Mas, Ian, Les e Will nunca o perdoaram, principalmente porque mesmo depois de tudo isso, Pete continuava insistindo com os Sex Gods.

Na edição de fevereiro de 1986, na revista Sounds, uma nota fez ainda aumentar mais a vegonha dos demais, quando foi noticiado que Pete havia se metido com uma seita religiosa chamada The Children Of Gos e havia tentado fretar dois helicópteros com intenção de pintar símbolos de paz e amor no World Trade Center!

Mas isso é passado. A vinda de Ian ao Brasil está prometida para esse mês ainda (Setembro de 2001). Não sei se vem com a banda e se darão um show. Se derem, vou, mesmo sabendo que não é a mesma banda que me apaixonou. Mas fãs são sempre fãs e perseguem os passos de seus ídolos.

Que essa caixa fique em catálogo por muito tempo e que vocês possam ouvir, porque é uma das boas coisas que existe no mercado.

Fiquem com a letra de Crocodiles e Ocean Rain, duas das minhas bunnysongs favoritas e com a discografia da banda. Um abraço!

Crocodiles

I read it in a magazine
I don’t wanna see it again
I threw away the magazine
And looked for someone to explain
I don’t wanna look back
I can’t look around
I don’t wanna see it coming round
Listen to the ups and downs
Listen to the sound they make
Don’t be scared when it gets loud
When you’re skin begins to shake
‘Cause you don’t wanna look back
You gotta look tall
You gotta see those creeps crawl
I know you know
I know you know
I can see you’ve got the blues
In your alligator shoes
Me, I’m all smiles
I got my crocodiles
I don’t wanna look back
I can’t turn around
I don’t want to see it coming down
Met someone just the other day
Said wait until tomorrow
I said, hey what you doing today
He said, I’m going to do it tomorrow
Met someone just the other day
Said wait until tomorrow
I said, hey, what you doing today
I’m going to do it tomorrow

Ocean Rain

All at sea again
And now my hurricanes have brought down this ocean rain
To bathe me again
My ship’s a sail
Can you hear its tender frame
Screaming from beneath the waves
Screaming from beneath the waves
All hands on deck at dawn
Sailing to sadder shores
Your port in my heavy storms
Harbours the blackest thoughts
I’m at sea again
And now your hurricanes have brought down this ocean rain
To bathe me again
My ship’s a sail
Can you hear its tender frame
Screaming from beneath the waves
Screaming from beneath the waves…
All hands on deck at dawn
Sailing to sadder shores
Your port in my heavy storms
Harbours the blackest thoughts
All hands on deck at dawn
Sailing to sadder shores
Your port in my heavy storms
Harbours the blackest thoughts
All at sea again
And now my hurricanes have brought down this ocean rain
To bathe me again
My ship’s a sail
Hear its tender frame
Screaming from beneath the waves
Screaming from beneath your waves
Screaming from beneath the waves
Screaming from beneath the waves
All hands on deck at dawn
Sailing to sadder shores
Your port in my heavy storms
Harbours the blackest thoughts

Discografia

Crocodiles (1980)
Shine’s So Hard (1981)
Heaven Up Here (1981)
Porcupíne (1983)
Ocean Rain (1984)
Songs to Learn and Sing (1985)
Echo & The Bunnymen (1987)
Reverberation (1990)
BBC Radio 1 In Concert (1992)
Evergreen (1997)
Ballyhoo (1997)
What Are You Going To Do With Your Life? (1999)
Flowers (2001)
Crystal Days 1979-1999 (2001)
Live In Liverpool (2002)
Siberia (2005)
Fillmore – San Francisco Ca 12/5/05 (2006)
House of Blues – West Hollywood Ca 12/6/05 (2006)
The Very Best of Echo & the Bunnymen – More Songs To Learn & Sing (2006